Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 9
Capítulo oito




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Hermione despertara junto com a luz fraca da manhã, Draco adormecera segurando sua mão na cadeira ao lado da maca. Era desconfortável vê-lo completamente torto, mas aproveitou o ressonar do marido para observá-lo com mais privacidade. A expressão no rosto parecia tranquila depois da discussão que tiveram durante a madrugada, Draco fizera de tudo para se mostrar realmente arrependido do que dissera.

— Por que está me encarando? — Perguntou ainda com os olhos fechados, surpreendendo Hermione que realmente acreditava ter sido a primeira a acordar.

— Como sabe que estou...?

Draco abriu os olhos e piscou algumas vezes até encontrar o foco. Soltou a mão de Hermione no processo de esticar as costas e estalar o pescoço dolorido pela má postura.

— Seu olhar é mais intenso do que imagina. — Girou o pescoço mais uma vez e levantou-se, esticando os braços a frente do corpo. — Como está se sentindo?

— Bem. Confusa. Eu não sei... Vou sobreviver. — Afirmou com algum rastro de duvida. — Será que já podemos ir? Odeio hospitais.

Draco aproximou-se e tocou-a na testa, verificando a temperatura e logo em seguida apanhou um estetoscópio para verificar os batimentos fortes que soavam firmes no peito de Hermione. Não havia nada com o que se preocupar.

— Vou levar isso para Ethan assinar e volto para busca-la! — Estar próximo de Hermione se tornara uma tarefa ridiculamente frustrante e incômoda. Desde quando não conseguia controlar seu corpo? Era como se fosse atraído por um imã que puxasse-o diretamente para ela. E foi nesse momento de falta de controle que beijou-a na testa com força e sentimento.

Saiu do quarto às pressas, mas com a imagem de Hermione boquiaberta na sua frente. Tinha certeza de que ela havia percebido que não fora apenas um consolo ou algo amigável, queria beijá-la e tê-la nos braços. Contudo, ainda era o marido estranho com problemas de memória. Lembrava-se das palavras de Hermione, duras como a expressão em seu rosto delicado. Ela falava sério quando ressaltou que ele não era o Draco com quem se casara, estava diferente e talvez dali um tempo não o quisesse mais, só de imaginar aquilo seu peito apertou.

Não desistiria de Hermione, nem que tivesse de começar tudo de novo.

Valeria a pena.

— Malfoy? — Ethan aproximava-se com um copo plástico que fumegava e a varinha quase caindo do bolso do jaleco branco. — Estava indo vê-los agora. Hermione está bem?

— Está sim, ainda surpresa com o que aconteceu, mas está bem. — Disse acompanhando o amigo até o balcão da recepção. — Poderia assinar? Quero leva-la para casa.

Ethan segurou os pergaminhos e analisou o que escrevera durante a madrugada, todas as poções, sintomas e dados que pudera coletar.

— Acho que ela quer aumentar a família...

Não entendera o motivo de dizer aquilo para Ethan, mas precisava desabafar suas angústias com alguém e talvez o amigo pudesse ajuda-lo.

— Ela não lhe cobraria algo assim. Ainda mais quando sua cabeça não voltou para o lugar, mas converse com ela quando surgir uma oportunidade. Esclareça as coisas e escute-a. — Aconselhou, entregando-lhe o pergaminho devidamente assinado. — Cuide dela, Malfoy!

Draco sacudiu a cabeça e voltou para o quarto.

— Vamos para casa. — Por mais que não houvesse necessidade, Draco passou o braço pela cintura de Hermione e guiou-a assim até estarem dentro da lareira.

Hermione afastou-se assim que teve a chance, não estava sentindo-se firme tão próxima de Draco. Subiu as escadas lentamente, arrastando os pés ainda descalços pelo assoalho, dentro do quarto parou aos pés da cama. O sangue continuava lá, vermelho no lençol branco, uma mancha mais do que se lembrava.

Draco seguiu-a e parou poucos centímetros atrás de Hermione quando notou o que a esposa olhava com tanto afinco.

— Fiquei tão preocupado com você. — Disse e viu-a encolher os ombros. — Hermione eu não sabia o que fazer quando vi aquele sangue, e fui treinado para agir em situações como aquela. Como trabalhamos juntos? Como eu consigo ser imparcial?

— Você não consegue. — Respondeu ainda olhando a cama. — Me ajuda a trocar os lençóis e...?

Não respondeu, apenas foi até a cama e começou a tirar as cobertas, travesseiros e lençóis silenciosamente. Faria aquilo por Hermione, ela parecia desgastada, e as olheiras arroxeadas lembraram-no da garota que fora torturada na sua sala durante a guerra. Os gritos ecoaram dolorosamente pela sua cabeça e fechou os olhos com força, tentando concentrar-se.

— Tome um banho demorado, vou preparar algo para comer e mandar uma carta para o Potter avisando eu não irá trabalhar hoje. — Voltou-se para Hermione buscando qualquer sinal de que precisava auxiliá-la, mas a esposa apenas seguiu para o banheiro como se a perturbação de segundos atrás jamais tivesse acontecido.

