Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 8
Os Mentirosos II


Notas iniciais do capítulo

Heey~ *se abaixa antes de levar a pedrada*
E aí? :D
Para começar, peço desculpas. Não pretendia que esse capítulo fosse uma continuação do anterior, mas vi que não ia ter jeito, era aquilo mesmo. Planejei e replanejei o capítulo, mas não teve outra saída. Talvez isso seja um pedido de desculpas para a minha consciência também, já que eu sinceramente nunca gostei de fazer capítulos em partes (tipo, parte I, parte II...) ;w;
Outra coisa, levei tempo para decidir o final desse capítulo. Ao mesmo tempo, queria e não queria fazê-lo como fiz, mas... Novamente, agora já foi e vamos rezar para não dar nada errado u3u
Vamos à leitura e tomara que gostem~
Ah, e antes que eu me esqueça: Meus agradecimentos à My Dark Side por ter me dado a ideia do primeiro trecho desse capítulo :3 ♥

Soundtrack: "Inquiry"
https://www.youtube.com/watch?v=2ozvhM8ck7I



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A tarde estava particularmente soturna naquele dia. As senhoras e cavaleiros portanto, não podiam fazer nada além de se entreter dentro de suas luxuosas e escuras mansões.  Obviamente, pessoa nenhuma pode resistir às horas de tédio seguidas sem recair em seu passatempo corriqueiro: as fofocas. Lady Habsburg assim o sabia, no entanto, fazia-se necessário um objeto para tal assunto.

Não demorou a encontra-lo, entretanto. Percebeu-o assim que a criada se retirara com a bandeja de chá. Jazia na mesinha de carteado ao lado do marido o jornal do dia anterior dobrado com cuidado. Exibia o seguinte título, em letras garrafais: “Família Von Thurn perde seu herdeiro”.

— Meu caro, e afinal, o que ficou decidido para o caso do nosso pobre Von Thurn? — perguntou dirigindo-se ao marido que se ocupava do outro lado da sala em observar uma das janelas — Creio que a situação me parece perdida.

— Sem dúvidas, irmã — replicou não o senhor Habsburg, mas sim sua cunhada — Você se interessa demais pelo caso do jovem senhor Von Thurn. Já não fala mais disso desde a última briga entre pai e filho.

— Creio que não havia outro desfecho para a situação — disse um outro cavaleiro, o Sr. Wittelsbach, o nariz empinado enquanto tornava a guardar na prateleira um livro empoeirado que tirara ao acaso para examinar — O pobre diabo mereceu o que lhe veio, afinal.

Ninguém mais falou palavra alguma, coisa que obviamente não deixou a Lady nem um pouco mais animada. Depois, afinal, ficou provado que, uma vez atiçada a curiosidade, era difícil apaga-la, pois logo surgiu a pergunta que não queria calar, e vinda, por mais surpreendentemente que fosse, pariu da irmã que despira-se do papel de repressora e agora falava, tentando dar o ar mais natural possível, enquanto terminava de examinar seu trabalho na almofadinha florida que antes absorvera tanto seu interesse.

— E, afinal — disse — O que foi feito dele?

À isso o Sr. Wittelsbach soltou uma pequena risada que, por mais que tivesse tentado disfarçar, não passou despercebida por ninguém.

— Parece que sabe de algo, se tanto ri, senhor — debochou Lady Habsburg.

— De fato, mas preferiria que mantivessem sua discrição —respondeu o cavaleiro indo sentar-se ao lado das duas damas — Vi-o na rua da cidade, não tem muito tempo. Sabem o que fazia lá? — e, ao que ninguém parecia poder adivinhar — Estava tentando vender seus quadros — e riu com gosto — Logo depois começou a chover e ele precisou ir embora. Pobre alma.

Todos riram à visão daquilo.

— Soube também — prosseguiu o senhor, agora animado com o assunto — Que trocou de nome. Abandonou por completo o antigo.

