Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 19
Capítulo dezoito




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A situação ficara ainda pior em casa.

Quando Draco chegou, Hermione já havia levado seu travesseiro para o quarto de hóspedes e saído novamente, sem deixar bilhete algum, um aviso silencioso de que não estava interessada em conversar. Imaginou e tentou lembrar-se se já haviam brigado daquela forma e quanto tempo durara ou a forma que se desculpara, porque naquele momento nada parecia ser o suficiente.

Jogado numa poltrona puída de seu laboratório ficou observando as poções borbulhantes e a fumaça que subia de cada um dos caldeirões. Talvez a resposta estivesse ali, alguma poção poderia ajuda-lo a se lembrar e poderia resolver a bagunça que criara.

Ouviu perfeitamente o estalido quando a porta da frente se abriu e os passos leves que seguiram para dentro de casa. Levantou-se da poltrona e dirigiu-se para a sala.

— Hermione? — A esposa estava saindo da cozinha. Vestia um moletom com capuz, calças confortáveis e tênis de corrida; o cabelo estava preso e o rosto afogueado. Bebia água de uma garrafinha plástica. — Será que podemos conversar?

— Vou tomar um banho. — Sequer dirigiu o olhar a Draco, mas pelo canto do olho percebeu a movimentação do marido, e tratou de ressaltar: — Sozinha!

Draco respeitou o momento da esposa e ficou parado, no meio da sala, observando-a subir a escada até desaparecer completamente.

Estou ferrado!

E realmente estava. Hermione usara o banheiro do final do corredor e logo se trancara no quarto de hóspedes, colocando um ponto final em qualquer conversa que poderiam ter tido. E Draco entendeu mais do que bem o recado, ficaria longe, dormiria sozinho e na manhã seguinte teria que fazer o nó da gravata sem ajuda. Desistiu de pensar mais além do que o café que beberia solitário, observando a decoração em tons claros da cozinha.

O despertador não tocou duas vezes, no primeiro segundo do toque irritante Hermione o desligou. Havia dormido pouco e não sentiu-se confortável sozinha numa cama desconhecida, acordou antes mesmo do aparelho. Havia levado uma muda de roupa para o quarto, onde vestiu-se em poucos minutos. Deixou a casa sem tomar café ou acordar Draco, não queria vê-lo ou conversar, não conseguiria ouvir uma explicação quando queria externar a humilhação que sentia. Fora subestimada pelo próprio marido.

O frio ainda pairava sobre Londres, havia neve na rua e as pessoas andavam encolhidas sob camadas e mais camadas de roupas. Naquela manhã não usou a lareira ou aparatou até a cabine telefônica, simplesmente caminhou até o centro da cidade para esvaziar a cabeça. As lojas ainda estavam todas fechadas, exceto pelas cafeterias que sopravam um vapor quente toda vez que alguém entrava ou saia.

Com a cabeça abaixada para evitar o vento gélido acabou esbarrando com força no braço de alguém, virou-se e pediu desculpas, os olhos ainda fixos na calçada.

— Hermione? — Ela virou-se novamente e abriu um sorrido comedido.

— Blásio! — Abraçou-o. — O que faz aqui a essa hora da manhã?

O homem esfregou as mãos enluvadas e levantou os ombros.

— Aparentemente bebidas trouxas são muito refinadas, e preciso comprar algumas para o casamento. — Suspirou com a tarefa, parecia bastante entediante. — Pensei em chamar Draco para me ajudar, mas não tive tempo de mandar uma carta.

— Ele está em casa, não tenho certeza se trabalha hoje, mas dê uma passada por lá. — Avisou, querendo cortar o assunto. — Eu preciso ir, tenho alguns relatórios para preencher. Nos vemos no sábado!

Blásio acenou com a cabeça e ficou olhando-a se afastar e desaparecer pela multidão. Teria de experimentar bebidas alcoólicas, quem melhor para compartilhar o momento do que seu padrinho, desaparatou numa ruela vazia logo a frente.

O resultado sobre o julgamento de Hermione estampava a capa do Profeta Diário, com uma imagem dela e dos amigos conversando após a retirada do júri. Evitou olhar para qualquer um enquanto atravessava o átrio, não lidava bem com os olhares curiosos, nunca conseguiu, mas Harry passou e contornou a amiga com o braço. Protegendo-a.

— Obrigada. — Murmurou quando ficaram sozinhos.

— Não acredito que estão xeretando de novo na nossa vida pessoal. Você viu algum fotógrafo ontem? — Perguntou com indignação e esperou pela resposta que veio, assim como a sua, negativa. — Não sei como conseguiram aquela foto ou saber sobre o resultado, ele nem sequer foi divulgado.

