Infiél escrita por Carol Bandeira


Capítulo 5
Capítulo 5




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Eu sinto no ar
Enquanto penteio o meu cabelo
Preparando-me para outro dia
Um beijo no meu rosto
Ele está aqui relutantemente
Perguntando-me se vou chegar tarde

Com Derik novamente em casa me forcei a fazer de tudo para que nosso relacionamento voltasse a ser aquele de 5 anos atrás, antes de Vegas. De início ele também tentou fazer o mesmo, mas não era difícil ver que voltar no tempo não seria possível para nós. Ou pelo menos para mim. Eu devia ter percebido que se minha intenção era “forçar a amá-lo como antes”, bem... significava que o amor não estava mais lá. Ou pelo menos o amor que uma mulher deve sentir pelo marido. Porque eu ainda o amava, mas não como antes.

Derik não era burro. Ele percebia que eu estava diferente. Que eu já não me entregava a ele como antes. Eu já não era mais a “sua” Sara. Mas eu via nos olhos dele, ele não deixou de me amar. Como então eu poderia machucá-lo assim? Se ele ainda queria fazer dar certo, se ele ainda me amava? Tudo o que ele fizera até agora, mesmo que errado por um lado, era para me dar, para nos dar a segurança que tanto almejava. Ele não era como meu pai...ele era seguro.

Enquanto o outro homem que estava em meu coração era totalmente o oposto. Eu não podia ter certeza do sentimento dele em relação a mim. Se ele podia levar para a cama uma mulher casada, o que isso diria dele? Além disso, ele nunca tivera um relacionamento duradouro na vida. Bem, segundo seus colegas de trabalho, ele era um solteiro convicto. E para coroar, nós trabalhamos juntos, sendo ele meu superior. Sei que um relacionamento assim seria proibido no trabalho, segundo nosso manual. Gilbert Grissom era todo errado para mim. Ainda assim, eu o queria. E quanto mais eu negava, maior o meu desejo ficava.

Logo, mais uma vez as coisas em casa voltaram a ficar estranhas e pesadas. Eu não conseguia achar em mim a vontade de ser educada ou amorosa com Derik. Até a respiração dele me incomodava quando eu estava me concentrando em uma leitura no fim de semana. Eu também não mais saía com frequência com o povo do trabalho, pois todas as vezes que o fazia meu marido me dava um olhar tão magoado que me matava por dentro, como se ele imaginasse com quem eu passaria aquelas horas...

Se eu achava minha vida difícil, a partir daí ela se tornou quase impossível. Minha casa não era mais um lugar para relaxar, e meu trabalho...bem, Gil tentava o possível não deixar o que aconteceu entre a gente interferir, mas isso era virtualmente impossível. Nós não podíamos simplesmente continuar com os mesmos hábitos, ainda que os sentimentos ainda fossem os mesmos.

Eu não mais me reconhecia...era uma sombra do que já fora antes. E isso também afetava as pessoas a minha volta. Em particular os causadores da minha angústia. Derik pareceu ter achado que fingir que nada acontecia era a melhor ideia, enquanto Gil parecia perceber o quanto aquilo tudo estava me afetando. Muitas vezes o peguei ensaiando me dizer algo, mas um olhar de reprovação meu o fazia recuar. Até o dia em que eu deixei minhas emoções falarem mais alto do que as evidências.

Era um caso de violência doméstica. O tipo de caso que mais me consumia. Brass percebeu muito cedo isso, logo eu quase não me via trabalhando em cenas assim. Eu gostaria de ter a oportunidade de fazê-lo, mas sendo a perita mais nova do grupo não podia muito bem fazer valer a minha vontade.

 Naquela ocasião, porém, Nick estava de folga e Catherine tivera que se ausentar logo no início do turno por conta de sua filha doente. Estávamos em número reduzido e eu era a única CSI disponível para atender ao chamado, não deixando opção para Brass se não passar o caso para mim.

Chegando a cena de crime passei pela fita de isolamento e me dirigi até onde o detetive Samuel Vartan conversava com um de seus policiais. Quando me viu disse algumas últimas palavras ao policial e o mandou vigiar a entrada da casa.

