Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 8
Capítulo sete




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675715/chapter/8

O dia não começara da forma que Hermione esperava. Uma tempestade de neve se iniciara durante a madrugada e não tinha previsão de término, apesar de cair com menos força no inicio da manhã. Não havia café para começar a manhã e seu uniforme parecia gélido demais, mesmo usando um cachecol bem enrolado no pescoço e luvas fofas nas mãos.

— Quer que eu vá com você? — Draco sentara-se na cama, havia acordado quando Hermione levantou-se, o que não significava que havia levantado. — Posso me vestir rapidinho e vamos juntos.

— Não precisa, de verdade. — Disse encarando-o pelo reflexo do espelho. Tentava ajeitar o cabelo num coque profissional e perfeito, mas falhava por causa de uma única mecha que insistia em cair. — Tem dinheiro na minha escrivaninha se quiser pedir comida, os telefones estão todos na cozinha. Deixe me ver... Talvez eu me atrase para o jantar, preciso passar no supermercado de novo e por favor, não esqueça de tomar suas poções!

Draco atravessou o quarto e segurou-a pelos ombros, fazendo que olhasse-o diretamente nos olhos.

— Tenha calma, ok? — Respirou fundo e apertou os dedos para firmar o que dizia. — Posso dar conta disso tudo, inclusive ir ao supermercado. Vá trabalhar e fique tranquila. Prometo que se acontecer qualquer coisa eu envio uma coruja na mesma hora.

— Um patrono seria mais rápido! — Sugeriu e sacudiu a cabeça, tentaria ficar tranquila.

Dirigiu-se até a penteadeira e pegou a bolsa, ao passar por Draco chegou a inclinar-se para beijá-lo como fazia todas as manhãs, mas conseguiu voltar a si. Os olhos arregalados e os movimentos indecisos deixaram-na desmascarada e vulnerável, mas Draco sorriu e beijou-lhe a testa.

Assim que pisou em seu departamento, Hermione foi chamada para a sala de reuniões, onde precisou aguentar meia hora de broncas do Ministro da Magia.

— Ouça, entendo sua posição, Hermione. Mas precisávamos de você aqui durante aqueles julgamentos, agora seu caso foi reaberto e está nas mãos de outra equipe. — Kingsley disse com mais calma, sentando-se na beirada da mesa. — Estou fazendo o possível para tirar as acusações de negligência contra você, mas não posso me envolver muito.

— Agradeço o que tem feito por mim, é mais que suficiente! — Sorriu brevemente e levantou-se.

— Sempre disse que teria uma vaga como auror para você. Já pensou em estratégias ou chefe do departamento? Tenho certeza de que Harry gostaria da sua ajuda com relatórios e tudo mais.

— Por incrível que pareça nunca cogitei ficar presa numa sala, gosto de sair em campo. É onde me sinto livre! — Kingsley concordou e sinalizou para que se retirasse.

Hermione passou reclusa na sala que Harry dividia com Rony, já que estava proibida de sair em alguma missão até que fosse chamada para depor no tribunal. Recebera as notificações de negligência e abandono de cargo ainda no hospital, mas preferiu se preocupar com outros assuntos, já que tinha outras prioridades. Infelizmente, não era tão simples.

— Como está? — Harry entrou na sala com os ombros eretos, carregando algumas pastas e um copo de café, o qual entregou para a amiga. — Gina me falou da visita, Draco está melhor?

— Na medida do possível. — Respondeu e sorveu o líquido quente que tanto desejara desde que abrira os olhos. — Ainda terei que enfrentar um interrogatório e julgamentos sobre meu comportamento e conduta durante aquela missão estúpida!

Cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo, controlando o que fosse.

— Sei que você e Theodore são amigos, ou quase isso, então tomei a liberdade de passar o caso para ele. Sei que vai deixa-la ajudar, mesmo que seja indiretamente! — Harry aproximou-se e sentou ao lado da amiga.

