Chaos escrita por VersalhesTodd


Capítulo 2
II. Aquele Maldito Trem!


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou! O segundo capítulo é bem mais curto do que o primeiro, eu achei um pouco mais massante, mas ainda gostei muito do resultado final. Espero que também gostem.

Elenco:

Veronica Weiss - Rose Leslie - http://goo.gl/WRO2W8
Robert Majors - Taron Egerton - http://goo.gl/hrdEDt



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A bateria do celular estava acabando e eu ainda precisava passar na casa de Robert. Revirei os olhos caminhando com certa pressa na rua, tentando chegar logo no metrô. Era incrível como tudo parecia mais longe quando eu estava atrasada. Meu chefe me dispensara mais cedo porque queria treinar outra garota para ser minha ajudante hoje, então avisei Robert que iria para a casa dele. O problema é que logo depois disso a bateria acabou.

Era quase uma hora de viagem da boate até a casa dele, mas a rua ficava cheira à essa hora e isso fazia com que eu andasse mais devagar, porque sempre tinha alguma coisa que me impedia de andar em linha reta. Fosse um cruzamento na rua, pessoas e animais passando ou lixo que definitivamente não iria sujar meu salto. Ah, claro, os imbecis na rua tentando chamar minha atenção. Um cara em um carro parado, esperando o semáforo abrir começou a buzinar e me chamar. Eu sabia que era eu, não havia nenhuma outra ruiva no meu campo de visão para ele estar gritando isso para elas.

Agora eu lembrava porque eu odiava sair cedo do trabalho. Eu me vestia para trabalhar em uma boate até de madrugada, não para sair de lá às nove da noite e ser assediada na rua. Mas acho que é o que tem para hoje.

Chegar no metro não é problema, só demorado, mas eu imaginava a fila enquanto descia as escadas. A surpresa veio assim que alcancei o último degrau: não havia fila. Não muito longa, pelo menos. Quatro pessoas nos caixas comprando seus bilhetes. Dei de ombros, feliz e fui comprar o meu.

Certo, nem tudo era tão ruim. Depois de comprar o bilhete, desci as escadas depois da catraca para pegar o trem que parava na casa de Robert e, por sorte, esse chegou rápido.

Ao menos não estava lotado, e eu esperava que continuasse assim. Odiava quando o trem ficava cheio e eu chegava na casa de Robert fedendo a todo tipo de gente que saia do trabalho e escola.

Ficava batendo a bota impacientemente no chão, olhando para a frente de trem, mas mesmo estando “vazio”, ainda havia muita gente na minha frente e o vidro que mostrava os trilhos estava atrás delas. Nem isso podia me distrair naquele momento.

Suspiro, tentando não me irritar mais. Robert com certeza iria discutir comigo por não ter avisado sobre o celular, eu não estava com cabeça para isso. Olho para os outros passageiros com certo desdém, imaginando como eram as suas vidas. Uma mulher com feições cansadas, que usava roupas simples. Tinha uma sacola na mão, mas não parecia nova, estava gasta. Provavelmente estava voltando para casa depois de uma visita a alguém. Um homem levemente rechonchudo que com certeza estava voltando do trabalho. O fracasso das suas roupas tentava passar um ar social, o que não estava funcionando, e tinha uma pasta de arquivos sob o braço. Um garoto forte, mais novo do que eu, devia ter uns dezenove anos, no máximo, poderia estar indo para ou voltando de qualquer lugar.

E era só isso. Eu deveria estar com muita sorte para que o trem estivesse tão vazio, até pensei em ir para a frente dele, mas as escadas estavam mais próximas aqui e eu estava atrasada. Pelo menos havia só mais dois pontos.

Assim que o trem parou na estação, corri escada acima quando as portas abriram o bastante para eu passar. Nota mental: continuar magra. Atravessei a catraca e sai para a rua, andando depressa, sentindo o cheiro da cafeteria que havia ali do lado. Eu realmente esperava que Robert tivesse guardado alguma coisa para eu jantar.

Dois blocos. Dois blocos inteiros e finalmente cheguei no prédio, só faltava me subir os sete lances de escada. Aquele elevador nunca funcionava mesmo. Cumprimentei o porteiro e corri escada acima novamente. As tábuas rangiam sob meus pés e o corrimão estava mais ou menos solto. Por que ninguém se dava ao trabalho de consertar isso? Eles não eram exatamente pobres naquele prédio.

Sinto meus pulmões encherem e esvaziarem completamente quando finalmente alcanço o apartamento 716 antes de levar a mão à campainha e ouvir o badalar da mesma. Ao fundo, uma melodia de um rock que sempre está tocando na casa de Robert.

