Chaos escrita por VersalhesTodd


Capítulo 3
III. Cometemos Assassinato!


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que eu não atualizo essa história há mais de um ano, mas em minha defesa eu não fazia ideia de que tinha passado tanto tempo!

Desculpem pela demora, eu fiquei extremamente ocupado nesse último ano e agora eu estou me forçando a voltar a escrever para não perder o costume e decidi continuar com essa história que não sai da minha cabeça.

Espero que gostem!



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Afagava os cabelos louros de Lucy com um sorriso no rosto enquanto ela tomava seu suco de maçã na caixinha. Eu ficava agachado em frente ao tronco onde ela balançava as perninhas, sentada, cantarolando uma música enquanto bebia. Havia acabado de escovar seus cabelos e agora acariciava sua cabeça com a faixa cor de rosa que ela pedira para usar. Conseguia ouvir os Noble em suas adoráveis e caridosas vozes tentando acalmar Vanya e os passos pesados para lá e para cá de David, que não parecia nem um pouco satisfeito com a situação.

— Não foi fundo, minha querida, você vai se recuperar logo. Aqui, beba um pouco de água. — Era a voz da Sra. Noble.

— Agora, fique firme, criança. Isso vai arder um pouco, vou tentar não demorar muito. — O Sr. Noble estava novamente cuidando da ferida no braço de Vanya. Não havia piorado, pelo que ele dissera, mas todos ainda estávamos preocupados.

Virei-me para observar a cena ao meu redor. A Sr. Noble mantinha-se firme ao lado de Vanya, que estava sentada no porta-malas dos Noble. Seu ombro era pressionado de leve como incentivo por nossa vizinha. Já o Sr. Noble tinha uma expressão carrancuda, usando um algodão embebedado no álcool do kit de primeiros socorros que estava usando para limpar o ferimento. David olhou para mim, irritado, como estivera desde que paramos. Desviei o olhar sem pensar duas vezes, ainda sentindo um pouco de calafrios sempre que olhava para ele.

Suspirei ao ver Zeek sozinho, contemplando a grama sob seus pés, sentado no porta-malas de nosso carro, alguns metros longe de todo mundo, apoiando a cabeça no braço e o braço na perna semi-flexionada enquanto a outra balançava igual à sua irmã. O aperto voltou ao meu coração e me esforcei para segurar as lágrimas.

— Papai, cabô! Cadê o lixo? — Voltei a encarar a pequena, sorrindo novamente. Seus olhinhos atentos procuravam uma lata de lixo, mas não encontraria nenhuma por perto. Ali era um lugar perigoso de noite, mas durante o dia ninguém nos incomodaria. Precisávamos de suprimentos, roupas, tudo.

— Entrega pro seu irmão, ele vai saber onde tem lixo. Pode ir com ele, se você quiser. — Ela pulou para o chão e correu até Zeek, que demorou um pouco para responder, mas após alguns instantes concordou em levá-la para passear depois de eu assentir com a cabeça.

Suspirei, levantando-me com um pouco de esforço, ouvindo David reclamar.

— Vocês todos vão ignorar o que está acontecendo? Ela foi mordida! — Seu tom era trovejante, quase amedrontador. — Olha... Vanya, não é? — A moça assentiu. — Me desculpe, mas você sabe o que precisa ser feito. Vai ser melhor se fizermos isso agora do que esperar isso aí piorar.

— David, não vamos assustar a garota. Veja, ela está bem! E Galen está cuidando bem dela até encontrarmos um hospital.

— Hospital? Você quer largar ela num hospital com o que acabamos de ver? — Incrédulo com o que eu ouvia, balancei a cabeça, negando veemente. Olhei por um instante para a garota que acabara de perder o marido. Seu olhar era preocupado, doloroso e a menina clamava por proteção. Eu não a deixaria sofrer desse jeito.

— É claro que não! Ela só precisa de alguns curativos, vai ser rápido. — Vanya reclamava de dor com o álcool em contato com o machucado, e aquilo me fazia engolir em seco. Eu não queria deixá-la preocupada. Estava de luto pelo marido e um dia antes do enterro, essa bagunça...

Suspirei, pensando no que fazer. David não parecia o tipo de pessoa que dava com o braço a torcer, mas Galen exclamou em um tom alegre e gentil logo depois de meu comentário.