— Não tem problema, Harry. — Disse com calma. — Só não gosto das pessoas me olhando daquele jeito.

— Não tem problema? — Questionou-a antes de abrir educadamente a porta do escritório e deixa-la entrar primeiro. — Certo. Essa calma toda tem a ver com a discussão com o Draco?

Hermione encarou-o por um momento, afastou uma mecha do rosto e voltou a olhar para o amigo.

— Theodore contou?

— Na verdade eu estava perto da porta e consegui ouvir um pedaço, me desculpe. — Parecia realmente constrangido, mas assim mesmo sustentou o olhar. — Está tudo bem?

— Está sim, foi apenas uma discussão. — Procurou as pastas de relatórios daquela manhã e depois de pegá-los, sentou-se na frente da escrivaninha. — Como está Gina?

Harry sacudiu a cabeça e respondeu, contando para a amiga sobre os desejos de grávida da esposa, que aconteciam no meio da madrugada. Faltava muito pouco para a chegada de James Sirius e Harry já falava do filho com tanto entusiasmo que Hermione tinha certeza de que ele seria muito amado.

— Gina estava esperando para contar, mas... Gostaríamos que você e Draco fossem os padrinhos de James. — Arqueou uma sobrancelha, esperando a resposta para uma pergunta implícita naquela afirmação.

— É claro, Harry! — Levantou-se extasiada. — Vai ser uma honra.

— Finja surpresa quando Gina contar, se ela souber considere-me um homem morto. — Riu.

Sacudindo a cabeça concordou e voltou-se para as pastas, mas agora um sorriso brincava em seus lábios. Seria madrinha de James Sirius, filho de seu melhor amigo. Passou então a imaginar como seriam seus filhos e se um dia os teria. Nunca havia entrado numa conversa séria com Draco sobre o assunto, apenas concordaram silenciosamente que não era o momento.

Perdera um filho que não desejava, mas ainda assim a lembrança doía.

Volte, Hermione.

Gritou em pensamento. Sua cabeça tomava um rumo que não era seguro, e naquele momento, focar no trabalho era o melhor que podia fazer. Ao menos até o fim do expediente.

Naquele dia foi Hermione quem ofereceu uma rodada de Cerveja Amanteigada ou qualquer outra bebida em Hogsmeade. E assim que os amigos aceitaram, colocou-se de pé e empurrou-os para fora da sala, um pouquinho de álcool não faria mal e estava precisando mais do que nunca de uma distração.

— Eu sei, eu sei. Mas estamos indo com calma! — Rony explicou seu relacionamento com Mel, que era como a mulher gostava de ser chamada. — Ela precisa viajar e meu trabalho agora também requer isso, então só conseguimos nos ver nos fins de semana.

— Deve ser difícil. — Harry comentou e ergueu a caneca, terminando com o líquido amarelado. — Se bem que eu poderia ficar alguns dias longe de Gina, ela tem me deixado louco com a gravidez.

Hermione riu e afastou o copo dos lábios.

— Se ela te ouve dizendo isso...

— Hermione, ela reclama que eu não sei a diferença entre azul índigo e azul turquesa. Se é que existe diferença em uma dessas cores! — Bufou irritado. — Vou trocar as latas de tinta na loja, poderia ir comigo?

— Claro que sim. O que acha de domingo? — Ficara feliz em saber que ajudaria Harry com alguma coisa e claro, conseguiria uma desculpa boa para se afastar de Draco e colocar os pensamentos em ordem. Não conseguia quando o marido estava no quarto ao lado.

— Claro! — Concordou um pouco confuso por toda aquela animação, mas agradecido pela ajuda. — Agora vou deixa-los, tenho que voltar para casa. Cuide dele, Hermione!

Apontou para Rony que bebia em silêncio, mas reclamou imediatamente. Harry saiu sorrindo e do lado de fora aparatou.

— Por que está fugindo do Malfoy? — O ruivo perguntou e demorou o olhar na bebida, mas levantou o rosto e encarou Hermione. — Não negue, você jamais o deixaria sozinho num domingo.

Hermione sacudiu a cabeça.

— Brigamos, só isso. — Deu de ombros e tentou esquecer o motivo apenas por um momento. — Não quero falar sobre isso...

Rony sacudiu a cabeça e ergueu a mão, pedindo para a garçonete mais uma dose de bebida, a qual não demorou a chegar.

— Vamos brindar às decepções. — Levantou o copo e Hermione o imitou.

***

Quando Hermione acordou naquela manhã tinha certeza de que já perdera o café da manhã, o sol dera as caras e brilhava com força. Saiu do quarto enrolada num robe e encontrou a casa vazia, sobre a bancada da cozinha, sob uma xícara colorida havia um pedaço de pergaminho.

