Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 6
Capítulo cinco




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Enquanto Draco trocava-se, Hermione guardava os poucos objetos que espalhara pelo quarto durante todo o tempo que ficara ali. Dois livros, uma manta azul e o cachecol de linho vermelho, o qual ganhara do marido com o intuito que parasse de usar o antigo da Grifinória.
Não poderiam aparatar por causa da situação de Draco, portanto, saíram do Hospital atravessando a porta de vidro da recepção para a vitrine abandonada que dava diretamente em Londres, uma rua quase deserta.
— Vamos até o Caldeirão Furado, podemos usar uma lareira lá. — Draco, que tinha as mãos enterradas nos bolsos do sobretudo preto, sugeriu.
— Pensei que iríamos a um restaurante trouxa, mas o Caldeirão Furado faz mais sentido. A lareira! — Explicou sem jeito, tentando disfarçar a clara decepção na voz.
Draco pensou em seguir a sugestão de Hermione, parecia que eram bastante adeptos quanto a comida trouxa, mas desistiu de sequer comentar quando a viu dobrar a esquina. Suspirou e seguiu-a com passos apressados.
Era difícil caminhar ao lado de uma mulher, sua esposa, quando nem ao menos se lembrava de tê-la tocado alguma vez na vida. Hermione mantinha-se encolhida sob toda a roupa que usava, em silêncio, mas estava inquieta, como se tivesse muito a falar e não soubesse por onde começar. Às vezes fazia com que seus ombros se tocassem durante a caminhada, mas voltava à linha reta em seguida.
— Mal posso esperar para comer algo de verdade! — Comentou enquanto olhava-a de esguelha, queria fazer com que aquilo parecesse um pensamento em voz alta.
E acertou em cheio.
Hermione virou-se, um sorriso beirando seus lábios como se a forçasse a libertá-lo.
— Bem, não é como se a comida do Caldeirão Furado fosse de “verdade”.
— É, você tem razão. — Riu com Hermione, tinha de admitir que ela estava certa. Como sempre. — Mas ainda me parece melhor que o jantar do Hospital.
— Eu podia ter buscado algo para você na cantina, mas do que está reclamando? Comeu o meu jantar também! — Acusou-o antes de rir, a situação estava indo bem, até então.
Draco deu de ombros.
— Chegamos! — Adiantou-se e abriu a porta para Hermione passar, como o cavalheiro que crescera para ser. Sorriu satisfeito quando ouviu-a agradecer e passar colada ao seu corpo.

