Infiél escrita por Carol Bandeira


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Este é o fim dessa fic. Espero que gostem

Boa leitura!



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Eu falo que não vou demorar
Só vou ficar com minhas amigas
Uma mentira que não tinha que contar
Porque nós sabemos
Para onde vou
E nós sabemos muito bem

Aquele fim de tarde estava cinzento, como se combinasse com meu humor. A casa vazia parecia zombar de mim, com cada cômodo me lembrando de um tempo em que fui feliz com ela... como nunca fora feliz com mais ninguém. E era por isso que não poderia deixa-la ir assim, tão fácil. Sabia, como um homem instruído, que era perigoso colocar toda sua felicidade nas mãos de outra pessoa...mas não era bem assim. Sem ela, poderia ficar bem...mas com ela, o mundo adquiria novas cores, novos gostos... teria que dizer isso na próxima vez que nos víssemos.

Um barulho na porta despertou-me dos meus devaneios e meu coração acelerou. Não esperava receber a visita de ninguém a não ser dela. Meu corpo todo tremeu quando sua imagem veio a minha cabeça em um misto de sensações, entre amor e ódio. Ódio pela capacidade dela em me tornar uma pessoa irreconhecível nestes últimos meses. Amor o qual eu nunca senti por ninguém.

Enquanto eu me demorava para abrir a porta, as batidas aumentavam em frequência, então eu logo respondi ao chamado sem verificar quem era a pessoa do outro lado. E para minha surpresa...era ele.

— Ela está aí?!- o homem falou enquanto tentava entrar em minha casa, mas eu não iria deixa-lo me intimidar assim.

— Não.

Ele me lançou um olhar cheio de ódio

—Não acredito em você- e tentou forçar novamente a passagem.

— Pouco me importa o que você acredita, não vou deixar que invada minha casa desse jeito.

Derik foi empurrado para trás e quase caiu. Quando ele conseguiu se equilibrar que vi como sua postura estava diferente. Os ombros caídos, as roupas amarrotadas, ele era a cara de um homem derrotado. A culpa que me acompanhava desde aquela semana com Sara se apoderou novamente de mim, e eu o convidei para entrar.

Enquanto o homem vasculhava a casa vazia fui até a cozinha para me servir de um copo de Bourbon. Derik não viera até aqui só para olhar minha casa e ir embora. Sem dúvidas, quando ele terminou sua busca e veio até mim.

— Ao menos você sabe onde ela está?

— Não...você quem teria mais chances de saber disso...afinal deve ter sido o último a vê-la ontem.

— Grande merda...ela saiu porta a fora...precisava de um tempo...como se fosse ela quem está machucada!

— Com certeza você não é o único a sofrer com tudo isso.

— Não me diga que está sofrendo também? Não tem medo de parecer um hipócrita?! Afinal, isso é tudo culpa sua...

—  Estou falando de Sara- apesar de ter meus motivos para sofrer com tudo isso.

— O que você sabe sobre ela? Acha que a conhece mais do que eu, o marido dela, com quem ela dividiu mais de cinco anos da vida dela?

Derik riu, uma risada sem o menor senso de graça, forçada. Abriu os braços e , indicando o resto da minha casa, continuou a falar

—Olha pra isso aqui, olhe para você! Imagina se algo que existe aqui dentro pode agradá-la por muito tempo? Você podia ser o pai dela! Não vai funcionar... a história se repete, se ela me traiu não dou mais de um ano para ela fazer o mesmo com você! Sou eu quem não quero, pode ficar com meu resto!

A força que eu tive que fazer para não espancar esse babaca foi sobre-humana. Quando ele saiu e ouvi o barulho do carro cantando pneu que me permiti liberar minha raiva, mandando o copo da minha mão em direção a porta. Após alguns minutos para me acalmar que me veio na cabeça: devia avisar a Sara para ficar longe dele por algum tempo.

*******************************

Apesar de não parecer assim no início, aquela briga com Derik foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Fui obrigada a sair de casa, decisão a qual não me imaginaria tomando em outras circunstâncias. Até aquele momento, era tomada por uma enorme culpa pelo que havia feito a ele. Gil tinha razão. Eu não estava feliz, e era exatamente isso que me prendia. Afinal, era eu me fazendo pagar por meus pecados, pela traição. Não estava recebendo nada que não merecesse.