— Finalmente. Que ele esteja de bom humor. — Sussurro a mim mesma, ouvindo o ressoar da campainha e os passos dele até a porta, que logo se abre.

— Oi, gata. Demorou. — Suas primeiras palavras. Por que eu não estava surpresa? Felizmente, ele tinha um sorriso no rosto e mantinha os braços abertos.

Dei um passo para a frente, agarrando seu corpo e sentindo seus braços se frecharem às minhas costas, completando o abraço, que logo se tornou um beijo quando levantei a cabeça e ele desceu os braços à minha cintura, colando seus lábios aos meus.

— Essa merda de celular descarregou. Tem uma tomada livre?

— A da cozinha.

Eu já estava dentro do apartamento. A cozinha era o primeiro cômodo, logo depois da porta, com apenas um corredor de mais ou menos um metro antes da passagem para dentro. O balcão completava a outra “parede”, dividindo o cômodo com a sala de estar. Ali havia a tomada que Robert apontara.

— Tudo bem se eu passar a noite aqui? — Estava com a bolsa sobre o balcão, tirando o carregador de lá e o desenrolando. Ele faz um “uhum”, que vem da sala. Nem havia percebido que ele não estava mais no corredor.

Olho para ele e começo a sorrir. Ele está sentado no chão, na frente do sofá, várias folhas de papel estão espalhadas pelo chão, organizadas em um sistema que só ele entendia. Ele mantinha uma prancheta em uma mão e um lápis em outra, mas estava olhando diretamente para mim com um sorriso quase bobo.

Caminho até ele, o celular vibra sobre o balcão, anunciando que estava carregando e passo com cuidado pelas folhas, sentando-me ao lado dele.

— Compondo alguma coisa?

— Tentando. Não está exatamente dando certo.

— Vai pensar em alguma coisa. E o que é isso? — Estava apoiada em seu ombro e puxei uma folha do chão. Um de seus rascunhos com uma letra estranha. — Que isso, Rob?

— Não é nada, só um rascunho. — Ele tenta pegar a folha com um pouco de urgência, mas a tiro de seu alcance.

— And after all this time/I still think of you/Loving her with all my heart/But waiting for you to say it too. Robert, o que é isso? — Esbravejo, levantando-me em um pulo com a folha na mão.

— Já disse, Rony, não é nada, é só uma letra. E isso tá horrível, preciso pensar melhor. — Ele levanta o braço, como se requisitasse a folha de volta.

— Robert, tem certeza de que isso é só uma letra?

— Claro que tenho. — Ele se levantou, tinha uma expressão sincera e talvez um pouco triste. — Cê não acha que isso é por causa da Luana, né?

— Você que falou que ela tava te ligando esses dias. Que ela queria voltar.

— É, mas eu só falei com ela uma vez e deixei claro que tô comprometido e tô feliz. Isso é só uma letra, amor. — Ele olhava em meus olhos, sempre fazia isso quando estava se desculpando, mas havia algo errado.

— Então você simplesmente pensou em escrever uma coisa assim do nada? Tá bem escrito demais. Ontem você não tinha nada disso.

— Eu só pensei no que ela disse e me veio isso na cabeça. Eu juro que não é nada sério.

— Ela te ligou tem três dias, Robert. Tem certeza de que não tem nada além disso?

— Claro que tenho. Não tem porquê mentir pra você. — Ele sorri, esperando que eu também o fizesse. Revirei os olhos e deixei um sorrisinho aparecer em meu rosto. Ele me beija na testa e me abraça e devolvo a folha para ele.

— Certo, desculpa. Você sabe que não gosto da Luana desde que ela dispensou o Cam pra ficar com você. Mas tá certo, deixa eu fazer algo pra comer.

Volto para a cozinha e ele liga a TV. É o noticiário e nenhuma notícia boa é anunciada, como de costume. Decido preparar batatas na frigideira eletrônica e elas ficam prontas logo, no meio tempo, discuto algumas letras com Rob, dizendo quais gosto mais e quais ficam melhores com determinada melodia. Podia parecer chato, mas eu gostava daquilo.

Mesmo assim, aquilo ainda estava me incomodando um pouco. Confiava em Rob e se ele havia dito que não estava mais falando com Luana, eu acreditava, o problema era aquela garota.

As batatas ficaram prontas e as servi em um pote, acrescentando sal e indo para a sala, dividi-las com Robert enquanto assistíamos a um filme. Sentamos juntos no sofá, eu na ponta e ele no meio, quase colado em mim. Me recosto em seu peito e ele passa o braço pelas minhas costas, me abraçando e colocamos um filme para rodar. Eu não era muito fã de filmes de agentes secretos, mas Robert dizia que Kingsman – Serviço Secreto seria um que eu ia gostar.