O cardápio do Caldeirão Furado não era muito variado e as poucas opções desanimadoras, mas assim mesmo, Draco fez o pedido com o que a garçonete julgou ser um sorriso. Não compreendia como Hermione sobrevivera àquela comida pastosa por todo aquele tempo.
— Por quanto tempo fiquei desacordado? — Perguntou, afundando o garfo num pequeno tomate que expeliu o líquido interior. — Ninguém me contou com exatidão. “Alguns dias” não é bem uma resposta!
— Foram quase três semanas, pensei que não fosse mais...
Hermione não completou a frase, e nem foi preciso. Não sabia como era ser casado, teria que aprender na prática e conviver com alguém como Hermione Granger parecia um desafio e tanto. Observou-a remexer a comida, desinteressada.
— Precisa comer um pouco, Hermione. — Comentou tentando soar como um amigo preocupado, mas sabia que não era exatamente esse tipo de relação que tinham. — Não tomou seu café.
— Estou bem. — Finalizou o assunto ali. — Preciso tomar um ar, volto já!
Levantou-se rapidamente e atravessou o pub, o salto da bota batendo contra a madeira a cada passo que dava em direção aos fundos do estabelecimento. Draco soltou os talheres imediatamente.
Não imaginava-se casado, nunca tivera o sonho de encontrar a mulher ideal e formar uma família. Nunca fora uma prioridade. Mas casara-se e perdera a memória, não tinha certeza de como agir quando sua última lembrança era estar em Hogsmeade bebendo com Blásio Zabini, e solteiro. Claro que Hermione estava lá, havia até mesmo flertado com ela em mais de uma situação, mas casados? Era quase inacreditável.
Surpreendeu-se ao colocar a mão no bolso do sobretudo e encontrar alguns galeões. Deixou duas moedas de ouro sobre a mesa e saiu atrás de Hermione.
Teriam muito que conversar.
Hermione estava de costas para a porta, abraçava a si mesma e seu corpo sacudia com os soluços inaudíveis. Parecia realmente que tentava controlar o choro, mas estava falhando — miseravelmente.
— Hermione?
A mulher virou-se somente o suficiente para ver quem a chamava, limpou o rosto com as mãos e fitou a parede de tijolos, a mesma que atravessara com seus pais quando tinha onze anos para comprar os materiais exigidos em Hogwarts. Passara-se muito tempo desde então...
— Estou bem, foi só... — Passou a mão pelo rosto, buscando secar as lágrimas e os rastros que deixaram em sua pele. Tinha de ser mais forte que isso, repetia mentalmente.
— Você não está bem e isso tem a ver comigo, mas não posso fazer muito. — Aproximou-se meticulosamente e pela primeira vez desde que acordara segurou-a nos braços. — Sinto muito se a minha cabeça não está no lugar, mas precisamos fazer isso juntos!
Passando o braço pela cintura de Hermione pôde puxá-la para perto, e só não abraçou-a porque Hermione permaneceu como estava: imóvel e segura no próprio aperto. A mão livre apertou-a gentilmente no ombro.
— Vamos para casa? — Pediu com a voz trêmula o suficiente para convencê-lo de que era o melhor a se fazer.


