Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 19
Mary e Garry


Notas iniciais do capítulo

Olá, para quem não se revoltou comigo e ainda insiste nessa fanfic, mesmo eu dando tiro atrás de tiro UAHSUAHSUAHUSA Como vocês repararam, esse não tem nome de nenhuma obra do Guertena. Essa é a minha teoria sobre a Mary, que diverge um pouco dos fatos apresentados pelo jogo e pelo seu criador. Além disso, minha homenagem ao meu personagem favorito (mesmo não parecendo) de todo o jogo. Aproveitem!

Soundtrack: "Hide and Seek"
https://www.youtube.com/watch?v=rB8pJzv1GrY



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Havia algo de horrendo na escuridão impenetrável. O quarto parecera a melhor opção para se esconder, na hora, mas agora ela se arrependia. Uma menininha que não podia ter mais de doze estava parada lá no meio, sem saber o que fazer. Os olhos azuis apertados para tentar enxergar, as mãozinhas agarradas à barra do vestido verde. Desde que viera parar naquele lugar, algo não parava de persegui-la. Vozes na sua cabeça, batidas, risadas e um homem de aparência estranha. Já chega. Ela não queria mais.

Mary...

Abra a porta, vamos brincar!

Você gosta de desenhar...?

Mary...?

— Meu nome não é Mary! — gritou a menininha.

Ela fechara os olhos e se agachara, tapando os ouvidos, tentando por tudo no mundo não ouvir...

Risadinhas.

É sim.

Não.

É igualzinha a ela!

Não dava mais.

Só pode ser a nossa amada Mary...

Ela só queria ir para casa!

Nós estávamos te esperando!

A porta se abriu, fazendo a menininha saltar, assustada. Havia uma multidão lá fora. A mulher saindo do quadro, os manequins, as bonecas... Todos pareciam animadíssimos, como se estivessem reencontrando uma velha amiga. A menininha não pode reprimir o gemido que subiu por sua garganta.

Vê? É igualzinha, olhe para trás!

Ela não queria olhar. Não queria, mas não conseguiu refrear a curiosidade. Uma menina igualzinha a ela sorria de seu quadro, pintada em torno de belas rosas amarelas. Ela parecia estar se divertindo, com um ar angelical em seu rosto. Era igualzinha à ela... Mas não era ela de jeito nenhum!

Vamos comemorar!

A Mary voltou!

E vai ficar aqui conosco...

Para sempre!

Risadas. Aquelas risadas eram infernais.

Ib tinha se arrastado até um Garry caído ao chão. Ela não produzira ruído algum, seus cabelos escondiam sua expressão, fosse ela qual fosse. Iza não conseguia se mover do lugar onde estava. Não tinha coragem. Por algum motivo, sentia que aquela cena era imperturbável.

— Garry... — Ib murmurou, tão baixinho, que ele não pode ouvir.

A essa altura, ela já estava coberta da tinta azul que jorrava do peito dele. Ele tossia e tentava respirar com dificuldade. Seus olhos giravam nas órbitas. Se ele enxergava alguma coisa, resumia-se a borrões.

— Eu só... Só queria sair daqui. Só isso...

Ib acariciava seus cabelos com uma mão. A outra estava pousada em cima do peito dele, que subia e descia rapidamente, como se esperasse estancar a quantidade de tinta que teimava em sair.

Garry virou a cabeça de lado. Os restos de uma rosa vermelha jaziam ao seu lado. Vermelho. Algo se ascendeu dentro de sua cabeça. Ele arregalou os olhos, assustado.

— Ib? Eu... Você está bem?

Ib fez que sim com a cabeça. Garry soltou um suspiro.

— Quando a Mary pegou sua rosa, achei que estava tudo acabado... Onde... Onde ela está...?

— Ela se foi — respondeu a mulher. Sua voz estava tremendo?

— Entendo... — Garry soltou um sorrisinho — Quer dizer que vamos poder ir naquela loja que te falei. Tem vários doces, você vai... gostar. Aposto.

Ele se contorceu para poder ver o que estava acontecendo, por que sentia tanta dor. Levou uma mão até o peito, próximo à de Ib, e tocou na tinta. Examinando os dedos manchados de azul, ele pareceu surpreso, até assustado.

