Infiél escrita por Carol Bandeira


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom dia e bem vindos a mais um capítulo!
Gostaria de agradecer as meninas que deixaram um recadinho para mim no fim do capítulo! É sempre gratificante receber esse carinho. E também aos que estão acompanhando a história também.

Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676621/chapter/2

Ele é mais que um homem

E isso é mais do que amor

O motivo pelo qual o céu é azul

Mas as nuvens estão se formando

Pois vou embora novamente

E para ele eu não posso ser verdadeira

 

 

Apesar da promessa de Derik, as coisas não mudaram muito após nosso pequeno incidente. Eu prometi a mim mesma que tentaria não reclamar muito. Afinal, se ele trabalhava daquele jeito era somente para poder dar a nossa família uma vida comfortável- muito embora eu pensasse que não precisávamos de uma grande fortuna para viver bem.

De qualquer modo, sua ideia de me levar para jantar não era o que eu estava esperando. Pensei que ele reservaria uma mesa em um dos restaurantes badalados e depois iriamos para algum clube para dançar. O homem era um pé de valsa quando queria. Enfim, por coincidência, seu chefe, Sam Braun, resolveu dar um baile em comemoração ao aniversário de um de seus filhos. Derik foi convidado- o que segundo ele, mostrava como seu trabalho estava sendo notado pelo eminente dono de cassino. Muito prático, meu marido pensou que seria uma ótima ideia me levar ao baile em vez de um jantar romântico a dois. Afinal, segundo ele disse, a festa seria de primeiro mundo, com o melhor buffet e o melhor DJ que o dinheiro pudesse comprar. E ele ainda poderia ser visto em uma outra luz pelo chefe.

Por isso, estava eu sentada sozinha em uma mesa enorme enquanto meu marido estava trocando confidências com seus colegas de trabalho. Com um copo de champanhe na mão, tentava me distrair vendo as bolhas subirem no copo, quando uma voz conhecida me chamou

—Não acredito, Sara, o que está fazendo aqui?

Catherine aparecera do nada, trajando um elegante vestido esmeralda sem mangas. Levantei-me para cumprimenta-la

—Olá, poderia perguntar o mesmo a você. Estou aqui com meu marido, ele trabalha para o senhor Braun.

—Ah, sim. Sam é um velho amigo da família, mais especificamente minha mãe. Ela não pode vir hoje, está viajando com minha irmã.

—Quais as chances de estarmos no mesmo evento sem combinar, não é?

—Pois é, Vegas é mesmo a cidade das chances...boas ou más. E então, e esse seu elusivo marido?

Eu iria responder com um “ eu adoraria saber” quando nossa conversa foi cortada por mais um convidado inesperado...por mim provavelmente, já que ele parecia estar ali com Catherine, a julgar pela bebida que ele entregou a ela antes de ele perceber minha presença.

—Sara, uau, que surpresa!- ele parecia genuinamente feliz em me ver, e senti os olhos dele percorrerem meu corpo- Você está...deslumbrante

—Nossa...- senti meu rosto corar, fazia tempos que não provocava essa reação em ninguém. Meu marido me elogiou ao me ver com o vestido tubinho preto, mas não com tanta vontade como Grissom.- Vocês dois também estão impecáveis!

—Sara veio acompanhando o marido, Gil- Catherine disse isso enquanto segurava o braço de Gil.

—Ah, e quando vamos conhece-lo?- Gil não pareceu perder a compostura

—E se essa não é a pergunta que não quer calar?- falei baixinho enquanto observava o salão a procura de Derik- Mas ele desapareceu, então não deve se importar se eu me sentar com vocês, não é? A não ser que queiram ficar sozinhos- afinal, eles vieram juntos, não é?

