Love, Love Day escrita por Kunimitsu


Capítulo 7
|Dimitry|




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 Love, Love Day

Dimitry

 

A música repercutia pelo grande salão, melodiosa.

O local era grande e ricamente decorado, com belos ilustres no teto pintado detalhadamente. As janelas eram altas e com cortinados pesados e avermelhados. O céu azul escuro e com uma lua gorda rodeada por pequenos pontos brilhantes era pouco vista e muito menos apreciada pelas mais diversas pessoas presentes dentro daquele lugar. Estas mesmas pessoas eram pertencentes da mais alta sociedade, entre eles estavam nobres – da França ou não – misturados a algumas celebridades dentre modelos a artistas plásticos.

Eram convidados para um baile em prol de alguma ONG que a maioria poderia nem se lembrar a causa que ‘defendiam’; estavam mais preocupados em vestir-se com requinto e com aparentes vozes baixas em conversas sobre as mais últimas novidades – ou seja, fofocas.

Eram fúteis e as mais belas máscaras que usavam não conseguiam esconder isso.

Ou apenas essa era a opinião do jovem homem dos olhos estreitos, encostado perto de uma das altas janelas; a taça de champanhe esquecida na mão delgada. Ora ou outra seus olhos misteriosos navegavam pelo salão luminoso sem interesse nenhum e então voltava seu contemplar a noite através da janela. Ele não fazia ideia do porque de estar num lugar como aquele, sendo que detestava esse tipo de entretenimento. Entendia que era para arrecadar fundos para a tal ONG, mas ao menos esperava que as pessoas estivessem interessadas no assunto. Contudo, sabia ser apenas mais uma desculpa para que uma festa acontecesse e de bônus, mais prestígio para aqueles que compareciam.

Dimitry, sem poder conter-se, suspirou com certo desprezo.

Deslocando-se com passos calculados e mansos, sem querer chamar a atenção para si. Deixara a taça mal tocada em uma bandeja qualquer que um garçom uniformizado estava passando. Para ele, a festa se encerrava, mesmo que pouco tivesse aproveitado da mesma, sentia que nada poderia lhe chamar a atenção no meio daquele mar de gente despreocupada. O mínimo que poderia fazer era despedir-se do anfitrião da festa, se ao menos conseguisse localizar o velho amigo, Noir.

Enquanto andava a procura do amigo, seus olhos captaram algo sem querer. Para seu desgosto. No outro extremo do salão, perto do palanque onde os músicos tocavam melodiosamente, alguns casais dançavam em contentamento. Contudo, Dimitry apenas era focado em duas pessoas bailando. A mulher pequena e mesmo ao longe, os cachos dourados resplandeciam na luz e combinavam perfeitamente com o traje de gala e a máscara de penas no rosto de boneca que Dimitry sabia existir. A jovem moça parecia maravilhada em estar nos braços de um alto e jovial homem dos cabelos acobreados e máscara de bico curvo.

Dimitry sentiu seu estômago embrulhar.

Não conseguia parar sua mente de estimar cenários que sabia que nunca mais poderiam existir; ou mesmo serem possíveis. Mary Magdaleine estava fora de seu alcance e a aliança dourada em seu dedo anelar esquerdo era prova de tal coisa. Ele sabia que deveria nem mesmo sentir mais o retorcer de estômago ou a ânsia de ter a amada em seus braços. Seu romance fora tão curto quanto o amor que a loira formosa dizia sentir por si. Mas para ele, fora intenso demais para conseguir esquecer tão rapidamente quanto a outra. Todavia, sentia que estava a conseguir, aos poucos e tropeços conseguia seguir em frente e focando-se mais em sua carreira nos negócios da família.

Maneando a cabeça, na tentativa de espantar tais divagações, o moreno se pôs a andar novamente. Não havia nenhuma necessidade de ficar se auto-infligindo daquele modo. Suspirou. A cabeça sentindo os primeiros sinais de uma dor incômoda, do cansaço. E para que tal condição não piorasse, Dimitry estava ainda mais determinado em ir embora daquele lugar. Não havia nada o que o prendia ali. Ou era isso que pensava ao ter repentinamente seu corpo másculo colidindo com um corpo curvilíneo e pequeno, delicado.

