Chaos escrita por VersalhesTodd


Capítulo 1
I. Um Novo Rumo


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo da história. Um pouco longo, mas estou realmente orgulhoso do que fiz. Vocês vão notar o tom que tentarei usar durante toda a história, que vai progredir de forma simples, não vai ser uma torrente de informações jogadas ao acaso, então, tentem ter paciência ao ler, ok? Divirtam-se!

Elenco:
Zeek Broyl - Joey Pollari - http://goo.gl/nziRFF
Malcolm Broyl - Sam Trammell - http://goo.gl/bf2DTH
Lucy Broyl - Evelina Voznesenskaya - http://goo.gl/8RH1SG
Alexandra Broyl - Jennifer Morrison - http://goo.gl/BDbIws
Nina Noble - Beverley Elliott - http://goo.gl/FmJUAq
Galen Noble - Sir Ian McKellen - http://goo.gl/byBCQw
David Ward - Nikolaj Coster-Waldau - http://goo.gl/7tksmB
Vanya Carlson - Alicia Vikander - http://goo.gl/uk6cyj



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O fim de tarde daquele dia era quente, como a maioria na primavera enquanto eu subia a rua asfaltada até minha casa. Decidi que deveria treinar mais minha resistência e desde o começo do semestre estava voltando para casa a pé. Talvez fosse por isso que estava tão quente, com o sol brilhando laranja às minhas costas, as poucas nuvens brancas não cobriam nenhuma parte de caminho e eu podia ver as ondas de calor subindo do asfalto enquanto a rua deixava de ser uma ladeira e começava a ficar plana. Era ali que começava minha calma vizinhança, quase sem carros.

A Sra. Nobel estava com seu costumeiro chapéu capeline creme e o vestido florido, agachada em frente as plantas em seu jardim florido. Quase não a vejo por conta do carro que estava parado na rua, quase nos limites de sua casa, mas consigo vê-la antes de passar direto e abro um sorriso. A Sra. Nobel sempre chamava a mim e à minha irmã para fazermos um lanche com ela e o Sr. Nobel e passávamos tardes inteiras ouvindo as histórias de suas viagens.

— Ei, vovó Nobel! Boa tarde! — Cumprimento-a balançando o braço, chamando sua atenção.

— Oh, olá, Zeek. Voltando agora da escola? — Ela pergunta após virar seu rosto para mim e sorrir pacificamente. Ela bate as mãos para limpá-las e se levanta enquanto faço meu caminho até ela. Deixo a mochila na calçada e a recebo para um abraço. Mesmo tendo limpado as mãos, ela evita de tocar minha regata para não me sujar, mas eu não me importava, ela já estava suja de qualquer forma.

— Sim. Tive treino de vôlei hoje, então voltei mais tarde. Meu time ganhou a partida hoje. Você e vovô Nobel estão bem? — Não lembro exatamente quando passei a chamar o Sr. e a Sra. Nobel de vovô e vovó, mas todos na família chamam eles assim há anos.

— Estamos sim. Garret acabou de sair para fazer as compras e eu estou cuidando do jardim. Não quer chamar sua família para um café? — Ela pergunta esperançosa. O casal adorava quando nós os visitávamos, eram muito simpáticos e hospitaleiros, mas essa noite não poderíamos ir.

— Seria ótimo, vovó Noble, mas minha mãe já deve estar preparando o jantar. Podemos vir aqui amanhã.

— Perfeito, querido. — Seu sorriso era imutável. As rugas em seu rosto levemente arredondado quase faziam seus olhos se fecharem quando sorria, eu sempre achei isso muito fofo de sua parte. — Irei fazer os seus biscoitos favoritos. Agora, vá para casa, a pequena Lucy deve estar te esperando. — Sorri com isso e concordei. Dei um último abraço na mulher e peguei minha mochila novamente.

Segui meu caminho pela rua até alcançar a segunda ao lado da Sra. Nobel, exatamente igual a todas as outras. Branca, com dois andares, uma janela em guilhotina que dava para a rua logo acima da porta de madeira e os dois degrauzinhos que continuavam em uma trilha de pedras cercada por um gramado verde até a calçada, onde ficava a caixa de correio.

