Love, Love Day escrita por Kunimitsu


Capítulo 8
|Jade|




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Love, Love Day

Jade

 

A vida poderia ser repleta das maiores ironias que o destino poderia proporcionar.

Ou então essa era a opinião do jovem universitário dono dos cabelos verdes e ondulados que andava calmamente por entre o mar de pessoas naquela avenida; a mesma que dava acesso para seu destino – o lyncée Sweet Amoris. Seu semblante poderia não aparentar, mas Jade tinha seus pensamentos longes, com os olhos caídos e enevoados, seu corpo simplesmente estava no automático enquanto caminhava pelo caminho tão conhecido por si. No entanto, tal semblante já se tornava estranhamente corriqueiro ao jovem adolescente. Isso tudo tinha um motivo que o atormentava a mais ou menos três anos.

Jade havia acabado de se formar no lyncée – que ironicamente, era onde fazia estágio atualmente – Sweet Amoris, fazia pouca mais de uma semana. O jovem havia tomada a notícia que conseguira entrar na universidade na qual estava visando tão arduamente. E enquanto fazia seu caminho para o parque de Village’s Kiss indo encontrar-se com os amigos; Jade a conhecera. Uma jovem moça, bem mais nova que si, andava com olhar perdido e quase choroso. O encontro dos dois fora o mais clichê existente – os dois se esbarraram e um caiu sobre o outro. O rapaz poderia jurar que haviam ficado horas encarando-se, aquele momento parecia parar na sua concepção. Nunca vira uma garota tão bonita como aquela. Lembrava-se de ambos estarem morrendo da vergonha e que se despediram com uma pressa alarmante. Mas Jade nunca conseguira esquecer totalmente dos incríveis olhos amarelados como mel da garota.

Durante os próximos cinco meses, o universitário poderia nunca admitir nem para si mesmo, porém não conseguia dissipar a esperança de vê-la novamente – procurando em cada garota dona de madeixas acinzentadas os mesmo olhos hipnóticos. Contudo, o tempo ia passando, a lembrança tornando-se esporádica para si. Jade sabia que tinha coisas mais importantes para se concentrar como, por exemplo, em seu curso ou então no recente noivado de seu pai. Não fora muita a surpresa para o esverdeado tal notícia, sabia que isso eventualmente ai acontecer já que tinha consciência o quanto o pai viúvo estava apaixonada pela mulher que Jade só vira umas três vezes.

E tão inusitado que fora o encontro dos dois também fora seu reencontro.

Jade se lembrava muito bem daquela noite. Era a festa de noivado de seu pai. Conheceria finalmente a família da sua futura madrasta, a mesma que tinha já dois filhos – uma menina adolescente e um menino pequeno. Poderia dizer que estava com certa ansiedade, não chegava a ser um nervosismo, mas a ansiedade de quem irá conhecer a família que terá que conviver – possivelmente – para o resto de sua vida.

Jade, então, a vira. Novamente. No lugar mais improvável que poderia nem sequer imaginar. Mas, afinal, ela estava a sua frente em um deslumbrante vestido dourado, que destacava belamente seus olhos. Até hoje o rapaz se perguntava como não conseguira associar a jovem moça com a noiva do pai. As duas eram a cara uma da outra. A garota – que descobrira se chamar Aryanna— no primeiro momento não parecia tê-lo reconhecido. Apesar disso, a mesma detinha um rubor nas bochechas, mostrando-se uma pessoa naturalmente tímida, senão, insegura. Era um fato que Jade ficara extremamente sem jeito perto da jovem e que, talvez, tenha evitado a mesma até quase o final da festa.

Só quando tudo parecia que ia encaminhar-se para o fim da comemoração, Jade tomara coragem – mais como tivera um grande empurrão de um primo seu – e convidara esporadicamente Aryanna para uma dança. E no meio de uma calma música de jazz os dois conversaram quase como se conhecessem há anos. Aryanna lhe contara como era estranho ter que se mudar de cidade e escola, mesmo que tenha acabo de entrar no lyncée – e coincidentemente fora para Sweet Amoris pela própria recomendação do pai do esverdeado.

Ficou claro que os dois haviam se dado muito bem ao final da festa. Nas semanas que antecederam o casamento dos pais, ambos estavam cada vez mais próximos. E até mesmo no grande dia os dois haviam entrado juntos e saído juntos no cortejo dos recém-casados. E na festa que se seguira, tanto Aryanna e Jade não se largaram quase que o tempo todo estavam juntos, conversando entre risos e gargalhadas.