Afiados olhos castanhos avermelhados encontraram com as brilhantes íris ametistas.

O tempo parecia parar na percepção de Dimitry, enquanto o mesmo brevemente arregalava os olhos; percorrendo o perfil da jovem moça que o observava com igual surpresa a sua. Não poderia negar que a jovem dos longuíssimos cabelos prateados e reluzentes – que muito lhe lembraram os feixes de um luar – não fosse bonita. Na verdade, ela é deslumbrante, pensou o rapaz dos cabelos escuros bebendo cada detalhe da outra. Desde sua estrutura pequena, mas que nada a impedia de ter um corpo proporcional e belo que estavam muito bem destacados pelo vestido de seda perolado, com uma saia rodada até a canela e deixando os pés delicados a vista. O rosto redondo, com as bochechas pálidas e os cílios longos emoldurando os olhos incomuns faziam Dimitry concluir que havia algo de adorável na moça. E mesmo que a máscara rosada e com minúsculas pedrinhas enfeitando-a em um trabalhado desenho escondesse parcialmente o rosto da menor; não conseguia esconder completamente a formosura da garota.

Havia algo nela que fazia Dimitry simplesmente atraído por essa quase aura angelical.

— Peço desculpa, senhor... – o murmuro tímido tirou o moreno de seus devaneios fazendo focar-se naquela que lhe dirigia a palavra, a mesma que o olhava contidamente com um peculiar sorriso.

— N-não, tudo bem. – engoliu em seco, subitamente sentindo-se inquieto, nervoso. Oras, era apenas uma troca de palavras, qual a necessidade do nervosismo? – Foi minha culpa, deveria olhar por onde ando. Está tudo bem com a senhorita?

A garota rira baixinho de uma forma encantadora enquanto negava com a cabeça.

— Está tudo bem. – lhe olhou com olhos divertidos, antes de uma calma expressão lhe apossar. – Mas e com o senhor? Desculpa a minha intromissão, pode ser de respeito pessoal, porém não pude deixar de notar seu semblante abatido.

Dimitry arfou. O peito comprimiu tão rápido quando o brusco calor morno que o apossara. Deveria fazer quanto tempo que alguém não o perguntava como estava se sentindo, com os olhos genuinamente preocupados? Fazia séculos, talvez. A maioria parara de indagá-lo pouco tempo depois do casamento de Mary Magdaleine, sem contar que pouquíssimos eram os que estavam verdadeiramente preocupados consigo.

Então, havia essa jovem moça misteriosa que aparecera abruptamente, uma desconhecida que, no entanto, se mostrara piamente aflita com sua saúde – emocional ou não. E o mais velho apenas se deslumbrava mais ainda com a albina. Poderia deduzir em apenas um olhar profundo nas íris coloridas que a jovem a sua frente tinha o extremo dom de observação; Dimitry sentia todo o seu ser até sua sombria alma ser desvendada por um fugaz olhar da menor. Se isso era assustador? Poderia dizer que até em demasia, mas talvez a fascinação do homem com um título de nobreza oriundo de seus ancestrais estrangeiros estivesse por demais o cegando para assustar-se completamente. Sem contar o estranho sentimento emergente de uma curiosidade sobre a moça.

Percebendo que devia uma resposta, engoliu em seco antes de dizer:

— Está... Está tudo bem, obrigado. – agradeceu aos céus por sua voz ter saído em tom normal; baixo e grave.

Contudo, soube que sua resposta, no mínimo, não satisfizera a outra. Ou então era isso que indicava o franzir das sobrancelhas finas e o olhar consternado que ela lhe dirigia. Ela, então, suspirou como se o observando achasse o que procurava, entendesse. E estranhamente, Dimitry não se assustou com tal constatação, parecia demasiado típico da albina.

Hun... Não sou alguém de insistir em assuntos que não me dizem respeito. Mas, senhor, eu o vi anteriormente. – comentou com os olhos vagando momentaneamente pelo salão antes de se focarem na figura maior a sua frente. – Está tudo, menos bem.