Foi breve na carta, relatando apenas a necessidade de mantê-la em casa pelo o menos naquele dia. A coruja empoleirada na janela bicou seu dedo antes de voar para longe com o pergaminho enrolado na pata, com sorte alcançaria Potter ainda em casa.

Preparou o café que buscara no supermercado trouxa e deixou que a torradeira desse conta dos pães. Posicionou tudo sobre uma bandeja de madeira entalhada delicadamente com algumas flores e carregou para o andar de cima com cuidado em cada passo, principalmente na escada onde tropeçou no tapete.

Entrou no quarto em silêncio e ficou desconcertado com Hermione que ainda vestia uma camiseta de manga longa. A pele de suas costas exposta daquele jeito parecia uma afronta a todo o controle que Draco mantinha para não tocá-la como desejava.

— Enviei uma carta ao Potter, quero que descanse, está bem? — Hermione virou-se ainda puxando a barra da camiseta para baixo. Uma estreita faixa de pele ficou à mostra e Draco correu os olhos rapidamente por ali. — Não sei se está como gosta, mas preparei café.

Hermione agradeceu e sentou-se no assento ao lado da janela, ajeitou as almofadas no colo e bebericou da xícara. O olhar estava atento no que acontecia do lado de fora, no sol que ainda subia, nas nuvens brancas e na neve espalhada pelos jardins.

A verdade era que não estava gostando do Draco atencioso. Seu marido tentaria fazê-la rir, enxeria-a de beijos até que Hermione ficasse irritada e beijasse-o com vontade, deixando-o esbaforido e de boca aberta. Só assim para livrar-se das mãos rápidas de Draco, fazendo o mesmo joguinho dele.

— Vou trabalhar nas poções, qualquer coisa me chame. — Disse assim que terminou de arrumar a cama e deixou-a sozinha.

Fantasiou de olhos fechados o que aconteceria se Draco fosse o mesmo: ele subiria para vê-la a cada três quartos de horas, lhe deixaria sem fôlego por estar com as mangas arregaçadas e o cabelo úmido de suor, lhe beijaria sem pudor e diria algo egocêntrico. Depois disso, abriria um sorriso e voltaria para o escritório, com a promessa de voltar em alguns minutos.

— Quando vai voltar pra mim, Draco? — Murmurou a pergunta que não obteria resposta, torcendo para que algo acontecesse e mudasse aquilo de uma vez por todas.

Tanto Draco quanto Hermione pularam o almoço, concentrados demais em suas tarefas e problemas. Harry apareceu pouco mais tarde, as roupas de auror contrastando com a neve branca por toda a rua.

— Fiquei preocupado com a carta do Malfoy. — Disse ao abraçar a amiga e empurrá-la para dentro de casa. — Como está se sentindo?

— Ah, eu estou bem. — Afastou uma mecha do cabelo do rosto, fixando o olhar no chão rapidamente. — Draco contou o que aconteceu?

— Só escreveu que você precisava se recuperar de uma ida ao St. Mungos durante a madrugada. O que houve, Mione?

Hermione olhou para a porta fechada do escritório, Draco nem sequer se incomodara em sair para atender as batidas firmes ou a campainha. Sinalizou para Harry acompanha-la e seguiram para sua biblioteca, lá sentia-se segura e confortável.

A claraboia iluminava as poltronas uma de frente para outra em que Harry e Hermione haviam se acomodado para conversarem. Hermione detalhou tudo o que aconteceu e contou ao amigo, inclusive a discussão que tiveram e de como estava irritada com aquela situação. No fundo estava agradecido por poder compartilhar aquilo com alguém.

— Eu sei que ele quer estar pronto para quando for a hora de termos filhos, mas agir daquele jeito me assustou, sabe? — Disse abraçando o corpo. — Porque talvez essa seja a mesma reação que Draco teria... Não quero apressar as coisas, mas uma dia vou querer aumentar a família e não sei como farei isso.

— Você fala como se Draco tivesse duas personalidades. — Comentou pensativo. Hermione parecia preocupada. — Talvez ele seja o Draco com quem se casou, só está um pouco enferrujado e aposto que está tão assustado quanto você!

— Eu sei, fico tentando me colocar no lugar dele a todo o momento. — Segurou a cabeça como se esta fosse explodir. — Só não sei o que fazer...

— Hermione Granger sempre sabe o que fazer! — Lembrou-a, já que lhe pareceu necessário dar apoio naquele momento, por mais que soubesse da existência de uma resposta para sua afirmação.

— Talvez Hermione Malfoy não saiba. — Replicou ainda de cabeça baixa.

Harry beijou-lhe o topo da cabeça e sorriu.

— Sabe sim.

E então Hermione voltou a ficar sozinha com sua cabeça que trabalhava a mil por hora, desejando intimamente que alguma poção explodisse e fizesse Draco bater com a cabeça, talvez fosse o único jeito de fazê-lo lembrar-se daquilo tudo. Riu com escarnio da própria ideia, era tolice e sabia disso.

Contudo, ninguém podia julgá-la por fantasiar soluções.


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Notas finais do capítulo

Aí está mais um capítulo... O que esperam do próximo? O que acharam desse?
Foi curto, mas já tenho outros preparados e com algumas "memórias"!!
Até