Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 18
Capítulo 18 - Reencontro conturbado.




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    Sung-Joon partiu com o carro, ele pretendia me deixar no apartamento e voltar para o escritório.

—Sung-Joon, não há necessidade de me levar em casa, posso pegar o transporte público.

—Não, seria perigoso. Lembre-se que estamos sendo perseguidos.

—Ainda assim não acho certo você ficar como meu segurança particular.

    Sung-Joon não respondeu, parecia querer acabar com aquela conversa. Logo estava na frente do prédio, desci do carro e entrei pelo grande portão de metal pintado na cor branca. Cheguei no apartamento, não importava quanto tempo passasse, eu sempre ficava impressionado com tudo que via. Era algo no estilo revista de decoração, tudo muito certinho e muito brilhante. Não é meu estilo de casa, pois penso que uma casa tem que ter o toque pessoal do dono, então penso que essas casas muito arrumadas e enfeitadas não têm personalidade.

    O tempo passava rapidamente, logo já fazia uma semana que estava vivendo com Sung-Joon, parecíamos amigos que dividiam um apartamento, nenhum contato físico, apenas insinuações por ambas as partes. Era impossível não me excitar vendo um homem tão bonito se aproximar para beber um copo d'água após uma sessão de exercícios na sua academia particular. Fiz o maior esforço do mundo, evitei ser induzido pelo desejo e consegui manter essa primeira semana sem nenhum contato. De certa forma não era tão complicado a convivência com Sung-Joon, ele trabalha e estuda todos os dias, então está fora de casa na maior parte do dia. Tentava sobreviver ao tédio, foi uma semana complicada, pois até convencer meus familiares que eu estava bem e que ficaria na Coréia do Sul por pelo menos um ano, foi uma tarefa complicada. Eles não entendiam como eu consegui permanecer, como consegui esse "emprego", era tudo muito confuso para eles, pois eu evitei comentar sobre Sung-Yong-hyung e Sung-Joon. Era melhor assim, quanto menos ficarem sabendo, mais fácil seria acabar com tudo e voltar para casa sem ter que encarar o olhar de pena das pessoas.

    A segunda semana começou, Sung-Joon já tinha saído, e eu precisava de uma distração, respirar um ar puro, por isso decidi andar na praça que fica bem perto do prédio, era dia de sol, queria aproveitá-lo. Caminhei até a praça, e mesmo de longe conseguia ver uma grande movimentação de pessoas, algo que não tinha acontecido nenhuma vez durante a primeira semana. Me aproximei da multidão, encontrei um local que me permitia ver o que estava acontecendo. Era uma gravação para um programa de TV, e bem ao centro da praça algumas celebridades rodeadas por câmeras, consegui reconhecer algumas delas, mas não me importava muito com isso, até preferi me afastar um pouco para não aparecer na gravação. Sentei em um banco, a sombra da árvore fazia daquele o local perfeito para ficar vendo o dia passar.

     Não demorou muito para a multidão dispersar, acredito que a maioria das pessoas já estariam atrasadas para seus compromissos, logo apenas um grupo de adolescentes vestindo uniforme escolar estavam assistindo à gravação, tinha também uma concentração de adultos, acredito que a maioria fazia parte da equipe do programa. Continuei sentado no banco, até que alguns começaram a se movimentar, não sabia o que exatamente estava acontecendo, apenas vi uma das celebridades passar no meio do pessoal, seguido pelo pessoal da produção, eram vários cameramans e outras pessoas carregando equipamentos. Até o presente momento não estava me importando com nada daquilo, até que dentre todos da equipe, um me chamou a atenção, conseguia reconhecer aquela figura. Lá estava Sung-Yong-hyung, segurando uma câmera, com uma mochila de cor vermelha nas costas, eu fiquei arrepiado, as lembranças de tudo surgiram na minha mente, foi como um filme passando em alta velocidade, estava afastado de Sung-Yong-hyung há mais de uma semana, mas que pareceram anos. Logo perdi o controle dos meus sentimentos, já não conseguia mais ficar sentado no banco apenas aproveitando o dia, foi como um imã, ele atraía minha atenção. O mundo parou por um instante, mesmo que apenas no meu ponto de vista. Fui acordado daquele momento por algumas pessoas que passaram na minha frente bloqueando a minha visão que só enxergava ele. 
    Queria me aproximar dele, mesmo que eu fosse ignorado, eu precisava disso. Tentei me aproximar, mas um segurança da equipe impedia que as pessoas passassem de um certo ponto, mesmo assim eu consegui ficar bem próximo de Sung-Yong-hyung, ele estava de costas, não sabia que eu estava ali. Até que o diretor gritou para encerrar as gravações, Sung-Yong-hyung olhava muito fixamente para a câmera, as pessoas ao meu redor corriam para o outro lado onde as celebridades estavam. Logo restavam apenas eu, Sung-Yong-hyung e algumas pessoas da equipe daquele lado. Ele tirou a mochila das costas, estava procurando alguma coisa, logo fechou o zíper e recolocou a mochila nas costas, foi nessa hora que ele virou, finalmente tinha ficado de frente para mim, não apenas isso, ele me reconheceu, me olhava fixamente, perplexo com a minha presença, não sei quanto tempo exatamente passou, apenas sei que ouvi alguém gritando.