— E diz isso em base de uma breve observação, senhorita? – indagou de forma curiosa, inclinando seu tronco para frente em uma ação quase inconsciente.

Ela lhe sorrira, faceira.

— Peço desculpa se isso o incomoda, em ser observado. Mas é um passa-tempo interessante quando se está no meio de um lugar, no mínimo, inquietante. – lhe respondeu, não parecendo incomodada com a sua aproximação repentina. – Digo, apoio a causa promovida, contudo não posso dizer o mesmo de algumas pessoas presentes aqui.

Dimitry lhe sorriu. Um sorriso fino com um sentimento de contentamento o apossando ao saber que não era o único que tinha esta visão. Alguém também via como algo tão simples poderia tornar-se fútil. Porém, talvez isso fosse uma das belezas humanas, as mais grotescas sempre estão escondidas nas entrelinhas de uma simples ação, palavra, gesto...

— Interessante análise, senhorita... Desculpe, não consigo a reconhecer, mesmo que conhecendo a maioria dos que aqui estão. – franziu o cenho, pela primeira vez notando tal coisa.

Ela rira, um riso melódico e baixo, contido. Os olhos brilhando em uma diversão velada.

— Oras nobre cavalheiro, se tu não notaste, mas cá estamos em um baile de máscaras. – apontou o fato em um tom maroto ao mesmo tempo em que se inclinava como se contasse um segredo: - E o bom destes bailes é os mistérios que eles trazem.

Suspirou, mesmo que um sorriso ainda presente no rosto pálido, Dimitry maneou em concordância. Sim, os mistérios que as máscaras trazem deixavam tudo mais excitante. O não saber com quem você conversava e todos os dilemas que a pessoa trazia debaixo da máscara enfeitada era algo instigante. Era uma pena que todo esse brilho sombrio tenha sido desvanecido pela futilidade humana.

Os seres humanos são criaturas imprevisíveis...

Um toque suave no ombro de Dimitry ao mesmo tempo em que sentia o cheiro almiscarado preencher o ar perto de moreno. Perto demais. Sentindo o corpo ficar tenso ao toque repentino, mas muito bem conhecido. Arfando, Dimitry virou-se parcialmente para o lado e dando de cara com um deslumbrante casal. A moça dos cabelos dourados era a que lhe tocara. Mesmo parecendo brusco o moreno afastara-se com os lábios comprimidos, apesar de ser sutilmente. Dimitry tinha noção que sua acompanhante albina o estava perscrutando com redobrada atenção.

— Ah, é uma verdadeira surpresa encontrá-lo aqui. – pronunciou a recém-chegada com um suave sorriso. Ao seu lado, de braços entrelaçados, o homem ruivo apenas os cumprimentara com um manear da cabeça. – Você não é de gostar desse tipo de festa.

— Mas aqui estou. – retrucou com leve rudeza na voz fazendo com que o moreno das longas madeixas pigarreasse antes de continuar com um tom mais formal: - Apesar de não ser muito festeiro, ainda sei ir a algum evento de boa causa quando os mesmos valem à pena. Além disso, Noir era o promovente de hoje, não poderia fazer esta desfeita.

— Entendo... – o sorriso ainda era presente na loira, mas seus olhos eram um pouco consternados antes de se direcionarem para a albina ao lado de Dimitry. – Ah, senhorita... Desculpe a falta de educação a minha por não tê-la cumprimentado antes.

— Acredite, não levei para o lado pessoal. – garantiu suavemente a moça, apesar de não mais sorrir e o olhar estar passando do moreno a loira com certo entendimento nas íris.

Dimitry não sabia dizer se ficava mitigado ou não com tal constatação.

— Oh, isso me alivia senhorita. Então, como estão achando da noite? Particularmente, não vejo algo tão bom há algum tempo.

— Agradável na medida do possível. – respondeu brevemente o moreno tentando deixar sua inquietação invisível ao olhar alheio.