E Jade já conseguia identificar os sintomas. Os sintomas que o levaram a se apaixonar pela sua – teoricamente – irmã. Só fazia alguns meses que constatara tal fato, o próprio era um pouco alheio aos seus sentimentos. Mesmo só conseguindo verdadeiramente saber que estava caído no amor por Aryanna quando a mesma insinuara sutilmente— e talvez sem intenção, não saberia dizer – que havia um menino interessado nela. Lembrava-se que na hora sentira seu peito arder dolorosamente para logo em seguida uma inexplicável raiva lhe apossar, quase um sentimento de protecionismo exorbitante em direção a garota. Porém, acabara por engolir o caroço que se formara em sua garganta, controlando a vontade de proferir certas palavras que com certeza poderiam ser mal interpretadas ou mesmo ferir Aryanna.

Desde o ocorrido Jade estava visivelmente evitando a garota.

Mesmo que sua ação poderia estar magoando Aryanna, o rapaz estava atualmente muito confuso consigo mesmo. Já que uma parte de si não conseguia conter a felicidade, a expectativa de tentar conquistar a amada e vislumbrar todas as coisas que os dois poderiam fazer – ainda mais naquele dia, onde os sentimentos como o amor estavam em alta. Todavia, a parte mais racional de seu ser não conseguia deixar de lembrá-lo que mesmo os dois não tendo uma verdadeira relação sanguínea, Jade ainda pensava que seu amor pela garota deveria ser apenas fraterno. Os dois não deveriam nem cogitar algo como aquilo; era o que as pessoas esperavam de ambos, uma relação de cumplicidade que não poderia ultrapassar a linha tênue entre fraternal e passional.

Porém, Jade cada vez mais sentia perder a batalha interna que estava travando. Não conseguia mais ver Aryanna triste com sua ausência – e muito menos ser o culpado de tal estado da garota. E a própria saudade que o universitário sentia parecia que ia esmagar seu peito pouco a pouco, todos os dias. No entanto, Jade também admitia que certa parte de si, talvez a que mais se sobressaia de toda aquela confusão de sentimentos e razão, fosse o medo. Sim, o esverdeado sentia medo – medo de todas as consequências que poderiam aparecer com qualquer decisão que tomasse.

E Jade covardemente fugia todas as vezes que Aryanna o confrontava.

Sabia que não lhe restava muito tempo, logo, logo teria que tomar uma decisão.

E isso o assombrava.

Jade chegara ao lyncée, entrando sem dificuldades ao mostrar sua credencial ao guarda de segurança. As aulas haviam começado a uma boa hora atrás, contudo o expediente do garoto apenas começaria dali a alguns minutos e seguiria até o almoço; onde poderia ir para casa e aprontar-se para a sua faculdade. Jade tinha como função auxiliar no clube de jardinagem além de cuidar, de um modo geral, dos jardins de Sweet Amoris.

Seguira até a parte de trás da quadra esportiva e coberta nos fundos dos terrenos da escola. Lá, encontrara uma pequena “casinha” onde sabia ser o depósito de alguns matérias esportivos, além de ferramentas manuais, incluindo aquelas que usaria na jardinagem. Entrando no lugar de apenas um cômodo, mas havia vários e vários armários e prateleiras abarrotadas, Jade seguira até um pequeno armário de ferro pintado em azul. Abrindo com sua chave tirara do cubículo um avental marrom, além de suas luvas de igual cor e algumas de suas próprias ferramentas.

Fechando o armário pessoal de trabalho seguira até um quadro de avisos e checando se havia algum recado para si. Arrancou dois papéis amarelados onde seguiam instruções para o que deveria fazer naquele dia. Não tardaria a sair e seguir diretamente até a estufa que o lyncée possuía. Seu trabalho consistia em, primeiramente, cuidar das hortaliças recém-plantadas e mais tarde acompanhar e ajudar uma professora que estava fazendo um trabalho com seus alunos sobre o mundo vegetal.

