Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 10
Capítulo nove




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No inicio da manhã Draco sacudiu Hermione e entregou-lhe uma xícara de chá. Estava com o cabelo molhado e vestia uma camisa azul que deixava-o um pouco pálido, a gravata num tom mais escuro pendia em volta pescoço e seu perfume amadeirado espalhara-se pelo quarto.

— Volto a trabalhar hoje. — Disse como fosse uma novidade. Sentira falta de fazer aquilo que era considerado “o melhor”.

Hermione demorou a assimilar as palavras e entendeu apenas quando percebeu o jaleco branco pendurado no encosto de uma poltrona ao lado da penteadeira. Bebericou o chá e deixou-se consumir pelo calor da bebida.

Deixou a xícara sobre o criado-mudo e jogou as pernas para fora da cama, lavou o rosto no banheiro e enrolou o cabelo no topo da cabeça. Voltou para o quarto onde esgueirou-se entre a penteadeira e Draco, colando-se ao corpo deste.

— Sempre faço isso para você. — Falou baixinho enquanto ajeitava o nó da gravata do marido, deixando-a perfeitamente alinhada. — Não ouse tirar minha diversão de todas as manhãs!

 — Ficou ótimo. — Comentou quando a esposa já se afastara para terminar sua xícara de chá. — Obrigado, Herms.

No peito de Hermione foi como se algo tivesse voltado a funcionar, talvez seu coração tivesse lembrado que precisava bombear sangue para mantê-la de pé. Apenas Draco chamava-a de Herms, era um apelido único, dizia que era especial se mantido em segredo e isso continuava na sua cabeça mesmo depois do acidente.

Ele era o seu Draco.

— Queria poder beijá-lo. — Murmurou quando o marido saiu do quarto, deixando novamente que as palavras ficassem perdidas no ar como tantos outros desejos.

Não demorou-se muito no quarto, vestiu o uniforme, pegou o jaleco esquecido na poltrona e desceu atrás de Draco, que ainda bebia café enquanto lia o Profeta Diário daquela manhã.

— Obrigado. — Sorriu ao vê-la trazendo seu jaleco. — Esqueci...

—... Dele lá em cima. — Completou a frase que já ouvira tantas vezes. — Eu sei, não se preocupe com isso.

Hermione sempre ria quando o marido dizia aquilo, mas não conseguiu conter o desgaste emocional na voz. Demorou-se na geladeira, pensativa, enquanto procurava pela jarra de suco de abóbora nas prateleiras.

— É engraçado, você conhece toda minha rotina e sempre acho que estou fazendo aquilo pela primeira vez. — Disse virando a página do jornal, mas fechou-o em seguida e deixou de lado. — O que mais eu costumo fazer?

— Além de sempre esquecer o jaleco na poltrona e me deixar dar o nó nas suas gravatas? — Draco assentiu, parecendo animado e muito interessado naquela resposta. — Você sempre come suas torradas e rouba uma das minhas.

Draco riu, no prato de Hermione jazia apenas uma fatia de pão.

— Pensei que ficaria brava com isso.

— Não consigo ficar brava com você por muito tempo, acabo rindo de algo que diz e nos beijamos para “selar” a paz. — Explicou, mordendo a torrada com geleia. — Não sei se lembra, mas depois do nosso primeiro beijo você fez uma viagem para algum curso de especialização e não me avisou. Fiquei realmente chateada com sua falta de sensibilidade e pensei que tinha sido mais uma na sua lista...

Draco sinalizou para que Hermione parasse com a história. Na sua cabeça as imagens juntavam-se como num quebra-cabeça, o beijo em Hermione e a forma que se sentira ao tê-la nos braços. O curso entediante sobre a varíola do Dragão e de como Hermione ignorou-o no Ministério.

— Eu encurralei você numa sala vazia e a beijei para me desculpar por tê-la feito pensar que tinha sido apenas uma diversão. — Completou e sorriu diante da expressão de surpresa no rosto de Hermione. — Você riu dizendo que não considerava um beijo como diversão!

— Diga que se lembrou de tudo. Por favor? — Pediu unindo as mãos em frente ao corpo. Mas Draco encolheu os ombros como fazia quando precisava contar uma notícia ruim, já o vira naquela posição. — Tudo bem.

Levantou-se como se tivesse perdido uma batalha, e mesmo a postura rígida que tentou manter não enganava Draco. Estava desapontada com o pouco avanço que haviam tido desde então, mas mostrava-se sempre disposta a tentar fazê-lo se lembrar. Jogou a capa sobre o corpo e despediu-se do marido com um aceno.

— Bom trabalho. — Murmurou ao vê-la fechar a porta.

O dia de Hermione foi entediante ao extremo, focou na papelada que recebia a cada minuto e deixou a punho percorrer nos pergaminhos, assinando e corrigindo o que fosse necessário. A tarefa não exigia muita atenção, a qual não teria nem se precisasse. Sua cabeça estava em Draco, nos momentos que tiveram um ao lado do outro até ali.