— Tanto melhor — respondeu o marido de Lady Habsurg de seu canto — O rapaz era totalmente excêntrico. Nunca vi igual. Falava disparates toda vida, coisas até mesmo perigosas. Os Von Thurn estarão melhor sem ele, acreditem.

Todos concordaram com o que fora dito e, com expressões carregadas, lamentaram o quão triste era uma linhagem tão nobre cair em tanta desgraça por uma ou duas vezes até que o assunto morresse para sempre e jamais fosse mencionado novamente, se não para soltarem uns poucos risinhos de escárnio.

Iza não sabia ao certo como reagir bem. Olhou de relance para Galli, mas o garoto estava imerso demais em seus próprios pensamentos para falar qualquer coisa. Olhava fixamente para o chão, afastado da companheira e dos quadros, e não pronunciava palavra alguma desde que sua rosa fora pedida como forma de pagar o pedágio. Os quadros não falavam absolutamente nada e logo Iza começou a sentir a urgência de tomar uma decisão.

— Certo — disse por fim — Como vocês quiserem.

— Ótimo — o de blusa azul pareceu esfregar as mãos — O jogo vai funcionar assim: cada um de nós irá fazer uma afirmação. Apenas uma.

— Você vai ouvir atentamente e tirar suas conclusões de quem fala a verdade ou quem mente — continuou a de vestido branco.

— E, quando decidir isso, terá uma chance de perguntar ao quadro que escolheu por qual porta seguir — completou a de vestido marrom — Simples, certo?

Iza concordou com um aceno de cabeça. Que mais poderia fazer? Tinham que passar de algum jeito. De alguma forma, sentiu-se extremamente cansada. Seus ombros estavam doloridos e as pernas doíam. Decidiu retirar a mochila das costas e coloca-la ao seu lado, tomando o cuidado de reaver a rosa da alça. Como achava que iria ficar ali por um tempo, não viu problemas em descansar um pouco a coluna. Então, limpando a garganta, ela dirigiu-se às silhuetas tentando aparentar segurança.

— Certo. Podem começar.

Houve uma quantidade de murmúrios ininteligíveis enquanto os quadros cochichavam entre si com um quê de urgência até que por fim emudeceram. O primeiro a falar foi a primeira silhueta, da direita para a esquerda, que usava as vestes verdes. Ele começou com um pigarro que arranhou os ouvidos de Iza e Galli.

— Muito bem — disse, e parecia haver um tremendo esforço para que se mantivesse num tom sério — Você sabia? Por mais que você passe de porta em porta, é inútil. Nunca vai sair dessa Galeria. Não há saída.

A adolescente levou inconscientemente um de seus dedos até a rosa que segurava, sentindo acariciar a superfície sedosa das pétalas negras. Logo, tomou aquela afirmação como falsa. Tinha que ser falsa.

O quadro seguinte fez seu pronunciamento. Alisando o vestido marrom, disse numa voz bem mais controlada que seu vizinho,

— Você sabia? Ninguém aqui é seu amigo. Ninguém.

O jeito como disse aquilo quase convenceu Iza. A garota sentiu um pequeno tremor perpassar por trás de si e a obrigou a balançar a cabeça involuntariamente. Olhou para Galli, que tinha o olhar fixo nas meias e sentiu-se um pouco aborrecida. Parecia até que o problema não o afetava de forma alguma. Uma sombra de dúvida surgiu, mas logo se apagou. Aquilo era outra mentira, e ela começava a entender o objetivo daqueles quadros. Queriam amedronta-la o suficiente para acabar cometendo uma gafe. Contudo, isso não aconteceria, se dependesse dela.

Foi a vez do de blusa amarela.

— Você sabia? Mais de um de nós está falando a verdade.

