Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 5
Capítulo quatro




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Não era nada estranho vê-la sentada na poltrona, esticada, lendo um grosso exemplar com a capa verde. Parecia a Hermione que conhecera há muito tempo, em Hogwarts, ao menos era uma característica que sempre gostou nela, mesmo que nunca tenha admitido em voz alta.

Uma senhora baixa com roupas hospitalares entrou no quarto empurrando um carrinho, entregou-lhe então uma bandeja com o que seria seu jantar e entregou uma para Hermione também, ainda falou alguma coisa antes de sair, mas baixo demais para que pudesse ouvir de longe.

Estava faminto, isso era um fato. Atacou a comida, que se mostrou pouco apetitosa, mas assim mesmo limpou o prato e os potinhos descartáveis com outras variedades pastosas e de cores estranhas — até mesmo para ele. Assim que terminou percebeu que queria mais, não fora o suficiente.

Hermione levantou-se em silêncio e carregou sua bandeja até a cama de Draco, recolheu a vazia e entregou-lhe seu jantar quase intocado.

— Pode ficar, não estou com fome. — Disse como se não tivesse importância. Não esperou resposta, voltou para a sua poltrona e abriu o livro novamente.

Draco agradeceu e deixou-a quieta com seu livro.

A senhora voltou ao quarto para recolher as bandejas sujas e desejou uma boa noite para Hermione, deviam ser amigas.

— Hermione? — Criou coragem e chamou-a pelo primeiro nome, não tinha certeza se continuava Granger ou se mudara para Malfoy. Hermione levantou a cabeça para olhá-lo, havia um traço de alegria em seu olhar. — Eu sinto muito por não conseguir lembrar de nada, eu queria poder...

— Tudo bem, não é culpa sua. — O olhar mudara para alguma outra coisa, indiferença, talvez.

— Há quanto tempo somos casados? — Perguntou, queria quebrar o silêncio e talvez fazê-la odiá-lo menos. Não seria grosso ou estúpido, não tinha mais preconceitos com o sangue, apenas não podia acreditar que se casara com Hermione Granger.

A pergunta pareceu animá-la um pouco, levantou-se como se quisesse manter a conversa e aproximou-se de Draco, sentando-se numa cadeira ao lado da cama.

Quis tocá-la, mas não lhe parecia certo.

— Fizemos dois anos de casados há alguns dias atrás. — Contou e parecia feliz ao fazê-lo. — Não comprei um presente, sinto muito.

Draco achou divertido o modo com que ela se desculpou por algo tão trivial quanto um presente, ele nem sequer estava acordado ou lembrava-se de ter se casado. Imaginou se lembraria da data se o acidente não tivesse acontecido.

— Bem, não comprei nada também. — Sorriu ao vê-la rir baixinho. — Agora me conte, nós temos filhos? Animais de estimação como aqueles casais que tratam cães como bebês?

Hermione arregalou os olhos, horrorizada. Graças à Mérlin, pensou.

— Por Mérlin, é claro que não, Draco. — Sua voz saía com algumas falhas enquanto ria. — Temos uma coruja, apenas. E não temos filhos, nós nem sequer conversamos sobre isso ainda.

Hermione contou à Draco tudo o que julgou ser importante e após um bocejo longo do marido levantou-se e voltou para a poltrona.

— Boa noite, Draco.

Não fora uma noite tranquila, longe disso. Draco sonhava suas antigas lembranças, até mesmo com o soco que recebera no terceiro ano e acordou com o corpo trêmulo, provavelmente estava com febre. Levantou-se com cuidado e esticou as pernas rígidas pelo tempo sem movimento. Queria ir ao banheiro lavar o rosto, mas parou ao lado da poltrona em que Hermione estava encolhida, toda torta, mas dormindo.

Por que não conseguia se lembrar?

Ao mesmo tempo em que achava aquilo estranho, sentia-se orgulhoso de si mesmo. Hermione estava sendo maravilhosa, por mais triste que estivesse não demonstrava e tentava deixar a situação mais leve para ambos. Não conseguia imaginar como ela se sentia, devia ser duro.

Sorriu ao vê-la assim, adormecida.

Cobriu-a com uma manta que estava dobrada aos pés da sua cama e ajeitou-a no travesseiro, parecia um pouco mais confortável e esperava que realmente estivesse.

Depois disso desistiu de ir ao banheiro, voltou para a cama e adormeceu em poucos minutos. Tão rápido quanto possível.

