Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 7
Capítulo seis




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A cama era de longe melhor que a poltrona do hospital, confortável e macia, aconchegante e quente. Não havia nada de ruim naquilo, mas Hermione dormiu pouco e levantou antes do sol pensar em aparecer para começar o dia. Trocou-se e despachou algumas cartas, assim como aqueles documentos que assinara no dia anterior — e havia tantos. Deixou um bilhete para Draco, avisando que fora ao supermercado para abastecer a geladeira e voltaria em breve.

Aquela atividade simples que era empurrar o carrinho e escolher caixas e enlatados para enchê-lo conseguia tirar uma parte das preocupações de sua cabeça. Normalidade era o que faltava.

Harry lhe concedera mais dois dias em casa para cuidar e adaptar Draco ao ambiente, mas estava pensando em voltar ao trabalho no dia seguinte. Talvez sair em campo e usar a varinha fosse o que precisava para relaxar. Era o que fazia quando sentia-se pressionada: estuporava alguém.

No dia em que foi apresentar o novo namorado, Draco Malfoy, aos amigos precisou controlar-se para não explodir. Já estava nervosa o suficiente e as críticas de Rony só a fizeram querer sair da Toca o mais rápido possível, mas foi Draco quem a tranquilizou. Lembrava-se perfeitamente do momento em que a varinha tocou sua mão e então Draco a sobrepôs com a sua, apertando levemente, fazendo com que seus corpos tocassem-se e a acalmasse gradativamente.

Rony acabara acostumando-se e até tentava manter uma conversa com Draco, eram civilizados um com o outro, mas o faziam por Hermione.

Quando retornou teve que controlar-se para não correr até Draco e abraça-lo como fazia naquela situação. Ele estava apoiado na bancada da cozinha, usando apenas a calça de moletom que usava de pijama, deixando os músculos das costas à mostra para qualquer um que entrasse. Comia uma maça vermelha como sangue e lia o Profeta Diário.

— Eu não andaria seminua pela casa se tivesse acordado sem memória e estivesse casada com alguém que nem sequer me lembro. — Comentou enquanto caminhava displicente e largava as sacolas de papel em qualquer balcão.

— Posso imaginar você vermelha só de imaginar essa situação. — Mordeu a maça com vontade. — Mas me sinto à vontade assim e tenho certeza de que já me viu com menos roupa que isso!

Hermione virou-se e sorriu ao encará-lo. Conhecia cada cicatriz, manchinha ou canto do corpo de Draco, era um fato e ele a conhecia da mesma forma, só não conseguia lembrar-se agora, mas sabia exatamente quantas sardas a esposa tinha sobre o nariz.

— Eu quero me lembrar, Hermione. — Admitiu com facilidade. — Mas quero começar do inicio!

Hermione assentiu e com um sinal mandou-o sentar-se na bancada e virou-se para preparar o café. Serviu-os e sentou de frente para o marido.

Segurava a xícara com leveza, como se não soubesse exatamente como começar o assunto e era difícil. Havia tanto a contar, cada segundo que passaram juntos importava, inclusive as discussões e brigas. Os momentos de compreensão quando encontraram as marcas da guerra nos corpos um do outro, os beijos escondidos e aqueles que trocaram de baixo da neve — o primeiro.

— Eu me lembro que flertei com você nas vezes que fui ao Ministério. — Ajudou-a deixando claro a partir de onde suas lembranças haviam desaparecido.

Hermione completara os vinte e três anos havia poucas semanas, o trabalho como auror estava indo melhor do que previa. Já havia sido promovida duas vezes e podia escolher as missões e sua equipe. Draco fora nomeado o Medibruxo para o departamento de aurors, então aparecia sempre que necessário. E fora durante uma emergência que esbarrou em Hermione, começando então com os flertes.

Ainda em Hogwarts começara a mudar o modo de ver as coisas e Hermione tornara-se outra em sua concepção, mas vê-la trabalhando, a paixão que emanava de seu corpo lhe tentava a tocá-la.

— Quando vamos sair para jantar, Granger? — Perguntou enquanto curava o braço quebrado de um bruxo que gemia baixinho.