— Tenho que concordar com este cavalheiro. Ainda que ache que a noite em si é que deve ser mais apreciada que a festa. – falou a albina com um encolher delicado dos ombros pequenos.

— Nem reparei nesse detalhe. Faz algum tempo que o céu obscuro não me é mais atrativo. – comentou com casualidade a loira, um leve estreitar dos grandes olhos de um tom translúcido de lilás.

Obscuro? Tenho que contestar tal afirmação, senhorita. A noite nunca se é obscura quando se está na companhia de alguém de quem se ama. – retrucou levemente em um tom que deixava claro que não queria insultar a outra.

— Uma bela opinião, senhorita. Irei ver diferente a noite graças a você, eu juro por essa noite, por essa lua. – Mary Magdaleine riu jocosa.

Não jures pela Lua, essa inconstante. – retrucou com um olhar estreito.

Dimitry não pode deixar de rir, adorando ver a citação de Shakespeare vindo da albina.

Mary Magdaleine calou-se por um instante um pouco surpresa antes de se recompor.

— Bem, senhorita... Não jurarei pela lua se esta é tão importante para si. – disse com certo divertimento debochado, mas que não deixou que alguém pudesse lhe refutar, prosseguindo: – Imagino que com tais ideias logo encontrou alguém para enlaçar, já está na idade suponho.

— Não, ninguém chamara a minha atenção. – falou a outra com a maior tranquilidade, mostrando que não se abalara pela pergunta ácida. – Bem, ao menos por enquanto. Não tive ao menos a oportunidade de aproveitar uma dança.

— É uma pena, realmente. – Mary disse com um pequeno sorriso.

Dimitry apenas observava a troca das duas mulheres, um tanto surpreso admitia. Apesar de tudo, sua atenção estava quase que inteiramente na albina. A postura indócil que ela apresentava era um contraste com a aparência delicada e frágil. O moreno poderia afirmar com toda a certeza que a moça ao seu lado era um enigma que estava tentado a desvendar. Sabia que não poderia deixar aquela conversa entre as moças continuarem, era a sua hora de intervir. Uma parte mais profunda de si dizia com certo egoísmo que apenas queria ter a atenção da albina para si novamente.

— Se este é o caso... – o moreno pronunciou bruscamente, interrompendo o diálogo e tendo a atenção dos seus acompanhantes em si; mas Dimitry apenas tinha seus olhos focados na menor de todos: - Se este é o caso, a senhorita me permitiria ter uma dança?

Mary Magdaleine o encarara com surpresa, mas o moreno estranhamente se sentia indiferente as reações da loira. A chegada da ex-amada não o impactara como pensara que seria. Era como se estivesse alcançado sua paz. Alguma coisa com certeza havia mudado dentro de si no momento em que trombara com a albina dos brilhantes olhos; os mesmo que o encaravam com genuína emoção. Mas sem hesitar a mão pequena e pálida aceitara a mão maior estendida, entrelaçando os dedos. Um encantador e mais belo sorriso enfeitando o rosto da moça. O moreno sabia que não havia mais necessidade de esperar a dor em seu peito passar; ela havia se ido há muito tempo, em algum momento naquela noite.

Dimitry inclinou-se depositando um cálido beijo nas costas da mão presa a sua.

— Seria uma honra, jovem cavalheiro.


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Notas finais do capítulo

Olá!!
Como vocês estão? Dia dos Namorados tá pertinho, nee?
Enfim, é, vocês viram que nesse capítulo deu mais que dois mil palavras... Sim, sim, meus dedos não resistem quando estou escrevendo sobre o Dimitry! Gente, tenho um penhasco por esse vampiro, kkkkkk ^^ Tá, no capítulo ele não é vampiro, mas deixa pra lá, kkkk De qualquer jeito, foi só desta vez! O resto dos capítulos tá normaizinhos - mil palavras e poucas.
Então, espero que tenham gostado, pois eu gostei MUITO, kkkk ^3^
Ah, e antes que eu me esqueça, a citação de Shakespeare é encontrada em Romeu e Julieta (proferida por esta última).
O próximo é: |Jade|
Até logo, Kunimitsu.



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