Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 18
O Caderno de Desenhos III


Notas iniciais do capítulo

Hora de postar mais um novo capítuo! :D

Internet: Oi? Do que é que você está falando?

É que hoje é Domingo e eu prometi que...

Internet: CÊ TÁ LOKA, MUIÉ?

O-oi? Por que?! ;w;

SE VOCÊ POSTAR NO DIA QUE PROMETEU OS PLANETAS VÃO SE DESALINHAR E O UNIVERSO VAI SE DESTRUIR! VOCÊ QUER ISSO?!

N-não, eu...

Internet; ÓTIMO! *se desliga*

E é isso gente. Parece que eu cumprir de fato um horário significa o desalinhamento dos planetas. Mas, dont worry, o capítulo estava aqui comigo esse tempo todo! Aí vai ele!

Soundtrack: "Uneasiness"
https://www.youtube.com/watch?v=1EYnuMz9OjE



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Por um momento, o coração de Iza parou de bater. Por que ela tinha feito aquilo? Ela esfaqueara um homem! Como ela pode...? Ela sentiu algumas lágrimas correrem por suas bochechas e as mãos tremerem descontroladamente.

Garry ainda a encarava, os olhos arregalados de surpresa, as pupilas menores que o normal. Ele levou a mão pálida e fina até Iza, os dedos tremendo quase tanto quanto os de sua atacante. Ela sentiu a ponta de seu dedo indicador roçar levemente sua face e então a menina foi obrigada a soltar um berro ao sentir seu corpo ser puxado para o chão por uma força sobrenatural.

Ao olhar para baixo, viu seus punhos e tornozelos bem presos pelas mãos feitas de sombra de outrora, praticamente cortando a sua circulação sanguínea, tão forte era seu aperto. E então, logo em seguida, ouviu Garry gargalhar alto, machucando seus ouvidos que zumbiam como se abelhas estivessem fazendo a festa ao redor da cabeça da garota.

Ela ainda tremia enquanto pensava no que acabara de fazer. Não tinha planejado aquilo. Não queria ferir ninguém. A sensação de cravar uma tesoura em alguém era totalmente diferente do que jamais sentira. Era diferente de assistir isso em algum programa de televisão. Aquilo era real demais. Fora duro, mas macio ao mesmo tempo. De repente, Iza começou a se sentir enjoada, como se alguém estivesse esfregando carne podre debaixo de suas narinas e por um momento agradeceu profundamente por seu ataque não ter dado certo.

Lembrando-se repentinamente de Galli, ela lançou um olhar para a porta, contudo, o menino não dera sinal de vida. Esperava que ele tivesse ido embora. Mas para onde? Não havia lugar para ir, apenas para voltar e isso não era seguro.

— Me largue! — mandou Iza, mesmo sabendo o quão inútil aquilo era.

Garry parecia finalmente ter se recuperado de sua crise histérica e agora secava os olhos cheios d’água devido às risadas.

— Você realmente não sabe de nenhuma das regras desse Inferno, não é mesmo?

Ele abaixou-se para afagar os cabelos revoltos de Iza.

— Você sabe, eu não vou morrer a menos que você destrua a minha “rosa” primeiro — contou Garry com ternura — Vê? Não somos tão diferentes!

Ele apontou para o ferimento provocado por Iza. De fato, não havia sangue algum e, da mesma forma que ocorrera com ela, quando espetara seu dedo na rosa, o ferimento estava se fechando por si só, como se ela estivesse assistindo a um vídeo rebobinando. Logo, não havia vestígio algum de seu ataque, além da blusa rasgada na região que Iza acertara.

A menina amaldiçoou-se por sua burrice. Como não pensara nisso antes? Presumira que, como Garry era só um quadro, não teria uma rosa. Nem mesmo se lembrava de vê-lo carregando alguma e se perguntou como ele poderia estar tão confiante em deixar a sua vida em qualquer lugar enquanto perambulava por aí. Pelo que entendera, não eram todos os quadros que gostavam dele ou o apoiavam.

Olhou em volta, desesperada. Tinha que ter deixado alguma coisa passar!

Enquanto isso, Garry continuava a afagar sua cabeça.

— Sabe, eu não tenho nada contra você. Meu assunto é com ela — e apontou com o queixo para Ib, semi-inconsciente atrás dele — Como você não deve saber, eu vou te explicar, está bem?