—"Sung-Yong-ahh, estamos indo!"

    Sung-Yong-hyung pegou a câmera e começou a correr em direção ao carro de onde veio a voz que lhe chamou. O vazio que existia em mim tinha melhorado um pouco durante essa primeira semana morando com Sung-Joon, entretanto apenas alguns momentos de contato visual com Sung-Yong-hyung foram o suficiente para que todos os sentimentos voltassem. Fiquei sem chão, não conseguia me concentrar direito no que fazia, tinha uma sensação de perda, e também parte das minhas forças tinha sumido. Sentado no banco eu sofria calado, talvez pelo fato de ser afastado abruptamente dele sem que pudesse falar nada tivesse aumentou o meu sofrimento. Seria menos doloroso ter uma espada atravessada no meu peito, pois eu morreria logo e tudo acabaria em instantes. 
    Me forcei a voltar para o apartamento, não tinha vontade de mais nada, apenas deitei na cama e deixei ser levado pela dor, pelos sentimentos, pela lembrança de ter visto Sung-Yong-hyung tão de perto, mas que ao mesmo tempo parecia distante.

    Ainda sonolento, ouvia uma voz me chamando.

—Fábio... Fábio, você está bem?

—Sung-Joon, você voltou? Q-que horas são?

—Já passa das sete da noite. Você esteve dormindo o dia todo?

—Acho que sim.

—Deve ser realmente entediante ficar aqui sozinho. Me desculpe por não poder ficar mais tempo com você.

—Sung-Joon, não se preocupe com isso. Sabe, eu quero te contar uma coisa...
Hoje de manhã, eu fui na praça, essa daqui ao lado do prédio... Estava acontecendo a gravação de um programa de TV, e eu acabei encontrando Sung-Yong-hyung lá.

    Era estranho Sung-Joon não expressar nada, ele apenas ouvia, sentado do meu lado na cama. Expliquei tudo, contei os detalhes, e até o que senti quando me encontrei com Sung-Yong-hyung.

—Pensei que com o tempo você poderia esquecê-lo, ou pelo menos aceitar o distanciamento. Porém vejo que isso é impossível.

—Sung-Joon, me diga o que eu devo fazer? Não consigo entender esse sentimento por Sung-Yong-hyung.

—Não posso mudar seus sentimentos, mas talvez você mesmo consiga superar isso. Vamos, preciso te levar em um lugar.

—Aonde nós vamos?

—Vamos jantar fora.

    Me arrumei rapidamente, pegamos o carro e Sung-Joon dirigiu até o outro lado da cidade, eu já conhecia o caminho, estávamos perto da casa de Sung-Yong-hyung. Estacionamos em uma das ruas estreitas e fomos até um restaurante. Sentamos em uma mesa do segundo andar do restaurante, era possível ver todas as mesas do andar inferior.

—Por que me trouxe aqui? Poderíamos ter ido a um lugar perto do apartamento.

—Logo você entenderá.

    Ficamos lá por algum tempo, tempo o suficiente para terminar a refeição. Já não aguentava mais ficar sentado naquela cadeira, o restaurante estava praticamente vazio. Até que um grupo de pessoas entrou, consegui contar três homens e duas mulheres, eles sentaram na mesa grande ao fundo. A porta abriu novamente e um casal entrou abraçados, eles sentaram na mesa perto da porta. De onde estava eu não conseguia ver os rostos deles, Sung-Joon sugeriu que eu trocasse de lugar com ele, assim que me sentei eu vi o rosto do rapaz, era Sung-Yong-hyung acompanhado de uma garota.

—Sung-Joon, aquele é Sung-Yong-hyung.

—Sim, ele vem jantar aqui várias vezes na semana. Sempre acompanhado dessa garota.

—Ela deve ser a garota da equipe que ele estava saindo.

—Eu sei. Todas às segundas e terças eles vêm a este restaurante.

—Você me trouxe aqui para ver isso?! Ver o que eu evitei por tanto tempo!

    Fiquei realmente furioso com Sung-Joon. Eu sei que Sung-Yong-hyung estava se relacionando com ela, mas não queria ver, precisava deixar isso apenas na imaginação, era uma forma de não tornar aquilo real, mas agora toda a verdade estava diante dos meus olhos.

—Eu quis te mostrar, não com intuito de te fazer mal, apenas queria que você não sofresse tanto por causa dele.

—Isso é pior, muito pior.

—Fábio, ele está seguindo a vida.

—Eu sei, sei que não significo nada para ele. Também na significo nada para você.

    Me levantei, já não aguentava mais tudo aquilo. Desci as escadas, não existia outro caminho até a saída, teria que passar por Sung-Yong-hyung e sua namorada. Passei o mais rápido possível, abri a porta e saí andando na rua, parecia um louco sem destino, andei para longe daquele lugar.


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