Todos nós ali reunidos na casa de Gibbs foi ótimo. Parecíamos crianças rindo de histórias antigas, como quando ficamos de tocaia e Ziva passou tinta no binóculo e eu fiquei igual um guaxinim então depois, como vingança, eu soltei alguns parafusos da cadeira dela, ou todas as vezes que McGee foi colado no teclado, por mim ou pela Ziva. Segurei a mão de Ziva a noite toda, era uma sensação gostosa, trocamos alguns olhares que não passaram despercebidos pelos nossos amigos mas ninguém comentou o fato, foi tudo muito natural, como se Ziva e eu sempre fôssemos um casal. Talvez fôssemos, só demoramos para notar isso.

Já passava da meia-noite quando resolvemos ir cada um para sua casa, por melhor que estivesse a conversa precisávamos descansar pois o dia seria longo. Enquanto nossos amigos se despediam puxei Ziva para um canto, com os dedos ainda enlaçados aos dela falei:

—Então, meu sofá está livre se quiser. - Ela me olha e estreita os olhos.

—Horas em um avião para saber se você está bem e o sofá é o que eu recebo?

—Era isso ou minha cama e sabe, eu estou com um sério problema de coluna e não posso dormir em qualquer lugar. - Quando termino de falar ela ri da sugestão, desenlaça nossas mãos para me dar um tapa de brincadeira no ombro e ainda rindo fala:

—Idiota! - Logo após dizer isso passa as mãos pelo meu pescoço eu, instintivamente, passo as minhas pela sua cintura nos deixando bem próximos, eu encarando seus olhos e ela os meus, ficamos assim por alguns segundos e ela continua:

—Bom, eu realmente preciso de um lugar e a ideia não me parece tão ruim. - Eu sorri e ela me deu um beijo no canto da boca. Quando nos separamos e viramos para nossos amigos eles ainda conversavam entre si, apenas Abby pareceu reparar em nossa pequena cena e tinha um sorrisinho nos lábios. Já estávamos indo cada um para seu respectivo carro, ou carona, quando Ellie perguntou:

—Precisa de um lugar para passar a noite Ziva?

—Não preciso, Tony me ofereceu o sofá. - Zi respondeu e todos começaram a mexer em suas carteiras e entregar notas de 5 dólares para uma Abby que sorria vitoriosamente.

—Apostaram nisso? Até você Gibbs? - A pequena israelense ao meu lado fala surpresa e nosso chefe caminha até ela, beija sua testa e diz:

—Boa noite, Ziver.

—Boa noite.

Antes de entrar no carro pude ouvir "com certeza vai ser ótima" mas não consegui distinguir a voz pois Ziva estava roubando as chaves da minha mão.

—Vingança por ter contado sobre a tatuagem. - Ela fala como se estivesse me dando bronca.

—Bem, você disse mesmo que eu morreria. - Comentário errado, hora errada. Deve existir alguma lei que a proíba de dirigir.

Chegamos em meu apartamento e Ziva resolve tomar banho. Ela procura algo na bolsa mas não encontra, percebo isso pois ouço ela dizer algo em hebraico que não parece um elogio.

—O que houve? - perguntei.

—Na correria para não perder o voo peguei pouca coisa e não trouxe pijama.

—Posso te emprestar algo. - Ela acena positivamente com a cabeça, vou até o armário e procuro as menores roupas que tenho. Ziva olha, ri e logo diz:

—Vão ficar enormes.

—Se quiser algo menor é só falar, não tenho do que reclamar. - Ela faz uma careta e entra no banheiro.

Alguns minutos depois ela e sai e vejo que tinha razão: as roupas ficaram enormes nela. Mas droga, ela continua maravilhosa. Eu estou no sofá, mexendo no notebook e ela se senta ao meu lado. Eu desligo o aparelho, estico o braço e ela se encaixa em um abraço deitando a cabeça no meu ombro.

—Você tá bem? - Pergunto. Era o primeiro momento calmo do meu dia desde que Gibbs falou que Ziva era suspeita de assassinato.

—Melhor agora. - Ela responde se afundando no abraço. - Você?

—Melhor agora. - A abraço com mais força. Ela vira para mim, sorrindo, aquele sorriso que senti tanta falta e achei que nunca mais veria.

—Você realmente achou que eu estava morta? - Ela perguntou.

—Sim. Pior dia da minha vida. Eu vi como minha vida seria horrível sem você. Pensei que nunca mais veria esse sorriso, te beijaria, sentiria seu calor. Não quero mais isso, ficar sem você. Não vá embora de novo.

—Tony... - Eu podia ver lágrimas em seus olhos.

—Eu sei. Você precisa. - Falei em desistência.

—Não. - Ok. Isso foi surpresa.

—Não? - Eu precisava ter certeza. Ela se afasta um pouco, mas sem separar o abraço, para me olhar e começa:

—Sabe, quando você entrou naquele avião meu mundo desabou. Não pude dormir porque seu cheiro continuava em meu travesseiro e fiquei com medo que se dormisse o cheiro desapareceria, criancice eu sei. Estava prestes a largar todas as ideias que eu tinha e pegar o próximo avião para te ver. - Nesse momento, estávamos sentados frente a frente, com os dedos novamente entrelaçados e ambos com os olhos marejados.

—Por quê você não fez?

—Porque todo homem com quem já me importei está morto. Não quis que o mesmo acontecesse com você. - Quando ela termina não consigo ter outra reação a não ser abraçá-la e sussurrar:

—Não se preocupe. Nada vai acontecer conosco.

Ziva esticou uma de suas mãos e tocou meu rosto, se aproximando um pouco de mim, esticou a outra mão e segurou meu rosto entre elas, sua respiração contra a minha e a próxima coisa que sinto são seus lábios nos meus. Esperei três anos para beijá-la novamente, enrosco uma de minhas mãos em seus cachos ainda úmidos, coloco a outra em sua cintura e  percebo que nada mudou, ainda parece tão certo e é tão bom quanto me lembro. O beijo dela ainda me passa a sensação de pertencer a algum lugar.