— Pronto, minha querida. Agora você vai ficar boa. Acho que não precisamos parar no hospital, afinal. Mas ainda vamos precisar de suprimentos, Malcolm.

Assenti com a cabeça, meneando em seguida para que David me acompanhasse para longe dos Noble e de Vanya. Ela precisaria se recuperar. Mesmo sendo superficial, sua mordida havia causado um estrago e a tensão ao redor de todos nós, até mesmo da pequena Lucy era grande.

— David, você veio do exército, não é? Tem treinamento militar. — Um aceno curto de cabeça respondeu minha pergunta. — Não podemos deixar a pobre coitada sozinha, você deve saber como agir se um colega é atingido por uma bala inimiga.

— Isso é diferente. Eu realmente sinto muito, mas não podemos correr o risco dela se infectar. Eu sei que parece loucura, mas nós vimos com nossos próprios olhos, não tem como negar.

Apesar de estarmos sussurrando, eu sentia cada palavra como se ele gritasse. Minhas próprias palavras pareciam gritadas quando saiam de minha boca e atingiam meus ouvidos. Eu quase não conseguia suportar o olhar de David, mas me forçava a continuar encarando seus olhos, pois a dor de perder Alexandra martelava em minha cabeça toda vez que eu olhava para o vazio. Estranhamente, em seus olhos, encontrei compaixão.

— Olha, eu sinto muito por sua esposa. E sinto pela garota também. Mas você tem uma filha pequena, um filho que com certeza está passando por um trauma gigantesco e um casal de idosos que parece muito simpático para simplesmente arriscar a vida de todos. — Não queria admitir que ele estava sendo racional, mas era um fato. Zeek simplesmente parara de falar com todos, excerto Lucy, e a pequena ainda não entendia o que estava acontecendo direito. Eu precisava pensar neles agora. Mas Vanya também fora nossa vizinha durante muito tempo e sempre fora uma garota muito doce. Seu marido Bob também era um cara bem bacana, e quando recebemos a notícia de que ele havia falecido, todos ficamos tristes.

— Prontinho, meu amor. Só não esqueça de não fazer muito esforço com o braço machucado, sim? — A voz de Galen soou alegre.

— Tudo bem. Obrigada, de verdade. Posso preparar um pouco de comida, já passou da hora do almoço. — Vanya respondeu, um pouco tímida. Ela sabia que a maioria das discussões era sobre seu braço machucado, mesmo que tentássemos manter as vozes baixas.

Queria dizer que não precisava, mas não encontrei as palavras certas para não a ofender. Eu estava mais preocupado com seu esforço do que com a dúvida constante que David reforçava em nossa mente... Como se precisássemos que ele nos lembrasse que Bob havia mordido seu braço depois de voltar dos mortos e ainda tinha sido o responsável pela morte de Alexandra.

Suspirei e caminhei na direção dos Noble, dando minha discussão com David encerrada. Não sorri dessa vez, não tinha forças para isso. Eu mal conseguia forçar aqueles sorrisos caridosos para minha pequena, eu não poderia fazer isso com Vanya quando todos além de David tentavam despreocupá-la. Eu precisava ser apenas... Eu.

— Seria ótimo, Vanya. Muito obrigado. Consegue cozinhar sem um fogão? Vai precisar de uma fogueira. — Ela assentiu, com um esboço de sorriso em seu rosto. Talvez ser útil fosse sua forma de pedir desculpas por algo que nem mesmo era sua culpa. Não era culpa de seu marido que voltara dos mortos. Aquilo era um apocalipse, ninguém tinha culpa de nada ali. — Fale com David. Ele vai pegar um pouco de lenha para acendermos uma fogueira.

Virei a cabeça para o homem que estava novamente em sua pose militar, encarando-me com uma carranca. Não desviei o olhar, penetrando em seus olhos e, por fim, ele cedeu, provavelmente pensando que, mesmo não gostando de ter Vanya por perto, ela poderia sim cozinhar algo para variar. Voltei-me então para Galen.

— Vovô, posso falar com você um instante? — Eles foram até a parte da frente do carro, que estava estacionado de ré, para ter um pouco mais de privacidade. — Então... O que acha que vai acontecer com Vanya? — Ele estava aflito demais para ser sutil, mas Galen era um homem bom e gentil, então sorriu e assentiu.

— Ela ficará bem. Não acho que o machucado vai infeccionar e ela está forte e saudável. Só precisamos torcer para que ela não piore.

