Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 17
Capítulo 17 - Situações complicadas.




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     Deitado em uma poltrona grande de cor branca e envolvido por um cobertor cinza, ainda sonolento olhei ao redor, e não via ninguém. Onde estava Sung-Yong-hyung e Sung-Joon? Me lembro de ter dormido junto deles sentado em uma posição desconfortável para meu corpo. Levantei, ouvia barulhos vindo de alguma outra parte daquele apartamento gigante. Me concentrei para saber de onde vinham os barulhos que pareciam passos de alguém correndo. O som me levou até a varanda onde passei parte da noite conversando com Sung-Joon. Em uma porta de vidro eu conseguia ver um lugar da casa que não tinha conhecido, decidi entrar. Agora conseguia ouvir os passos e som de um motor trabalhando. Eu estava dentro de uma academia e em um canto eu conseguia ver Sung-Joon correndo em uma esteira elétrica. Eram passos muito rápidos, não conseguiria fazer aquilo nem que minha vida dependesse disso. Me aproximei dele, foi quando percebi que ele corria usando uma camiseta cinza escuro, um short preto curtinho e um tênis cinza com detalhes em verde. Estava todo suado, via o líquido escorrendo pelo rosto e braços delineados. Fiquei de longe olhando, não quis atrapalhar, sem falar que era uma situação muito excitante. Há alguns dias eu pararia ele na hora e levaria para o quarto, mas agora não queria fazer isso, estava dando o troco por ter me usado. Já completavam 6 dias desde quando transamos pela última vez, por isso acredito que Sung-Joon aceitaria um chamado deste tipo a qualquer hora do dia. Eu precisava me segurar para não cair na tentação do coreano lindo, musculoso e todo suado de se exercitar. Estava me retirando do ambiente, só assim conseguiria evitar Sung-Joon, mas ele me viu.

—Você acordou.

    Sung-Joon veio na minha direção, tentou me abraçar, mas eu coloquei minha mão no peito dele e impedi que ele me abraçasse com todo aquele suor.

—Nem vem, você está todo suado.

—E você não gosta?

—Gosto do que vejo, mas prefiro me manter seco.

—Ok. Preciso terminar meu treino matinal, só está faltando alguns exercícios de musculação.

    Jura que ele agora vai fazer exercícios de musculação na minha frente? Não posso ficar vendo isso, não vai acabar bem. Ele já estava sentado em um equipamento e puxava uma barra com pesos presos no final do cabo de aço. Vi os músculos dos braços de Sung-Joon serem contraídos, pareciam maiores do que antes. Me lembrei de uma cena de filme pornô gay, um cara se exercitando e o outro, no caso eu, olhando de longe.

—Vou ao banheiro, depois preparar algo para comer.

—Tudo bem, já estou terminando aqui e encontro você na cozinha.

    Saí e fechei a porta. Andei até o quarto e lembrei de Sung-Yong-hyung, onde ele estaria? Entrei no quarto onde nossas coisas estavam e em um olhar rápido percebi que não tinha mais nenhuma roupa de Sung-Yong-hyung lá, ele pegou tudo e foi embora. Uma sensação de vazio me dominou, um nervoso apareceu e logo aquela vontade de chorar. Espantei os sentimentos e corri para ver se encontraria ele em algum lugar do prédio.
    Abri a porta do quarto e me deparei com Sung-Joon, que estava quase entrando no quarto ainda suado dos exercícios.

—Sung-Yong-hyung foi embora. Não achei nada dele nas minhas coisas.

    Já estava me preparando para correr até a portaria e ver se ele ainda estava lá, mas Sung-Joon me puxou pelo braço, foi tão forte que precisei me apoiar nele para não cair.

—Não precisa correr, ele já foi faz tempo. Quando acordei ele estava saindo, tentei convencê-lo a ficar, mas Sung-Yong não dizia uma palavra.

Me afastei de Sung-Joon.

—E por que você não me acordou?

—Conheço seu amigo há poucas horas e sei que nem mesmo você conseguiria impedi-lo de partir.

—Mesmo assim... mesmo assim você deveria ter me avisado.

—Sinto muito. Não fiz por mal.

—Sung-Joon você queria me afastar de Sung-Yong-hyung. Tenho certeza que era seu plano desde o começo. Você sempre armando para mim.

—Não fiz nada, ele quem decidiu partir. Talvez Sung-Yong saiba que você estará mais seguro longe dele.

—Não quero segurança. Apenas não posso ficar longe dele. (Já falava em meio ao choro.) Ele ainda está machucado, não tem ninguém para cuidar dele...

