Infiél escrita por Carol Bandeira


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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E eu sei que ele sabe que eu sou infiel

E isso está matando-o por dentro

 Saber que eu sou feliz com qualquer outro cara

Eu consigo vê-lo morrer

 

A minha situação em casa só piorou depois daquela festa. Eu sei que Derik me viu dançando com Grissom, mas não consigo entender porque ele não foi até lá para me tomar dos braços dele. Eu iria sem reclamar. Enfim, por conta do que ele disse na noite da festa acredito que ele não iria mesmo continuar a tocar no assunto. Mas estava lá, em qualquer conversa nossa. Assim como minha nova percepção de meu marido e de suas escolhas. Eu me ressentia do fato de ele dar mais importância ao trabalho do que a nossa relação, enquanto ele se ressentia do fato de eu passar tempo demais com esses meus amigos, em particular um certo entomologista. E mesmo que não tocássemos no assunto, ele coloria todas as nossas interações.

Por conta dessa nossa insistência em não falar dos problemas acabamos por começar a brigar pelas menores coisas. Uma compra que não foi feita, o controle da tv que sumia, o tempo que eu passava no banho, a insistência dele em comer carne na minha frente- coisa que eu nunca havia proibido antes, mas que agora ao vê-lo devorar um hambúrguer minha vontade era de esganá-lo.

Os conflitos foram escalando de tal maneira que uma manhã, enquanto eu acabava de chegar do trabalho, as coisas saíram de proporção. Ele me esperava na sala de casa enquanto eu entrava com o telefone no ouvido. Assustei-me ao vê-lo em casa,pois já eram quase 10 horas da manhã. Eu havia tomado café com Grissom após termos resolvido mais um caso juntos. E por sinal era ele no telefone.

—Gil, eu tenho que desligar...é, isso mesmo...até mais tarde

Desliguei o telefone e o pus na mesa da sala, junto à minha bolsa e chaves do carro.

—O que está fazendo em casa?- perguntei ao ver que ele só iria ficar me encarando

—Esperando por você. Achei que podíamos tomar um café da manhã juntos, mas pelo visto você foi com o Gil. Não sabia que você chamava o seu chefe assim de forma tão carinhosa.

O tom desdenhoso dele já sinalizava outra briga. Eu teria que ser madura e tentar refletir esse ataque, mas estava cansada e com zero de paciência

—Ele não é meu chefe...

—Seu superior então. Não gosto quando você fica assim, toda íntima com ele!

—E você, pode ser íntimo com seus superiores? Chamando o sr Braun de Sam? Isso só serve para homens? Mulheres devem mostrar que são submissas agora é? Não sabia desse seu lado machista.

—Sara...- ele estava exasperado- Não quero brigar!

—Então não me trate como propriedade, e sim como sua esposa!

Derik passou as mãos pelos cabelos, suspirou fundo e recomeçou.

—Desculpa...nem era sobre isso que eu queria falar.

Sentei-me ao lado dele no sofá e passei minha mão pelos braços dele.

—Tudo bem...- eu queria estender a bandeira branca, por assim dizer. Parecia que ele tinha algo de importante para me contar.

—Querida, tenho que fazer uma viagem de emergência essa semana...e estava pensando que você poderia ir comigo. São só alguns dias para resolver uns problemas da nova sede do cassino do Sam, e depois serei só seu.

Devo dizer que o convite me pegou de surpresa. Depois de meses sem nos falarmos direito ele queria uma viagem a dois? É claro que novamente era primeiro o trabalho...mas ele me convidou. E me matava dar a resposta que tinha que dar a ele

—Derik...eu adoraria, mas....

—Mas o que? Você vive dizendo que preciso dar mais atenção a nós dois, então qual a melhor maneira de fazer isso se não com uma viagem?

—Sim, está certo, mas... essa semana o caso Trent vai à julgamento. Eu vou ser chamada para depor...e depois tenho vários casos em aberto...

—Então é isso, não é? Quando eu tenho que trabalhar você reclama, mas se é o seu trabalho eu tenho que entender!

Sara se assustou com a explosão repentina dele. Derik parecia tão calmo ao fazer a proposta que ela não podia imaginar tal explosão.

—Não é bem assim, Derik! Você está confundindo as coisas!

—Sim, com certeza! Seu trabalho é falar pelos mortos, enquanto o meu não é nada nobre, por isso não merece tudo que eu dou por ele, não é isso? Não é assim que você pensa?