Entro como de costume fazendo pouco barulho ao abrir e fechar a porta, ouvindo o som da televisão ao fundo em algum programa que ainda não consigo identificar. Vejo a silhueta de minha mãe sentada no sofá, entretida com o programa, e logo a garotinha vem correndo, com seus cabelos esvoaçando enquanto ela grita meu nome animadamente.

Agarro minha irmãzinha logo depois de jogar a mochila de lado e me agachar para ficar na sua altura. Seus bracinhos apertam meu pescoço o mais forte que ela consegue, e eu delicadamente a abraço de volta, segurando firme em suas costas para que ela não caia enquanto a levanto comigo.

— Oi Lucy! Como foi na escola hoje? — Pergunto com um sorriso, deixando um dos braços como assento para que possamos nos olhar enquanto caminho até a sala e posso finalmente ver o que Lucy e mamãe assistem na TV, como era de se esperar, uma série infantil.

— Foi divertido. A Srta. Mason deixou a gente desenhar hoje. Eu trouxe meu desenho pra casa, ela e a mamãe falaram que ficou lindo.

— Quer me mostrar? — Pergunto, jogando-a com cuidado no sofá, fazendo-a gargalhar. — Oi mamãe. — Cumprimento, dando um beijo em sua bochecha. Ela olha para mim e deixa um risinho escapar, balançando a cabeça.

— Oi, meu filho. Pode ir já tomar banho, está todo suado.

— Ei, calma, eu nem consegui respirar ainda.

— Você ganhou, Zeek? Ganhou? — Lucy pergunta por cima do sofá.

— Ganhei sim. Eu sempre ganho pra você, não é?

Olho para trás no meu caminho até a cozinha e vejo a pequena Lucy me seguindo com passos rápidos até me ultrapassar e ficar na frente da geladeira com um sorriso meio banguela pela troca dos dentes de leite.

— Olha que bonito, Zeek! — Ela fala, tentando puxar a folha de papel grudada na geladeira, mas ainda é baixa demais para isso, então eu puxo a folha desenhada do imã e a entrego, agachando-me para ficar em sua altura.

Ela me mostra o desenho. Somos nós, mamãe e papai. Estamos em um piquenique no parque, sentados sobre a toalha quadriculada vermelha e branca. A cesta no centro, junto das comidas e bebidas e o sol brilha com um sorriso no rosto no céu azul com algumas nuvens que também sorriem. Todos estão sorrindo, excerto a árvore atrás de nós, que não têm rosto.

— Olha só, é lindo mesmo. Esse sou eu? — Aponto para o garoto no desenho. Ela confirma com a cabeça e me abraça novamente. — Ei, eu tô todo suado.

Ela se afasta rindo e dizendo “eca”, me dando o desenho e voltando para a sala. Grudo o desenho novamente na porta da geladeira e a abro, pegando a caixa de suco de laranja, bebendo do próprio gargalo.

Subo para meu quarto depois de guardar o suco e pegar minha mochila no corredor. É o último quarto do corredor, o que significa que a minha janela é exatamente a janela que dá para a nossa rua. Viro no corredor depois das escadas e abro a porta, jogando minha mochila no canto ao lado do armário, do lado oposto da minha cama. Pego roupas limpas e corro para o banheiro para tomar uma ducha fria. Como aquela sensação era boa!

Finalmente, quando saio do banheiro, vejo que o sol está brilhando em um tom forte de laranja e bem acima dele, o céu já está exibindo as várias cores do crepúsculo, azul marinho, roxo, rosa, amarelo e, próximo ao sol, laranja. Logo ia anoitecer. Peguei meu livro na escrivaninha do lado oposto da janela e andei até ela, levantando-a e prendendo nas borboletas. Respiro profundamente o ar da nossa vizinhança e subo no parapeito para ler um pouco. Era meu lugar favorito para ler.

O livro era interessante, e eu quase não percebi o tempo passar até estar escuro demais para ler, isso significava que papai já devia estar chegando. Um carro passa na rua com os faróis baixos acesos e diminuía a velocidade ao que se aproximava de casa.

