Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 22
Capítulo 22 - Preciso escolher.




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    Usava toalhas umedecidas com água gelada, essa foi a única solução que achei que poderia aliviar o ardor que Sung-Yong-hyung sentia nos olhos. Ela tinha acertado em cheio uma quantidade absurda de spray de pimenta. Eu já estava ficando desesperado, mas Sung-Joon tentava me acalmar, ele trazia toalhas limpas e parecia tão preocupado quando eu.

—Hyung, acho melhor te levar no hospital.

—Não, não precisa. Já está melhorando.

    Embora ele tenha dito isso, eu ainda estava preocupado, porque a vermelhidão parecia aumentar. Depois de quase uma hora ajudando Sung-Yong-hyung, finalmente tive um descanso, ele já não sentia mais a dor. Agora teria que enfrentar outra batalha, Sung-Joon estava sério, e mantinha distância de mim, esses eram os sinais de que eu estaria encrencado, e caso ele não aceitasse o que aconteceu, eu quem precisaria aceitar que a minha vida naquele país tinha acabado e a melhor forma de resolver o problema de todos era eu voltar para o Brasil, deixar cada um seguir com suas vidas.
    Me dirigi até a escadaria do prédio onde Sung-Joon estava sentado, me sentei ao lado dele, e assim que o fiz, ele sentou-se mais distante. Já sabia que ele não estava contente com o acontecido, então decidi que resolveria de uma vez por todas os empaces. Não posso permitir que esses dois homens me coloquem entre a cruz e a espada. Me aproximei novamente dele, agora ele não poderia se afastar por causa da parede, e também não conseguiria se levantar porque estava com o meu braço entrelaçado com o dele, tentava pegar na sua mão, mas ela permanecia fechada, era um sinal de que não passaria disso. Essa foi a primeira vez que eu tive que iniciar uma conversa com Sung-Joon, pois ele sempre tomava liderança, realmente não sabia o que falar.

—Sung-Joon, eu...

    Antes que eu pudesse continuar, ele começou a descer as escadas. Fui atrás  dele, chamava por ele, mas ele apenas continuava. Já estávamos no térreo e ele ia em direção ao portão, tive que pará-lo, peguei pelo braço e impedi que continuasse. Sung-Joon evitava meu olhar, mesmo eu estando de frente para ele, seu olhar focava distante.

—Olhe para mim! Até quando vai ficar agindo feito criança?!

    Finalmente Sung-Joon me olhou, sentia uma certa raiva vindo dele. Esse era o meu maior medo, ele ficar com raiva de mim. Seu olhar foi o suficiente para me derrubar, na mesma hora senti um medo, medo de que ele me deixasse, algo que não sabia que tinha, pois nunca imaginei que ele poderia se afastar de mim, pensava que ele não conseguiria fazer isso, que ele nunca me deixaria, como se eu fosse insubstituível. Ele tentou se esquivar e seguir o caminho até o portão, mas eu não deixei, abracei ele e enterrei meu rosto no pescoço dele, estava realmente desesperado.

—Não vá, não me deixe sozinho.

    Quando finalmente ele falou, foi a coisa mais fria que já tinha ouvido de alguém.

—Você não ficará sozinho, Sung-Yong está livre, agora vocês podem ser felizes.

    Se isso tivesse acontecido antes de me envolver tanto com Sung-Joon, certamente eu não me importaria tanto, mas agora eu estava dependente dele, era como uma droga para mim.

—Não é assim que funciona. Não posso ficar sem você.

    Ele não me dava ouvidos, parecia outra pessoa. Tentei convencê-lo a ficar, mas ele seguiu, embarcou no carro, mas eu impedia que ele pudesse fechar a porta.

—Sung-Joon, vamos conversar. Não aja assim.

—Você já decidiu o que quer.

    Embarquei no carro, passei por cima de Sung-Joon para chegar no banco do carona. Ele fechou a porta e saiu com o carro, não sabia o destino, na verdade ele parecia estar andando sem destino. Depois de vários minutos finalmente paramos em um lugar perto do rio, Sung-Joon andou até a beirada e sentou perto da grade de proteção. Fui até ele, essa seria a perfeita oportunidade para tentar conversar, me sentei ao seu lado, ele olhava fixamente para as luzes da cidade refletindo nas águas do rio, por um tempo eu fiz o mesmo, pensava em como começar a conversa, quais seriam as melhores palavras, mas antes de eu conseguir formar uma frase decente, ele falou.