Quando então Derik confessou que me espionava, e há um bom tempo, senti como se algo me libertasse. Meu marido cometera uma grande invasão de privacidade, e provavelmente começou bem antes de meu caso com Gil. Claro, não era a mesma coisa que uma traição, não do jeito que eu cometera. Mesmo assim, abriu meus olhos para a falta de confiança que Derik mostrava por mim. Naquele tempo, nós tentávamos uma reconciliação, e ele confiava tanto em mim que mandou um detetive particular me seguir. Nossa relação já havia acabado ali.

Decidi então não voltar mais para casa. Procurei um hotel para me hospedar, tomar um banho e comer algo. Esperaria o fim do meu turno a esta noite para buscar minhas coisas. Àquela altura Derik já deveria ter saído para o trabalho.

Uma hora antes do início do turno da noite, recebi uma ligação de Gil. Ele me avisara de seu encontro com Derik e pedira para ficar longe dele por enquanto:

— Por que você não fica aqui comigo?- ele perguntou tão docemente que foi quase impossível dizer não.

—Gil, essa não é a melhor hora... ele já foi me procurar aí, não quero causar mais confusão para você...

—Não vai, Sara... eu adoraria ter você aqui... sei de todos os empecilhos para isso, mas...eu não estaria te perguntando se não fosse isso que quero- ele tornava cada vez mais difícil dizer não a ele.

— Por enquanto não...eu preciso de um tempo para mim. Precisamos deixar a poeira baixar.

Sei o quanto o magoei recusando seu pedido. Mas de fato, engatar um relacionamento no outro era receita para desastre. Ele sabia disso, só não estava raciocinando direito. Nenhum de nós estava, isto é.  E era exatamente este o motivo pelo qual achava que precisávamos de um tempo.

—Eu espero...o tempo que for preciso- ele sussurrou ao telefone, e mais uma vez eu percebi... é realmente difícil não se apaixonar por ele.

No fim, “o tempo que for preciso” se transformou em alguns meses. Meu maior medo era que essa situação tivesse transparecido no nosso trabalho. Afinal, Derik causara uma cena na garagem do laboratório. Por sorte, ninguém pareceu ter presenciado nada. Histórias do divórcio correram o laboratório, é claro, como em qualquer ambiente de trabalho. Mas foi só isso.

Quando meus amigos e colegas perguntaram o porquê do divórcio, disse simplesmente que nos afastamos demais, nossos interesses não recaiam mais sobre os mesmos lugares. Derik também deve ter dito algo parecido, e as pessoas pareceram aceitar bem essa versão, a qual não era difícil de acreditar se você tivesse acompanhado nosso relacionamento.

 Após decidir que não voltaria, comecei a procurar por um novo apartamento.  Nesse meio tempo, estava recebendo ajuda de Nick, Warrick e Greg para encontrar um bom lugar. Os três insistiram em me ajudar pois, segundo eles, não havia um lugar em Vegas que não conhecessem, e não queriam que eu fosse parar em um lugar perigoso, ou que um corretor inescrupuloso se aproveitasse de “meu momento de fraqueza”. Apesar de todos os meus valores feministas gritarem, dentro de mim ao ouvir aquilo, tive de admitir: Warrick com certeza conhecia bem Vegas, afinal era nascido ali. Já os outros dois, eu tinha minhas dúvidas. Além do mais, eu sabia muito bem me virar sozinha, não precisava de homens me protegendo. Amigos, por um outro lado, me ajudando em um momento difícil, seria uma ótima pedida. Aceitei então a oferta deles, o que fez a procura por uma nova casa durar mais do que eu queria. Os homens queriam se certificar de que eu tinha as melhores ofertas. Mas no fim, valera a pena.

O prédio estava localizado no mesmo bairro de Nick, há uns 15 minutos do laboratório. A área era residencial, mas com um bom comércio de rua, com mercado, padaria e farmácias a distancias acessíveis. E o melhor, exatamente do lado oposto de sua antiga residência. O apartamento era pequeno, com um quarto, sala e banheiro. A sala era o maior aposento, com uma grande janela que dava para um parque próximo. Era espaçosa o suficiente para dar uma pequena festa.

Enquanto os meninos foram ótimos em ajudar na mudança, foi Catherine quem me ajudou a organizar o resto. Ela tinha um ótimo olho para decoração, e nos divertimos bastante em transformar o apartamento em um lugar agradável e com a minha cara. Foi Cath também que me convenceu a fazer um “open-house”. Dizia ela que essa era a forma mais barata e rápida de organizar a casa com todos aqueles apetrechos necessários.