Draco porém, parou em frente a lareira numa das vielas do Beco Diagonal e esperou-a movimentar-se ou dizer qualquer coisa. E quando Hermione emitiu o olhar de dúvida ele explicou apontando para o saquinho de pó de flu.
— Oh, claro. — Respondeu sem graça e ruborizou, mas provavelmente o frio era o culpado por toda a vermelhidão.
Hermione explicou exatamente o que devia dizer e deixou-o ir primeiro. Ficou poucos segundos sozinha, vendo as chamas verdes e altas engolirem Draco e depois, imitou-o.
As chamas verdes lhe cuspiram para fora da lareira e saiu tirando qualquer poeira que caíra em seus ombros. Draco estava parado a poucos passos mais à frente, olhava para a sala com curiosidade, a casa era novidade tanto quanto a aliança em seu dedo.
— Diferente do que imaginava? — Jogou a bolsa sobre o sofá e andou até Draco, parando do seu lado despretensiosamente.
— Na verdade sim. — Comentou ainda observando minunciosamente o papel de parede e os poucos quadros pendurados. — Escolhemos a casa juntos?
Mas Hermione não respondeu e quando foi questioná-la novamente viu a carta em sua mão, uma coruja cinzenta estava na janela, sinal de que recém recebera o envelope. A expressão em seu rosto não era das melhores, dobrou o pergaminho e sacudiu a cabeça. Quando percebeu que o marido a olhava desviou o rosto para a escada.
— Quer conhecer a casa? — Fingiu um sorriso, e Draco surpreendeu-se por saber que não era verdadeiro. Assentiu e seguiu-a até a cozinha.
A casa ficava em um bairro tanto bruxo quanto trouxa, era mediana, mas perfeita para o casal. A entrada dava para a sala com um sofá e poltronas em cores neutras, a lareira ainda enfeitada com duas grandes meias vermelhas, um aparelho de televisão desligado, um tapete com desenhos abstratos e uma mesinha de centro com alguns porta-retratos. A escada ficava próxima há mais três portas — incluindo o corredor —, a primeira dava para os fundos da casa e estava coberta por uma persiana; a segunda para o escritório de Draco, repleto com seus tubos de ensaio e poções inacabadas; a terceira era a lavanderia, ao fim do corredor e por fim, à direita, a porta dupla dava passagem para a cozinha perfeitamente organizada e limpa, mesmo estando inutilizada por algumas semanas.
O segundo andar era apenas um corredor com três portas e uma escada curta para o sótão, o qual servia de biblioteca para Hermione. Sobrava então, um quarto de hóspedes, o banheiro e o quarto do casal com banheiro incluso.
— Vou entender se preferir dormir sozinho, não tem problema! — Disse ao mostrar o quarto amplo com a cama de casal. — Preciso fazer uma coisa, fique à vontade.
E desapareceu pela escada, provavelmente queria ficar sozinha na biblioteca.
Draco abriu o roupeiro grande e analisou suas roupas, diferente de quando era jovem tinha muito roupa de malha, confortáveis, e poucos ternos ou roupas sociais, exceto pelas camisas perfeitamente dobradas que usava somente no trabalho.
Andou pela casa, a fim de conhecer melhor o lugar e investigar no que estava trabalhando em seu escritório. Poções medicinais, a maioria. Duas ou três já haviam passado do tempo adequado e apresentavam cores e odores terríveis, foram claramente, jogadas fora.
— Ótimo! — Resmungou com sarcasmo quando despejou seu trabalho de um mês e meio pelo ralo da pia na lavanderia.
Começou então tudo novamente, ingrediente por ingrediente dentro de um caldeirão de estanho. O engraçado era que sabia exatamente onde estavam os ingredientes, os livros ou as anotações que fizera para facilitar todo o processo.
Por mais frio que estivesse do lado de fora, Draco sentia o suor escorrendo por suas têmporas. A poção requeria fogo alto e concentração. O cabelo loiro estava úmido e despenteado para todos os lados, as mangas da camisa puxadas até o cotovelo e o rosto pouco mais corado em função do calor.
De acordo com a receita precisava deixar a poção parada por alguns dias, deixou então de mexer no líquido e baixou o fogo exatamente como dizia no livro, tampou o caldeirão e saiu do escritório.
O relógio acima da lareira marcava mais de sete horas da noite, e essa era a razão de sua barriga estar começando a produzir leves roncos e tremores. Não havia sinal de Hermione no andar de baixo, e muito menos no segundo. Devia estar no sótão/biblioteca. Seguiu até lá com passos silenciosos, não tinha a intenção de incomodá-la.
Hermione estava sentada de costas para a escada, em frente a uma escrivaninha onde anotava freneticamente em pergaminhos e mais pergaminhos, alguns com o selo do Ministério no canto inferior.
Pela claraboia podia ver a lua brilhando no céu escuro.
— Hermione? — Chamou e aguardou apoiado numa poltrona de costas altas.
A mulher virou-se lentamente e tinha aquela velha expressão de concentração no rosto, mas parecia exausta também. Ao vê-lo sua expressão mudou completamente. Amava o jeito que Draco saía do escritório quando começava uma poção nova, além do rubor contido nas bochechas e o cabelo bagunçado havia o brilho nos olhos, pura satisfação. Sem contar a camisa levemente aberta e as mangas puxadas até os cotovelos que deixavam-na sem fôlego. Draco costumava interrompê-la propositalmente, pois sabia que ganharia ao menos um beijo apaixonado, mas agora fazia sem querer ou sequer saber o efeito que causava.
— Já é tarde e pensei que podíamos sair para jantar ou...
— Podemos pedir pizza! — Sugeriu com a voz elevada em alguns decibéis. — Preciso ir ao supermercado amanhã, a geladeira está vazia.
Desceram juntos, no silêncio constrangedor que estava se tornando comum. Hermione telefonou para a pizzaria mais próxima e sentou-se de frente para a bancada, Draco fez o mesmo, deixando-os de frente um para o outro.
— O que eram aqueles documentos que estava assinando? — Perguntou com curiosidade.
Notou somente pelo modo que os dedos de Hermione apertaram-se que o assunto era um tanto delicado, ainda remexeu-se no banquinho antes de responder:
— Ah, são notificações. — Explicou enquanto continha a voz. — Não assinei minhas férias, então tecnicamente, eu deveria estar indo ao trabalho, mas não é nada importante!
— Claro, entendo. — Sacudiu a cabeça. — O que é pizza?
Hermione levantou o rosto para olhá-lo e sorriu diante da expressão confusa no rosto de Draco, ele não lembrava-se disso também.
— Uma comida realmente deliciosa, precisa experimentar.
— E nós costumamos comer coisas trouxas? Tipo pizza? — Quis saber enquanto Hermione levantava-se e buscava uma garrafa de vinho tinto.
— Na verdade, quase todos os dias, levando em conta que sou eu quem cozinha ou peço comida. Você escolhe os restaurantes e acredite, os trouxas são seus favoritos! — Respondeu com sinceridade.
Estava na ponta dos pés e tentava pegar as taças no armário aéreo, tateou a roupa e lembrou-se de ter deixado a varinha em cima da escrivaninha. Não precisou dizer nada, Draco levantou-se e ajudou-a.
— Obrigada.
Sentaram-se novamente um de frente para o outro, dividiam a garrafa de vinho enquanto apenas olhavam-se. As bochechas de Hermione tomaram um tom rosado enquanto o rosto de Draco ficara vermelho por conta do álcool.
A campainha soou e Hermione saltou do banco, buscando no bolso traseiro da calça jeans as notas para pagar pela pizza, Draco a seguiu, observando afastado toda a transação entre a esposa e o entregador que sorria exageradamente, ao menos até vê-lo.
— Pode ficar com o troco. — Disse Hermione, empurrando a porta com o pé para fechá-la. A caixa de pizza era grande e Draco imaginou a aparência da tal comida.