Hermione acompanhava o tratamento da sua equipe bem de perto, queria que fossem tratados da melhor forma possível, principalmente quando parte do grupo eram jovens recém-saídos do treinamento. Gostava de leva-los em missões importantes e ensiná-los a agir da maneira correta.

— Não vamos! — Era a resposta que sempre proferia, mantendo os braços cruzados sobre o peito.

— O que acha da comida italiana? — Perguntou Draco, numa outra situação.

— Não! — Era a resposta.

Draco não desistia e toda vez que a encontrava fazia o máximo para aproximar-se, incluindo entrar no elevador lotado para ter a desculpa de senti-la em seu corpo, o que rendeu-lhe uma cotovelada nas costelas.

 

— Eu me lembro da cotovelada. — Draco riu, bebericava o café lentamente enquanto a ouvia contar sobre o passado. — Quando aceitou sair comigo?

 

Hermione voltara de uma missão que havia sido um completo desastre, estavam em menor número e os novatos não conseguiram sequer proteger a si mesmos. Precisou duelar por sua vida naquele dia e salvar outras três. Mandou sua equipe para o Ministério e quando voltou já estavam sendo tratados por Draco, que levantou-se exasperado para ajuda-la a deitar um rapaz inconsciente que carregava.

— Eles primeiro, por favor. — Indicou o trio de jovens com a cabeça quando o rapaz abaixou-se na sua frente. Encostou-se na parede oposta com um suspiro dolorido. — Vou ficar parada aqui.

Draco tratou os aurors com velocidade, eram ferimentos superficiais assim como o desmaio do garoto, e voltou-se para Hermione ainda escorada na parede, imóvel, os olhos fechados ajudavam-na a regular a respiração.

— Onde dói? — Perguntou fazendo-a olhá-lo.

O limite entre sua testa e o cabelo sangrava, as costelas doíam e a pele ao redor tornara-se assustadoramente roxa.

Enquanto Draco limpava sua testa fitava os olhos cinza claro dele, eram misteriosos e hipnotizantes. Demorou a notar o sorriso nos lábios de Draco e muito menos no movimento de vai-e-vem que fazia em sua têmpora com delicadeza.

— Será que é uma boa hora para te chamar para jantar? — Perguntou e a viu afastar-se constrangida, mas assim mesmo com a postura firme.

— Malfoy, eu não sei o motivo de insistir tanto nisso. — Murmurou e abraçou-se, da forma que podia proteger as costelas doloridas.

Draco levantou-se e começou a organizar seu material.

— Porque eu quero jantar com você. Pensei que fosse óbvio, Granger!

Hermione mordeu os lábios, a indecisão era visível para quem a conhecia. Em sua cabeça a lista de prós e contras passou como créditos de um filme. Não tinha mal algum em aceitar, era apenas um jantar.

— Conhece algum lugar que eu possa entrar desse jeito? — Abriu os braços para mostrar o estado que suas roupas se encontravam. Sujas, manchadas e com alguns rasgos.

Draco apenas sacudiu a cabeça.

 

— Quer dizer que levei você para jantar na noite em que estava com uma contusão nas costelas e um corte na testa? — Draco ouvira a história toda até ali, e impressionara-se com alguns pontos. Lembrava-se dos flertes e até mesmo da vez que prendeu-a contra uma parede sem sequer saber se ela sentia-se da mesma forma.

— Você foi um cavalheiro naquela noite, me emprestou seu blazer já que meu casaco estava cheio de cortes. — Respondeu-o, apreciando as imagens daquele dia que passavam por sua cabeça. — Quando terminamos começou a chover e você me puxou para dentro de uma cabine telefônica.

— Foi desastroso! — Riu do fim daquela história. — Aposto que aconteceu alguma coisa estranha que fez você sair correndo.

Hermione sacudiu a cabeça.

— Você achou que me beijar era uma boa ideia, eu me afastei e bati no telefone da cabine. — Explicou entre algumas risadas. — E enquanto eu me contorcia um policial apareceu e nos mandou parar com o “atentado ao pudor”. Aparentemente parecíamos estar fazendo qualquer outra coisa dentro daquela cabine telefônica.

Draco também riu, não porque se lembrava, mas porque imaginar a situação e ver Hermione sorrindo o fazia rir.