— Harry, obrigada! — Apenas murmurou, não tinha forças para fingir uma voz animada. Agarrou o copo com as duas mãos, segurando-o para aquecer-se. — Parecia tudo mais simples com Voldemort, não é? Ao menos não tínhamos de nos preocupar com avaliações, apenas fugimos e fizemos o que foi necessário.

Harry riu.

— Não seguíamos regras.

A punição de Hermione era ler, revisar, recolher e enviar relatórios de outras missões. E isso, por si só, já era um castigo. Lembrava-a das detenções em Hogwarts, limpar os troféus era de longe mais divertido que aqueles documentos empilhados na sua frente.

Era realmente engraçado. Quando ingressou no Ministério todos imaginavam que seria para algum departamento relacionado a leis, mas entrou para o curso de auror onde realmente saiu-se ótima, excedendo expectativas. Leis, documentos e papéis lhe deixavam entediada rapidamente. Acreditava que aquela paixão por justiça havia sido libertada durante a guerra.

Não havia nada melhor do que respirar profundamente depois de um duelo, sentir o suor escorrendo pelas têmporas e o coração saltitando no peito como se fosse explodir a qualquer momento.

Para amenizar a sensação de confinamento, Hermione equilibrava a varinha nos dedos, enquanto fazia anotações com a outra mão. O madeira leve tocando sua pele tinha um certo poder inexplicável, assim como as faíscas fracas que brilhavam vez ou outra.

Mas a varinha caiu num baque assim como a pena que entortou-se na sua mão contraída com força. Os olhos fechados e a careta diziam que havia algo de errado acontecendo, e Harry percebeu assim que entrou na sala.

— Hermione, tudo bem? — Aproximou-se da amiga, deixando as pastas em cima de outra escrivaninha. Tirou a pena da mão da amiga e tentou compreender o que acontecia. — Onde está doendo?

Hermione passou a mão livre sobre a barriga e gemeu baixinho.

— Vou levar você para o St. Mungos! — Harry pegou seu casaco o colocou-o sobre os ombros de Hermione e ajudou-a a ficar em pé com dificuldade, já que a amiga curvava-se para frente, tentando erradicar a dor.

Assim que chegaram ao átrio, sob muitos olhares curiosos, Hermione buscou forças e conseguiu erguer o corpo e aos poucos ficar de pé ao lado de Harry.

— Estou melhor, foram algumas... Pontadas. — Disse, buscando ar para seus pulmões. A dor continuava lá, mas diminuíra consideravelmente. — Vou para casa, talvez eu precise me deitar alguns minutos.

— Vamos lá, então! — Harry preferia leva-la ao St. Mungos, mas Hermione recusaria até o fim, disso tinha certeza. Decidiu por leva-la em casa, onde Draco poderia dar alguma assistência e se fosse necessário, insistir no hospital.

Assim que as chamas diminuíram Draco apareceu descendo as escadas, a expressão no rosto ao ver Harry suportando Hermione foi de surpresa e preocupação. Apressou-se para ampara-la.

— O que houve? — Perguntou para a esposa quando esta se apoiou no sofá para manter-se de pé. — Potter?

— Eu não sei, quando entrei na sala ela estava assim. Disse que sentiu pontadas na barriga, mas acho que melhorou. Quis leva-la ao St. Mungos, mas conhece Hermione! — Falou correndo, como se cada segundo fosse precioso para salvá-la da morte, mas acalmou-se quando recebeu um olhar atravessado da amiga. — O que acha que pode ser?

— Teria que examiná-la, mas pode ser algo que comeu. — Disse olhando de Harry para Hermione, buscando mais alguma informação, que não recebeu. — Vou cuidar dela, Potter.

Harry assentiu e sorriu para Hermione, voltou-se para a lareira de onde foi consumido pelas chamas novamente.

— Vamos subir. — Passou o braço pela cintura de Hermione, ajudando-a a permanecer de pé. — Vou examinar você!

Hermione suava e sentia-se fraca, mas sorriu.

— Sempre imaginei você dizendo isso em outras circunstâncias!