—Boa noite, Sara. Somente você hoje?

—Sim, estamos com falta de pessoal...mas Brass me prometeu mandar Warrick assim que ele terminasse a outra cena com Grissom. Então, o que temos aqui.

— A vítima é uma mulher branca, 30 anos, Margaret Du Pont. Quem chamou foi o marido, disse que voltou de um jogo com amigos e encontrou a porta aberta, a sala bagunçada e sua esposa no corredor, em uma poça de sangue- ele disse, conferindo as informações em seu bloco de anotações.

—Ok, e onde ele está agora?

Vartan indicou um ponto sobre os meus ombros, e me virei para encontrar o sr Du Pont, sentado na varanda da casa, as mãos cobertas encobrindo o rosto. Seu corpo balançava com a força de seu choro.

—Ele parece sentir muito a morte da esposa- comentei, sentindo uma pontada no coração pela dor que ele podia estar sentindo com a perda da mulher. Não pude deixar de pensar na dor que eu causava ao meu marido em vida...- Por que este chamado veio com o código para violência doméstica?

— Este endereço já é visado pela polícia. Muitos chamados de vizinhos dizendo que o couro comia aí. Mas a mulher nunca prestou queixa, e ninguém era testemunha ocular.

Olhei novamente para o homem se debulhando em lágrimas.

—Bem, se isso for verdade, então esse cara devia concorrer ao oscar...melhor ator de drama.

Dito isso, entrei na casa para começar meu trabalho. Fui diretamente ao corpo, e encontrei David medindo a temperatura da vítima. A hora da morte se mostrou consistente com o depoimento do marido. Tirei as fotos e recolhi o que podia ali. Quando terminava a tarefa Warrick chegou para me aliviar. Pude então ir com o corpo até o laboratório, e lá presenciei o exame de Dr. Robins. Havia evidencias de maus tratos antigos, fazendo meu estômago revirar. A causa da morte, trauma violento na cabeça. A investigação que se seguiu apontou para um casamento conturbado, com a mulher sendo tratada com trapo. Eu não consegui deixar meus sentimentos de lado nem se já não estivesse com a emoção a flor da pele... somente sei que Brass não estava errado em se preocupar comigo. No fim, quando no meio do interrogatório eu quase parti para a violência com o suspeito que ele me chamou para o canto e me suspendeu.

De cabeça quente segui até o vestiário pegar minhas coisas. Não queria ficar nem mais um minuto naquele lugar. Achei que conseguiria fugir despercebida, mas ao chegar a garagem e não achar meu carro estaquei... não me lembrava que o maldito estava em concerto. Essa minha parada deu tempo o suficiente para me acharem

— Sara, espere!

— O que você quer, Grissom? Já não basta a humilhação que passei lá dentro?

—Eu só quero te ajudar, honey...

— Você não pode me ajudar, Gil.

— Mas alguém precisa...você não está bem, Sara, vive desanimada, chorando pelos cantos...agora isso, explodindo com suspeitos...você não pode continuar assim.

— E o que você sugere, Gil? Eu não sei mais o que fazer...

Gil fez menção de dizer algo, mas logo se calou

— Não se cale...fale o que está pensando, já que você quer tanto me ajudar!

Ele me lançou um olhar sério, penetrante, ainda indeciso se devia falar ou não.

—Claramente...seu marido não te faz feliz. Por que insistir?

— E eu devo me separar dele e cair em seus braços?

Ele desviou o olhar do meu, tendo minha fala obviamente o machucado. E vê-lo ali, tão ansioso por me ajudar e eu só dando fora nele, como se toda a culpa dos meus problemas fosse dele... eu não aguentei e caí novamente no choro. Gil parecia não se conter ao me ver chorando, pois logo me puxou para seus braços, beijando a minha cabeça e me dizendo que ficaria tudo bem. Naquele momento nada passava pela minha cabeça, nem a ideia de que estávamos em um lugar público onde qualquer um podia nos ver. E foi exatamente o que aconteceu.