***

Quando Draco acordou na manhã seguinte tentou colocar os pensamentos em ordem, antes de qualquer coisa. A luz era forte, já devia passar das dez horas. Abriu os olhos lentamente, como se, na verdade, preferisse mantê-los fechados.

E preferia.

Acordara do coma há um dia e sua vida já estava um caos. Era casado, já fazia dois anos, e não lembrava-se minimamente da sua esposa, a qual, surpreendentemente, era ninguém mais, ninguém menos do que Hermione Granger.

Quando poderia imaginar que se casaria com Hermione? A garota que quebrara seu nariz.

Mérlin.

— Draco? Está com dor? — A voz calma e gentil de Hermione chegou aos seus ouvidos como o canto de um pássaro — leve.

— Como sabe que estou acordado? — Murmurou, sua garganta ainda arranhava quando falava.

Sentiu quando o colchão moveu-se minimamente e abriu os olhos. Hermione estava com uma mão apoiada na cama, próxima o suficiente para tocá-lo no braço, talvez fosse essa a intenção.

— Você mexe o lábio quando acorda...

Draco pôde sentir a pergunta se formando na ponta de sua língua, mas a reposta era óbvia. Eram casados. Hermione devia conhece-lo melhor do que ninguém, talvez melhor do que sua mãe.

Narcisa.

— Minha mãe? — Não completou a frase, temendo que a última lembrança da mãe fosse realmente a última.

— Narcisa está viajando. Avisei sobre o que aconteceu e tomei a liberdade de pedir para que não viesse. — O nome soava tão natural, Draco notou. — Mas se quiser, posso enviar um patrono agora mesmo e...

Draco calou-a apenas levantando a mão.

— Não precisa chama-la, ficarei bem.

— Ficará melhor em casa! — Ethan entrou no quarto, interrompendo-os de qualquer que fosse o assunto. — Poderá voltar para casa depois do café da manhã, Hermione lhe ajudará a tomar algumas precauções e as poções no caso de sentir alguma dor. Pode assinar aqui?

Hermione adiantou-se para pegar o pergaminho.

— Minha carta de alforria? — Perguntou Draco, analisando o pergaminho longo que a esposa segurava.

— Exatamente.

A senhora que entregou o jantar na noite anterior voltou, empurrando o carrinho para dentro do quarto. Entregou a bandeja à Draco e um copo para Hermione, assim como um pequeno pote plástico com frutas picadas em cubos.

— Pensei que preferisse bolinhos! — Ethan comentou assim que Hermione mordiscou um pedaço de maça.

Hermione riu e Draco observou-os, não entendeu a piada.

— Não posso viver de bolinhos, você sabe. — Retrucou divertidamente. — Além do mais, não estou com fome. Só o suco já basta.

Entregou à Draco, sem olhá-lo, o potinho com frutas. E isso incomodou-o mais do que esperava. Era ele seu marido e não Ethan. Bufou irritadiço, atraindo atenção para si, e em resposta deu de ombros. Como se aquilo tudo não importasse.

Assim que terminou seu café da manhã, incluindo as frutas de Hermione, levantou-se para esticar as pernas. Queria trocar de roupa, sentir algo familiar tocar sua pele, e tirar de uma vez por todas aquele avental hospitalar. Nas gavetas da cômoda não havia nada, nenhuma peça de roupa.

— Estão na minha bolsa... Suas roupas, você sabe. — Disse Hermione que saía do banheiro, enrolava o cabelo no alto da cabeça.

— Já está pronta para ir? — Vasculhou a bolsa de Hermione e após colocar seu braço inteiro para dentro, puxou suas roupas. — Porque pensei em irmos almoçar, preciso de comida de verdade.

Hermione olhou-o e esboçou um breve sorriso.

— Claro. Vista-se e vamos sair logo desse inferno. — Surpreendeu-se com o tom de voz que Hermione usara, era algo beirando a necessidade e o desespero.

Segurou o braço de Hermione por um momento, fazendo-a virar-se para olhá-lo. Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas pareceu o certo a se fazer.

— Serei rápido!


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Notas finais do capítulo

Vai ter dois capítulos nesse semana, sim!
Adiantei a postagem porque senti a necessidade de agradecer à Naruto2 por escrever a primeiríssima recomendação da história. Adorei e agradeço muito! :D
Até quarta-feira!