    Sung-Joon me abraçava, conseguia sentir a tristeza nele, só não sabia se era por me ver triste ou pelo fato de Sung-Yong-hyung ter partido. Sentei na poltrona e Sung-Joon me trouxe um copo d'água. Ainda estava em dúvida se deveria ir atrás de Sung-Yong-hyung ou não. Se não fosse por Sung-Joon eu estaria correndo atrás dele agora mesmo. Outra coisa que me fez pensar antes de sair correndo, foi o fato de ainda não ter meu visto renovado, Sung-Joon estava resolvendo, mas ainda não tinha conseguido passar pela burocracia.

—Fábio, tome um banho e depois vou precisar te levar no escritório do meu pai. Já preparei tudo para você permanecer aqui por mais tempo, ainda assim será preciso que você assine alguns papeis.

   Estava agradecido por Sung-Joon ter conseguido resolver o problema do visto, mas minha cabeça estava muito focada em Sung-Yong-hyung. Preciso disso, preciso permanecer aqui para resolver os problemas com Sung-Yong-hyung, não quero partir e deixá-lo desamparado, ele corre perigo, e nunca conseguiria me perdoar se algo acontecesse com ele enquanto eu estivesse do outro lado do mundo.

    Me levantei, estava decidido em usar esse tempo extra para resolver essas coisas. Me arrumei e fomos para o escritório do pai de Sung-Joon, no caminho ele me contou que não era exatamente o pai dele quem estava resolvendo o meu caso, um amigo dele que tem ligação com um pessoal do governo estava resolvendo. Não demorou muito para chegar lá, logo estávamos no estacionamento, desembarcamos do carro e um funcionário veio para estacionar o veículo. Me sentia um pouco excluído socialmente, pois Sung-Joon usava um belo terno cinza com uma gravata branca com listras pretas, estava muito bonito, com o cabelo todo arrumado. Parecia outra pessoa, um homem, não o garoto que precisou da minha ajuda para vestir a camisa ontem.

    O escritório é um lugar bonito, porém ainda assim tinha muitos papéis empilhados e alguns funcionários com uma aparência mais simples, usando calça jeans e camisa social, algo que me deixava mais confortável, pois também me vestia assim naquele momento. Sung-Joon usava o terno por ser uma ordem do pai, ele não poderia entrar no escritório sem um terno, era uma exigência boba, talvez para demostrar superioridade perante os outros funcionários. 
    Acompanhei Sung-Joon bem de perto, via os olhares dos funcionários nos acompanhando, talvez pelo fato de eu ser ocidental, pois eu tenho uma aparência comum, sou branco, magro, cabelos pretos e medindo um metro e setenta e três centímetros. Não era muito diferente em altura de Sung-Joon, talvez ele tivesse dois ou três centímetros a mais que eu, o tamanho do corpo é a nossa maior diferença, pois Sung-Joon tem ombros largos e braços musculosos, o completo oposto de mim, que sou apenas um jovem magro que não gosta de fazer exercícios. Fiz o mesmo que Sung-Joon e ignorei os olhares. Um outro pensamento me surgiu, será que as pessoas sabiam que Sung-Joon era homossexual? E sobre os envolvimentos com Gangues, todos sabiam? Eram dúvidas que só seriam sanadas em outro momento.

    Chegamos na sala do amigo de Sung-Joon. Ele parecia ser mais velho que nós, talvez tivesse mais de trinta anos, ele é bem mais alto que nós dois, também tem o corpo maior, não era gordo, apenas um pouco mais encorpado.

—Sun-Gyu-hyung, sabia que poderia contar com você.

—Ohh! Sung-Joon-ahh, finalmente você veio.

—Sun-Gyu-hyung, esse é o Fábio.

    Sun-Gyu veio até mim e me cumprimentou, apenas apertamos as mãos.

—Sung-Joon-ahh, você me arrumou um caso difícil, mas eu consegui... Tive que registrar ele como funcionário da empresa, algo como um contrato temporário. Ele está registrado como auxiliar em um caso jurídico internacional. Esse caso está em aberto faz alguns anos e não tem previsão de encerramento. Portanto o visto poderá ser renovado, mas já adianto que caso ocorra o encerramento por uma das partes envolvidas o contrato expira e o visto também.

—E você não poderia incluí-lo em outro processo?