Iza só lhe dava meio ouvido. Tentava por tudo no mundo não sucumbir ao desespero novamente e pensava no que poderia fazer. Estava completamente presa ao chão por aquelas mãos idiotas e algo em que ela se sentara a incomodava muito.

— Sabe, se você quer sair daqui, alguém precisa ficar — continuava Garry — Um sempre precisa ficar. O jogo é assim. Da última vez quem ficou fui eu, mas não precisava ser assim... Mas agora eu já estou cansado e preciso de alguém para me substituir, ou ele não ficará satisfeito. Você vê? Ib precisa me substituir. Eu quero isso e ela também quer, por isso me entregou voluntariamente sua rosa — e balançou a flor vermelha debaixo do nariz de Iza, fazendo-o coçar.

O coração da menina se apertou. Só faltavam quatro pétalas agora.

— Mentiroso — acusou Iza — Eu não sei o que aconteceu no passado, mas Ib só está fazendo isso por que você a obriga! Você a está fazendo se sentir responsável!

— Por que ela é a responsável!

Iza congelou. O berro de Garry fez o chão estremecer. Ele agora parecia perigosamente zangado.

Ele ergueu a mão e por um momento Iza pensou que ele iria lhe dar uma bofetada, no entanto... Sentiu leve batidinhas no seu queixo.

— Não. Fale. Do que não. Entende. — ele cantarolou no ritmo das batidas — Eu não pretendia fazer mal a você. Na verdade, não me importo se vive ou morre. Mas se você está me atrapalhando, então vou ter que tomar medidas para te fazer parar, se não se incomoda. Não é?

— Me incomodo, sim!

Iza estava começando a se exasperar. Rosa. Ele deveria carregá-la, mas não fazia isso. Devia ter um motivo.

— Onde está sua rosa, Iza?

Onde está?

Onde você a escondeu, Iza...?

Conte-nos, será o nosso segredinho...

A menina balançou a cabeça. Aquelas eram vozes irritantemente finas. Elas arranhavam sua mente e a irritavam. Se forçou a não pensar nas rosas dela e de Galli. Tinha a impressão incômoda de que as donas dessas vozes ouviam seus pensamentos. Em vez disso, tentou se concentrar em como sairia dali. Com um olhar, viu Ib caída ao chão, encarando-a fixamente. No que ela estava pensando? Amaldiçoou-se por ter pensado em salvá-la agora. Que importava Ib? Ela e Galli poderiam ter achado a saída sozinhos... Certo? Envergonhou-se por ter acabado com suas chances de ir embora daquela Galeria e muito provavelmente as de Galli também. Por que diabos tentara salvar aquela mulher? Por quê?!

Os olhos castanhos de Iza, tão escuros se encheram novamente de água, ainda sem desviar o olhar de Ib. Estava com raiva dela. Se não fosse por ela...

Iza desviou o olhar, bem a tempo de ver a quantidade de tralha nos fundos do quarto. Na parede, havia uma moldura rachada, com sinais de queimadura à sua volta. Abaixo, restos de bonecas rasgadas, sem olhos ou roupas se amontoavam em cima de algo retangular. A adolescente espremeu os olhos, curiosa.

Era um quadro. Não muito grande, mas nem tão pequeno, de um rapaz, que agora Iza reconhecia, adormecido. Ela vira esse quadro, muito antes, quando encontrou Ib pela primeira vez. Por que as bonecas estavam se amontoando tanto em torno do quadro...?

— Bom, já que não vai falar nada...

As mãos que prendiam Iza fizeram mais pressão, puxando seus braços cada um para um lado, limitando ainda mais seus movimentos e fazendo-a soltar um gemido de dor. Garry começou a apalpar Iza na região dos bolsos da calça e até mesmo a blusa. Não bastasse o pavor de ter as mãos geladas dele tocando-a sem permissão, ela tentava se esquivar de ambos, a sensação de repulsa e as cócegas.

Garry parecia estar se divertindo e ficou um com tempo brincando debaixo dos braços e nas laterais da cintura da garota.

— Certo, vamos procurar agora...

Iza lançou um olhar penetrante para seu carcereiro. Quer dizer que ele só estava passando o tempo?! Ela só controlou sua vontade de xingar por julgar, não sem nenhuma base, de que se tratava de um desequilibrado.