Iza não soube o que pensar disso. A princípio, decidiu refutar aquela afirmação como fizera com as duas outras anteriores, contudo... Ninguém lhe dissera que apenas um deveria contar a verdade e, à medida que foi percebendo isso, sentiu um enorme vazio abrir-se debaixo de seus pés. Horrorizada, ela viu que não havia como saber se o que a silhueta de blusa amarela dissera fora falso ou não. Talvez seu olhar de pânico estivesse muito aparente, pois os cinco amigos começaram a rir em deboche e, tentando corrigir isso, Iza se endireitou.

— Certo, e o próximo? — rezava para ter mostrado alguma segurança em suas palavras.

— Você sabia? — o de blusa azul foi quem respondeu — A última pessoa que passou por aqui não conseguiu acertar quem falava a verdade.

Agora Iza começou a se exasperar. Como diabos ela saberia de algo assim?! Suas pernas tremiam agora e ela já não conseguia disfarçar. E se errasse? E se escolhesse um mentiroso e acabasse matando tanto ela quanto Galli? Galli, que não devia ter nem 10 anos direito...

— Você sabia? — continuou a última, a de vestido branco, completamente implacável — Você nunca vai sair daqui. Nunca.

Era a mesma coisa que a primeira silhueta, de blusa verde, lhe dissera. Ou era parecido ao menos. Seu cérebro dava nós e mais nós, tentando entender, tentando descobrir como encontrar a resposta...

Quanto mais pensava, mais concluía que não havia como. Seus olhos começaram a queimar e algumas lágrimas quentes brotaram, anuviando sua visão. Tentando não mostrar isso para os Mentirosos, Iza baixou os olhos, mas já podia ouvi-los atirando-lhe chacotas e injúrias. Um amontoado de palavras misturadas, irritantes, confusas e inconfundivelmente agressivas ribombavam nos ouvidos da garota que, mais do que nunca, sentia-se totalmente incapaz.

Talvez todos estivessem lhe dizendo a verdade, afinal. Talvez não houvesse mesmo nenhum significado em seguir em frente...

— Iza — uma mão tocou a da garota, que pendia do lado de seu corpo.

Sem perceber, Iza deixara a sua rosa cair no chão e lá jazia. Assustada, ela abaixou-se para pegar sua flor novamente e, ao se reerguer, virara-se para Galli, que a esperava ao seu lado, uma expressão séria no rostinho infantil.

De repente, sentiu-se envergonhada de si mesma.

— Não fique assim, Iza — sua voz era tranquilizadora — Não se preocupe. Vamos sair daqui.

Os quadros riram.

— Quero ver você tentar — zombou um deles.

Galli virou-se para os quadros e ergueu uma espécie de panfleto para que todos pudessem ver. Havia uma espécie de sorriso estranho em seu rosto, que se arreganhava e mostrava os pequenos dentes que brilhavam, brancos como uma folha de papel.

— Não se preocupe comigo — disse — Ao invés disso, que tal se preocupar com seu outro amigo? O outro Mentiroso que está faltando?

Se não fossem silhuetas, mas sim retratos, efetivamente, certamente uma expressão estupidificada teria se espalhado por todos os rostos. Entretanto, como era apenas sombras, isso não pode ser visto, mas foi claramente sentido, inclusive por Iza, que arregalou os olhos para o pequeno.

— Como você sabe...? — disse uma voz irritante, que vacilava ligeiramente, mas que não pode ser usada para identificar o dono que falara.

— Bom, parece que, nesse folheto aqui, existem seis quadros da coleção dos mentirosos, e não cinco — Galli então virou-se para Iza, o sorriso estranho dando lugar à um enviesado que inclinava apenas um dos cantos de sua boca — Desculpa, Iza — pediu — Estive fuçando na sua mochila.

Mesmo que a adolescente de fato tivesse se sentido irritada por isso, não teria podido expressar sua indignação, pois estava ocupada demais de queixo caído para isso.

Sem esperar resposta, Galli tornou a olhar para os quadros.

— Vocês não tinham nenhuma intenção de deixar-nos passar, não é mesmo? Mesmo se a Iza acertasse... Mas por quê?