Ele parecia bem confiante naquilo e admito que essa confiança tirava parte do peso que eu sentia. Mas não totalmente.

— Você sabe o que está acontecendo, não é?

— Ora, claro que sei. Os mortos estão voltando à vida. Zumbis... De todas as formas que um apocalipse poderia acontecer, foi da forma mais fictícia. — Eu o encarava com certa surpresa. Não esperava que o velho e alegre Galen Noble conhecesse tanto sobre zumbis. — Ora, Malcolm! Temos TV em casa. Assistimos filmes e séries de zumbis como todo mundo.

Permiti-me um risinho. Bem, isso me poupava o trabalho de explicar as coisas para o casal, e se Vanya estava bem, então havia esperanças. Talvez David estivesse errado.

No campo, ouvi o crepitar de fogo e me virei para ver o que estava acontecendo. David já havia colhido os galhos e acendido a fogueira, que agora crepitava enquanto Vanya esquentava algumas latas em um suporte que provavelmente David improvisara.

— Por que não voltamos e temos uma refeição decente? Temos energia, temos gás encanado e temos geladeiras. O fim do mundo ainda não começou. — Nina sugeriu e eu até concordava com ela, mas não teria coragem de voltar para nosso bairro sabendo que Alexandra estava lá. — Também temos os outros vizinhos... — Ela soava preocupada.

— Não podemos... — Disse, em um lapso de consciência. Houveram tiros, os corpos de Bob e Sandra estariam jogados no chão. Aquilo ainda não era o fim do mundo... Todos nós havíamos fugido sem nem pensar, o que tínhamos na cabeça? Quem acreditaria em nós? Éramos todos cúmplices de um crime! E pior, Zeek havia matado Sandra com um tiro na cabeça... — Zeek! — Exclamei, em meio à minha epifania. — Precisamos encontrar Zeek!

Havia deixado meus filhos à deriva e Zeek estava com a arma do crime. Se já estivéssemos sendo procurados à essa altura – e com certeza estávamos –, meus filhos estavam correndo perigo. Zeek poderia ser preso.

— Nós matamos Sandra! — Expus. — Cometemos assassinato! — Nenhum de nós havia parado para pensar nisso após o ocorrido, mas estava tudo tão claro agora.

— Ei, ei, ei... Fica frio, Malcolm. — David começou, mas eu não queria ouvir qualquer coisa que ele pudesse dizer naquele momento.

— Meus filhos estão sozinhos com a arma que Ezequiel usou para matá-la! Nós temos outros vizinhos, eles devem ter visto o que aconteceu!

— Você acha mesmo que já não estaríamos presos se a polícia estivesse atrás de nós? — Ele continuou, não me dando ouvidos. — Pelo amor de Deus, isso foi ontem! No mínimo estariam nos procurando, e não estamos tão longe assim do seu bairro.

Aquilo me tranquilizou um pouco, mas não havia lógica em a polícia não estar nos procurando. Eu ainda precisava dos meus filhos seguros.

— Beba um pouco de água e se acalme. Zeek está com a irmãzinha, certo? Eles vão ficar bem. Não podemos mais voltar, se voltarmos, com certeza seremos presos. Não há nada que eu possa fazer. Que nenhum de nós possa.

Aceitei a garrafa de água e tomei alguns goles, tentando me acalmar. Mas como poderia com Lucy e Zeek por aí? Eles haviam ido jogar o lixo fora, já deveriam ter voltado...

Vanya esquentava a comida para todos na pequena fogueira. Parecia tão ridículo quanto Nina apontara, podíamos parar em algum lugar ao invés de ficarmos nas ruas, e precisávamos de suprimentos, não importava o que David falava, já havíamos discutido sobre parar em algum supermercado e ele preferia não fazê-lo. Besteira. Era melhor irmos agora que o caos ainda não havia se instalado.

Suspirei, sabendo que estava impotente naquele momento, não adiantava ir procurar por meus filhos, Zeek sabia se virar e eu precisava acreditar que eles iriam voltar em segurança.


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Notas finais do capítulo

Bem simples e aparentemente filler... Só aparentemente mesmo porque eu não crio fillers, todo capítulo tem pelo menos uma informação importante escondida, cabe a vocês encontrarem sozinhos!

Por favor, comentem, me digam o que acharam! Esse feedback é importante para eu saber o que melhorar na história!

Obrigado por lerem!



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