—Não!! Da onde você tirou isso? Meu Deus! Como assim, não passou pela sua cabeça que talvez eu precise planejar essas coisas, dizer com antecedência que preciso da folga? Não é só porque você pode que eu vou poder também!

—Tá bom, Sara, a escolha é sua! Mas não venha me dizer que eu não coloco nada nesse relacionamento!

—Só porque você fez uma proposta não deixa tudo isso bem, Derik! Faz quase um ano que a gente veio para cá e só agora você quer dar atenção para nós!

Sara se levantou do sofá, cansada daquela briga. Ela queria se afastar dele o quanto antes, pois sentia que poderia partir para a violência a qualquer minuto

—Bom, pelo menos eu não finjo que quero resolver só para depois correr para os braços de outro...

Sara estacou no lugar, na metade da sala e se virou para ele.

—Isso mesmo, você acha que não sei?

—Sabe do que?

—Que você e seu “amigo” Grissom estão muito íntimos esses dias? Que enquanto eu me mato de trabalhar você sai com ele para todos os lugares?

Sara cruzou os braços e o encarou. Era verdade que ela passava tempo demais com Grissom. E se ela analisasse, bem, algumas vezes eles tiveram a oportunidade de passar dos limites.

Aquilo estava se tornando um jogo, até onde eles poderiam ir sem que pudesse de fato utilizar a palavra traição? Sair para comer, todos os amigos faziam. Se por acaso eles sentassem juntos e ele colocasse casualmente os braços em volta dela, isso era permitido entre amigos, não é? Ou ela mesma dar um pedaço de sua sobremesa na boca dele e limpar o resto da calda com um guardanapo? Se eles fossem ao cinema juntos, e assistissem ao filme coladinhos, com a cabeça dela no ombro dele, não era nada demais. Ou se ele a acariciasse enquanto eles discutiam um relatório no fim do turno. Uma massagem nos ombros dele e na cabeça para aliviar a enxaqueca depois de um caso estressante. Até mesmo o beijo de despedida que ele depositou hoje no canto dos lábios dela. Isso não era sedução não é?

—Ele é meu amigo, Derik. Não faço nada com ele que não faria com Michele, em São Francisco. E você não acredita em mim não é? Deus, como você pode pensar isso de mim! Desde quando eu te dei motivos?

—Desde que chegamos aqui! Sara, você mudou, é uma mulher amarga que não passa um minuto a meu lado? E ao lado dele, qualquer um de meus colegas de trabalho que tem algo a ver com seu departamento me falam como vocês são uma dupla dinâmica!

—Se eu mudei, Derik, se eu passo muito tempo com ele, isso tudo é consequência das suas mudanças também. Tenho novidades para você, se você não acredita mais no me caráter, bem, eu não acredito no seu! Quantos processos você já livrou o seu chefe, hein? Quantas pessoas vocês já extorquiram ou silenciaram?!

—Isso não tem nada a ver com os nossos problemas dentro de casa!

—Ah, mas tem sim! Tudo começou por conta desse seu maldito amor a esse Sam Braun.

— Pelo menos eu não fico usando meu trabalho para fingir que estou fazendo algo de bom em vez de estar fodendo outro cara!

—CHEGA! Já basta! Eu não preciso ouvir isso!

Sai da sala feito um furacão, derrubando Derik no chão ao passar por ele. Bati a porta com satisfação e liguei meu carro, acelerando em direção incerta. Não sabia para onde iria, só que precisava sair dali.

O pior caminho que poderia tomar naquele momento foi o que me traria satisfação momentânea. Parei em um bar desconhecido e resolvi beber minhas mágoas. Como ele podia me acusar assim, tão descabidamente? Será que todas as vezes que pedi atenção, para que ele me olhasse não contavam? Como ele podia ser tão egoísta ao ponto de brigar comigo como se ele tivesse toda razão, só porque ele fez um mísero movimento para nos ajudar a superar a crise? Em minha cabeça, se ele quisesse mesmo isso ele teria tentado solucionar em vez de sair me acusando.

Após a quinta lata de cerveja já não me sentia tão mal, e na minha cabeça, uma voz me falava para dar a ele motivos para me chamar de vadia. Consumi mais uma cerveja e disquei o número que não devia. Gil atendeu rápido, devia achar que era o trabalho. Não me lembro muito bem o que se passou depois, só sabia que queria ele perto de mim, pois ele era o único naquele momento que me faria me sentir bem novamente.