—Nada disso...Gil é meu melhor amigo, ele me acompanha nessas festas chatas para que eu me divirta

Sorri então, um pouco aliviada por saber que eles não eram um casal. E então segui meus amigos até a mesa que estavam sentados. Foi uma boa meia hora depois que Derik me achou. Sua cara de preocupado me fez sentir um pouco de culpa por não estar onde ele havia me deixado, mas a sensação logo sumiu, ao lembrar do tempo que passei sozinha

—Sara, graças a Deus! Procurei você por todos os lados. Pensei até que já tinha saído.

Poderia ter puxado uma briga ali, dizendo “ já estava pensando em fazer isso, pois seu trabalho mais uma vez o chamou e você me deixou sozinha aqui!”. Só não o fiz por dois motivos, um deles sendo que não queria fazer uma cena na frente de meus colegas de trabalho. O outro era por eu não querer mais comprar brigas com Derik.

— E ir embora sem que você dance comigo ao menos uma vez?- levantei-me da cadeira e estiquei minha mão para ele- Vamos, você prometeu- sussurrei no ouvido dele, do jeito que sabia, o deixaria louco.

Derik não decepcionou e me levou para a pista de dança, onde alguns casais já estavam aproveitando o ritmo lento de uma música. Dançamos umas duas músicas, Derik com olhos só para mim, então senti como se tudo pudesse se resolver. Olhar nos olhos dele e ver a paixão que ainda sentia por mim...bem, minha vontade era a de sair dali naquele exato momento e leva-lo para a cama. Mas tão rápido quanto veio, a oportunidade foi embora. Senti quando meu marido deixou sua atenção voar para o outro lado da sala bem no início de uma terceira música. Acompanhei seu olhar e percebi nosso anfitrião, Sam Braun na mesa que eu havia ocupado a pouco.

—Sara, como seus amigos conhecem o sr Braun mesmo?

— Ah...amigo de Catherine, eu acho.

—Vamos lá, quero te apresentar a ele.

Sem esperar por uma resposta minha ele me puxou de volta para a mesa onde meus colegas estavam.

— Senhor Braun, com licença.

Sam estava em uma conversa animada com Catherine, enquanto Grissom se mantinha de pé ao lado dos dois, com uma expressão de quem adoraria estar em qualquer lugar menos ali.

—Senhor Mills- Sam Braun respondeu educadamente e esperou que ele continuasse

—Gostaria de apresentar minha esposa, Sara.

—É um prazer, sr Braun- eu disse, mas não podia ser o mais longe da verdade. Eu o conhecia agora por reputação, e sabia que ele não é flor que se cheire.

—Sam, Sara é nossa colega no laboratório de criminalística- Catherine interviu e Sam pareceu tomar um novo interesse por mim.

—Ah, mais uma vigilante pela segurança de nossa bela cidade! Seu trabalho é crucial para o meu e o de seu marido, viu Sara?

—Sara é uma excelente perita, sr Braun. Os criminosos que se cuidem- dessa vez foi Grissom quem falou, me deixando envergonhada pelo elogio inesperado e sincero. Mas seu comentário também viera carregado de outras insinuações e Sam Braun também sentiu

—Muito bem, Grissom, não tenho nada a temer com relação a isso. Tenho ótima reputação e uma equipe excelente por trás de mim. Falando nisso, Derik, por que não vem comigo, tenho algo para falar com você.

Derik logo obedeceu e me deixou com um beijo na bochecha e um até logo. Eu não conseguia acreditar que ele tivera a cara de pau de me abandonar pela segunda vez aquela noite. Eu já iria comentar isso com meus colegas mas no momento Cath estava no meio de uma bronca em Gil pelo comentário que ele fez. Então pedi licença para ir ao banheiro, mas em vez disso andei pela festa até encontrar uma saída para a área externa do local. Precisava me afastar da música e de todos.

Em minha cabeça eu não conseguia parar de pensar em como meu marido estava diferente. Ele estava patético em sua pose de cachorro, seguindo Sam Braun como se ele fosse um Deus todo poderoso. Na presença dele eu não existia. Até mesmo me usar por minha amizade com Catherine ele usou! Será que ele não percebia o quanto ele havia se perdido só por conta de um emprego? O quanto ele estava se perdendo de mim?