Realmente, eu estava gostando do filme, não era um daqueles genéricos onde se tem um agente já treinado ou um garoto que precisa ser treinado. Era algo entre os dois, e tinha um tom de comédia que não me fazia querer dormir. O celular vibra no braço do sofá e automaticamente o puxo para mim com a mão livre e ascendo a tela para checar a notificação. É uma mensagem. De Luana. Por que ela me mandaria uma mensagem?

Desbloqueio o celular e abri a mensagem, percebendo que aquele não era o meu celular. É claro que não era, o meu estava carregando no balcão. Passei a rolar a tela pelas mensagens e comecei a perceber que “falar” para Robert era literalmente falar, com a boca. Eles estavam trocando mensagens desde quando ele me disse que ela havia ligado, e as mensagens destoavam um pouco daquilo que as pessoas chamavam de conversa amigável. Aquilo estava um nível acima de amigável.

— Que foi, amor? — Rob pergunta tirando os olhos da TV e lançando-os ao celular.

— Isto. — Respondo ríspida, lançando o celular em seu colo, levantando-me. — Você mentiu pra mim, Robert. Está trocando mensagens com essa vadia.

— Verônica...

— Cala a boca. Eu li as mensagens. Eu vi o que você disse pra ela. — Ele se levanta para tentar me segurar sempre que queria que eu me acalmasse, mas desviei de seus braços. — Não encosta em mim. Eu tenho nojo de você.

Balanço a cabeça, fechando os olhos e suspirando.

— Eu sabia que não ia dar certo. Acabou. — Caminhei decidida pelo corredor, pegando minha bolsa sobre a bancada e saindo pela porta, fechando-a atrás de mim.

Eu não ia esperar o elevador e dar chance de ele me alcançar, então desci pelas escadas o mais rápido que pude com as botas de salto e deixei o prédio, sentindo o ar gelado da noite contra meu corpo.

Ouvia os cliques do salto batendo no chão enquanto andava com passos decididos até o metrô. Robert ainda não me ligara, aquilo era estranho, a esse passo, deveria haver umas vinte ligações perdidas, mas meu celular nem chegou a tocar... Droga! Havia deixado o celular carregando no balcão da cozinha dele. Teria que voltar para pegá-lo, mas não seria hoje. Se eu voltasse lá, era capaz de matar o infeliz.

Atravesso a rua correndo, o farol de pedestres já estava piscando quando cheguei na faixa e logo eu finalmente estaria em casa. Era só pegar o trem. Só pegar o trem, como se aquilo fosse fácil. A essa hora ele estaria cheio, assim como a estação, que tinha longas filas em cada caixa para comprar uma passagem. Fecho os olhos, suspirando, me perguntando por que eu resolvi não comprar logo a droga da passagem quando estava vindo.

A resposta vem como uma ânsia de vômito: eu estava planejando dormir na casa de Robert e só voltar para casa de manhã cedo. Só me restava esperar na fila, com todo o barulho das pessoas falando ao meu redor no telefone ou entre si, somados ao barulho dos trens indo e vindo e dos avisos na plataforma. Parecia irônico que toda aquela cacofonia me incomodasse sendo que eu trabalhava em um bar de uma boate, mas era diferente. A música alta e as luzes piscando me deixavam em um estado zen que poderia ser comparado a alguma droga. Esses sons da cidade me prendiam à realidade suburbana que eu enfrentava todo dia. Era um saco.

Devagar, a fila andou e pude comprar meu bilhete. Ao menos a atendente era simpática e me atendeu gentil e rapidamente, me desejando uma boa viagem no final, o que me fez sorrir um pouco. Não era comum ver essa gentileza das pessoas que trabalhavam nos horários de pico.

Batendo o ticket no leitor, a máquina o “come” e libera minha passagem. Desço as escadarias ouvindo um trem se aproximando da estação. “Droga, são três lances de escada”, penso, me apressando na descida. Se eu demorasse mais naquela estação, eu realmente ficaria louca.

Na metade do segundo lance de escadas, ouço o trem parado abrindo as portas e os primeiros passageiros começam a subir pelo lado oposto. Um aglomerado de pessoas que cresce cada vez mais. Todos diferentes, mas monotonamente iguais. Suspiro, sacudindo a cabeça, não queria pensar nas pessoas agora.