Para Draco não havia nada de errado com Hermione, o pulmão soava normalmente assim como o coração acelerado quando aproximou-se para ouvi-lo com o estetoscópio.

— Comeu algo de diferente que possa ter feito mal?

— Você parece meu médico falando. — Reclamou Hermione, cruzando os braços sobre o peito. A expressão de Draco foi severa, então respondeu: — Não, Draco.

Draco entregou-lhe uma toalha para secar o rosto pálido.

— Provavelmente vai vomitar algumas vezes até que isso saía do seu corpo, estarei aqui se precisar. — Disse com tranquilidade e apertou a perna de Hermione com calma, mas recuou cedo demais e saiu do quarto dizendo que buscaria o jantar.

A sopa que Draco preparara era a base de legumes, todos eles leves para não irritar seu estômago, mas só a aparência fez com que Hermione sentisse um reboliço na barriga e recusasse educadamente. Riu quando Draco experimentou para mostrar-lhe que não estava tão ruim, mas cuspiu de volta o líquido pastoso e esverdeado.

— Entendi porque disse que é sempre você quem cozinha. — Deixou o prato de lado e sorriu. — Sinto muito, quis fazer algo legal e quase a fiz passar mal!

— Não tem problema, não conseguiria comer nem se fosse uma pizza. — Engoliu em seco. — Estou me sentindo melhor, só cansada.

Draco sacudiu a cabeça e levantou-se, desligou o abajur e trancou-se no banheiro. O som da ducha fez Hermione cair no sono lentamente.

A madrugada estava silenciosa, nem sequer o farfalhar das árvores podia ser ouvido de dentro do quarto iluminado somente pela lua cheia que refletia pela janela. Mas Hermione arfou e gemeu em sequência.

— Draco? — Chamou-o enquanto sentava-se na cama e buscava o abajur com a mão trêmula. — Draco!

Draco sentou-se bruscamente na cama e procurou Hermione que o chamava, a luz do abajur refletia no rosto apavorado da esposa e em sua mão manchada de sangue. Jogou o corpo para fora da cama e acendeu a luz, arremessou os cobertores para longe, procurando pelo local de saída do sangue. A mancha escarlate na calça de Hermione denunciava o problema e milhares de hipóteses começaram a lhe passar pela cabeça, como o bom médibruxo que era.

Não perdeu tempo, passou os braços pelo corpo de Hermione e içou-a da cama, carregando-a as pressas até a lareira.

Só havia uma bruxa na entrada do hospital, que rapidamente chamou pelo medibruxo de plantão naquela noite enquanto acompanhava Draco para dentro dos corredores cirúrgicos e salas de pronto-atendimento.

— Draco? — Ethan, com o rosto amassado, murmurou já aproximando-se do amigo com uma maca. — Coloque-a aqui.

Hermione chorava baixinho quando Draco a colocou sobre a maca, que foi empurrada rapidamente para dentro de uma sala.

— O que é, Ethan? — Perguntou enquanto o colega ministrava poções e usava a varinha.

Todo aquele sangue nas roupas de Hermione era assustador, mas pior que isso eram os soluços e as lágrimas. No impulso segurou a mão da esposa e apertou para mantê-la firme. Naquele momento tomou consciência de que não conseguiria manter-se imparcial se tivesse que tratar um amigo ou no caso, sua esposa.

Sentia-se impotente enquanto observava Ethan entregar poções para Hermione, poções que conhecia bem.

— Vou buscar roupas limpas para Hermione e uma camisa para você. — Disse Ethan, apontando para o peito nu de Draco.

Saíra tão apressado que não calçara ou vestira nada, mas não sentira frio em momento algum, até agora. Quando Ethan deixou-os, Draco caminhou até Hermione e segurou sua mão com força, queria mostrar e dizer que estava ali do seu lado.

— Você sabe o que tinha de errado comigo... — A voz de Hermione saiu embargada por conta das poções fortes e nauseantes que bebera em goles únicos, mas a pergunta estava implícita.

