POV Elijah.

“- Sinto-me ridícula. – Isabella suspirou em meu peito.

— E por qual razão? – Perguntei aninhando-a ainda mais.

— Tu ainda nem partiste e já estou a me lamentar por tua ausência.

— Tens plena consciência de que retornarei para teus braços, não? – Afaguei-lhe a face com o polegar.

— Sei disso... Mas ainda assim... Sinto-me tão incompleta em tua ausência. - Sentou-se na cama afastando levemente as pesadas cortinas, fazendo com que o sol permeasse o quarto, manchando de um amarelo cálido sua pele tão alva. Nunca, em toda minha existência apreciei tanto a exatidão de meus apurados sentidos de vampiro quanto naquele segundo. A cascata de cachos que despendia do alto de sua cabeça, ainda bagunçados pela noite anterior.  A forma como seu dorso movimentava-se a cada respiração. Seus olhos castanhos, sempre tão profundos e reveladores, presos ao horizonte. O som das ondas do mar alguns metros além coroavam o momento onde desejei ser capaz de matar o tempo, apenas para fazê-lo durar pela eternidade.

— Não tardará o meu regresso... – Puxei-a para meu peito novamente depositando beijos pela extensão de sua clavícula – Meu coração permanecerá com você. Por toda a eternidade.

— Sempre e para sempre. – Ela sorriu ao repetir nossa promessa.

— Sempre e para sempre. – Repeti ao selar nossos lábios.

Nada me faltava naquele momento. Estava completo... Como sempre estaria ao lado de Isabella”

Estava assombrado com a intensidade do meu ultimo sonho. Ainda podia sentir o veludo de sua pele junto a minha. O desespero por ter que deixa-la e o amor gigantesco e devastador que fazia-me ofegar tamanha sua potencia.

Pela primeira vez em 50 anos eu não me sentia como um mero expectador no sonho. Aquele sonho era meu. Assim como, de alguma forma, meu coração dizia que Isabella também era.

Fui arrancado de meus devaneios pelos gritos de Rebekah pelo corredor.

— Lijah, vamos nos atrasar! Pela primeira vez eles estão sendo legais comigo, se nos atrasarmos eu juro que vou te trancar num caixão...

Fechei a porta de meu quarto abafando a tagarelice de minha irmã, enquanto procurava algo para vestir.

Precisava de uma camiseta e uma... calça jeans?

A ideia de tais peças de roupa causava-me repulsa. Ternos são sempre a melhor solução. Apanhei uma camiseta e uma calça jeans que posso afirmar nunca ter usado. Sentia-me um adolescente dentro daquela roupa.

Sai do cômodo encontrando uma Rebekah aflita com dois pares de sapatos nas mãos.

— Ok, preciso de ajuda. Sexy e provocante – Ela mostrou um sapato de salto alto – Ou casual e descolada? – Uma sapatilha.

— Acho que... – Analisei a calça jeans apertada e a blusa preta que vestia. Arrisquei um chute. - Sexy e provocante?

— Tem razão, casual e descolada. Obrigado maninho. – Ela atirou os saltos longe enquanto calçava as sapatilhas.

— Por que pediu minha opinião se sabia qual usar?

— Não sabia qual usar. Precisava da sua opinião para saber qual não usar.

Rolei os olhos enquanto saiamos em direção à casa dos Salvatore.

POV Isabella.

Concentrava-me na tonelada de borboletas que habitavam meu estomago enquanto o Volvo deslizava rápido sobre as ruas de Mystic Falls. A animação que me envolvia era palpável. Por mais que tentasse não conseguia me lembrar de quando me senti assim pela ultima vez. Meus lábios moverem-se num sorriso involuntário ao avistar o Lincoln MKZ estacionado em frente à casa dos Salvatore. Convenci a mim mesma de que a felicidade que senti ao ver o carro não era motivada por saber que seu dono já estava na casa, mas sim por que, de alguma forma, o veiculo lembrava-me o Batman.