— Zeek! Desce daí, meu filho! — Meu pai grita, buzinando.

Dou de ombros e pulo para fora, escorregando pelo telhadinho abaixo da minha janela e pulando para o chão no momento em que ele para o carro.

— E ai, pai! — Cumprimento, indo abraçá-lo. Ele está de terno e sua testa brilha de suor, que ele limpa com um pano que fica guardado no paletó.

— O que eu disse sobre ficar pulando pela janela? Vão achar que você é um vândalo.

— Ninguém aqui liga, pai. Todo mundo sabe que eu gosto de descer pela janela.

Ajudo meu pai a tirar as compras do carro, minha mãe havia dito que ele iria fazer compras hoje. Deixamos tudo na cozinha e subo novamente para meu quarto, mas sou impedido pela voz de minha mãe.

— Ei, ei, ei. Onde pensa que vai? O jantar está pronto. Vá ajudar sua irmã a botar a mesa.

— Tá certo...

Ajudo Lucy com os pratos, que eram pesados para ela e a garota subia em cada cadeira para colocar os talheres em seus lugares. Ela também carregou seu próprio copo, que era de plástico e papai colocou os outros três – de vidro – sobre a mesa, enquanto mamãe tirava a comida do fogo.

Foi uma refeição tranquila e animada, principalmente quando comentei sobre o jogo para papai. Ele adorava esportes e também havia jogado vôlei no time da escola na sua época. Mamãe comentou sobre as crianças em sua turma na escola em que ensinava, a mesma em que Lucy estudava e comemos bem.

Quando subi para o quarto, deixei o dever de lado, eu poderia fazer domingo. Essa noite eu ia jogar com meus amigos, era nossa “cerimônia” de sexta à noite. Infelizmente, minha mãe me obrigou a desligar o computador cedo, dizendo que precisava acordar cedo amanhã por ser dia de faxina.

— Mas são só duas da manhã!

— Exatamente, já são duas da manhã. Você pode jogar amanhã de tarde, quando terminarmos a faxina. Mas agora, pra cama.

— Tá bom, chefe... — Respondo brincando, então lembro-me do treino. — Ah, mãe... amanhã vai ter treino de manhã, eu não sei até que horas.

— Certo... Mas está devendo um dia de faxina. Agora, cama.

E então fui dormir, o que foi bom. Até deitar na cama, eu não fazia ideia de que estava exausto, mas, uma vez lá, meu corpo relaxou sobre o colchão macio e a cabeça sobre o travesseiro e, antes de perceber, caí no sono, acordando apenas no dia seguinte, com o despertador do celular. Espreguicei-me, levantando e indo tomar um banho refrescante para despertar de verdade. O sol brilhava do lado de fora pela janela em guilhotina. Uma brisa suave entrava pela janela que eu esquecera de fechar.

Vesti meu uniforme e desci para tomar café com minha família, sentindo o cheiro de waffles que mamãe estava fazendo para nós. Bem, mais para mim do que para eles, ela sempre fazia algo mais reforçado quando eu tinha treino, porque sabia que muitas vezes eu não almoçava, só comia algum lanche e voltava a treinar. Papai e Lucy não se importavam nem um pouco com isso, é claro.

— Bom dia! — Cumprimento ao chegar na cozinha. Papai está falando animadamente de um cliente com quem pode fechar um negócio na semana que vem e Lucy corre para me abraçar. Bagunço seus cabelos e a coloco no chão, cumprimentando mamãe e papai.

Eu tinha um pouco mais de uma hora para chegar na escola, se eu fosse a pé, daria o tempo certinho, mas eu ia deixar a faxina adiantada – no meu quarto, pelo menos – e iria de bicicleta dessa vez.

Assim que saio pedalando pela nossa vizinhança, avisto um caminhão de mudanças descarregando alguns móveis na segunda casa depois dos Johnsons, os vizinhos de frente do Sr. e da Sra. Noble. Gente nova na vizinhança, isso era um pouco incomum. Dou de ombros e continuo meu caminho, deixando a vizinhança, indo para a escola.