Emergência no Hospital, te encontro no casamento.”

Sozinha preparou o almoço e comeu sentada na bancada da cozinha, ouvindo apenas o som dos pássaros e, às vezes, de carros. O silêncio era ensurdecedor.

Para distrair-se de toda a quietude subiu para a biblioteca e concentrou-se em um livro de literatura bruxa clássica bastante divertida, contava a história de dois trouxas e havia elementos distorcidos do mundo sem magia. Chegou quase a terminar a leitura, mas abandonou o livro em cima da poltrona para começar a arrumar-se.

Entrou em seu quarto e notou o roupeiro aberto, Draco devia ter separado suas roupas com pressa, pois havia uma gravata caída no chão. Ajeitou a bagunça e tomou uma ducha rápida, precisava de tempo para a maquiagem.

***

Hermione desaparatou na recepção do casamento e parou para ajeitar o vestido, dando uma última analisada na combinação que fizera. Sozinha, mas com a cabeça erguida passou por todos os Sonserinos de quem se lembrava, mostrando-se orgulhosa e altiva. Ignorando os comentários seguiu para as cadeiras ornamentadas com flores e laços, onde cumprimentou Theodore Nott que iniciou uma conversa empolgada.

— Draco? — Perguntou depois de um tempo.

— A caminho. — Foi tudo o que Hermione respondeu. — Vamos sentar? Acho que a cerimônia já vai começar.

Theodore acompanhou-a até uma das cadeiras e sentou-se do seu lado.

— Só eu senti a tensão no ar? — Ethan comentou com divertimento sobre as expressões enfezadas de alguns dos convidados, sentando-se na fileira de cadeira atrás dos dois. — Está linda, Hermione.

— Obrigada. — Abriu um sorriso leve.

Os violinos começaram a tocar antes que pudessem entrar numa conversa, os convidados sentaram-se todos e então, no fundo do tapete de pétalas, Blásio entrou sozinho. Logo atrás Daphne de braços dados com Draco, que mantinha o olhar arrogante de sempre. Quando a música desacelerou Astória entrou no corredor e carregando um buque simples, deslizou até o futuro marido.

Durante a cerimônia Hermione não pode deixar de olhar para Draco, o modo que sorria para o amigo nervoso, parecia tão jovem e descontraído. Lembrou-se da cerimônia do seu casamento, o quão nervosa estava e como o mundo pareceu desaparecer quando enxergou Draco sorrindo emocionado. Queria apenas o homem com quem se casara de volta.

— Hermione? — Theodore não desviou o olhar dos noivos, mas tirou do bolso do paletó um lenço e entregou à mulher do seu lado.

Sacudiu a cabeça em agradecimento e limpou o canto dos olhos.

— Por que as mulheres choram em casamentos? — Theodore virou-se e perguntou baixinho para Ethan que deu de ombros, confuso com as poucas lágrimas de Hermione.

Hermione ignorou-os e olhou para Draco que tinha os olhos cinza nela, parecia preocupado, talvez fossem as lágrimas ou até mesmo a companhia dos amigos. Não tinha como ter certeza, e foi por isso que sacudiu a cabeça e voltou-se para o casal apaixonado que trocava o primeiro beijo como marido e mulher.

A festa seria realizada no salão da mansão da família Greengrass, que aparentava as mesmas dimensões do Salão principal de Hogwarts. Sendo assim, os noivos entraram antes dos convidados e sentaram-se na mesa do casal, enfeitada com arranjos de flores e talheres de prata. Draco sentara-se ao lado do amigo, mas já havia avisado que ficaria ali somente para as fotos, não deixaria a esposa sozinha, Blásio concordou e agradeceu por ter feito par com Daphne.

O fotógrafo já havia batido muitas fotos e Draco começava a se perguntar onde estaria Hermione, ela jamais o deixaria sozinho. Uma música começava para a primeira dança do casal quando ela entrou pela porta dupla, o vestido verde marcando seu corpo com maestria enquanto a maquiagem mostrava sua elegância e a postura seu orgulho. Estava radiante como nunca. E os convidados também notaram, pois deixaram de observar o casal para olhá-la.

— Draco, temos que dançar. — Daphne tocou seu ombro. — Sou a madrinha e você o padrinho, precisamos ir...

— Claro. — Deu as costas para a garota e seguiu, desviando dos convidados, em direção à Hermione. Era agora ou nunca.

Perdeu-a de vista por um segundo, mas lá estava ela, a atenção focada na dança, como se fosse perder alguma coisa se piscasse.