O terceiro lance de escadas, agora a escada já está cheia com as pessoas que desembarcavam sem parar, se eu tivesse sorte, as portas continuariam abertas. Alcanço o último degrau quando a sirene apita, anunciando que as portas vão fechar. As pessoas quase bloqueiam meu caminho, mas eu precisava entrar. Vou empurrando quem quer que fosse, quase gritando pedidos de licença e sinto as portas se fechando atrás de mim quando “salto” para dentro do trem.

Suspiro, aliviada. Consegui. Se eu fosse só mais um pouquinho mais gorda, teria ficado presa e não ia ser nada bom. Mas eu estava dentro do trem, ofegante, cansada, provavelmente descabelada e com todos os passageiros me olhando e tentando disfarçar.

“Ótimo, sou a estranha que saiu correndo”, concluo, me segurando em uma das barras sentindo o ar condicionado esfriando meu corpo.

Caminho para a frente do trem para poder olhar o caminho. Era fascinante e parecia um daqueles jogos de Robert. Trens automáticos eram uma das melhores coisas dessa cidade. Fico olhando o caminho que fazemos, com o túnel que parecia interminável iluminado pelas lanternas no teto e do veículo.

Começo a imaginar como o trem deveria estar cheio antes dessa estação. Muita gente havia entrado e, mesmo sabendo que várias linhas diferentes passavam por aqui, eram cinco filas para comprar os bilhetes mais as pessoas que já os tinham em mãos. Levando tudo isso em conta, ele estava bem vazio. Havia espaço nos corredores para qualquer um passar. A maioria das pessoas estavam sentadas e o ar não estava pesado pelo excesso de pessoas. Claro, a estação da casa de Robert era uma das principais.

Uma das coisas que mais me fascinava naquela linha eram as construções das estações que ainda não haviam sido concluídas. Eu costumava chamá-las de “estações vazias”, pois elas eram apenas um esqueleto vazio que ainda não haviam sido concluídos.

Foi quando eu passava por uma delas que aconteceu. Um homem por volta dos seus cinquenta-e-tantos anos começou a respirar barulhenta e pesadamente. Era levemente rechonchudo e aparentemente careca. Eu não podia ter certeza com o chapéu que ele usava. Mas tinha um cavanhaque branco curto que o faziam parecer um simpático vendedor. Ele atraia a atenção de todos com sua respiração, que passou a se tornar tosses intermináveis. A maioria – eu inclusive – apenas parecia incomodada com o barulho, mas olhando em volta, eu conseguia ver alguns rostos preocupados.

Foi uma senhora que tomou a iniciativa. Não parecia ser muito velha, latina e com rosto bondoso. Tocou o ombro do homem com delicadeza e necessidade, perguntando se estava tudo bem. Ele parecia tentar dizer que sim, mas não conseguia parar de tossir e o som que se fez quando seus joelhos bateram no chão metálico ecoou pelo vagão enquanto a tremedeira se instalava e a mulher começava a gritar por um médico ou enfermeiro que pudesse ajudar, mas ninguém parecia saber ou poder salvar o pobre homem da convulsão.

Todos começavam a falar ou soltar gritos assustados e eu tentava não olhar para o homem caído. Era ao mesmo tempo assustador e grotesco. Me sentia aflita, com a necessidade de fazer algo, nem que fosse fugir, só para não ficar parada sem reação. Mas fugir para onde em um vagão de trem que estava no meio do seu caminho até uma estação?

Tempo verbal certo: estava. Um barulho de algo quebrando seguido pelo metal das rodas raspando repentinamente nos trilhos enquanto o trem começa a desacelerar, mesmo sem ter chegado na estação. De quem foi a grande ideia de para o trem com um homem tendo um ataque epilético ou algo assim?

— Ele não está respirando... — é o lamento da mulher latina que ficou ao lado do senhor o tempo todo, tentando manter seu corpo parado ou conseguir algum jeito de fazer seu ataque passar.

Vamos contabilizar tudo que aconteceu hoje: Minha mãe e eu nos desentendemos; um babaca me atormentou por uma hora no meu apartamento, insistindo que aquele era o apartamento dele, sendo que a escritura estava no meu nome; um idiota tentou passar a mão em mim no bar enquanto eu preparava um drink para ele; e Robert e eu havíamos brigado e tudo o que eu queria era chegar em casa. E agora havia um homem morto bem na minha frente. Como eu queria ter perdido aquele maldito trem!

Eu olhava um pouco assustada, mas predominantemente com nojo por ter um homem morto bem na minha frente. As pessoas começavam a ficar alarmadas, falando todas juntas, exclamando, pedindo socorro. Ninguém parava para pensar que deveriam acionar a segurança do metrô. Eu faria isso, mas estava sem o celular, então teria que esperar chegarmos na próxima estação para poder fazer alguma coisa.