Como sempre, o caminho foi tranquilo e cheguei cerca de cinco minutos antes de o treino começar, me troquei e fui para a quadra jogar. Bom, não exatamente, começamos a discutir uma nova estratégia, o treinador estava animado e precisamos de um tempo para conseguirmos nos adaptar, mas ao fim da manhã, todos já haviam pegado o exercício. O treino continuou pelo resto do dia, como planejado, e as quatro da tarde fomos dispensados, então pude voltar para casa, depois de uma ducha rápida no vestiário.

No meu caminho de volta, começo a pensar sobre quem seria nosso novo vizinho. Mamãe já devia estar sabendo a essa altura e provavelmente iríamos fazer uma visita depois que eu tomasse um banho decente e terminássemos a faxina. Soo a campainha da bicicleta quando alcanço nossa calçada, anunciando que cheguei e guardo a bicicleta na garagem, entrando pela porta de lá.

A casa já estava praticamente toda arrumada e um cheiro muito bom de algo cozinhando vem da cozinha, mas ela está vazia quando olho lá. Todo o primeiro andar está vazio, mas uma música animada toca no andar de cima.

— Zeek, é você? — A voz de minha mãe chama provavelmente do seu quarto por cima da música.

— Sou, já cheguei! — Grito de volta, subindo as escadas.

Viro à direita no corredor. A música está mais alta agora, definitivamente vinha do quarto dos meus pais. A porta aberta não me deixava ver muito de onde eu estava, mas o quarto estava uma bagunça. Três passos depois, passando reto pela porta fechada do banheiro, finalmente vejo a cena mais cômica da semana.

Lucy está na cama de meus pais, deitada, rindo, olhando para os dois lados. Vários travesseiros estão empilhados como trincheiras nas duas laterais. Meu pai está do lado direito e minha mãe do lado esquerdo, cada um com um macarrão de praia colorido nas mãos. A música toca alto, mas nem tanto, e meus pais se encaravam como se estivessem prontos para uma luta de espadas.

— Zeek, vem me salvar! Papai e mamãe estão lutando — a pequena Lucy grita em animação em meio a suas risadas e imito seu gesto, caindo em uma gargalhada.

— Ah não, a pequena Lucy está no meio do campo de batalha. O que eu vou fazer? — Soo de forma teatral, fazendo uma cara de preocupação.

Corro para dentro do quarto, mergulhando na cama, e assim que o faço, papai grita “Agora” e tanto ele quanto mamãe começam a me bater com os macarrões de praia. Seguro Lucy debaixo dos braços e começamos os quatro a rir.

Mamãe e papai deitam conosco em um “montinho” e tento fazer o peso não ficar sobre Lucy, mas eles também se preocupam e não deixam todo o peso de seus corpos sobre nós. No fim, nos abraçamos todos e ouvimos o alarmante barulho que nos fez levantar, seguido de um gritinho agudo.

— O que foi isso? — Mamãe pergunta, desligando o volume do rádio. Papai olha para fora pela janela, mas não vê nada.

— Não sei, mas parecia a Sra. Noble.

— O que aconteceu com a vovó Noble?

— Não sei, Lucy. Vem, vamos ver o que foi.

— Cuidado, Zeek, vamos todos.

Descemos as escadas, eu carrego Lucy no colo para ela não ficar para trás e corremos até a casa da Sra. Noble, mas a casa está vazia.

— Desculpe, desculpe, eu... não sei o que fazer... — Era uma voz masculina, forte, imponente mesmo em um pedido de desculpas.

— É o novo vizinho — constata papai.

Corremos até a casa com caminhão de mudança pela qual passei antes. Um carro estava na garagem, e o Sr. e a Sra. Nobel estavam parados na porta, em frente a um homem de cabelos negros e curtos em estilo militar com um leve topete, e barba estilo lenhador recentemente aparada.

— Está tudo bem? — Pergunta mamãe, chamando a atenção de todos.

— Ah, Sandra! Tudo ótimo, querida. Olá, Malcolm. — Cumprimenta o Sr. Noble ao se virar e nos ver lá.