Admitiu em voz alta e com suspiros que aquela era a melhor coisa que já comera em toda a sua vida, e Hermione ria, explicando que já ouvira aquilo algumas vezes ao longo dos dois anos em que estavam casados.

E então, depois de mais algum tempo saboreando a pizza e limpando a bancada onde derramaram vinho, Hermione soltou o primeiro bocejo e Draco a acompanhou até o segundo andar. As mão enterradas nos bolsos diziam exatamente como sentia-se constrangido e confuso.
— Realmente vou entender se preferir dormir sozinho, Draco. — Concluiu Hermione, apoiando-se na porta com o olhar vazio. — Suas roupas estão aqui, então sinta-se livre para fazer o que quiser.
Hermione entrou no quarto e foi direto para o banheiro, carregando o pijama de alcinhas e a calça de tecido leve junto. Ouviu a porta do quarto batendo e sentou-se na privada, deixando que algumas lágrimas escorressem por seu rosto.
Não poderia prender Draco para sempre do seu lado, e se a memória do marido não voltasse talvez ele começasse a pensar em divórcio, o que julgava ser justo. Já sentia-se perdida naquele momento, como estivesse flutuando e não tivesse nada para se segurar ou se apoiar.
Saiu do banheiro com o cabelo úmido e solto sobre o ombro esquerdo, os pés descalços contra o assoalho frio. Secava o rastro das lágrimas quando notou a silhueta de Draco deitado na cama de costas para a porta por onde saíra há segundos atrás. Vestia apenas uma calça de moletom e tinha os músculos das costas tensionados.
— Boa noite, Hermione. — Disse quando sentiu-a deitar-se do seu lado.


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Notas finais do capítulo

Desculpem por não ter postado na quarta, meu dia foi longo e acabei ficando sem tempo. Mas aí está!
Ah, obrigada pelos comentários. Adorei-os!