Já Gil, bem ele se manteve afastado, e sua ajuda foi invisível e essencial. Ele cobria os meus turnos e alguns dos meninos quando eu precisava da ajuda deles. Sei que isso levou a desconfiança do resto do pessoal, pois antes nós éramos inseparáveis. Mesmo assim, nós não podíamos nos dar ao luxo de passar muito tempo juntos. Eu o desejava tanto que sabia, se dada a oportunidade, me entregaria a ele novamente. Era só a oportunidade aparecer.

 Foi exatamente o que aconteceu no dia do open-house. O evento estava marcado para de tarde, dando a chance de meus amigos aparecerem antes do turno começar. Organizamos muita comida e bebidas, a maioria coquetéis virgens, já que os outros teriam que trabalhar. A música ficara a cargo de Warrick, e ele mandou muito bem na playlist. Os convidados vieram em peso, e eu não lembrava de ter chamado tanta gente assim. Na verdade, nem conhecia muita gente do laboratório, e a maioria veio por intermédio de Cath. Ao que parecia, as festas da loira eram lendárias, e ninguém gostava de perde-las.

Mesmo com as coisas um pouco fora do meu controle, naquele dia eu estava com uma ótima sensação, de dever cumprido, de felicidade. Embora nos últimos meses eu não tenha parado muito para pensar no meu falido casamento...bem, ainda havia aquela melancolia por tudo ter acabado tão mal daquele jeito... eu havia amado muito a Derik. E ele a mim. Foi um sonho que tentamos construir juntos, e todo sonho quando tem que acabar deixa um gosto amargo na boca. E eu convivi em silencio com aquilo desde que me separei...

Agora, com a minha vida voltando lentamente a se encaixar...eu me sentia feliz. Para acompanhar esse clima de festa, nada melhor do que uma cervejinha, geladinha. Não precisava me preocupar, era minha folga e estava em casa.

—Então, curtindo a festa?

Quem pergunta é Greg, e não me surpreendo ao ver uma garrafa de cerveja em sua mão. Mesmo que não tivesse folga hoje ele era jovem demais para desperdiçar uma chance de beber de graça. Ao meu olhar para sua cerveja, ele respondeu

—Quê? É só um copo, e o turno só começa às 23 hs. Até lá já estou safo.

—Só não deixe o chefe te ver então

— O que o Jim não vê não o incomoda!

Realmente, Jim ainda não havia chegado. Ao que parece, ele e Gil foram chamados mais cedo para interrogar um suspeito que fora apreendido pela hora do almoço. Eles deviam chegar juntos, e mesmo que não quisesse acreditar, estava ansiosa para ver um certo entomologista.

Quando os dois chegaram vieram direto a mim, comentando como a casa estava bonita. Enquanto Brass falava da casa, não pude deixar de imaginar se as palavras de Gil eram só para mim.

Pelo jeito dele de me olhar não devia estar errada. Durante toda a festa pude sentir seu olhar em mim. Não importa onde estava, o que fazia ou com quem. Isso me enlouqueceu, e para piorar, ele não ficou só na troca de olhares. Toda oportunidade que ele tinha para me tocar, ele o fazia. Seja uma mão me tocando enquanto ele passava por mim, uma carícia escondida enquanto conversávamos em grupo, as mãos nos meus ombros enquanto ele fingia querer inspecionar um presente que ganhei. Enfim, ao fim da noite eu estava totalmente excitada, e sem ninguém para aliviar a pressão. Afinal, o causador de tudo isso tinha que trabalhar.

Ao se aproximar o expediente, os convidados foram saindo, deixando somente os peritos em minha casa. Brass já tinha ido embora há um tempo, e eu sabia que ele iria esperar todos eles na hora.

— Pessoal, não precisam me ajudar. Brass vai matar vocês se chegarem atrasados. E Cath, aposto que precisa ver sua filha antes disso.

—Verdade... então, deixe pelo menos o Gil te ajudar. Ele não precisa ir para o lab hoje pois amanhã ele tem que depor no caso Sorensen.

—Sim, Sara... eu fico.