— Foi só um susto. Esse é David, ele acabou de se mudar.

— Muito prazer. — Ele caminha até nós e cumprimenta meu pai, que se apresenta, seguido de minha mãe, que faz o mesmo.

— Olá, David. Eu sou Alexandra, mas pode me chamar só de Sandra.

— Eu sou Zeek. — Falei, apertando sua mão. — E essa é minha irmãzinha, Lucy.

— Olá, Lucy. Que lindinha. Quantos anos você tem? — Ele pergunta amigavelmente, agachando-se para ficar na altura dela. Mesmo assim, ainda era muito mais alto, batendo na minha cintura.

— Seis anos! E o Zeek tem 16, e a mamãe 36 e o papai 42!

Minha mãe solta uma gargalhada, meu pai e o Sr. e a Sra. Noble também.

— Certo, querida. Acho que nosso vizinho não quer saber a idade de todos nós. — Ela diz, um pouco envergonhada.

— Está tudo bem, eu já me esqueci. — Ele responde, fazendo uma cara inocente. — Zeek, certo? — Pergunta, olhando para mim. Confirmo com a cabeça e ele aponta para minha regata do time. — Joga vôlei?

— Jogo sim, no time da escola. Teve treino hoje, eu cheguei agora.

— Ah, sim. Eu costumava jogar basquete na minha escola. Você parece jogar bem.

— Acho que sim, eu sou titular no time, deve contar pra alguma coisa. — Deixo um risinho escapar e ele faz o mesmo, batendo a mão de leve no meu ombro. Dói mesmo assim, ele tinha mãos pesadas.

— Mas, Sra. Noble, sua travessa... — Ele diz depois de um momento, lembrando-se do que havia acontecido.

— Já disse, querido. Não tem problema. Acidentes acontecem. Temos outras travessas, e temos mais de onde saiu essa lasanha. Aliás, porque não vêm todos jantar em nossa casa?

— Sim, sim! Seria ótimo fazermos uma confraternização. — O Sr. Noble parece animado com a ideia, quase atropelando a fala de sua esposa. — Nossa casa está sempre aberta para amigos, tanto os antigos quanto os novos. — Ele olha para nós e, em seguida, para David.

— O que acha, querida? — Papai não resistia a lasanhas, eu puxei isso dele, mas a decisão final era de mamãe.

— Seria ótimo por mim. O que acha, David? Uma pequena reunião com os novos vizinhos?

— Se não for muito incômodo...

— Imagine! Nunca nos incomodamos com visitas. Os Broyl estão sempre em casa.

— É verdade e, por falar nisso, precisamos retribuir o favor, vovó Noble. Semana que vem podemos nos reunir em nossa casa.

E começamos todos a caminhar até a casa dos Noble, discutindo animadamente os planos para o final de semana seguinte, mas assim que chegamos em sua calçada, um grito agudo ecoa novamente, mas esse é longo e desesperado. Uma mulher aparece desesperada e corre na nossa direção, era outra vizinha, Vanya.

— Vanya, o que aconteceu?

— Malcolm, me ajude, me ajudem, por favor... é o Brad! Ele... — ela deixa um grito escapar e aperta o braço. Está sangrando, parece feio, e quando e tira a mão, agora ensanguentada pelo próprio braço oposto, posso ver a feia ferida. Um pedaço de carne está faltando, um pedaço grande.

— Lucy! Lucy, não olhe! — Coloco ela atrás de mim, para ela não ver o machucado. Ela nunca teve medo de sangue e já vira cortes feios, mas aquilo era demais para sua cabecinha.

— Vanya, o que aconteceu? Pensei que Brad tinha... morrido. — Mamãe pergunta exatamente o que eu estava me perguntando.

Nossa vizinha assente e começa a chorar.

— Sim, ele morreu ontem, mas... ele... eu não sei, ele me mordeu!

— O que? Como?

— Eu não sei, ele estava na cama do quarto de visitas, fui lá limpar o corpo e quando passei o pano na testa dele, ele agarrou meu braço e me mordeu! Ele tá vivo!