Garry deu a volta e agachou-se atrás de Iza. Seu coração parou quando ela sentiu que ele abria o zíper da mochila. Após remexer no conteúdo, jogando-o no chão à sua volta por algum tempo, Garry soltou um grito de triunfo. Pronto, estava tudo acabado. Quando ele tornou a entrar em seu campo de visão, segurava três rosas. A vermelha, de Ib, completamente em contraste, devido à sua falta de pétalas, com as outras duas. Uma preta. Outra branca.

O estômago da garota foi no chão.

— Largue isso — ela avisou tentando controlar o pavor.

Ela não podia demonstrar o quão apavorada estava e, no entanto, por mais que estivesse se controlando, parecia que Garry sentia seu medo, pois arreganhou um sorriso de orelha a orelha.

Ele as cheirou com gosto e Iza sentiu estremecer sua coluna vertebral.

— Não se preocupe — disse ele — Só vou te ensinar a não se meter nos assuntos dos outros... E esfaquear também não é legal — ele lembrou balançando a flor de Galli de um lado para o outro — Qual das duas será a sua, afinal...? Bom, acho que teremos que testar para descobrir, certo?

Iza abriu a boca. Talvez para responder ou gritar ou quem sabe vomitar. Contudo, o único som que se fez ouvir foi um baque distante e então uma correria. O que estava acontecendo?

E então o caos irrompeu pela porta do quarto em que estavam. Mais precisamente, dois manequins descabeçados e particularmente destruídos. O primeiro, masculino e de gravata azul rasgada, em que faltava dois de seus braços, e o segundo, feminino, com um horrendo vestido amarelo canário e só uma das pernas. Era como se Iza tivesse voltado no tempo. O manequim sem braço correu direto para Iza e Garry enquanto o outro caía e rolava no chão com um estrondo.

A pressão em suas pernas e braços se soltou repentinamente. Quando deu por si, Iza estava livre. Aproveitando a distração repentina, ela rolou para o lado e deixou que o manequim seguisse reto e trombasse diretamente em Garry, que perdeu o equilíbrio e caiu. A menina apanhou as duas flores que ele deixara cair com rapidez ao mesmo tempo em que via algo brilhar no chão pelo canto do olho. A tesoura!

Depois, se Iza fosse tentar se recordar da cena, não se lembraria de como agiu tão rapidamente. Foi tão instintivo que era difícil acreditar que tinha sido ela própria. Com as duas rosas na mão e a tesoura na outra, dessa vez Iza não correu na direção de Garry, que ainda lutava contra o pesado manequim descontrolado. Correu para o fundo do quarto, em direção às bonecas azuis amontoadas umas nas outras.

Não demorou, contudo, para que Garry conseguisse se livrar do seu aperto, jogando o manequim para o lado. Assim que viu para onde Iza estava se dirigindo, soltou outro grito que dessa vez, positivamente, fez o chão se rachar ainda mais. A adolescente quase caiu, contudo, não foi o suficiente para pará-la e então já era tarde demais.

Ignorando o berro de Garry e os guinchos alucinados das bonecas que jogava para todos os lados, tirando-as do caminho para descobrir a “rosa” de Garry.

O quadro estava bem ali com dois pequenos talhos próximos às versões pintadas de suas mãos jogadas ao chão. Elas estavam escorrendo tinta. Aquilo a confundiu, mas ao mesmo tempo comprovou suas suspeitas. Ergueu a tesoura. Dessa vez não teria arrependimentos.

— NÃO!

Iza sentiu uma mão agarrar-lhe o tornozelo. Só mais tarde constatou que se tratava da mão de Ib e não mais uma das mãos de sombra. Todavia, agora estava concentrada demais para registrar qualquer coisa. Sua mão levantou a tesoura no ar e suas lâminas refletiram a luz mais uma vez antes de serem mergulhadas na direção da tela d’O Retrato Esquecido.

Ela pode ouvir sua tesoura rasgar a tela de cima a baixo enquanto Garry berrava, exasperado.

E então, mais uma vez e de uma vez por todas, silêncio.


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Notas finais do capítulo

Gente, sério... Não me odeiem *toma um copo de vinho na banheira enquanto ouve "My Heat Will Go On"*
E para quem disse que não gostava de fazer título igual + I/II/II.... Mas essa é a última vez que faço isso. Eeeee... O próximo capítulo não terá nome de obra nenhuma!
Por ora, é isso! Até o próximo capítulo! ;3



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