— E eu consegui? — Perguntou enquanto Hermione juntava as xícaras e as levava para a pia.

— O que? — Virou-se para olhá-lo. O clima descontraído havia tomado um rumo mais sério de repente e sem explicação alguma.

— Consegui beijá-la naquela noite?

Hermione baixou a cabeça e passou as mãos pela calça.

— Não. — Disse baixo. — Você me levou para casa, tomou cuidado para que eu não batesse com o corpo novamente em qualquer coisa ou pessoa, e depois aparatou. Só fomos ter outra conversa uma semana depois.

A campainha tocou antes que Draco pudesse pensar numa resposta e Hermione, como se quisesse sair da cozinha, caminhou para longe, jogando um blusão para o marido quando este a seguiu até a sala.

Gina estava parada no batente da porta e sorria, assim que a porta abriu-se por completo pulou contra Hermione e abraçou a amiga. Lançou um olhar para Draco que terminava de ajeitar a roupa no corpo.

— Não sinto muito por ter atrapalhado vocês, que a propósito, deveriam fazer esse tipo de coisa num quarto. — Comentou e foi até Draco, abraça-lo como fazia. — Como está, doninha?

Draco pousou o olhar em Hermione e questionou o apelido sem pronunciar uma palavra sequer.

— Bem, todos nos lembramos da vez que o professor Moody lhe transformou numa doninha albina. — Deu de ombros.

Ninguém além de Hermione sabia, mas o patrono de Draco era um furão: um mamífero parecido com as doninhas. Ainda ria quando recebia alguma mensagem do marido e o animal aparecia em azul e prata na sua frente.

A ironia era divertida.

— Quer dizer que aquela transfiguração ainda vai me assombrar pro resto dos meus dias? — As duas assentiram e Draco sorriu. — O que veio fazer aqui, Weasley?

— Agora é Potter, Malfoy! — Gina mostrou a língua de maneira divertida, estava achando engraçado tudo aquilo. Adorava incomodar Draco, principalmente depois de tê-lo flagrado olhando uma Veela que dançava sozinha no bar em que estavam comemorando o aniversário de Hermione. — E eu vim para ver como Hermione está.

Voltou-se para a amiga.

— Harry ficou bastante preocupado com você.

Hermione pôde ver a expressão de questionamento de Draco, ele sabia que parte da preocupação de Harry e das lágrimas da esposa tinha a ver com seu esquecimento.

— Estou bem, Gina. — Disse com convicção. E não mentira na resposta, passara por momentos bons e ruins até agora, antes de Gina chegar estava se divertindo com Draco ao contar a história do primeiro encontro.

— Vou deixa-las a sós. Bom te ver, Weasley. — Draco subiu as escadas e deixou-as. Precisavam de um minuto para conversar.

— Até sem memória ele me chama de Weasley, seu marido é inexplicável! — Murmurou Gina, cuidando a escada para ter certeza de que poderiam conversar. — Você está bem mesmo? Harry me contou o que aconteceu e fiquei preocupada.

Hermione sentou-se no sofá e sinalizou para Gina fazer o mesmo.

— Eu estou bem na medida do possível. — Replicou. — Eu estou tentando, Gina. Hoje tivemos uma conversa agradável sobre nosso encontro, mas eu me sinto perdida, não sei o que fazer para ajuda-lo a se lembrar. Ethan me disse que aos poucos a memória vai voltando, mas não consigo.

— Venha aqui! — Gina abraçou-a apertado, e consolou a amiga como pôde. — Vai melhorar, você vai ver. Draco me pareceu calmo e gostaria que me explicasse o porquê dele estar se vestindo quando entrei.

— Ah, estávamos tomando café da manhã. — Passou a mão pelo rosto. — Ele disse que tem certeza de que eu já o vi com menos roupa do que aquilo, e, para ser sincera, não me importo. Gosto de vê-lo sem camisa!

— Ou sem roupa alguma!

As duas gargalharam alto e Draco imaginou o que teria sido tão engraçado. Estava em seu quarto e observava os móveis até encontrar as fotografias penduradas numa parede vazia.