— Com licença- eu olhei para a direção da voz e vi Grissom parado em frente a porta da varanda- Posso me sentar aí?- ele indicou o banco no qual havia me sentado.

—Claro.

—Se você preferir, posso encontrar outro lugar...acho que está aqui pois quer ficar sozinha, não é?

Sorri para ele e bati no banco, chamando-o para sentar

— Eu só precisava de um tempo longe da música alta.

Grissom sentou-se a meu lado e se pôs a observar o céu. De repente ele começou a falar.

—Sinto muito por mais cedo.

—Ah, mas você não fez nada. Quero dizer, não tem culpa de meu marido estar mais interessado em outro homem do que na própria mulher!

Grissom fez uma cara de surpreso ao ouvir minha fala. Não o culpo, nem tinha ideia do quanto estava irritada com a situação.

—Bem, eu estava pedindo desculpas pela minha fala...senti que te deixei desconfortável...mas é que ouvir aquele homem nos chamando de vigilantes...ah, enfim você não tem culpa da situação. Eu só queria pô-lo em seu lugar...mas Cath me lembrou de que estou no terreno dele, então- Grissom fez um gesto com os ombros como quem diz “fazer o que, né?”.

—Eu também tenho minhas dúvidas quanto ao caráter dele. As histórias que eu ouvi dele desde que cheguei aqui...bem, não é o tipo de pessoa que eu me associaria. Meu marido, entretanto...

Ficamos calados por uns instantes. Eu não queria entrar no mérito do meu marido. Não sabia se conseguiria discutir sobre isso com ninguém, nem mesmo Grissom, a pessoa a quem mais era próxima ali.

—As vezes, nós homens ficamos tão preocupados com a questão financeira que nos esquecemos sobre as coisas que mais importam na vida... você verá, dê um tempo a ele, logo ele descobrirá- Grissom colocou sua mão direita sobre a minha mão esquerda, e a apertou de leve

—Você não parece ser esse tipo de homem...por que se inclui no grupo?- eu disse, enquanto virava minha mão para segurar a dele

—O que te garante que eu sou assim, diferente?- ele perguntou, um lindo sorriso brotando em seu rosto.

—Algo me diz..seus olhos talvez- eu disse, encarando seus lindos olhos azuis- e o jeito que você encara seu trabalho...não como se fosse um meio para um fim, e sim uma vocação. Eu acho isso...lindo

O sorriso dele se alargou ainda mais, e eu só pude sorrir de volta. Era contagiante.

—Vejo o mesmo em você, Sara. Não são todos que tem essa paixão pelo que fazem. E isso que te torna uma excelente perita.

Novamente ruborizei com a fala dele. E o sorriso que ele me deu,a mão dele segurando na minha. Senti então naquele momento aquele nervoso na boca do estômago, associado aos primeiros dias de uma nova atração. Sabia que sinalizava perigo também, mas estava tão cansada da situação que me encontrava, tão desapontada em meu marido, que fingi que isso não era nada. Era só amizade.

—Você quer dançar comigo?

Ai já era golpe baixo!

—Griss...

—Só como amigos, eu sei- ele disse com seu lindo sorriso nos lábios- Só pensei que você merecesse aproveitar um pouco mais da festa. Além do mais, Derik irá me agradecer depois. Se você dançar comigo, nenhum homem ficará te importunando. Serei um cavalheiro, eu juro!

Como se resiste a um pedido desses? Aceitei e voltamos para o salão em meio aos risos, em parte por nervoso de estar nos braços dele, sentindo o que não devia, e em parte de alívio, pois estava me sentindo mais leve, por poder conversar com alguém e tirar da cabeça aqueles pensamentos negros de mais cedo.