— Não é da sua conta! — sibilou o de blusa azul raivosamente.

— Você mentiu — Galli acusou o que acabara de falar — A última pessoa que passou por aqui conseguiu acertar qual era a porta, mas ela não jogou limpo, certo? O seu amigo não está pendurado na parede agora por que a última pessoa que passou o levou como refém e o obrigou a abrir a porta certa, estou errado?

Iza agora olhava do panfleto para o menino que o segurava. Nunca vira Galli dessa forma e, mesmo que não tivesse muito tempo de conhecimento entre eles, ela podia ter certeza que aquilo não era normal. Ele deixara o bastão azul e a rosa branca ao lado da mochila e gesticulava energicamente. Parecia com muita raiva.

Além disso, aquela teoria parecia muito arriscada. Não havia como isso ser provado e os quadros saiam disso, por isso permaneciam em um silêncio sepulcral.

— Que tal um acordo? — propôs o garoto por fim, baixando finalmente o folheto — Vocês abrem a porta certa e nos deixam passar. Em troca, nós pegamos seu amigo e o penduramos ao seu lado novamente. Que tal?

— Ótimo — o quadro de blusa verde finalmente respondeu emburrado, arrancando exclamações de surpresa dos outros — Combinado.

Alguns tentaram protestas, mas os gritos foram morrendo aos poucos. Iza olhava tudo sem acreditar. Como Galli conseguira aquilo?

— Maravilha! — Galli foi até seus pertences e apanhou-os novamente do chão, jogando o panfleto novamente na mochila — Então? Qual a porta certa?

— Aquela... — a de vestido branco apontou relutante para a da esquerda.

Assim que o disse, um estalo de fechadura ecoou pela sala.

Já com a mochila aos ombros novamente, Iza foi até a porta que emitira o ruído e tentou girar a maçaneta, que cedeu facilmente, conseguindo abrir uma fresta para o que quer que havia adiante deles. Ela olhou para Galli, incrédula, mas este já se adiantava para a porta e a escancarava, exibindo um longo corredor tingido de vermelho-vivo.

Mais adiante, um quadro retangular fora encostado à parede. Uma silhueta de vestido tão vermelho quando o resto do ambiente acenava desesperadamente para eles.

— Como você fez isso? — perguntou Iza finalmente, sem ousar tirar os olhos da criança.

Galli fez apenas um gesto com a cabeça, que não queria dizer nem sim, nem não.

— Só segui minha intuição — respondeu por fim — Você precisa fazer isso também. Aqui, segura para mim — pediu entregando a rosa branca nas mãos de Iza.

E, dizendo isso, ele abaixou-se para apanhar o quadro.

— Você vai mesmo devolver o amigo deles?

Para a garota, ela podia muito bem jogar aquela droga o mais longe possível.

— Trato é trato — replicou Galli — E, seja como for, não acho bom deixar esse lugar bagunçado. Tenho um mau pressentimento sobre isso.

Virou então as costas para Iza e voltou até a sala amarela. Esticando-se para conseguir alcançar o prego na parede ao lado da silhueta branca, recolocou a peça que faltava. Iza observava-o de onde ele a deixara. Viu-o descer da ponta dos pés e enquanto se aprumava e puxava a blusa de volta para baixo.

Também não tirou os olhos dele quando a porta se fechou como que apanhada por uma ventania violenta, tão rápida que o último vislumbre que ela tivera era Galli a encarando com uma expressão vazia.


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Notas finais do capítulo

Consegui terminar o capítulo nos 45 do último tempo asuhaushauhau Mas ainda tive que pedir para revisarem para mim, por isso levou mais algum tempo 3
Enfim, esse foi o final que me deixou tão ocupada o dia todo para decidir se ia fazer ou não....
De qualquer forma, espero ter feito a escolha certa, separando-os x.x
Beijos e até o próximo capítulo~