Não demorou a chegar à estufa, na qual era feita de vidraças embaçadas, mas que era possível ver o verde sobressair das poucas cores que havia ali dentro. Entrou um pouco ansioso. Não era segredo para ninguém que Jade detinha um verdadeiro amor pela natureza, seu senso de preservação da mesma às vezes poderia ser excessivamente prejudicial a si próprio; Pois, o jovem adolescente parecia até mesmo esquecer-se de sua vida quando estava defendo sua causa, sua preciosa natureza.

Ao adentrar e seguir até uma bancada ao fundo com o intuito de pegar algumas ferramentas, seus passos congelaram a meio caminho. Os olhos esmeraldinos arregalaram-se em choque, a garganta secou e a respiração ficou presa em seu peito enquanto visualizava a figura esbelta de Aryanna bem a sua frente.

Aryanna estava com um semblante sério. Muito. E Jade, obrigando-se a acalmar seu coração, engolindo em seco tentava processar em seu cérebro o motivo que a garota poderia estar ali. Aryanna deveria estar em sala de aula naquele horário. Jade a conhecia o suficiente para saber que a mais jovem não era alguém que gostava de cabular aula. Na verdade, a grisalha odiava perder aula, pois a mesma detinha um grande fervor em aprender, adquirir conhecimento cada vez mais.

Tomando uma respiração profunda Jade decidira quebrar o silêncio cada vez mais sufocante:

— A-Aryanna... O que faz aqui? Não deveria estar em aula? – indagou com a voz levemente trêmula fazendo com que tivesse que pigarrear para normalizá-la. Ou ao menos tentar se recompuser.

— É, talvez eu devesse estar em sala. – ela lhe respondera, franzindo a testa e os lábios comprimidos. Desviou momentaneamente o olhar, antes de encará-lo duramente. – Mas surgiu algo realmente importante que não posso ignorar assim tão facilmente.

— O que aconteceu? É algo em casa? – voltou a perguntar agora com uma leve preocupação tomando conta de seu tom de voz.

— Não, não é em casa, Jade. – Aryanna abaixou o olhar antes de tomar uma grande respiração, como se puxasse uma força interior. O olhando com uma surpreendente convicção, disse: - É sobre nós, Jade. Quero esclarecer de uma vez por todas o que nós somos ou o que poderíamos ser. Quero saber se você está pronto para arriscar e mesmo que tentem nos impedir, quero ter a certeza que você não me abandonará caso seguíssemos em frente.

A-A-Arya...

Surpresa talvez não fosse a palavra correta para descrever como o mais velho estava – talvez choque. Contudo, era notável que Jade se abalara pelas palavras proferidas pela menor. O jovem sentia-se como se estivesse finalmente acordado para a realidade, e ela estava bem a sua frente na forma da garota em que se apaixonara. Jade estava estupefato. Não sabia o que pensar muito menos o que poderia dizer ou fazer naquele momento.

— Jade... – a grisalha lhe chamou aproximando-se com um pequeno sorriso no rosto levemente corado. – Jade, me diga... Já nos conhecemos por mais de dois anos e meio... E eu te amo desde o começo e sei que sente o mesmo... – acariciou o rosto levemente bronzeado com ternura. – Talvez não eu não seja tão bela quantas aquelas flores que tanto ama, mas já tem o meu coração. Pergunto-me, eu tenho o seu?

O rapaz suspirou, fechando os olhos e inclinando levemente a cabeça na direção da mão delicada que ainda acariciava seu rosto. Um pequeno e inconsciente sorriso enfeitando os lábios carnudos. Sentira tanta falta desses singelos gestos vindos de Aryanna. E definitivamente não queria os perder. Todavia, estava realmente pronto para assumir aquilo que há tanto tempo estava fugindo?

Olhou para Aryanna vendo em seus olhos amarelados aquela força que lhe faltava, mas que no fundo sempre soube que poderia dar pequenos passos se ela lhe emprestasse a força que lhe próprio faltava. Aquela força que fazia seu peito arder e seu coração bater loucamente.

Jade sorriu abertamente e a envolvendo em um abraço.

— Arya... Minha Aryanna...

Nada mais precisava ser dito.


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Notas finais do capítulo

Hey, mais um capítulo!
Espero que tenham gostado, eu particularmente gostei muito de escrevê-lo, talvez não tanto quanto com o capítulo anterior, mas eu gosto muito do Jade também. Acho que ele é meu quinto personagem preferido AD.
Enfim, até o próximo: |Kentin|
Até logo, Kunimitsu.



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