Acho que ele veio até rápido, pois mal terminei com minha lata e ele apareceu, proibindo o barman de me dar outra. Ele estava muito estranho, se esquivando de mim o tempo todo. Lembro-me vagamente de levantar com a intenção de sentar no colo dele, mas meu mundo caiu, sem exageros. Eu fui ao chão, e o que me lembro depois foi de acordar com a maior dor de cabeça desde os tempos de faculdade.

Não sabia onde estava, mas não deu tempo de me apavorar, pois que meu salvador apareceu na hora. Gil explicou que me trouxe até a casa dele para tomar conta de mim. Não me deu muitos detalhes da noite que não me lembro, mas seu sorriso me faz morrer de vergonha.

—Não precisa se envergonhar- agora ele estava sentado a meu lado na cama, um dedo dele levantando meu queixo- Catherine faz cenas bem piores quando está na mão do palhaço.

Rir me dava mais dor de cabeça, por isso parei rapidinho. Percebendo minha situação Gil se esticou até o criado mudo e pegou umas capsulas e um copo d’água.

—Tome o remédio e se encha de líquidos. O segredo para a ressaca é

—Se hidratar, eu sei- disse isso e mostrei a língua para ele, antes de tomar o remédio

Ao fazer isso vi como seus olhos se encheram de...desejo. Então me lembrei do porquê de estar naquele estado.

—Ah...Gil- meus olhos marejaram e ele me abraçou com força.

—Pode chorar,honey. Eu te seguro.

E chorar eu chorei.

Quando consegui me acalmar Gil sugeriu que eu tomasse um banho enquanto ele fazia algo para eu comer. Quando saí do banho, uns 20 minutos depois, vi na cama dele minha mala com roupas reservas. Todo CSI tinha uma em seu porta-malas. Sorri ao pensar em como ele era detalhista. Meu celular estava ao lado da bolsa e decidi abri-lo depois que me vestisse. Quando o fiz foi para encontrar uma mensagem de Derik e várias ligações perdidas

Sara, eu sei que nesse momento você não quer me ver nem pintado a ouro. Mas pensei que faria a cortesia de me dizer onde estava, para não ficar preocupado. Enfim, espero que alguma hora do dia você me dê o prazer de uma ligação. Estou a caminho do aeroporto e meu voo sai as 14:00. Quando voltar conversamos melhor.

Gil apareceu na porta do quarto assim que terminei a leitura. Mandei uma resposta e me dirigi a ele.

—Gil, muito obrigada por tudo. Eu não mereço um amigo como você.

—Merece sim- ele me disse enquanto me puxava para a cozinha.

Comemos em silêncio...bem ele comeu enquanto eu tomava um suco que ele fizera para mim. Não aguentaria muita coisa no estômago. Quando o silêncio se tornou demais elogiei sua casa. Nunca tinha estado ali, assim como ele não conhecia a minha. E só de pensar em minha casa e em meu marido comecei a chorar novamente. Logo Gil estava a meu lado, me puxando para seu colo, e eu novamente chorando como um bebê

—Shii, meu amor...vai ficar tudo bem...- ele disse enquanto passava as mãos no meu cabelo.

—Gil...- eu tirei o rosto do pescoço dele e o olhei no fundo dos olhos dele- Por que me chama de amor?

Ele não desviou o olhar de mim, e pude ver com maior clareza do que antes, o desejo que ele guardava a sete chaves, desejo de me consumir e ser consumido por mim.

—Você sabe, Sara- ele sussurrou, seus olhos desviando para minha boca

Minhas mãos saíram do pescoço dele para acariciar seu rosto, meu dedo passando de leve por seus lábios. Ele sussurrou meu nome e beijou meu dedo, um singelo beijo que não deveria ter feito meu corpo se contorcer de desejo. Isso não devia estar acontecendo, senti que teria que parar com aquilo agora. Mas Gil puxou meu rosto para perto do dele

—Você sabe o que sinto, Sara? Desde aquela palestra minha alma dói em não te ter para mim. - Ele disse isso em meu ouvido, fazendo com que a pele áspera de seu queixo rosasse em meu pescoço- Você não sente o mesmo Sara? Eu sei que sim...do contrário não me deixaria fazer isso- ele depositou um beijo bem abaixo da minha orelha, logo depois outro bem abaixo, e eu não resisti em pressionar o rosto dele com mais força no meu pescoço, pedindo sem palavras por mais.

—Gil...não posso...meu marido...

E tudo se acabou em um segundo. Ele afastou seu rosto e me empurrou delicadamente de seu colo, mas continuou sentado, colocando os cotovelos nas pernas.

