Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 7
Capítulo 7 - Sem saída.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676044/chapter/7

As horas passavam rápido, talvez pelo fato de Sung-Yong-hyung e eu estarmos tão entretidos, nem vimos o tempo passar. Logo já era terça-feira, dia de gravação, Sung-Yong-hyung sai de casa bem cedo, quando ele volta, eu já estou dormindo. Só nos encontrando na quarta-feira de manhã.
    Me encontrei com o Hyung na sala, estamos mais próximos, mas nada exagerado, ele não é do tipo amoroso, não rola beijinhos, nem carinhos o dia todo. Eu sou o tipo de pessoa que consegue decifrar a situação sem que nenhuma palavra seja dita. E exatamente nesse dia, tinha percebido uma certa tristeza no olhar de Sung-Yong-hyung, não adiantaria perguntar a ele, teria que descobrir sozinho, ou esperar a hora em que ele não conseguisse mais manter segredo.
    O café da manhã foi o mais rápido que já tinha comido. Sung-Yong-hyung terminou muito rápido, logo estava de volta para sua "cama" improvisada. Ele olhava para a tv fixamente, era impossível que não tivesse nada rolando. Mesmo ele estando assim, eu conseguia ver beleza nele, na verdade ele ficava até mais bonito quando estava zangado. Suas respostas eram sempre resumidas a uma palavra, isso deixava ele mais fofo. Me arrisquei em enfrentar sua braveza, e perguntei.

—Está bravo comigo, Hyung? Fiz algo de errado?

—Não, e não. (Respondeu com rispidez).

    Já tinha aprendido a conviver com essa mudança que ocorria na sua personalidade. Hora ele era uma máquina de amor e sexo, hora era frio e calculista, mas essa versão brava só tinha aparecido agora. O fato de gostar tanto dele, me deixava anestesiado, não me importava com seu jeito de ser. Em algum momento aquele Sung-Yong-hyung amoroso apareceria, bastava aproveitar esse momento.
      Não era apenas uma mudança de humor comum que ele sempre teve, tinha algo acontecendo, conseguia ver nele. O fato de ele mudar com facilidade, me permitia lê-lo como um livro. O difícil era se aprofundar no assunto, pois ele não permite. Decidi deixá-lo livre das minhas perguntas naquele momento.
    Já era quase hora do almoço e a campainha tocou, sabendo que ele iria ignorá-la completamente, me dirigi até a porta. Era Yoon-Sang, ele trouxe comida para todos. Logo preparei uma mesa para nós três. Sung-Yong-hyung permanecia com aquele comportamento ríspido, mas estava comendo e até falando conosco. Ao terminar de comer, ele foi até o banheiro. Yoon-Sang aproveitou a oportunidade e me perguntou porque Sung-Yong-hyung estava assim. Respondi que não tinha ideia, ele acordou assim.
    Yoon-Sang pegou o smartphone e começou a digitar uma mensagem para alguém. Sung-Yong-hyung tinha voltado do banheiro, me ajudou a retirar os utensílios, e até lavou a louça, porém assim que terminou, ele voltou para a sala. Sentado no sofá fazendo aquela cara de zangado, era até engraçado. Yoon-Sang me olhou com uma certa tristeza assim que uma mensagem chegou. Larguei tudo e fui até ele.

—O que foi?

—Descobri porque Sung-Yong está assim.

—O que aconteceu? Fala.

Ele foi para perto de Sung-Yong-hyung e sentou-se ao lado dele no sofá.

—Sung-Yong, ela te beijou na frente do pessoal?

Virei uma pedra de gelo, uma tristeza me dominou, não consegui falar nada, apenas ouvir a conversa.

—Beijou.

—Só isso?

—Não. Ela quis marcar um encontro?

—Você aceitou?

—Não tive escolha, estávamos na frente de três diretores e todos os VJs.

—Quando será o encontro?

—Hoje à noite.

Yoon-Sang parecia estar furioso.

—Eu te avisei, deveria ter descartado ela antes que algo assim acontecesse. Essa garota está te querendo muito, sei disso há muito tempo. Nunca vi ela com nenhum homem, ela sempre estava perto de você, sempre queria estar no mesmo carro e na mesma sala. Não iria demorar muito para que ela desse o primeiro passo.

—Yoon-Sang, se é apenas uma transa que ela quer. Eu farei, darei a ela o que quer, depois vou dispensar. Talvez assim ela desista.

—Impossível, isso não vai dar certo. Você não pode transar com ela. Se fizer isso...

—VOCÊ QUER QUE EU... APENAS CONTE TUDO PARA ELA, INCLUSIVE SOBRE NÓS?!

Essa foi a primeira vez que vi Sung-Yong-hyung se exaltar assim. Yoon-Sang se calou, mas não parecia conformado.

—Sung-Yong, você não pode falar nada. Se fizer isso, eu terei de abandonar tudo e fugir para outra cidade.

—Eu vou no encontro de hoje. Vou fazer o que for preciso, e ninguém vai me impedir.

    Esse foi o basta que Sung-Yong-hyung deu. Yoon-Sang nada falou, levantou e aproximou-se de mim. Vi que tinha uma expressão chorosa, mas ele apenas apertou meu ombro e saiu do apartamento. Eu continuava sem saber o que fazer, sem saber o que deveria falar, se deveria falar. Eram muitas dúvidas em minha cabeça. A única coisa que consegui fazer foi me trancar no meu quarto.
    Horas depois eu ouvia os passos de Sung-Yong-hyung dentro do apartamento, logo senti o cheiro do perfume dele, sabia que ele estava pronto para sair. Não tinha me tocado completamente da situação, até que ouvi a melodia da porta sendo fechada. A mistura do som da melodia e o cheiro do perfume de Sung-Yong-hyung, foram como veneno. Pensamentos dele com uma garota começaram a surgir na minha cabeça, conseguia formar a imagem dele beijando uma garota. A tristeza logo me consumiu, eu tremia e chorava, a sensação de vazio dentro de mim apareceu, não conseguia segurar meu choro, abraçado à um travesseiro, tentava me controlar, mas isso não era possível, porque o perfume ainda estava no ar, isso me fazia lembrar de tudo ao mesmo tempo. A primeira vez que nos encontramos, quando ele, muito tímido, falou comigo em um inglês difícil de entender. Todo medo que senti quando vi ele sendo espancado naquela fábrica. O prazer que tive na nossa primeira vez dentro do chuveiro. Até o desespero de correr de ladrões junto com ele. Tudo isso vinha e se misturava em um filme, que só passava na minha cabeça, até que o fim chegou, e ele termina namorando, e até casando com uma garota. O pior de tudo isso era o fato de não ter conseguido fazer nada, esse sim era o pensamento que mais me consumia. Deveria tê-lo parado, deveria ter impedido que ele saísse por aquela porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Barreiras Culturais. Volume 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.