— Tipo um zumbi? — David pergunta. Olho para ele sem acreditar no que estava acontecendo. Ele realmente estava falando de zumbis?

— Vanya, você sabe que as vezes as pessoas parecem mortas, mas na verdade não estão, não é?

— Eu sei disso, mas ele me mordeu. Os olhos dele... estão apagados, ele é como um zumbi mesmo... Me ajudem...

— Calma, querida, vamos cuidar de você. Nina, vá pegar nosso kit de primeiros socorros, rápido! Venha, querida, vamos para dentro, vou fazer o que posso. — O Sr. Nobel aparenta ter calma, mas vejo ele tremendo ao tocar o braço bom de Vanya e guiá-la até sua casa. Ele era velho, mas tinha saúde perfeita, nunca tremia como estava tremendo nesse momento.

— Isso é impossível, zumbis não existem! — Mamãe dispara, incrédula.

— Malcolm... Você tem alguma arma?

— Uma, por proteção.

— Vá pegar. Eu também tenho uma na minha casa. Sandra, diga para os Noble ficarem dentro de casa. Aquela Vanya pode morrer a qualquer momento e, se for verdade que o cara voltou dos mortos, ela também vai virar uma zumbi.

— Você realmente acredita nisso, David?

— Olha, eu não quero acreditar, mas eu já vi várias coisas impossíveis acontecerem, aprendi a não duvidar de nada. Deixe os Noble a salvo e vá para sua casa. Zeek, ajude seu pai, cuide de sua irmã, tá certo? Vamos!

— Sandra? Sandra, faz o que ele tá falando. — Papai beija mamãe, David já está correndo para a casa dele e pego Lucy no colo, ela está com medo, mesmo sem entender a maior parte do que está acontecendo. — Vamos, tá tudo bem, só vamos nos precaver, não quero ninguém mordendo vocês.

Entramos em nossa casa e papai corre para seu quarto para pegar sua arma. Mamãe foi para os Noble, como David pedira. Passo a mão na cabeça de Lucy, dizendo que tá tudo bem, que só estamos sendo cuidadosos.

— Zeek! Venha aqui!

Corro com Lucy para o andar de cima. Papai está com uma pistola na mão, ele tira o pente para verificar as balas e o recoloca na arma, guardando-a na parte de trás da calça.

— Zeek, eu sei que você nunca aprendeu a atirar, mas não é difícil. — Ele vai até o criado mudo e pega uma segunda arma. — Está vendo? Uma, duas, três, quatro, cinco e seis. Você destrava ela aqui e atira. Não coloca a mão no gatilho se você não for atirar. Isso não é um brinquedo. Tome cuidado. Se tem um lunático mordendo as pessoas como Vanya disse, você tem que estar preparado.

Ele coloca a arma na minha mão e não me dá chance de protestar, corre para o andar de baixo e pega o telefone. Deve estar ligando para os Noble.

— Ei, Lucy, tá tudo bem, viu? Papai está tomando conta da gente. Mamãe já vai aparecer com o vovô e a vovó Noble, ok?

— Eu to com medo, Zeek...

— Eu sei, princesinha. Mas tá tudo bem. Confia em mim? Eu vou te proteger, eu tenho uma arma igual ao papai. Nós dois vamos proteger você e a mamãe. Vem cá.

Abraço Lucy com força, isso normalmente resolve os problemas. Ela tenta me abraçar com a mesma intensidade e quando nos soltamos, ela tem um sorrisinho no rosto.

— Por que não vai pegar um dos seus bichinhos pra ficar mais segura?

Ela assente e vai para seu quarto. Fecho os olhos, suspirando. O que estava acontecendo?

No andar de baixo, meu pai está falando com os Noble e alguém bate na porta. Corro para atender. Era David.

— Ei garoto, como é que tá?

— Não sei... Melhor que Lucy, pelo menos.

— Precisa cuidar dela. Seu pai está com a arma?

— Tá sim. Me deu uma também.

— Bom, garoto. Eu estou com uma mala no meu carro com as coisas que preciso. Por sorte não terminei de desempacotar tudo, então muita coisa ainda tava guardada. Acho melhor você arrumar suas coisas, não é bom ficar aqui.