Ainda faltava muito para a próxima estação, e isso me levava à mesma pergunta que eu sempre me fazia quando tinha que fazer esse caminho: Por que diabos as estações são tão distantes? Eu nunca ia me conformar com aquilo. Comecei a bater o pé no chão repetidamente, ao passo em que minha mão batia em minha perna com a mesma frequência e tudo ao meu redor começava a parecer não me afetar, como se eu nem mesmo estivesse ali. As luzes pareciam estar iluminando menos, as pessoas não notavam minha presença e reagiam ao senhor caído que parecia estar lá desde sempre. Do lado de fora, os trilhos seguiam seu rumo rapidamente, iluminados pela lanterna do trem e nada além da escuridão do túnel existia.

Fecho os olhos, suspirando uma vez mais e é nesse momento em que as pessoas começam a se exasperar novamente. Olho para o senhor morto e percebo que ele está se movendo. O reanimaram enquanto eu não olhava? Difícil, eu teria ouvido de qualquer forma. Mas ele estava mexendo os braços e as pessoas a sua volta tinham expressões aterrorizadas. A mulher latinha que foi lhe socorrer estava falando com ele, com a cabeça próxima da dele, queria se assegurar que ele estava bem.

Em um piscar de olhos, ele agarrou o seu corpo, ainda deitado no chão e com uma agilidade que não deveria existir pelo seu excesso de peso, mordeu o pescoço da mulher, que gritou em agonia quando a pele foi arrancada e o sangue começou a jorrar. As pessoas mais próximas receberam respingos do sangue, que grudava na pele enquanto gritavam aterrorizadas. Eu mesma estava em choque. Ele estava comendo o pescoço da mulher. Ele voltou à vida e estava comendo ela.

Aquilo deveria ser impossível. Zumbis não eram reais, era isso que tornava tudo divertido. Mas ali estava, um homem que morreu e voltou à vida, matando e comendo a carne da pessoa mais próxima causando caos em todos enquanto o chão era tomado pelo líquido vermelho e grosso que escorria da ferida no pescoço.

— Que merda! — Cochichei para mim mesma. Não tinha mais como esperar até a próxima estação para chamar socorro, precisávamos parar o trem.

O lacre da chave de emergência mais próximo, por sorte, estava quebrado, precisei dar um soco forte para que todo o plástico saísse do caminho e apertei o botão. Não demorou muito e o trem começou a andar mais devagar. As pessoas gritando, batendo nas portas e janelas querendo sair. Quem estava do outro lado do trem ia imaginar que as pessoas da frente só estavam fazendo baderna e iriam querer sair para não ser atacados.

Assim que o trem parou, corri para a porta de segurança que ficava na frente dele. Eu nunca havia aberto uma daquelas, ia ser complicado.

— Eu abro. — Ouvi uma voz masculina. Um homem ensanguentado visivelmente aterrorizado que deveria estar louco para sair. Eu não pensaria diferente, aliás, eu estava desesperada, não queria ser a próxima. Sentia pena da senhora, mas antes ela do que eu.

De alguma forma, o homem conseguiu abrir a porta. Ela funcionava de uma maneira estranha. A parte de baixa desencachava e se tornava uma escada, enquanto a parte de cima se abria como uma porta de um carro de filme futurista. Assim que ele saiu, eu fiz o mesmo, olhando para trás e vendo que a maioria fazia o mesmo. Eu não iria ficar para trás.

Comecei a correr, sem saber como iria sair de lá. Havia aquelas portas para manutenção, mas eu não fazia ideia de se elas ficavam trancadas. Precisava tentar, precisava encontrar Robert, ter certeza de que ele estava bem. E precisava do meu celular.

[...]

Estava ofegante e cansada, duvidava que eu conseguiria correr até o apartamento de Robert, mas precisava falar com ele. Precisava saber se ele estava bem e precisava falar com minha mãe. Desesperada, tomando fôlego, observei toda a cidade ao meu redor. Estava tudo tão normal. Carros passando nos dois lados da avenida, prédios com telões brilhantes, pessoas transitando pelas calçadas, bares e baladas com música alta, tudo absolutamente normal. Excerto o fato de que não estava.

Ninguém sabia o que havia acontecido, eu teria uma chance. Antes de perceber, comecei a correr pela calçada, precisava encontrar Robert.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim do segundo capítulo. Como eu disse, foi massante, mas acho que valeu a pena. Quem decide são vocês. Digam o que acharam da história, o que pode ser melhorado, sugestões do que acham que pode acontecer, deem um feedback e tentarei fazer o possível para não decepcioná-los.

Obrigado por lerem e até a próxima!



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