Saímos do carro nos reunindo ao resto da família Cullen no pequeno alpendre que resguardava a imensa casa. Podia ouvir inúmeras vozes misturadas com uma musica animada quando me aproximei da porta e bati três vezes. Algumas das vozes cessaram quando a porta foi aberta revelando um sorridente Stefan.

— Oi Bells!

— E ai Stef – Retribui seu sorriso contagiante

— Entrem, por favor. – Ele deu passagem para que entrássemos.

— Hey Bell! – Elena gritou acenando assim que cruzamos a porta, sorri e acenei de volta.

— Sejam bem vindos. – Stef dirigiu-se aos Cullen - Eu sou Stefan Salvatore. Este é meu irmão Damon e minha namorada Elena. - Assim que eram anunciados eles levantaram a mão – Essas são Bonnie e Caroline. Elijah e Rebekah Mikaelson. – Ele apresentou todos os que eu já conhecia e passou para os quatros rostos masculinos desconhecidos na sala. - Estes são Alaric, Jeremy e Matt. 

— Ok, minha vez. Estes são Carlisle e Esme – Apontei para os “patriarcas” da família - E Rosalie, Alice, Jasper e Emmet.

— É um prazer – Carlisle disse formal – Obrigado pelo convite Stefan.

— Sejam bem vindos – Elena sorriu amigável aproximando-se - Vocês todos são... vampiros?

— Sim. – Esme riu fraco – E vocês são?

— Eu sou humana. Assim como Jeremy, Matt e Rick, que também é um caçador de vampiros. Bonnie é uma bruxa e Stefan, Damon, Caroline, Elijah e Rebekah são vampiros.

— Venham, sentem-se. Fiquem a vontade. – Stefan conduziu até a sala. – Vocês não bebem, certo?

— Não, obrigado . – Edward respondeu quando nos sentamos em um grande sofá.

— A Bella bebe, não bebe? – Demon perguntou do pequeno bar – Não se recusa Bourbon! – Alertou entregando-me um copo.

— Só um copo – Dei de ombros, sentindo o olhar de Edward sobre mim.

Todos acomodaram-se na sala. Eward, Carlisle, Esme e eu em um sofá. Elena, Stefan e Alaric em outro a nossa frente. Caroline, Bonnie, Jeremy, Rebekah e Matt em almofadas no chão perto da mesinha de centro. Alice, Jasper, Rosalie e Emmet num banco frente a lareira. Damon ao lado do bar e Elijah em uma poltrona próxima. Pela primeira vez não o via de terno. Usava uma camiseta azul escura que destacava-lhe a pele, junto com um jeans e sapatos sociais. Não podia negar que estava uma graça. Era estranho vê-lo tão informa, é verdade, mas tais peças lhe caiam muito bem. Os acordes finais de “Waste a Moment”* faziam com que toda a cena parecesse um seriado adolescente.

— Bom, já que estamos todos aqui, gostaríamos de conversar sobre a permanência de vocês na cidade e sua dieta. – Stefan perguntou após todos se acomodarem.

— Nos alimentamos apenas de animais e podemos caçar longe da região se preferirem. – Assegurou Carlisle – Já nossa estadia será o tempo necessário para reaver as memórias de Bella. – Ele sorriu paternal para mim – Como é a dieta de vocês?

— Eu me alimento de animais – O mais velho dos Salvatore contou – Já os outros se alimentam apenas de bolsas de sangue.

— Falem por vocês! – Foi alfinetado pelo irmão.

— Damon! – Stefan repreendeu – Não liguem pra ele, por favor. Estou certo de que nossas dietas não serão um empecilho.

Algumas conversas aleatórias iniciaram na sala enquanto me perdia em meio a um pensamento: Eu já havia matado alguém?

Era um questionamento que já havia passado pela minha mente um milhão de vezes e que eu insistia em deixar de lado. Pensar na mínima hipótese de que eu tenha ferido um ser humano inocente me aterrorizava. Infelizmente, algo dentro de mim dizia que eu estava banhada em sangue.