—Por que você gosta tanto de Sung-Yong?

—É uma pergunta difícil de responder. Me senti atraído por ele desde o primeiro momento.

—E por mim, você alguma vez já sentiu algo parecido?

—Não vou mentir. Nos primeiros encontros eu eatava apenas atraído pela sua beleza, levou algum tempo, mas hoje o que eu sinto por você vai além de apenas atração física.

—Quão além? O suficiente para desistir de Sung-Yong?

—Você está me pedindo para escolher, e isso eu não sou capaz de fazer.

—Até quando pretende continuar nessa indecisão? Não temos todo o tempo do mundo, logo a morte chegará, e você não terá oportunidade de escolher quem estará ao seu lado pela eternidade.

    O que Sung-Joon disse era verdade, eu não tenho todo o tempo do mundo, conciliar uma relação com os dois não seria fácil, talvez impossível, mas como chegaria numa decisão. Não poderia abandonar Sung-Yong-hyung, ele precisa de mim, e vai precisar mais ainda quando todos souberem da sua opção sexual.

—Sung-Joon-ahh... Posso te pedir mais um favor, apenas mais um?

—Mesmo que quisesse não conseguiria negar algo à você.

—Quero estar ao seu lado, mas não me afaste de Sung-Yong-hyung. Ele precisa de mim, ou melhor, precisa de nós dois. Você poderia aceitá-lo como meu amigo?

—Não teria coragem de te afastar de Sung-Yong, apenas não quero ter que dividir você com ninguém.

    Sung-Joon sobrepôs sua mão sobre a minha, olhamos um para o outro, estava realmente agradecido por ele entender meus sentimentos com relação a Sung-Yong-hyung.

—Sabe... Acho que não mereço alguém tão bom como você. Sung-Joon, você é algum anjo ou coisa do tipo?

   Em meio a uma risada tímida, Sung-Joon me disse que não, ele não é um anjo, mas que gostaria de sempre estar ao meu lado para me proteger, como um anjo da guarda mesmo. Isso me deixou vermelho, era uma frase estranha, mas tinha bons sentimentos embutidos.
    Sugeri que voltássemos para o apartamento de Sung-Yong-hyung, queria ter certeza que ele estava bem. No caminho de volta, sentia que àquele Sung-Joon carinhoso tinha voltado, ele conversava normalmente, não expressava nenhuma indiferença com relação a Sung-Yong-hyung, era até estranho ele ter aceitado tão bem. Até iniciou uma conversa sobre a situação que passamos há poucas horas.

—A moça ficou muito surpresa, até entendo a reação dela.

—Me desculpe, não era minha intenção, não queria magoar ninguém, fui pego de surpresa pela ação de Sung-Yong-hyung.

—Ele te beijou à força?

—Eu meio que permiti, sou culpado também. Não me preocupei com Seo-Hee, mas assim que vi você me olhando, perdi as forças nas pernas e me senti muito mal. Eu tive medo de te perder, Sung-Joon.

—Então você tem que agradecer Seo-Hee por ter feito tudo que fez. Pois eu estava quase partindo quando ela voltou e te bateu.

—Fui pego de surpresa, levei o tapa em cheio. Sei que mereci, você também deveria me dar um tapa.

—Embora você mereça, eu nunca conseguiria fazer. É impossível para mim te fazer algum mal. Se possível eu levaria o tapa no seu lugar, mas também fiquei surpreso com o que ela fez.

    Cada vez mais eu me aprofundava nos sentimentos que Sung-Joon tinha por mim. Eu gosto dele, quero estar junto dele, porém meus sentimentos não são tão exagerados em comparação com o que ele diz sentir por mim. Algo que com o tempo poderia mudar, pois à cada minuto, à cada situação que passamos juntos, eu ficava cada vez mais apegado a Sung-Joon.


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