Logo naquele dia Derek resolveu me fazer uma surpresa. E o surpreendido foi ele. No primeiro momento não o vi, pois estava de costas para a rua. Só percebi que algo estava errado quando senti Gil retesar o corpo e lentamente me largar.

—Sara...

Eu me virei e dei de cara com o meu marido. Ele tinha no rosto uma expressão familiar, a qual vinha portando com frequência nos últimos meses. A expressão de quem sabia que estava perdendo a mulher de sua vida.

— Ora, ora! O que temos aqui?!- meu marido perguntou, o desdém pingando de sua voz.

—Derik...- me separei de Gil e fiz menção de ir ao encontro dele- O que está fazendo aqui?

— Queria te fazer uma surpresa…como você está sem carro, queria te levar para casa...mas pelo visto você já tem compromisso!

—Não! Nós... não é o que você está pensando! - Assim que essas palavras saíram de minha boca tive vontade de me matar. Afinal, elas pareciam mais alguém com algo a esconder do que qualquer outra coisa. E meu marido pensava a mesma coisa, a julgar pela cara que ele fez.

—Você não tem ideia do que estou pensando agora, Sara, acredite.

—Derek... isso tudo é um mal-entendido...- Gil pareceu acordar de seu transe naquele momento- Acho que é melhor se...

— Eu não quero saber o que acha, senhor Grissom! Estou falando com a minha mulher!

—Não é porque ela é sua mulher que o senhor deve agredi-la dessa forma- a voz de Gil saiu em um tom mais alto, mostrando que ele começava a perder a paciência.

— E não é porque você está comendo ela que eu deva escutar alguma palavra da sua boca!

—CHEGA! - dessa vez ele fora longe demais- Não me importa o que está acontecendo na nossa vida privada, Derik, nada no mundo vai te dar ao direito de vir gritar essas coisas em frente ao meu trabalho!

Os dois homens, até o momento se encarando como se fossem entrar em uma briga, se viraram para mim com a mesma cara de susto no rosto.

— Se você tem algo para me falar, espere até chegarmos em casa, Derik.

— Sara...eu não acho...

—Não, Gil... eu preciso...

— Tudo bem- ele aceitou a contragosto.

 Em seu rosto eu pude ver sua preocupação comigo. Nós dois já presenciamos inúmeras cenas de crime onde maridos irados acabavam por matar suas mulheres por conta de traição. Mas não importa o que se passou entre a gente, tenho certeza de que Derik não faria nada para me machucar fisicamente. Queria dizer isso a Gil e lhe prometer que ligaria assim que pudesse, mas tive medo de fazê-lo na frente de Derik.

Com um último olhar para Gil me dirigi até Derik, e fomos os dois até o carro ter o que poderia ser uma das conversas mais significativas da minha vida

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*CSI*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Nenhuma palavra foi trocada no percurso, nem mesmo o rádio estava ligado. Derik sempre gostou de ouvir suas músicas e cantá-las enquanto dirigia. Acredito que estava com a cabeça muito quente para pensar nisso hoje.

Assim que ele estacionou o carro na garagem sai do carro e fui em direção da sala, me jogando no sofá. Ele demorou uns minutos para aparecer, mas quando o fez tinha um envelope pardo nas mãos. Gelei. Não poderiam ser papeis de divórcio, ou poderiam? Ele não falou nada, só jogou o envelope em meu colo e me observou.

—O que é isso?

—Abra e descubra.

Tive que morder a língua para não dar uma resposta atravessada. Respirei fundo e peguei o envelope, as mãos trêmulas tendo dificuldade de abri-lo. O conteúdo dele, apesar de ainda ser inesperado, não era um documento de divórcio. Fotos...umas seis fotos. Eu não podia acreditar...meu marido colocara um detetive particular para me seguir...as fotos eram todas minhas e de Gil. Nenhuma delas expunha cenas indecentes, mas ainda assim... nós dois saindo de um restaurante, com o braço dele envolta na minha cintura... nós dois parados conversando em frente ao carro do trabalho, muito mais próximos do que deveria. Entrando na casa dele... enfim, apesar de inocentes, elas pintavam um quadro muito bem, ainda mais para um homem que já estava desconfiado.

