Love, Love Day

Leigh

O som do sino tilintou pelo local assim que a porta daquele estabelecimento abrira e por ela passara um homem dos cabelos negros. Os olhos como o carvão observaram cuidadosamente o lugar com um leve sorriso. Era uma loja de roupas bem organizadas, limpa e com uma bela decoração – estava evidente que a loja havia passado por uma simples reforma, mas que apenas fez com que o lugar ficasse mais acessível aos clientes.

Leigh sorriu mais abertamente com a sensação de satisfação morna assolando seu peito.

— Estamos fechados. – uma voz fina e delicada chamou sua atenção para a garota esbelta que se encontra no balcão, de costa para o moreno.

Rindo, o moreno se aproximara de manso até a outra.

— Acho que eu sei disso, querida. – disse o rapaz apoiando os cotovelos no balcão e inclinando o corpo sobre o mesmo.

A garota assustou-se com a voz, contudo logo se acalmara. Contendo um sorriso que ameaçava adornar o rosto pálido, a moça virou-se dando de cara com um sorridente e maroto Leigh. Não podendo mais conter o inevitável repuxar dos lábios cheios. A fina mão delicada e aveludada por uma renda acariciou o rosto másculo a sua frente. Inclinando-se levemente depositara um cálido beijo na bochecha do moreno.

— Ei, bem-vindo de volta. – ela disse carinhosamente. – Como foi lá? Acho que Viktor te deu trabalho...

— Ah, algo do tipo. – dera de ombros, distraidamente pegando uma das mechas do cabelo negro que a menor tinha e enrolando ao redor do dedo delgado. – Você conhece aquele cara, está morrendo de tédio entrevado naquela cama. Mas está ansioso, com certeza, Reine.

A jovem, Reine, assentira apoiando um cotovelo no balcão e o rosto na mão; ainda acariciava delicadamente a face alheia. Eles ficaram ali, naquela troca de carícias inocentes por um tempo indeterminado, cada um preso com algum pensamento. Leigh mais especificamente recordava o que fizera há pouco tempo atrás, como um favor a um dos amigos, Viktor. O mesmo que se encontrava hospitalizado devido a um acidente. Era até engraçado – de um jeito meio mórbido— que Viktor se acidentara do mesmo jeito que tanto reclamava. Talvez isso o ensine a manter a boca mais fechada, pensou o jovem estilista com diversão.

Direcionando o olhar para Reine, contemplou-a com adoração brilhando nas íris obscuras. O peito apertava com força enquanto seu coração batia com fervor que chegava a ser quase doloroso. Mas uma dor bem vinda para Leigh, pois era assim que sabia que havia sido enfeitiçado pelos encantos que a garota vestindo-se como gótica e de maquiagem pesada detinha. Reine era sua adorável amiga de infância, com seus gostos peculiares, porém que tinha um enorme e generoso coração. Contudo, perdera contato com a garota logo depois da mesma mudar-se para a capital do país com o intuito de realizar seu sonho. E então, Leigh se mudara com o irmão para Village’s Kiss. Depois de quase três anos sem versem os dois voltaram a se reencontrar quando casualmente Reine aparecera na loja do moreno depois que a mesma havia sido informada pelos pais de Leigh onde o rapaz se encontrava atualmente. Talvez pudesse estar exagerando, mas na concepção do estilista a garota havia aparecido até que em bom tempo.

A verdade era que Leigh estava passando por uma crise terrível em seu antigo relacionamento com sua ex-namorada, Rosalya. A garota era incrível, sabia disso, era dedicada e independente, mas que em algum momento em seu relacionamento havia tido um afastamento mútuo entre os dois. Nem percebera quando começara, todavia, notara há poucos meses atrás que Rosalya se tornara mais uma amiga querida que uma namorada que um dia fora. Leigh tornara-se confuso. Sentia que não poderia mais continuar com o seu namoro naquele clima que havia, porém também não queria magoar – ou mesmo enganar – Rosalya, já que nem sabia como a mesma sentia sobre tudo isso. Foi quando Reine reaparecera em sua vida. Ela lhe ajudou a ver seu relacionamento de outra forma, um ponto de vista mais amplo. Fora ótimo tê-la junto consigo, era como se não houvesse passado anos desde que se separaram.

Rosalya e Leigh conversaram e chegaram a um acordo mútuo. Terminaram.

Isso acontecera apenas há poucos meses atrás, o moreno ainda estava se readaptando a vida de solteiro novamente. Por sorte tinha bons amigos ao seu lado, além disso, não era como se ele e Rosalya tivessem terminado em termos ruins – a verdade era que ainda continuavam a se verem devido ao gosto em comum, a moda, assim a amizade deles prosseguia normalmente. E Leigh dava graças por Rosalya e ele próprio já terem maturidade suficientes para lidarem com um rompimento. Não seria nada legal se os dois ficassem com o típico clima ruim que na maioria dos términos acontecia.

— Leigh? Vamos? – indagou Reine tirando o mais velho de seus devaneios.

— Oui.

Os dois, então, saíram da loja depois de checarem os últimos detalhes para a segurança do estabelecimento. Saíram pela porta de trás da loja caminhando pelo pequeno beco ao lado e seguindo até um conjunto de apartamentos que havia na mesma rua que a loja do moreno. Era onde Leigh, junto com seu irmão mais novo Lysandre, moravam. E agora Reine ocupava o apartamento acima do deles. Era um apartamento simples, com apenas cinco cômodos sendo: dois quartos, um banheiro e uma pequena lavanderia, a cozinha e a sala ficavam no mesmo cômodo, eram apenas divididos por um balcão de mármore que usavam como mesa, havia ainda uma sacada através da sala. Era simples, mas muito aconchegante para seus inquilinos.