— Como padrinho eu devo abrir a dança, me daria a honra? — Comentou parando na frente da esposa.

— Daphne é a madrinha. — Replicou, havia um tom de surpresa e ciúme em sua voz.

Draco então tocou sua cintura e diminuiu a distância para sussurrar:

— E você a minha esposa. — Ofereceu a mão novamente e dessa vez Hermione não negou, acompanhou-o até o espaço destinado à dança e valseou com o marido.

Apesar de seus corpos estarem colados, e dançarem harmoniosamente, não trocaram palavras, Hermione por ainda sentir-se magoada e Draco por ter percebido que não era uma dança amigável. Assim mesmo, não impediu sua mão de tocá-la nas costas nua ou de inalar o perfume adocicado, mesmo que seu desejo fosse de experimentar o batom vermelho escuro que pintava os lábios da esposa.

— Blás parece feliz. — Comentou Hermione com cuidado, seria apenas uma conversa trivial sobre o casamento e ponto.

— Ele está. — Concordou.

O silêncio voltou e continuaram valseando com os casais que juntaram-se à eles e aos noivos no inicio daquele música. O violino começara a incomodar Hermione e ela só se deu conta quando reconheceu a melodia, fora a mesmo que tocara em seu casamento.

— Astória está linda, não acha?! — Não fora bem uma pergunta.

Draco olhou a noiva e assentiu.

— De fato ela está, mas no nosso casamento quando você apareceu acompanhada do Potter tive certeza de que estava casando com a mulher mais linda do mundo. — Hermione travou, suas pernas pararam de se mexer e a dança foi quebrada.

— Draco, por favor. — Pediu com a voz trêmula e arrastada.

— Precisamos conversar, Hermione...

Blásio apareceu e abraçou o amigo.

— Não acredito que finalmente estou amarrado. — Comentou risonho e Hermione acompanhou-o, tentando ignorar o olhar de Draco sobre si. — Posso dançar com Hermione?

Draco olhou para a esposa e assentiu, sabendo que ela responderia se não o fizesse.

A noite entrara, deixando as músicas mais agitadas para aqueles que ainda tinham fôlego. Hermione dançava com Blás que a girava no ritmo da música, fazendo-a gargalhar com os passos estranhos e desengonçados.

— Peça para Hermione me ensinar como dançar a noite toda em cima desses sapatos. — Astória sentou-se do lado de Draco, carregava uma taça de champanhe.

Draco sorriu.

— Ele está feliz, não é?! — Astória comentou, observando o marido da mesma forma que Draco observava a esposa, apaixonadamente. — Quer dizer, nunca o vi dessa forma.

Foi com uma risada que o amigo concordou, Blásio não havia parado nenhum minuto sequer, dançara com Astória tanto quanto pôde e depois arrastou Hermione para a pista. 

— Devia ter aceitado o pedido da primeira vez, Ast. — Comentou e deixou um sorriso amigável estampar seu rosto.

— Que foi durante a guerra, havia comensais atrás de mim. E você não pode falar nada, devia ter beijado a Hermione depois daquele soco que recebeu! — Alfinetou-o e levantou-se. — Vou avisar Theodore para não passar por ali, Blásio é capaz de pedir uma música lenta para dançar com ele.

Seus amigos haviam criado uma amizade ótima com Hermione depois que Draco apresentou-a como sua namorada, convidavam-na para jantares e festas sempre que podiam e conversavam como se conhecessem-se desde a infância. Não havia espaço para ciúme entre eles. 

Hermione aproximou-se com Blásio ao lado.

— Não estou brava com Astória, repita isso para ela se for necessário. — Dizia para Blás, tinha as bochechas coradas. — Foi uma bela cerimônia, Blás. Espero que sejam felizes!

— Tanto quanto vocês. — Comentou e indicou Draco. — Vou procurar Theodore, comportem-se.

Draco continuou sentado enquanto o amigo afastava-se, gritando o nome do amigo. Hermione riu e sacudiu a cabeça.

— Quer ir? — Draco segurou a mão da esposa e perguntou inocentemente.

Antes de responder Hermione separou suas mãos como se recebesse uma descarga elétrica com o contato.

— Quero sim. — Deus as costas para o marido e seguiu até a saída, aguardando-o do lado de fora, onde o campo para aparatação estava livre. Parecendo extremamente ofendida.

Merda! Draco repetia mentalmente.


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Notas finais do capítulo

Aí está o capítulo dessa semana e eu realmente espero que tenham gostado e sentido a tensão entre eles, será que é positiva ou negativa para o relacionamento??? Contem-me o que esperam de tudo isso.
Até logo



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