Pela primeira vez desde que cheguei em Mystic Falls pensei em Jacob. Qual seria a reação dele ao saber o que eu era? Ele que tentou por tanto tempo me fazer mudar de ideia quanto a imortalidade. Como ele ficaria ao saber que esse tempo todo eu já estava morta? Que durante todo o tempo eu era um monstro.

Afastei meus pensamentos ao sentir minha pele arder sob um olhar. Levantei meus olhos apenas para confirmar o que já sabia. Elijah me encarava fixamente, parado ao lado do bar, no lugar antes ocupado por Damon que agora estava sentado de costas para o balcão. Minhas pernas levantaram-me sem que eu desse a elas esse comando e me guiaram até o pequeno bar.

— Achei que tinha dito “só um copo” - Ironizou com um meio sorriso assim que me aproximei.

— Acho que... Dadas às circunstancias, “um copo” significa “muitos copos”. – Justifiquei enchendo meu copo.

— É um argumento valido, mas vai precisar de algo a mais – Ele piscou tomando meu copo recém servido e pegou uma garrafa escondida abaixo do aparador – Se vai beber tem que beber com estilo. – Disse enquanto servia-me uma dose da nova garrafa. A tonalidade da bebida era no mínimo três tons mais escura que a anterior.

Estiquei minha mão para pegar o copo e o contato de nossas peles foi inevitável. Senti meu corpo gelar quando nossos olhares se conectaram, não estou certa de quantos segundos passei perdida naquele mar castanho escuro, mas tinha certeza de que foi bem mais tempo do que o nível “conversa casual” suportaria. Ele baixou o olhar encostando seu copo no meu em um brinde e levamos a bebida aos lábios no mesmo momento. Senti o liquido queimar minha boca e deixar um rastro de fogo dentro de mim. Seja lá o que fosse era muito mais forte que o que eu bebia antes. Arfei baixo e cocei a garganta quando ouvi o riso de Elijah.

— Que foi?

— Nada. – Ele prendeu o riso e me olhou com ternura - Só que... Seus gestos ainda são tão... humanos. É algo que se perde facilmente em nosso mundo. Preserve isso.

Arfei uma segunda vez e pude sentir minhas bochechas arderem, não tinha certeza se a reação era fruto da bebida ou do comentário. Meu constrangimento felizmente foi cortado pela voz de Damon.

— Se eu olhar para traz e ver minha garrafa de Glen McKenna** aberta alguém vai perder a cabeça. – O Salvatore mais velho disse pausadamente num tom perceptivelmente irritado.

— Se bem me lembro já tentou fazer isso uma vez e não acabou bem... Pra você é claro. – Elijah riu em escárnio e ao pude evitar acompanha-lo.

— Sorte sua ser um Original. – Ele levantou-se servindo-se do próprio Whisky.

— Sorte sua eu ser paciente. – O moreno passou a minha frente e seu semblante estava tão sombrio quanto seu tom de voz – Você mesmo disse. Eu sou um Original. – Fez uma pausa enquanto um sorriso irônico plantava-se em seus lábios - Mostre um pouco de respeito.

Arregalei meus olhos perante sua mudança de humor e senti a necessidade imediata de colocar-me entre os dois.

— Whoa! Easy tigers!*** – Afastei os dois com um sorrisinho – Somos todos amiguinhos, certo? Certo.

Esperei até que a tensão diminuísse e regressei para o meu lugar ao lado de Edward que me olhava num misto de interrogação, ciúmes e impaciência. Seu semblante foi transformado assim que me sentei ao seu lado e ele pode passar seus braços ao meu redor.

O que se seguiu da noite foi tranquilo. Carlisle, Esme e Elijah conversavam sobre as distinções de nossas espécies. Damon, Ed, Emm, Jazz e Jaremy conversavam sobre carros. Caroline, Rebekah, Alice, Rose, Bonnie e Elena falavam sobre moda e outras futilidades. Já eu divagava sobre minha existência e sobe como tinha sorte em ter todas aquelas pessoas perto de mim. Prendia meus pensamentos nas coisas positivas para não sucumbir ao pensamento que me assombrava. Para não ouvir o monstro que ronronava dentro de mim. Um monstro que eu temia despertar.