Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 16
Capítulo 16 - Vista da cidade.




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    Me deparei com uma banheira, algo raro de se ver nos banheiros do Brasil, até na Coréia do Sul não deveria ser muito comum. Queria aproveitar a oportunidade e tomar banho de banheira pela primeira vez. Coloquei água e alguns produtos que tinham um belo perfume floral, na verdade parecia ser o mesmo produto que Sung-Yong-hyung e Sung-Joon tinham usado antes. Logo algumas espumas apareceram, talvez tenha exagerado na dosagem, parecia ter mais espuma do que água. Tirei a roupa e entrei na água. É uma sensação diferente de uma piscina, talvez pelo fato de ter sabão misturado na água. Fiquei parado lá por um tempo, precisava descansar. Senti um pouco de remorso por ter apressado Sung-Yong-hyung e Sung-Joon no banho, eles poderiam ter aproveitado um banho de banheira. Logo enjoei daquela água rosada, precisava de uma ducha para tirar todo o sabão. Meu estômago roncava, estava com fome, precisava comer algo logo.
    De dentro do quarto eu consegui ouvir quando a melodia da porta tocou, é um som diferente da porta do apartamento de Sung-Yong-hyung, alguém tinha saído ou entrado, ainda não conseguia diferenciar os sons. Me arrumei logo, vesti um short preto e uma camisa amarelo escuro, saí do quarto e me deparei com uma coisa que nunca pensei que veria. Sung-Yong-hyung e Sung-Joon estavam sentados na mesma poltrona, cada um com uma garrafa de cerveja na mão. Parecia estar sonhando. Sung-Yong-hyung não é a pessoa mais sociável do mundo, mas Sung-Joon é o "senhor social". Portanto que ele chegou em mim no bar como se fosse algo natural, parecia estar falando com um amigo. Por incrível que pareça eles estavam conversando, era estranho, pois Sung-Yong-hyung não era de falar muito. Até comigo e Yoon-Sang as conversas eram rápidas e diretas.
    Estava com receio de ir até eles e acabar com o clima. Eles me lembravam dois cachorros da minha casa no Brasil, quando estavam sozinhos eram amigos, assim que alguém aparecia eles começavam a brigar. Tinha medo que isso pudesse acontecer, mas eles não são cachorros, são seres humanos que pensam e agem diferente.
    Vi a comida na mesa de centro, a fome era grande, já nem me importava com clima dos dois. Sentei ao lado de Sung-Joon, pois ele estava mais perto da mesa, comecei a montar um prato com arroz e legumes. Decidi sentar no chão, ficar mais perto da mesa, comi tudo muito rápido, os dois rapazes estavam tão concentrados no basebol que nem me viram ali.
O mais engraçado era ver as reações deles, pareciam amigos em um bar no domingo de tarde. Nunca gostei muito de esportes, e os rapazes homossexuais que conheço no Brasil também não gostam, mas aqui eu encontrei três que ficam hipnotizados olhando para a TV.
    Não demorou muito para acabar o jogo, talvez já estivesse passando quando nós chegamos. Conseguia ver a felicidade dos dois, queria parar o tempo, deixar tudo desse jeito, com todo mundo feliz, uma pena não ser possível. Essa convivência com os dois ao mesmo tempo era dificílimo, mesmo não sendo exatamente um relacionamento que nós temos, pois Sung-Yong-hyung estava saindo com a garota do trabalho, e Sung-Joon, bem, não sei como definir.

    Comecei a retirar as coisas da mesinha, mas Sung-Joon me impediu. Ele pegou as coisas da minha mão e disse que ele mesmo faria. Alertei sobre os pontos que ele tinha levado, ele disse que ficaria de joelhos para pegar as coisas, mesmo assim insisti em ajudar. Nos livramos do lixo e voltamos para a poltrona. Sung-Yong-hyung parecia estar com sono, estava deitado ali mesmo, tinha o rosto coberto por uma almofada. Ele já se ajeitava na poltrona.

—Fábio, ele vai acabar dormindo aqui.

—Não tem problema, Sung-Yong-hyung gosta de dormir com a TV ligada, aqui é o ambiente ideal para ele.

—Então, vamos até a varanda? Lá tem uma vista linda da cidade.

    Segui Sung-Joon até a varanda, um lugar grande com várias cadeiras de ferro na cor branca, plantas penduradas nas paredes e uma vista realmente incrível, dava para ver a cidade inteira, o rio que cortava a cidade e a ponte iluminada.

—Sung-Joon, Seoul e o Rio de Janeiro são bem parecidas, uma ponte, um rio, todas estas luzes. As diferenças são a falta das favelas, os morros e o Cristo Redentor.