E assim eles decidiram sem me consultar. Não sabia se matava Catherine ou a beijava. Estar com Gil na minha nova casa e sem ninguém por perto era quase um sonho depois do que passamos. Eu sabia que isso aconteceria hora ou outra, mas pensei que teria um tempo a mais para me preparar.

—Enfim, sós- ele me disse após os outros saírem.

Sua pose no momento era de relaxamento total. No rosto estava estampado um sorriso de quem finalmente conseguia o que queria.

—Gil...

—Eu sei, vamos começar

Por mais educados que sejam os convidados de uma festa, e mesmo sem a presença predominante de álcool, muita gente no mesmo espaço fazia um tanto de sujeira. Alguns copos e papeis descartáveis, restos de comida que caíram no chão, embalagens de presente. Enquanto arrumávamos a bagunça, tive a brilhante ideia de terminar com a bebida que sobrou, e Gil prontamente me ajudou. E, como não podia se segurar, continuou com seu jogo de me tocar toda hora possível.

Assim que terminamos o serviço me joguei no sofá com uma das últimas garrafas de cerveja na mão.

—Missão cumprida! Ufa!

Gil sorriu e se sentou ao meu lado, também com uma garrafa nas mãos.

—E como está se sentindo, com sua nova casa?

—Como outra pessoa...mais leve

—Que bom... – Gil correu os olhos pela sala, admirando o modo como Sara havia decorado o lugar. Totalmente diferente de como era a casa que dividia com Derik.

 Suspirei e fechei os olhos. Eu sentia que uma fase em minha vida havia terminado. E já não era sem tempo. Meu casamento, embora muito feliz no início, não fora o suficiente para suportar todas as adversidades que foram jogadas em cima deles.

— Sara...

—Humm- ela respondeu, ainda com os olhos fechados.

—É bom estar assim com você novamente

Eu me virei para encarar Gil.

—Assim como?

Gil trouxe seu corpo para mais perto de mim e passou seu braço por sobre os meus ombros.

— De nós...de ficarmos sozinhos, perto assim. Não sente o mesmo?

Encarei bem seu lindo rosto, os olhos azuis buscando nos meus um eco do que sua alma sentia.

—Não...sinceramente, Gil. Não sinto falta nenhuma...- vi nos olhos dele que o magoei, e não pude deixar de tocar seu rosto com a palma da minha mão. Embora ele estivesse magoado, recebeu meu gesto com gosto- Não sinto falta de ficar me escondendo de todos, das carícias roubadas aqui e lá... mas sim... não houve um minuto esses meses que não pensei em você, nos seus beijos...

O braço que estava em meus ombros trouxe meu corpo mais próximo ao dele. Minha cabeça então foi amparada em seu ombro e ele começou a acaricia-la. Ficamos ali por um tempo, até que ele fez uma pergunta que devia estar em sua cabeça há muito tempo.

—Honey, eu sei que não é da minha conta... mas o que aconteceu com relação ao...

—Derek?

—Sim...

—Bem... ele finalmente decidiu não contestar o divórcio. Então as coisas estão progredindo.

—E você, tem um bom advogado?

—Catherine me indicou um...é impressionante o número de pessoas que ela conhece na cidade.

Gil riu, e depois depositou um beijo em minha testa. Virei meu rosto na direção do dele, querendo sentir seus lábios nos meus, e ele não demorou um segundo para me dar o que queria. Nosso primeiro beijo depois de muito tempo começou cheio de fogo. O desejo que reprimimos naqueles últimos seis meses foi todo liberado, e logo ele já cobria meu corpo com o dele, as mãos procurando pela pele embaixo das roupas. Nós transamos naquele sofá mesmo, e depois na minha nova cama. Antes de raiar o dia ainda achamos tempo de nos amar mais uma vez antes de ele tomar um banho e um café para poder ir para o tribunal. Trocamos mais um beijo na porta de casa, e Gil me perguntou antes de ir.

—Posso te levar para jantar hoje a noite?

—Estarei te esperando.

Gil me deu mais um beijo e partiu em direção a seu carro. Antes de entrar no elevador, porém, ele se virou para mim, deu mais um sorriso e piscou o olho para mim. E ali, parada na minha porta e com um sorriso enorme no rosto, senti um peso enorme ser tirado de minhas costas, uma sensação de leveza que nunca fizera parte da minha vida desde que Derik e eu nos mudamos para Vegas.

E naquele momento sabia que tudo iria ficar bem. 

 


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