—Posso, porém só temos este caso internacional. Assim que ele terminar, não poderei fazer mais nada para renovar o visto. Se ele realmente quer permanecer neste país, só existem duas formas, contratos empresariais, que na maioria das vezes tem prazo para terminar, ou um casamento com uma nativa. Enquanto estiver casado poderá morar aqui sem problema. Então, amigo, aconselho que você aproveite este tempo e consiga uma esposa.

    Sung-Joon me olhou, ele parecia querer soltar uma gargalhada, mas logo voltou a se concentrar nos papéis e nas coisas de Sun-Gyu dizia. Essa declaração de Sun-Gyu respondeu várias das minhas perguntas. Sung-Joon estava no armário, e provavelmente não falaria para ninguém. Sentia uma diferença no segredo que Sung-Joon esconde das pessoas, ele não tinha medo de que descobrissem, só não tinha intenção de contar.
    Assinei uma quantidade gigantesca de papeis, carimbei minhas digitais em duas folhas e no final Sun-Gyu tirou algumas fotos do meu rosto em vários ângulos. Enquanto fazia isso, Sung-Joon saiu, foi em algum lugar dentro do escritório, talvez falar com o pai dele. Quando terminei, decidi sair da sala de Sun-Gyu, estava desconfortável, ele não entendia muito do que eu dizia e no final ele já estava falando sozinho no telefone para me evitar. Sai andando pelo escritório, era impressionante a quantidade de papéis nas mesas dos funcionários. Alguns tentavam desviar o olhar quando eu passava perto da mesa, até que bem ao fundo, em um lugar apertado vi um garoto, bem mais novo que todos naquele lugar, ele estava rodeado por máquinas copiadoras e impressoras de todos os tipos, papéis cobriam a mesa. Decidi me aproximar dele.

—Olá?

—O-o-oi...

—Qual seu nome?

—Im Tae-Jun.

—Tae-Jun-sshi. O que exatamente você faz aqui?

—Cópias dos documentos.... também digitalizo a maioria deles, estou... criando um banco de dados digital.

—Deve ser cansativo digitalizar folha por folha. Quantos anos você tem?

—Dezoito anos. Trabalho aqui por meio período.

    Embora seja bem novo, ele tem um rosto bonito, se mudasse o corte de cabelo poderia ser um desses cantores, ou mesmo participar de uma boy band. Na verdade, algo nele me lembrava Sung-Joon, porém a pele era um pouco mais escura. Estava caindo na real que Tae-Jun tinha compreendido muito bem o que eu falava em inglês, algo raro de se ver por aqui. Antes que eu pudesse perguntar Sung-Joon apareceu atrás de mim.

—Então, você já conheceu meu primo mais novo?

—Seu primo? Ahh, então por isso que... Os olhos... Sung-Joon, ele tem os mesmos olhos que você.

—Sung-Joon-hyung, como vai?

    O jovem Tae-Jun abraçou Sung-Joon, era bonitinho ver os dois assim. Tae-Jun parecia gostar muito de Sung-Joon, ele tinha aquele olhar de admiração. Logo nos despedimos do garoto e seguimos para o estacionamento.

—Você está muito obcecado por mim. Viu um garoto parecido comigo e foi correndo.

—Exatamente isso. Como você descobriu?

—Não consegue ficar longe de mim, vou mandar fazer uma foto minha de tamanho real pra você.

—Pode fazer. Mas tem que ser uma foto de você saindo do banheiro, igual a ontem. Lembra?

—Hahaha. Lembro.

    O elevador levou um tempão para chegar no estacionamente, assim que a porta se abriu, levei o maior susto da minha vida. A pessoa esperando do outro lado da porta era ninguém menos que Jun-Hyung. Ele ainda tinha pequenos curativos no rosto, fez uma cara debochada quando nos viu. Na mesma hora peguei na mão de Sung-Joon, e puxei ele para longe, Jun-Hyung entrou no elevador, olhou para nossas mãos entrelaçadas e deu eu sorriso debochado, fiquei mais aliviado quando a porta do elevador fechou. Eu tive medo, não só por mim, mas por Sung-Joon também, não queria que ele se machucasse novamente. Fiquei um tempo de mãos dadas com Sung-Joon, ele percebeu minha preocupação, tentou me acalmar, me direcionou para o carro, que já estava esperando. Ficamos lá parados por um tempo, até que tive coragem de falar.

—Sung-Joon, o que Jun-Hyung veio fazer aqui?

—Ele tem negócios com o meu pai. Não se preocupe, não é nada sobre mim. Uma vez que o chefe nos liberou, Jun-Hyung não vai mais tentar fazer nada.

—Mesmo assim, e se ele te atacasse? Você não teria chance contra ele sozinho, ele pode até...