Fora também uma surpresa para Leigh que Reine morasse tão perto de si. Era como se voltasse a ser criança novamente ao ter a amiga consigo como vizinha. Não negava que a companhia da menor lhe era extremamente refrescante, ter alguém conhecido e que sabia mais sobre si que ele mesmo em dados momentos lhe era apreciativo. Sim, parecia que o tempo não havia passado entre eles. E naqueles meses em que estavam juntos, com Reine sempre que podendo o ajudando com a loja, comprovaram tal fato.

Todavia, também contribuíram para lembrar Leigh de um sentimento há muito tempo esquecido pelo moreno, que achava que já estava enterrado e não retornaria. Demorara a perceber – o que não seria novidade para ninguém – os sintomas iniciais. A ansiedade em querer ver a amiga cada vez mais aumentando, o embrulhar do estômago e o peito aquecendo e retumbando quase que dolorosamente. Sem contar que ficava cada vez mais obcecado em saber, observar os mínimos gestos ou detalhes que vinham ou eram relacionadas a Reine. Sabia, estava caindo no amor pela garota. Novamente. Assim como quando era mais novo, antes mesmo de entrar no lyncée, Leigh tivera consciência que se apaixonara por Reine, mas nunca tivera a coragem em se declarar. Era muito imaturo naquela época.

Mas, agora poderia ser diferente.

— Como você acha que Lysandre está agora? – Reine perguntou de repente, quebrando o silêncio confortável entre eles.

Fora quando Leigh percebera que já estava em frente ao apartamento da menor, a mesma que abria a porta para eles. Parecia já ser algo comum que o moreno se perdesse em devaneios quando se era relacionado à amiga. Assemelhava-se muito com o irmãozinho nesses momentos. Entraram. O esquema era o mesmo que a residência do estilista, simples, mas sofisticado e acolhedor. Os tons monocromáticos dos móveis denunciavam os gostos da moça.

Leigh acomodou-se no sofá branco, respondendo:

— Sinceramente, não sei. – falou um pouco pensativo. Seu irmão partira naquela manhã e verdadeiramente esperava que tudo desse certo nos planos do menor. – Ele iria ligar assim que pudesse.

— Hunm... Lysandre é um namorado perfeito. – ela comentou de forma divertida sentando-se ao lado do outro moreno e abraçando os travesseiros carmins. – Bem, tirando seus problemas de memória...

O jovem adulto dos cabelos escuros rira, concordando.

— É mal de família, Reine. – Leigh disse levando a mão maior até os fios negros da menor e bagunçando-os de leve. Reine lhe fez uma careta indignada, estapeado a mão alheia e ajeitando a franja pintada em branco para fora dos olhos azul-acinzentados.

— Percebe-se... – murmurou com um sorriso de canto lacônico.

Leigh a admirou, mas...

Sem mais nem menos, Reine se jogara por cima do desavisado e surpreendido homem. Leigh colocou as mãos na cintura fina por instinto sentindo o corpo quente colar-se por cima do seu. Sentiu o rosto tornar-se quente, rubro. Reine acomodou-se melhor no mais velho, as mãos pequenas apoiando-se no peito largo enquanto ajeitava o resto do corpo no meio das pernas compridas dele.

Os dois jovens adultos encararam-se por um tempo indeterminado e pouco importante naquele momento. Leigh surpreso demais para falar. E Reine mesmo constrangida com suas próprias ações, havia aquele brilho inconfundível de uma determinação inabalável. Sabia ser uma garota tímida, apesar de sua natural hiperatividade, e por tal levara algum tempo até reunir coragem suficiente para agir. Achava que encontrara o momento perfeito, mesmo tendo a consciência em como ainda poderia ser recente demais para Leigh, uma tentativa, um passo de cada vez não seria de todo o ruim, não?

Reine poderia sentir o próprio coração disparar em sua caixa torácica, assim como o do amigo estava de igual estado. Mas isso apenas lhe dava mais força para seu próximo ato: ela beijou-o. Fora apenas um contato, nada profundo, porém singelo e significativo. Afastou-se, sentindo Leigh ficar tenso de repente, assim como ela estava tensa de expectativa.

— Ainda é recente... – a voz do moreno não passava de um sussurro rouco, mas a garota escutara como se fosse dito em alto e bom som.

— Eu sei, por isso... Que tal dar um passo de cada vez? – lhe sorrira de forma afetuosa, acariciando a face do outro com adoração.

Leigh não pode conter em sorrir de volta, amando o rumo em que a situação seguia.

— Sem pressa... – concordou alegremente.

E sincronicamente os dois morenos se inclinaram, beijando-se novamente, e novamente, e novamente... Esquecidos do mundo de fora, apenas focados em aproveitar aquela bolha que se formara ao redor de si. Teriam tempo para conversarem depois, mas naquele momento eles estavam apenas focados em aproveitarem a companhia, o calor um do outro. Sem preocupações. Sem pressa.

Calmamente deixavam-se levar pelo fluxo do tempo, do destino que os aguardava...

— E então serei apenas sua, toda sua, Leigh.

Apenas um passo de cada vez.