A primeira das fotografias era dos dois, mas não se movia, sorriam um para o outro enquanto folhas secas das árvores flutuavam ao fundo. A segunda os retratava numa dança, estavam muito próximos e Hermione parecia querer seduzi-lo somente com o olhar, mas no fim sorriu e arrancou-o uma risada natural e espontânea.

— Como é possível? — Murmurou para si. Em todas as fotografia parecia feliz, sorridente. Não se parecia com o Draco Malfoy que lembrava-se, estava tão “leve” naqueles pedaços de papel, inclusive quando Potter ou os Weasley apareciam.

Hermione surgiu na porta no momento em que segurou a imagem da dança.

— Ah, isso foi no dia que você me beijou pela primeira vez. — Comentou aproximando-se para olhar a fotografia. — Foi na...

— Mansão Malfoy? Reconheci as cortinas. — Completou.

— Foi na festa de Natal que sua mãe organizou, nós dançamos juntos quase a noite inteira. — Disse com calma, analisando sua expressão sedutora na fotografia. — Eu não tinha certeza do que queria, então saí da Mansão e estava indo em direção aos portões quando você me alcançou e mandou que eu vestisse seu paletó.

Draco franziu a testa e fechou os olhos. Alguns flashes daquela noite começaram a percorrer sua cabeça como explosões de imagens e cores, sensações.

Hermione trajava um vestido longo preto que ajustava-se perfeitamente até seus ombros, de onde um tule fino iniciava a cobrir suas costas até a base da cintura. As sandálias de salto combinavam com sua postura ereta e austera a cada passo que dava em direção aos portões.

Draco conseguiu enxerga-la de longe e correu até a garota pelo gramado coberto pela neve que caíra no inicio da tarde.

— Por que está indo embora? — Perguntou quando já estava a alguns passos de Hermione, fazendo-a parar e virar-se para olhá-lo.

— Porque estou cansada, amanhã preciso acordar cedo e duvido que o consiga fazer se estiver bêbada! — Replicou com severidade na voz.

— Se vai usar essa desculpa sem sentido, ao menos coloque meu paletó, está frio. — Tirou a roupa mesmo sob protestos de Hermione e não a deixou em paz enquanto não a viu vestir a peça de roupa.

— Nos vemos no trabalho, Malfoy. — Deu as costas ao rapaz e quando menos esperava foi puxada de volta, onde já não podia recusar o beijo que recebia.

 

— Começou a nevar.

Hermione assentiu e a expressão em seu rosto tornara-se iluminada.

— Você se lembrou? Draco... — Parecia que qualquer resquício de voz flutuara para longe, deixando-a sem palavras ou forças para pronunciá-las.

Draco baixou a cabeça e olhou a foto entre seus dedos mais uma vez, havia visto aquilo, o modo que a beijara e segurara-a nos braços. Como sentiu-se no momento exato em que Hermione retribuiu e aprofundou o beijo com as mãos delicadas bagunçando seu cabelo. Da sensação dos seus corpos quentes e unidos com o toque frio dos flocos de neve.

E de como aquilo era indecente contando que qualquer convidado ou fotógrafo podia vê-los naquela posição.

— Apenas disso. — Sussurrou. — Sinto muito, Hermione.

— Não sinta, eu estou bem!

Concordou e voltou a colar a foto na parede, só que mais afastada de todas as outras, merecia um lugar especial por tê-lo feito se lembrar daquele momento. Significava que nem tudo estava perdido.

— A Weasley já foi?

— Sim, ela disse que precisávamos de um tempo sozinhos para tentarmos coisas para fazer sua memória voltar! — Riu e tocou a foto em que estava entre Harry e Gina, parecia ser o casamento dos dois, já que a ruiva usava um véu quase translúcido.

— E com coisas ela quer dizer sexo selvagem? — Parou de olhar as imagens e observou a reação de Hermione, que esboçou um sorriso leve e sugestivo.

— Provavelmente, é da Gina de quem estamos falando. — Respondeu e voltou-se para o marido. — Alguma ideia do que faremos hoje? Tenho o dia de folga e não pretendo ficar sentada na biblioteca.

Draco riu com espontaneidade.

— Pensei que jamais ouviria isso de você!


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Notas finais do capítulo

Olá, aí está um capítulo que demorei para escrever e espero que tenha ficado bom. O que acharam? Quero saber!!
Até