—Pode até me matar, é isso?

—É...

    Um pequeno sorriso de satisfaço eu vi no rosto de Sung-Joon, ele ficou feliz por eu me preocupar com ele.

—Obrigado... Obrigado por se preocupar comigo... Você realmente é diferente, diferente de todos que conheço.

—Sung-Joon... Quando você diz que ninguém se preocupa com você, isso não é algo que eu consigo acreditar. Não é possível que você não tenha mais ninguém, amigos, família ou mesmo ex-namoradas.

—Vou te contar uma coisa, mas não quero que ninguém saiba. Você promete?

—Prometo.

—Na época de escola... Bem, eu não era realmente o mais popular da turma, tinha apenas um amigo desde o começo, andávamos juntos, comíamos juntos, estávamos sempre juntos. Era uma escola apenas para garotos na época, hoje não é mais. Então, eu e Dong-Jun éramos perseguidos por uns garotos de uma turma mais avançada. Eram quatro garotos, dois anos mais velhos que nós. Eles sempre nos chamavam de "veado", "bixinha" e coisas assim. Até que um dia eles fizeram algo bem maior que apenas ofensas, era uma sexta-feira, fim do dia, a maioria dos alunos e professores já estavam no auditório para o encerramento do semestre, mas eu e Dong-Jun estávamos saindo da sala, ficamos lá pois eu era o responsável pela arrumação da sala naquele último dia. Já estava fechando a porta quando os quatro rapazes nos cercaram. Ameaçavam nos bater, disseram para seguir para o banheiro... Eu e Dong-Jun tentamos escapar, mas eram quatro garotos maiores que nós, por isso acabamos arrastados para o banheiro, e quando chegamos lá, não eram apenas quatro, tinha mais três garotos dentro do banheiro, todos eles mais velhos que nós dois. Um deles jogou minha mochila longe, me empurrou contra o canto da parede e só vi quando um outro já estava... já estava com a calça abaixada e tinha o pênis duro, ele nem deixou que eu fizesse nada, esfregou aquilo na minha cara, forçou para dentro da minha boca. Eu tentei escapar, mas os outros garotos me seguravam com força, até que um deles disse para os outros me virarem e abaixar minha calça. Posso dizer que foi a pior dor que senti, ele apenas forçou o pênis dentro de mim, eu tentei gritar, mas ninguém escutou... Via os outros garotos fazerem o mesmo com Dong-Jun, foi muito nojento. No final estávamos jogados no chão daquele banheiro, os dois machucados, chorando e sem ação. Eu me vesti e em seguida ajudei Dong-Jun a se levantar. Ele saiu do banheiro e me deixou para trás, e essa foi a última vez que vi Dong-Jun, ele mudou de escola, mas eu permaneci lá. Não contei nada para ninguém até agora.

    Eu fiquei sem reação para tudo que Sung-Joon tinha me contado. Já sofri bullying na minha escola, mas era apenas algo verbal, e como tinha várias garotas na minha turma, eu estava sempre junto delas e longe dos garotos. O que aconteceu com Sung-Joon foi muito agressivo, nunca passaria pela minha cabeça que esse homem confiante tinha sofrido algo assim.

     Ele tinha uma expressão muito triste, foi uma coisa que ele guardou todo esse tempo, e decidiu contar exclusivamente para mim. Sem saber como consolar Sung-Joon, eu apenas fiquei ali parado, segurando a mão dele.

—Sung-Joon sinto muito pelo que aconteceu. Mas eu preciso te perguntar. Você já encontrou Dong-Jun depois de adulto?

—Apenas uma vez... em uma loja, ele me ignorou.

—Você sentia algo por ele naquela época?

—Talvez, não sei qual era o sentimento que tinha naquela época.

—E quando reencontrou ele na loja?

—Apenas ansiedade de que ele viesse falar comigo.

    Sung-Joon não admite, mas eu acho que ele ainda é apaixonado pelo Dong-Jun e mesmo depois de adulto ele não conseguiu expressar seus sentimentos.

    Eu estava realmente grato por tudo que Sung-Joon tinha feito por mim, e agora que ele me contou o problema que tinha passado, já não conseguia mais sentir nada de ruim por ele e precisava expressar isso, virei o rosto de Sung-Joon na minha direção e lhe dei um beijo. Foi estranho, a sensação foi diferente, não era apenas um beijo com desejo sexual, e sim, um beijo que transmitia os nossos sentimentos. Sung-Joon ficou mais perplexo que eu, pois até ele tinha sentido que aquele beijo continha outros significados.


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