Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 13
Capítulo 13 - Me perdoa?




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    Uma clínica médica foi onde entramos, em seguida um senhor de idade, apoiado em uma bengala, veio até nós. Eu estava ajudando Sung-Yong-hyung, ele mal conseguia andar por conta própria, não estava nada bem. Agora que a adrenalina abaixou, ele começou a sentir as dores de todas as pancadas que levou.

—Sung-Joon-sshi, você se meteu em uma encrenca das grandes, olhe para você, está todo machucado. Esse outro aí, parece mais grave.... Vamos levá-lo para uma cama.

     Acompanhamos o idoso até uma sala bem ao fundo de um grande corredor. Em poucos metros já não conseguia carregar Sung-Yong-hyung sozinho, ele estava ficando mais pesado, estava perdendo a consciência. Sung-Joon logo percebeu e veio me ajudar, juntos conseguimos levar Sung-Yong-hyung até o quarto indicado pelo idoso.

—Ele desmaiou. A pressão arterial está baixa. Preciso medicá-lo agora.

    O doutor largou a bengala, andava pelo quarto se apoiando nas coisas. Usou uma tesoura para cortar a camisa de Sung-Yong-hyung, assim que vi seu corpo magro, me assustei, ele estava todo ferido, manchas escuras, outras avermelhadas, estavam espalhadas pelo abdômen. O doutor examinou com cuidado e logo injetou algum medicamente.

—Isso deve resolver o problema da pressão arterial baixa. Precisamos fazer uma higiene nele, não posso fazer curativos na pele suja. Estou sem ajudante hoje, algum de vocês dois terá de fazer. Usem esse medicamento para limpá-lo.

O doutor deixou um recipiente branco e uma toalha sobre a mesa. Saiu do quarto dizendo que precisava ver um paciente, mas não demoraria, por isso deveríamos fazer a higiene rápido.

    Mesmo que Sung-Joon se propusesse a fazer a higiene, eu não permitiria. Não confio mais nele, talvez nunca mais volte a confiar, preciso me afastar dele. Sem falar nada peguei o recipiente e a toalha, umedeci uma parte dela, passei no abdômen de Sung-Yong-hyung com delicadeza, evitava encostar nas feridas. Sentia uma tristeza vê-lo nessa situação, ver aquele homem, que sempre dominava a situação, deitado numa cama sem reação era sofrível. Limpei o abdômen, peitoral e braços de Sung-Yong-hyung, mas ainda precisava dar um jeito no rosto, que tinha alguns cortes, algo bem de leve, mas que pareciam doer.

    Sung-Joon ficou sentado em uma cadeira, me olhando o tempo todo. Ele queria falar, mas eu não dava importância. Ignorava tudo que ele dizia. Até que ele disse que ligaria para o pai dele, precisava explicar a situação e que daria um jeito para eu permanecer na Coréia do Sul por mais algum tempo, sem precisar da autorização de agências de intercâmbio. Ele daria um jeito de estender meu visto.

—Isso é o mínimo que você deve fazer. (Respondi de forma seca e arrogante, algo que ele nunca esperaria de mim.)

    Foi nesse momento que Sung-Joon percebeu que eu já não tinha nenhuma afeição por ele. Naquele momento só conseguia expressar minha raiva e desprezo por ele. Sem precisar de palavras ele entendeu a situação, saiu do quarto com o smartphone na mão. Conseguia ver sua camisa branca com finas listras pretas toda manchada de sangue, não sabia se ele estava machucado, nem me importava muito com ele naquele momento. Pois não importava o quão machucado Sung-Joon estava, Sung-Yong-hyung estaria pior, esse pensamento era o único que vinha na cabeça. Após a saída de Sung-Joon o doutor logo voltou. Olhou para o corpo de Sung-Yong-hyung, e disse:

—Você fez um belo trabalho, facilitará muito o tratamento.

—Doutor, é muito grave? Sung-Yong-hyung vai demorar para acordar?

—Não parece ser grave, ele apenas teve uma queda na pressão arterial. Isso é comum quando se tem sangramento, mesmo que pouco. Ele deve acordar logo.

Olhava para o rosto de Sung-Yong-hyung, sentia um aperto no peito. Acariciava seu cabelo, e imagens da luta contra Jun-Hyung vinham à minha mente. Me arrependia de não ter conseguido fazer nada, se eu tivesse lutado com eles, talvez Sung-Yong-hyung não estivesse tão ferido.

—Qual o seu nome, jovem?

—Fábio, sou brasileiro, tenho 24 anos.

—Brasileiro, né? Você veio de longe e se envolveu com esses rapazes complicados.

—Eu que me deixei ser envolvido. Tive várias oportunidades para me afastar de todos esses problemas, mas simplesmente não consegui. Não sei se conseguiria viver longe deles, mesmo sabendo dos riscos.