Nossa dança se estendeu por um bom tempo, com Grissom dançando comigo em seus braços quando o ritmo era lento. Nessas músicas, ele me divertia contando casos relacionados aos ilustres convidados da festa. Nas vezes em que o ritmo era mais rápido eu tentava ensinar a ele a coreografia, mas Grissom não era nenhum Jonh Travolta da vida. Então ríamos mais um pouco.

Ficamos desse jeito até Catherine chegar exigindo também uma dança, a qual ele prontamente aceitou. Eu pedi licença e fui atrás de algo para beber. Com uma taça de champanhe nas mãos novamente procurei meu marido, o qual estava entretido com alguns de seus colegas de trabalho. Ele me viu e logo já estava a meu lado, com uma cara não muito boa.

— Posso saber onde você estava?

—Ué, na festa!

—Não pareceu...pois te vi sair sozinha da varanda com aquele seu...chefe, sei lá. Era uma festa privada, Sara?!

—Como você se atreve!- eu não acreditei no que escutei- Você só pode estar de sacanagem comigo, Derik Mills! Foi você que me deixou sozinha a noite toda, pra ir babar ovo do teu chefe, sendo que você me prometeu uma noite romântica! Me trouxe para esse lugar que eu não conheço ninguém, e agora fica insinuando que eu estava escondida, dando para meu amigo?! É isso mesmo?!

Vi meu marido empalidecer na minha frente. Não porque eu gritei. Minha vontade era essa, mas minha voz simplesmente saiu baixa e seca. Nunca havia falado daquele jeito com ele, e acho que se tivesse gritado não teria assustado tanto a ele.

—Sara, me perdoe eu...

—Não!- Dessa vez levantei minha voz, o que fez com que ele se sobressaltasse- Vamos fazer o seguinte, EU vou embora e você fica aí, fazendo o que sei lá que é tão importante para você. Em casa a gente conversa.

Fui até a mesa onde estava minha bolsa, andei a passos largos até a porta de entrada do evento. Derik me alcançou ali e me segurou pelo braço.

—Querida, por favor...deixa que eu te levo para casa

—Não!

—Sara, me escuta- ele me fez virar o corpo até encará-lo- Você não precisa me perdoar agora, mas ao menos me deixe leva-la para casa...

—Por que, pois tem que manter as impressões de família feliz para o chefe?- minha voz nunca saiu tão ácida.

—Não, porque eu te amo e não quero ficar aqui sem você...não tem graça...

Eu poderia responder a ele de diversas formas, para dizer a ele que isso não era verdade. Mas o valet já estava me dando nos nervos, ali fingindo não prestar atenção na nossa conversa. Aceitei ir para casa com Derik, deixando-o mais aliviado. Mas nossa corrida para casa foi passada em silencio. Cada minuto que passava ao lado dele me dava vontade de gritar, de espernear, de chorar.

Ao chegar a casa me tranquei no banheiro, enchi nossa banheira de água quente e tentei relaxar. Mas estava longe de conseguir. Não conseguia entender o que estava acontecendo com a gente. Talvez tenha sido a cidade dos pecados, nos fazendo aflorar nossos desejos profundos...a ganância e a sede pelo poder estavam o transformando. Eu já não via mais o homem com quem casei. Mas também não enxergava mais a mulher que assumiu um compromisso perante Deus e o mundo de amá-lo e respeitá-lo. Eu ainda amava meu marido, mas o que dizer de um amor que é esquecido completamente ao estar nos braços de outro homem?

Naquele dia, sentada na banheira tentei racionalizar meus sentimentos, dizendo que o que estava acontecendo era somente uma resposta aos meus problemas com Derik. Assim que conseguisse passar por cima disso, assim que ele se estabilizasse em seu emprego, eu não mais buscaria conforto nos braços de Grissom como estava fazendo agora. Só teria que me controlar e lembrar de não estragar uma amizade só porque estava me sentindo sozinha. Era isso. Solidão era um sentimento que nos fazia fazer e pensar coisas ridículas. Eu e Derik ficaríamos bem.

Se eu soubesse o quanto estava errada...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Infiél" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.