—Sempre tive vontade de conhecer o Rio de Janeiro, ainda teremos a oportunidade de ir para lá juntos.

—Não sei se teria coragem de levar você e Sung-Yong-hyung pra lá. A vida não é fácil no Brasil, sem falar que vocês seriam...

—Seriam o que?

—Nada não.

—Vamos, fale logo.

—Vocês são dois homens bonitos, não conseguiria afastar todas as mulheres e até homens que dariam em cima de vocês dois, tentando arrastá-los para uma rua escura.

—Hahahaha. Então você está com ciúmes?

—Não é ciúmes, está mais para proteção.

—Quantas garotas eu conseguiria pegar em uma noite?

—Umas dez, ou mais.

—E homens?

—Fariam filas, maior que às filas da Black Friday.

—Exagero, não sou tão bonito assim. Olha esse cabelo bagunçado.

—Não estou exagerando, isso realmente pode acontecer.

—Mesmo assim tenho vontade de conhecer seu país.

—Sung-Joon... Você já teve outros relacionamentos?

—Com mulheres sim. Agora com outro homem... Tenho até vergonha de dizer, mas você foi o primeiro.

—O quê?! Então foi por isso que você estava tão ansioso?

—Eu sempre sou ansioso, mas naquele dia eu até suava e tremia.

—Eu percebi. Pensei que fosse só coisa do momento.

—Já beijei um outro rapaz, mas não consegui passar disso. Fugi do local sem olhar para trás.

—Eu já tive apenas um relacionamento com homem no Brasil, foi apenas uma vez com um cara que encontrei na balada.

—Fábio, você realmente me perdoa por ter feito tudo aquilo? Jun-Hyung me obrigou, era apenas uma missão, não precisava me envolver, bastava apenas te seguir e descobrir se Sung-Yong-hyung era o cara que eles estavam procurando. Mas não consegui me conter quando te vi naquele bar.

—Eu também sou culpado, afinal de contas estava carente, enchendo a cara no bar e fui parar no banheiro com um desconhecido.

—Você se arrepende de ter me conhecido?

—Não vou mentir... Por um momento eu me arrependi e tive vontade de te matar... Sung-Joon, porque decidiu me ajudar? Você já tinha cumprido com a missão, poderia apenas ter se retirado do local.

—Eu estava indo embora, mas não consegui. Precisava ter certeza que nada aconteceria com você. Jun-Hyung me prometeu não te machucar, mas eu precisava confirmar.

—O que você pretendia fazer quando Jun-Hyung me soltasse? Iria se aproximar de mim sem que eu soubesse que você foi o responsável por tudo?

—Eu pretendia não me envolver mais com você. Apenas confirmar que você estava bem.

—O que exatamente fez você mudar de ideia?

—Quando Sung-Yong estava sendo surrado pelos capangas eu vi sua preocupação com ele. Era mais que amizade, era uma ligação mais forte. Comecei a lembrar que talvez não tivesse ninguém para gritar por mim, implorar pela minha vida, como você fazia por Sung-Yong.

    Não sabia que Sung-Joon era tão solitário assim. A figura de um cara bonito não me deixava pensar que ele poderia ser solitário. Ao olhar para ele no primeiro momento apenas o pensamento de que ele deveria ser idolatrado por todos ao redor, aquela pessoa cheia de amigos, que vive em festas e coisas assim. Descobri que é exatamente o contrário era difícil de crer.

—Sung-Joon, eu soube que você estava do meu lado através do seu olhar. Quando vi o olhar frio se transformar nesse olhar carinhoso que você tem agora, eu sabia que poderia contar com você.

    Sung-Joon pegou na minha mão, ele realmente é uma pessoa carinhosa, sentia que tudo que ele falava era sincero.

—Foi uma loucura enfrentar Jun-Hyung, ele é muito forte, se Sung-Yong não tivesse me ajudado, talvez não estaríamos aqui.

—Sung-Yong-hyung, já sofreu muito com na mão dessas Gangues, meu desejo é que ele fique livre desses problemas e possa viver tranquilamente.

—Nós vamos sair dessa, nem que seja preciso matar todos da Gangue que nos persegue.

    Conseguia ver a determinação de Sung-Joon, ele realmente estava disposto a fazer o que disse, ele mataria todos, ele faria o necessário para nos livrar dessa enrascada. Estava cansado, precisava descansar, dormir sem me preocupar com nada. Sentia que Sung-Joon também parecia querer isso, por isso sentamos perto um do outro na poltrona para assistir TV, conversamos baixinho para não acordar Sung-Yong-hyung, depois pegamos no sono ali mesmo, um apoiado no outro.


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