—Então, Sara.Vai me dizer que não foi nada? Que você não está me traindo com aquele...aquele

—Não!- ao olhar incrédulo dele continuei- Não...quero dizer eu não estou te traindo... ainda...foi só uma vez...uma semana, enquanto você viajava...

—Entendo...por isso você não quis ir comigo? Para ficar com seu amante.

—Derik, eu não planejei nada...e desde então eu não o vi mais...fora do trabalho

Derik suspirou e virou o rosto...acho que tentava esconder as lágrimas. Ele detestava chorar na minha frente, enquanto eu não tinha o mesmo problema.

— Eu achei- ele disse, a voz novamente tremida- que nós estivéssemos... que a gente estava se dando melhor... que isso era só uma fase e que logo superaríamos ela juntos... mas aí eu me deparo com isso!- ele aponta para as fotos que ainda estão nas minhas mãos.

Sem coragem de encarar aqueles olhos cheios de raiva, abaixei minha cabeça e encarei novamente as evidências. Provas incontestáveis de minha decepção. Eu errei, eu sei, e nada que pudesse dizer traria conforto a ele.

—Não tem nada a dizer sobre isso, Sara?!

Suspirei, depositei as fotos no sofá e o encarei.

— O que devo dizer?

— Que está arrependida? Que me ama? Que nunca mais vai ver esse cara na sua vida? Eu não sei, Sara!

— Estou arrependida... pelos últimos meses esse é meu único pensamento- tive que parar um pouco para tentar segurar o choro- Nós estamos passando por problemas, só que isso não é desculpas... eu venho tentando, Derik.... eu te amo...

— Não é o suficiente, Sara... dizer que me ama...dizer que está tentando...que faz tantos meses que não vê esse cara fora do trabalho... como eu posso acreditar nisso se quando me viro, você está lá nos braços dele?

Não era o suficiente...era tudo o que vinha na minha cabeça...eu o amava....mas como posso amar a ele e ao mesmo tempo sentir que minha vida não era completa sem Gil...

— Eu quero confiar em você, querida. Quero nossa família de volta... eu posso esquecer tudo isso se você me prometer que não o verá novamente...eu tenho uns contatos...posso te colocar em outro turno...as coisas seriam como antes...teríamos tempo para nós...

Ele falava tudo isso sem me encarar. Seu olhar repousava em um lugar distante, nos sonhos dele... pois era lá que ele vivia... uma terra em que tudo poderia ser resolvido se retirássemos o problema da equação. Na visão dele esse problema era Grissom.

— Você tem razão, Derik... isso não é o suficiente, nada será o suficiente... acho que o melhor a fazer é nos separarmos

— Para que você vá correndo para os braços dele?! Não pense que eu vou deixar isso assim, Sara!

A raiva com que ele falou me fez primeiramente encolher no sofá, mas assim que processei o que ele dissera...a raiva agora era minha, impulsionando-me para sair do sofá e gritar na cara dele.

— E quem disse que você tem que me deixar fazer alguma coisa!? Você não é meu dono, não pagou um dote para casar comigo! Eu posso muito bem sair porta a fora e nunca mais olhar na tua cara!

Mais um minuto de silêncio, enquanto nos encarávamos. Nunca antes vi tanto ódio refletido nos olhos dele. Nunca antes havia levantado a voz assim para ele. Não que não tivesse isso em mim. Sempre tive um lado um tanto quanto agressivo, mas Derik nunca fora recipiente dele.

— Eu vou fazer uma mala e sair daqui...não para a casa de ninguém- completei ao ver que ele diria algo a respeito disso- Preciso ficar sozinha...

Os olhos de meu marido marejaram novamente

— Derik, por favor...- tentei tocar seu rosto, mas ele o virou para o outro lado- eu não quero tomar decisões precipitadas...não vai nos ajudar ficarmos os dois assim...

—Então vá!- ele se dirigiu até o bar e abriu uma garrafa de Uísque.

Fiz minha mala no mesmo instante e saí, enquanto ele se embebedava


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