— M-me desculpa... Ib — pediu apressado — Aquelas risadas... Elas eram infernais.

— Não...

A mão de Garry tremia descontroladamente e parecia ser feita de chumbo quando ele a levantou mais uma vez, esticando-a com toda a sua força de vontade na direção de Ib, que se inclinou para facilitar seu trabalho. Seus dedos longos envolveram mais uma vez a bochecha dela. Estavam tão gelados, mas ainda assim, de alguma forma, emanavam uma espécie de calor tão nostálgico...

Garry tornou a descer a mão, pousando-a em cima da de Ib, ainda envolvendo seu ferimento. Seu peito começou a lentamente desacelerar e então...

De longe, Iza viu Ib encostar a própria testa na de Garry. Seu cabelo castanho agora escondia ambos, livres para dizer ou fazer qualquer coisa longe dos olhos curiosos. Se algo de fato aconteceu, a adolescente, imóvel em seu canto, jamais saberia.

Um longo momento se passou até que Iza se atrevesse a falar qualquer coisa. Verdade seja dita, ela poderia muito bem ter se levantado e ido embora sem dizer palavra, deixando Ib para trás, com Garry.  Todavia, ela não teria conseguido fazer algo assim, por mais que estivesse zangada com a outra. Talvez ela tivesse um coração mole afinal de contas. Contudo, algo precisava ser falado e ela precisava encontrar Galli, que ainda não dera sinal de vida. Isso a preocupava.

Com delicadeza, Iza pousou a mão no ombro de Ib, que estremeceu de leve.

— Precisamos ir.

Ib concordou com a cabeça e se levantou. Iza virou-se antes que pudesse ver seu rosto. Ainda não se sentia bem o suficiente para ver suas emoções.

As duas saíram do quarto em um silêncio profundo. Mesmo seus passos já não ousavam ecoar nas paredes. Por respeito à perda de Ib, Iza tentava por tudo no mundo não sair correndo, procurando por Galli.

As duas desceram as escadas e voltaram até onde Iza caíra, não fazia muito tempo. As pilhas de coisas quebradas continuavam lá e só a visão delas já causava um ataque de pânico na menina só de pensar em onde o seu amigo poderia estar enfiado.

Sem saber por onde começar, e já começando a se sentir incapacitada novamente, Iza já ia abrir a boca para chamar seu nome quando, ao dobrar uma pilha de sucata, avisou Galli. O menino estava de cócoras, o rosto enterrado nos braços cruzados. O peito de Iza se invadiu de alívio. Estava tudo bem!

— Galli!

O garoto levantou a cabeça, assustado. Entretanto, quando viu Iza correndo em seu encontro, levantou-se num pulo, sorrindo.

— Iza! — ele correu até a amiga e a abraçou com força — Você está bem!

Ele lançou um olhar inquisidor para Ib, ainda calada em seu canto, mas Iza fez que não com a cabeça. Mais tarde ela poderia explicar. Eles teriam todo o tempo do mundo quando saíssem dali.

— Mas o que estava fazendo ali? — perguntou ela, quase sorrindo. Estava de muito bom humor.

— Fugindo dos manequins que eu acordei — explicou Galli — Eu os guiei até onde vocês estavam, mas tive medo de ter acordado outra coisa e me escondi.

— Foi você que mandou aqueles manequins?

Galli simplesmente anuiu e Iza ergueu as sobrancelhas. Não era a primeira vez que constatava o quão inteligente era aquele menino.

— Obrigada — ela disse — Você salvou nossas vidas.

Mas ela se reteve, antes de falar qualquer coisa. Por respeito à Ib. Em vez disso, virou-se para a mulher. Ela tinha pena, mas havia algo que precisava tirar daquela mulher a todo custo.

— Ib — disse, séria — Você pode nos levar até a saída?

Ib a encarou em silêncio apenas por um segundo. Em seguida, concordou com um gesto de cabeça.

— Por aqui — disse por fim — Me siga.

Iza sentiu o peito apertar as costelas. Galli, que a segurava no braço, intensificou o aperto de leve. A adolescente não sabia se ria ou se chorava. Logo, logo, tudo não passaria de uma mera lembrança.


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Notas finais do capítulo

*Toma outro gole de vinho*
Comentem que acharam :3



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