—Poucas pessoas teriam a sua coragem. A maioria se afastaria no primeiro sinal de que algo não estava certo. Admiro sua decisão, mas sinto que você está distante de Sung-Joong-sshi, e se preocupa mais com esse rapaz, você não deveria ignorá-lo, ele é complicado e problemático, mas merece ter alguém confiável ao seu lado.

—Sung-Joon é muito perigoso, sinto que estou ao lado do próprio Deus da morte.

—Todos aqueles envolvidos com Gangues terão um Deus da morte ao seu lado, esperando a oportunidade perfeita para levar sua vítima.

—Sinto que corro mais risco ao lado se Sung-Joon.

—Na verdade você estará mais seguro ao lado dele. Sung-Joon-sshi é um jovem esperto, ágil, feroz e bonito, é claro, se ele decidiu que você e esse seu amigo aqui, são importantes para ele, ele moverá montanhas para que vocês estejam bem.

—Doutor, o senhor deve conhecer Sung-Joon muito bem para falar assim.

—Não gosto de ser chamado de doutor, me traz lembranças ruins. Meu nome é Lee-Ji-Suk. Pode me chamar de Sr. Lee, ou mesmo Ji-Suk.

—Sim, Sr. Lee... parece mais agradável. Agora, sobre Sung-Joon...

—Eu sempre estive presente na vida da família dele. Eu trabalhei como médico particular do avô dele. Eu morava na mesma casa, vivia lá, pois deveria dar assistência 24 horas ao avô de Sung-Joon-sshi. Convivemos juntos por 10 anos. Quando o avô dele faleceu, ele tinha 16 anos. Foi uma perda terrível, pois o avô era responsável por ele. Depois do acontecido, Sung-Joon-sshi foi morar com o pai, só me encontrei com ele há poucos meses. Quando me procurou para tratar das feridas de uma briga entre Gangues.

—Ele me disse que o senhor era amigo do pai dele.

—Não somos exatamente amigos, apenas parceiros de negócios.

—Entendo.

—Jovem Fábio, você não deve evitar Sung-Joon-sshi, se ele trouxe vocês até mim, é porque realmente teme por suas vidas. Talvez juntos consigam resolver esses problemas.

    Enquanto conversávamos, Sr.Lee fazia os curativos necessários em Sung-Yong-hyung. Ele precisou levar pontos em alguns cortes no abdômen e no rosto. O Dr. Lee me entregou algumas roupas. Eram três camisas brancas e três bermudas pretas.

—Esse rapaz aqui deverá acordar logo, antes disso você deve tomar um banho e vestir essas roupas limpas. Leve a roupa para Sung-Joon-sshi, diga para ele se lavar e me procurar no último quarto para fazer os curativos.

—Obrigado, Sr. Lee.

—Jovem, tenha um pouco mais de paciência com Sung-Joon-sshi, ele merece ser reconhecido por mais alguém.

    Mesmo que o Sr. Lee me peça algo assim, não sei quanto tempo levará para que esses sentimentos ruins deixem de existir. Sung-Joon me enganou, só conseguia pensar nisso.
Segui as ordens do Sr. Lee, deixei Sung-Yong-hyung descansar. Andei pela clínica, procurava Sung-Joon, precisava dar o recado e entregar as roupas. Encontrei ele sentado no chão do grande corredor, estava com o smartphone na mão, parecia exausto. Meu coração dizia para me aproximar dele, tentar ajudá-lo, mas minha mente recordava dos momentos de medo que senti, daquele olhar frio e sem vida que ele exibia. Sentei um pouco distante dele, peguei as roupas e entreguei.

—Pegue. O Sr. Lee me pediu para te entregar. Disse para você tomar banho e procurá-lo no último quarto para fazer curativos, se necessário.

    Sung-Joon me olhou triste, pegou as roupas da minha mão, senti o seu toque na minha mão. Isso me lembrou dos momentos que passamos juntos, das risadas que dava quando ele me enviava uma foto engraçada, das conversas sem fim, do seu beijo ofegante. Essas coisas me consumiam, mas não conseguia esquecer o que tinha acontecido. 
Me livrei desses pensamentos bobos, me foquei em voltar para o quarto em que Sung-Yong-hyung está, decidi que tomaria banho lá. Entrei no quarto, Sung-Yong-hyung ainda estava dormindo. Peguei as roupas e fui tomar banho, a água caía no meu rosto e eu tentava lavar não só as impurezas, mas também as lembranças dos momentos ruins que passei. Quando saí do banho me assustei com Sung-Joon sentado na única poltrona do quarto. Ele se levantou quando me viu, tirou a camisa. Consegui ver seu belo corpo, mas que desta vez estava cheio de marcas das pancadas, o pior mesmo foi um corte nas costas, parecia profundo. Em um momento de preocupação e impulso, fui em direção a ele, precisava ver aquela ferida de perto.