Draco passou a mão pelo rosto da esposa com ternura, buscando em sua mente uma forma fácil e tranquila para contar o que havia acontecido.

— Você teve pontadas porque estava abortando, o sangue foi apenas a etapa final. — Disse com suavidade, não queria assustá-la, mas não deu tão certo quanto gostaria.

— Abortando? Eu estava grávida? — Dessa vez conseguira deixar a voz um pouco mais firme, a incredulidade estava ali.

— De um mês, Hermione. — Ethan voltara para o quarto com as peças de roupa que prometera. — Imaginei que não soubesse, já que passou quase um mês aqui e não contou nada.

Hermione suspirou e apertou o lençol, movimento que não passou despercebido por Draco.

Um mês. Passou quase um mês no hospital sob pressão o tempo todo por conta do acidente que ocorrera com Draco durante uma missão.

— A culpa não é sua. — Draco apressou-se em dizer, já que Ethan parecera ter se esquecido desse detalhe. — É muito comum que ocorra aborto espontâneo até o terceiro mês, Hermione.

A esposa reagiu somente com um leve sacolejar de cabeça.

— Passe a noite aqui, somente para termos certeza de que está tudo bem, certo? — Ethan posicionou a prancheta no gancho aos pés da maca.

O silêncio pairou como se algo mais grave tivesse acontecido naquele quarto, Hermione estava sentada na maca, segurando a cabeça e tentando coloca-la em ordem, enquanto Draco caminhava pelo quarto de um lado para o outro.

— Por Mérlin, não suspeitou disso? — Perguntou bruscamente, a voz áspera e estridente. A mudança de humor fora rápida.

— Não, Draco. Teria contado se soubesse! — Respondeu com pesar, ainda estava digerindo a ideia de ter abortado, de estar grávida. — O que houve?

— Houve que não me lembro de nada desde aquele maldito beijo no natal e agora acompanho minha suposta esposa perder um filho meu, que nem sequer sabia que era possível estar aí dentro! — Apontou secamente, cuspindo cada palavra com desprezo.

— Entendo sua raiva, mas não desconte em mim. — Hermione agitou-se e saltou da maca, aproximando-se com firmeza de Draco, a expressão ferida em seu rosto era devastadora até mesmo para ele. — Você é meu marido, mas apenas a imagem dele, pois o Draco com quem me casei saberia que tudo o que preciso agora é de um abraço que diga que vai ficar tudo bem. Ele saberia controlar a raiva e frustração o mínimo que fosse para não "estragar" o que está sendo o pior momento da minha vida desde que você acordou sem memória!

A raiva tomara seu rosto e dividia o espaço com a magoa, aquela expressão estampada no rosto delicado de Hermione não sumiria com facilidade da cabeça de Draco que viu sua irritação evaporar rapidamente. Como podia ser tão egoísta? Aquilo era sua incerteza quanto a ser pai gritando por ajuda, quando na verdade, era derramada como frustração.

Hermione virou-se com força e pegou as roupas que Ethan trouxera, provavelmente algo do “achados e perdidos”.

Draco virou-a para seu corpo com um toque delicado.

— Me desculpe pelo que disse, jamais saberei exatamente o que está sentindo agora e muito menos o que sentiu quando acordei, porque se soubesse, não teria acordado. Você tem sido ótima comigo e não sei retribuir, então me desculpe por voltar a ser o Draco Malfoy idiota de Hogwarts, mas prometo que vou tentar melhorar. — As palavras foram sinceras, cada uma delas dizia o que estava sentindo, exceto talvez que queria beijá-la, mas não deixaria isso transparecer até que fosse o momento certo ou até que se lembrasse de quem era.

— Nunca mais diga que preferia não ter acordado. — Hermione o abraçou, apertando seus corpos até que estivessem colados um no outro.  

Era desse abraço que estava precisando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá pessoas, quero agradecer pelos comentários que recebi no último capítulo e também àqueles que favoritaram a história!
O que acharam desse momento??
Até