— Mas só tem um cara assim!

— Aqui. Essa cidade é grande, o que você acha que vai acontecer no resto da cidade se todo mundo que morrer virar um zumbi comedor de carne? Até parece que você nunca viu nenhum filme de zumbi antes.

— Já, mas...

— Mas nada, a gente precisa ficar seguro. Cadê seu pai?

— No telefone.

David foi entrando sem cerimônias. Papai desligou e eu ouvia os murmúrios deles conversando. David volta apressado, sem falar nada e sai pela porta, deixando-me como meu pai. Ele fala para eu arrumar minhas coisas e ajudar Lucy com as dela. Ele faria o mesmo.

Aquilo era insano, um apocalipse zumbi assim, do nada? Não, não podia ser verdade, mas eu não ia deixar papai na mão. Subi e fui pro quarto de Lucy, expliquei que iríamos embora e ajudei-a com suas coisas. Roupas para o frio e roupas de calor. Cobertores e alguns brinquedos pequenos. Claro que ela não iria deixar sua pelúcia, um pequeno cavalo branco de crina azul já velho que um dia foi meu.

Na minha mala haviam também roupas, duas lanternas, pilhas, um caderno quase não gasto e alguns lápis. Eu não podia acreditar no que fazia, mas se aquilo realmente estava acontecendo, qualquer coisa poderia ser uma arma, então fui socando qualquer coisa que poderia servir de arma algum dia.

Nada parecia estar de fora e eu e Lucy estávamos na porta de casa esperando papai, que chega com duas malas, uma sendo da mamãe, presumo. Ele nos explica que iríamos deixar nossa casa, possivelmente a cidade. Viver em uma sociedade fanática por zumbis significava fazer as coisas sem pensar quando alguma coisa assim acontecesse de verdade. Eu quero muito acreditar nisso. Mas Vanya realmente havia sido mordida. Eu vi.

Abrimos a porta, colocando as malas no carro sem muito esforço. “Apenas o necessário” isso significava que iríamos parar várias vezes no nosso caminho para seja lá onde for.

Da casa dos Noble, podemos ver mamãe saindo, seguida pelo casal quando alcançamos a calçada. O Sr. Noble está segurando o braço de Vanya, agora enfaixado. Ela esteve chorando pelas olheiras e a cara inchada.

David sai de sua casa também e vem a nosso encontro. Um grupo de oito, penso. Aquilo seria complicado. Os Noble eram fáceis de lidar, mas eram idosos e, apesar de sua aparente disposição, não era segredo que logo se esgotavam. Vanya estava com o braço mordido, mas, considerando que não havia sofrido nada além de uma dor extrema, não parecia que a mordida era como nos filmes, ela não morreria rápido e viraria um deles. Lucy era criança, era nosso dever protegê-la. Sabia que meus pais pensavam assim em relação a mim também. David era o maior problema de todos. Ele parecia ser um cara legal, mas ninguém sabia nada sobre ele.

— Tudo pronto. Vanya, certo? — Ele pergunta gentilmente e a mulher assente. — Você não pode voltar para sua casa, não com o seu marido transformado em uma daquelas coisas.

— Separei algumas das roupas da Sandra pra você. Vão ficar um pouco justas, mas devem servir.

Voltando a lacrimejar, deixando algumas gotas escaparem, ela concorda em agradecimento.

— Noble?

— Nina e eu temos algumas coisas preparadas para uma viagem que iríamos fazer. Não temos tempo de nos arrumar.

— Podemos conseguir mais coisas no caminho, se precisarmos. — Mamãe parecia ter comprado a ideia. David deveria tê-la convencido quando foi até os Noble. Ela não ia largar tudo assim, cética como era.

— Acho que está na hora de irmos, então. — Papai diz, decidido. Estávamos mesmo indo embora.