—Desculpe-me...eu não...- e ele riu- Mas você aqui, com os cabelos molhados...e eu penso em como você parece em casa...e penso em todos os nossos momentos...me diz, Sara, parece que somos só amigos para você? - ele me lançou um olhar penetrante, e eu não poderia mentir para ele.

—Não...

—E ainda assim...não trocamos um beijo, mas eu sinto como se você fosse minha, e isso me enlouquece.

Estava parada no meio da cozinha dele, os braços em volta de minha cintura, me sentindo uma criança que havia passado dos limites. E ainda havia um quê de desejo, uma energia sexual que nem a voz fria dele conseguia matar. E ele, estava em agonia, era impossível não perceber. Então eu disse a única coisa que acabaria com as nossas agonias

—Eu sou sua...

—Não, não é- ele me desafiou- Você acabou de dizer isso.

Eu me aproximei dele, com cautela. Fiz com que ele sentasse reto e percebi a evidência de seu desejo contra a calça de moletom que usava.

— Mas posso ser...se você quiser...

—Não me diga isso, se não estiver certa.

Sentei-me em seu colo, já não aguentando a pressão que sentia. Encostei minha testa na dele, as mãos em seu rosto.

—Nunca estive tão certa...

E era verdade, pois naquele momento eu não conseguia me lembrar porque não devia estar ali, com aquele homem. Só conseguia pensar que queria sentir cada pedaço do corpo dele, queria sua língua em minha boca, no meu pescoço, em meus seios.

Então desci meus lábios até seu nariz, sua bochecha áspera, até o canto de sua boca. E ele me tomou para si. Primeiro um beijo raivoso, cheio de reprovação da minha parte pois inconscientemente sabia que estava errada, mas logo ele se afastou, e me deu um selinho, dois, três. Até que, não aguentado mais ele aprofunda o beijo, enquanto uma de suas mãos desce a minha coluna, apertando-me contra ele, se esfregando contra mim. Soube então que não estávamos ali para fazer amor. O desejo que nos acompanhou desde muito cedo em nosso relacionamento tomou proporções épicas. Gil me colocou sobre a mesa, empurrando tudo o que estava sobre ela para o chão. Seguido pela blusa que estava usando,o moletom dele e minhas calças.

—Deus, você é maravilhosa...tão cheirosa- mordeu meu pescoço, descendo as mãos para retirar meu sutiã.

—Gil,...

E ali mesmo naquela mesa ele me tomou para si, não em uma ato de amor. Estavamos loucos demais de desejo para isso. Fora o sexo mais selvagem que fizera em anos.

Mas ao final, quando nossos corpos se separaram e os corações desaceleraram novamente a culpa tomou conta de mim. Empurrei Gil para longe de mim e comecei a procurar minhas roupas desesperadamente, com uma voz na minha cabeça me reprovando: o que foi que eu fiz? Essa era a questão que não me deixava quieta.

O tempo que tomei para me vestir não foi o suficiente para me fazer ter coragem de olhar para Gil, mas me obriguei a fazê-lo. Ele não tivera o trabalho de se vestir completamente. Estava usando novamente seu moletom, e só. O resto de suas roupas ainda estavam no chão. Ele estava novamente sentado na cadeira da cozinha, seus olhos me acompanhando todos os meus movimentos. Não sabia o que dizer, nem ele parecia querer comentar algo. Mas seus olhos já não tinham o mesmo calor de momentos atrás. Ele não era mais meu melhor amigo...nunca mais poderia voltar a ser.

—Gil...isso não pode mais voltar a acontecer...

Ele virou o rosto para o lado, provavelmente não querendo que eu percebesse a emoção em seu rosto

—Sinto muito... eu não sei o que deu em mim...mas eu não posso fazer isso com o meu marido. Nós temos que resolver nossos problemas...nós vamos... ele não merece isso.

—Você está certa, Sara- sua voz saiu fria, sem emoção alguma. Quando ele voltou seu olhar para o meu, não havia um que de emoção em seu semblante. Não havia raiva, decepção ou desgosto- Ele não merece, nem nós...

—Certo... eu... preciso ir...- estava a ponto de chorar novamente e, visto o que acontecera mais cedo, chorar na frente desse homem era perigoso.

Não dei tempo a ele de se levantar e me oferecer uma carona até o bar onde havia deixado meu carro. Conhecendo-o, era bem capaz dele fazer isso, e eu precisava estar sozinha naquele momento. Encontrei minha bolsa jogada no sofá da sala dele. Peguei o primeiro táxi que apareceu e fui em direção ao bar para recuperar meu carro. E só quando cheguei em casa desabei.


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