—Sung-Joon, você deveria ver isso logo. Precisa levar pontos.

—Não se preocupe, há feridas piores.

    Não entendi a situação e puxei ele pelo braço para que ficasse de frente para mim, achei que ele estava se referindo a alguma outra ferida que eu não tinha visto. Toquei o abdômen de Sung-Joon, não com intuito sexual, mas de preocupação.

—Não se preocupe, a ferida não é aí. (Ele pegou a minha mão, colocou sobre seu peito.) Ela é aqui, e foi feita por mim mesmo.

    Me afastei para evitar ser arrematado pelo momento afetuoso. Sung-Joon, tirou o restante da roupa, foi em direção ao banheiro totalmente nu. Mesmo naquela situação, ainda não conseguia apagar da minha mente o desejo pelo seu corpo. Ele é lindo e tem um corpo perfeito, e, aparentemente, agora tem frases de efeito, tudo isso contra mim.
Catei suas roupas espalhadas e coloquei no braço da poltrona. 
Sentei na cama ao lado de Sung-Yong-hyung, ele estava coberto até a cintura, tem ataduras envolvendo seu abdômen, e curativos no rosto onde levou pontos. Sung-Joon demorou bastante no banho, e quando saiu, vestia apenas a bermuda, levava a camisa branca na mão. Saiu do quarto sem dizer nada, provavelmente estava indo até o Sr. Lee para cuidar do corte nas costas.
    Deitei ao lado de Sung-Yong-hyung, ele ainda estava dormindo, mas conseguia sentir ele se mexer em alguns momentos. A tristeza me consumia, não aguentava vê-lo nessa situação, mas não posso fazer nada para aliviar sua dor, se pudesse trocaria de lugar com ele, tamanha é minha ligação com Sung-Yong-hyung. Deitado acariciava o braço dele, passava meus dedos pelo peitoral, subia até o rosto, peguei a mão dele, entrelacei com a minha. Encostei meu rosto em seu ombro, era bom sentir o cheiro de Sung-Yong-hyung tão de perto, os movimentos de seu peito durante a respiração. Embora fosse um momento triste, ainda assim era prazeroso, não tinha tido oportunidade de estar tão perto assim, desde quando ele começou a se relacionar com a garota do trabalho. Ele afastou-se de mim, talvez quisesse me poupar, ele não queria que eu sofresse por sua causa. Embora Sung-Joon tenha me ajudado a superar esse distanciamento, nunca foi o suficiente, nunca conseguiria esquecer Sung-Yong-hyung.

    Sung-Joon fez o curativo rapidamente, logo estava de volta ao quarto. Ainda sem camisa, podia ver que as ataduras estão enroladas no corpo, passava por baixo dos braços, envolvia o peitoral e as costas, apenas o abdômen estava descoberto. Me perguntava se ele não tinha vontade de colocar a camisa. Para minha surpresa ele me chamou.

—Fabio, me ajude a vestir a camisa? Sempre que levanto os braços a ferida nas minhas costas dói.

     Não poderia negar, se ele não tivesse agido, Sung-Yong-hyung já estaria morto. Deixei meus pensamentos ruins e fui ajudá-lo. Primeiro passei a camisa pelo braço direito, depois pelo esquerdo, estava frente a frente com Sung-Joon, teria que passar a camisa pela cabeça, mas para isso precisaria chegar mais perto, consegui, mas agora estava com o rosto bem próximo do de Sung-Joon, sem terminar de vestir a camisa ele me puxou e me beijou, coloquei as duas mãos em seu abdômen definido tentando me distanciar, foi um beijo quente, não conseguia me livrar das suas mãos. Mesmo que tentasse não conseguiria me afastar, minha mente queria parar, mas meu corpo não. Era um beijo que transmitia um pedido de perdão, mesmo sem falar, eu conseguia sentir o que ele queria me dizer. Os beijos vinham como um "Me perdoa?" "Não se afaste de mim."
Sem conseguir responder, apenas uma lágrima correu no meu rosto, meus olhos marejados eram a resposta para os beijos de Sung-Joon.

    Consegui me libertar de Sung-Joon, queria falar, mas as palavras não saíam. Eu estava de frente para a cama, vi quando Sung-Yong-hyung se mexeu, virou o rosto para o lado. Ele tinha acordado justamente naquela hora, tinha visto tudo. Me afastei de Sung-Joon e saí do quarto. Respirava o ar puro, o ar que não estava carregado pelos sentimentos dos dois. Era como se dois deuses estivessem brincando com os sentimentos de um simples mortal. Não consegui segurar o choro, me afastei do quarto, chorei por algum tempo. Só pensava em como encarar Sung-Yong-hyung. Não queria que ele soubesse, era um segredo, uma aventura, talvez até um ponto de apoio.
Precisava voltar, o clima tinha ficado estranho, eu tinha que me explicar.


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