Todos prestam atenção nele. Da forma que estamos dispostos, Lucy está ao meu pé, segurando na minha perna com uma mão, enquanto a outra agarra seu pônei de pelúcia. Vanya exatamente na minha frente, com o vovô Noble ao seu lado, acompanhado pela vovó Noble. Papai havia se postados do lado dela, mas de frente para David, na outra extremidade, ao meu lado. Mamãe parou ao lado de Vanya, observando-a com cuidado.

Ninguém percebeu a figura que corria atrás de nós, a tensão nos prendia em nosso círculo e quando a voz de minha mãe ecoou pela rua junto do som da carne rasgando, seguidos pelo de sangue espirrando do pescoço dela enquanto caía no chão, a reação de todos foi de horror.

David foi o primeiro a se recuperar, sacando sua arma e disparando. O corpo morto de Brad caía pesadamente no chão enquanto a Sra. Noble estava de joelhos aos pés de seu marido. Não sabia dizer se ela havia caído ou se jogado. Vanya gritava de horror, correndo para seu marido, cinco metros de distância, uma vez que correra gritando quando esse atacou. Papai estava branco, caído no chão e Lucy soluçava, berrando e chorando.

Eu não conseguia entender o que se passava. Minha mãe colocava a mão sobre o pescoço que não parava de jorrar sangue. A jugular havia sido dilacerada com a mordida e ela tinha dificuldade em respirar. Tudo estava girando e meu corpo congelara, como o de papai. Um zumbido alto me ensurdeceu e a garganta pareceu travar. O que eu iria fazer agora? Aquilo estava acontecendo mesmo?

— Nós temos que fazer isso agora! Se não fizermos, ele não vai nos deixar fazer depois. — A voz de David ecoa, me irritando demais, não me deixando pensar. Ele tenta mostrar que está no comando e que o que ele diz é lei.

Meu pai segura Lucy em seu colo e tenta acalmá-la, dizendo que vai ficar tudo bem, que está tudo bem. Ele a balança em seu colo e passa a mão em sua cabeça delicadamente.

— Nós precisamos ir embora agora. Não podemos esperar outro ataque. Não sabemos como as coisas estão em outros lugares. — Digo, finalmente, interrompendo um discurso que a Sra. Noble estava prestes a começar.

— Você cala a sua boca, garoto! Você não manda em nada aqui! — Os olhos de David me fuzilando, com ele apontando um dedo em ameaça.

Céus! Eu não aguentava mais aquela baboseira. Olho para meu pai com uma expressão irritada, ele estava prestes a brigar com David por ter gritado comigo, mas pareceu entender o recado.  Podia ver as lágrimas escorrendo de seus olhos enquanto assentia e virava Lucy de costas para nós.

Apontei a arma para a cabeça de minha mãe e virei o rosto para meu pai. Lucy ainda estava de costas para nós e papai forçava sua cabeça em seu ombro para que ela não espiasse. Tendo certeza de que ela não iria ver o que estava acontecendo, disparei.

Isso pareceu levar séculos, mas sei que tudo aconteceu em segundos. Todos demonstram horror, medo e surpresa, principalmente David. Ele com certeza não esperava aquilo de mim, e era por isso que tive que fazer.

— Eu espero que ninguém mais questione minha autoridade aqui. Vamos embora logo.

Tomo o cuidado de não deixar ninguém ver meu rosto ao dizer aquilo, porque não queria que minha aparência divergisse do tom frio que uso. Um bolo se forma em minha garganta, quase impedindo minha respiração enquanto as lágrimas começam a escorrer na medida em que caminho para o carro. Ninguém contesta, ninguém fala nada. Papai coloca Lucy no banco de trás do carro e o liga quando se acomoda no banco do motorista. Ouço os carros dos Noble e de David sendo ligados também e saímos todos juntos, no sentido oposto que sempre fiz todos os dias desde que entrara no Ensino Médio. Era algo diferente, as coisas estavam mudando. Pela primeira vez, estava tomando um novo rumo.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim do primeiro capítulo. Como eu disse, foi longo, mas acho que valeu a pena. Quem decide são vocês. Digam o que acharam da história, o que pode ser melhorado, sugestões do que acham que pode acontecer, deem um feedback e tentarei fazer o possível para não decepcioná-los.Obrigado por lerem e até a próxima!



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