Eram companheiros inseparáveis e devia isso à ele, a compreensão. No fim da tarde já começara a formar um plano para ajuda-lo.

Draco voltou à normalidade com a rotina agitada do Hospital, não parecia ter ficado tanto tempo afastado do trabalho. Quase atendeu a um chamado no Ministério, mas um colega que estava substituindo-o até segunda ordem foi mais rápido e indicou-o um paciente necessitado.

Tratou alguns casos de azarações bastante simples, mas também retirou uma varinha partida ao meio do peito de um bruxo — o que considerou emocionante e curioso. No fim do dia cumprimentou Ethan e aparatou de volta para casa.

Hermione destrancava a porta quando aproximou-se. Surpreendendo-se com a velocidade da esposa para alcançar a varinha no coldre preso em sua coxa, ergueu as mãos acima da cabeça e riu, enquanto Hermione bufou e guardou a varinha de volta.

— Poderia tê-lo jogado do outro lado da rua. — Ralhou sacudindo o molho de chaves enquanto gesticulava. — Eu seria capa do Profeta Diário, consigo até ver a manchete: “Hermione Malfoy estupora marido e o deixa em coma... Novamente”.

Draco segurou seu rosto com as duas mãos e riu ao perceber que conseguia calá-la com a proximidade.

— Estou bem aqui na sua frente, ansioso para saber do seu dia como um bom marido faria!

Hermione sacudiu a cabeça e riu.

— Bem, você definitivamente não é um bom marido. — Abriu a porta e deixou o casaco no gancho ali ao lado.

— Sério? Pensei que fossemos aqueles casais utópicos que nunca brigam. — Comentou imitando-a, mas ao invés do casaco, pendurou o jaleco. — Por que, exatamente, eu não sou um bom marido?

Hermione jogou-se no sofá e esticou as pernas como se desejasse fazer aquilo o dia todo. Girou o pescoço, esticando-o e ronronou como um gato.

— Não é que seja um marido ruim, só temos alguns problemas. — Draco levantou suas pernas, sentou-se e posicionou-as em seu colo, aproveitando a proximidade para massagear os pés de Hermione. — Quando está irritado você me repele e odeio isso!

Draco usou os dedos para apertá-la na planta dos pés, massageando os pontos doloridos.

— Conte-me. — Pediu e Hermione entendeu exatamente do que ele falava.

Esticou as costas preparando-se para mais uma lembrança, aquela, porém, não era tão boa quanto as outras que tinha para contar. Engoliu a saliva parada em sua boca e abriu os lábios, deixando a memória fluir em sua cabeça.

— Recém havíamos chegado da lua de mel, e você trabalhou até tarde naquele dia. — Olhou-o para ter certeza de que prestava atenção para só então continuar. — Quando chegou foi direto para seu escritório, acordei com o som de vidro quebrando e desci para ver o que estava acontecendo e encontrei uma verdadeira bagunça...

A imagem ainda estava bastante nítida.

O escritório parecia ter sido bombardeado, muitos frascos estavam em pedaços no chão, assim como poções entornadas misturavam-se no assoalho. O mais assustador foi na verdade ver Draco apoiado na bancada, as mangas da camisa respingadas de sangue e a expressão desolada no rosto.

— Draco, o que aconteceu? — Perguntara assim que conseguiu entender um pouco do que havia acontecido. — Está tudo bem?

— Me deixe, Hermione. — Desde que se conheceram de verdade a voz de Draco nunca havia sido tão fria quanto naquela noite. — Quero ficar sozinho!

Hermione fechou o robe de seda — um presente de Gina — e tentou aproximar-se mais uma vez. Descalça, sentia o frio subir por suas pernas nuas. Maldita noite que escolhera a camisola.

— Draco, por favor...

— Não me ouviu? Quero que saía daqui agora, preciso ficar sozinho. — Elevou a voz e arrependeu-se no momento em que Hermione hesitou, mas manteve-se firme. — Vá embora.

Um frasco caíra como se para intensificar a ordem de Draco.

Hermione virou-se com a expressão mais vazia que já produzira, sem saber o que pensar daquela atitude de Draco. No segundo passo para se afastar pisou nos afiados tubos de ensaio quebrados e arfou com a dor, apoiando-se no arco da porta para manter-se de pé e não piorar o ferimento.

Draco esqueceu-se imediatamente dos problemas e correu para socorrê-la, erguendo-a do chão. Carregou Hermione até a escrivaninha onde deixou-a sentada sobre alguns papéis.

— Vou ter que tirar isso antes de qualquer coisa. — Avisou e ajoelhou-se para obter um posicionamento melhor.

Hermione mordia os lábios e não emitiu qualquer ruído durante todo o processo. Draco tirou cada pedacinho de vidro do pé da esposa e limpou sangue para só então usar um feitiço de cura. Nessas horas agradecia por ter alguns “equipamentos” médicos em casa dentro daquela gaveta que torcia para nunca precisar abrir.

— Obrigada. — Analisou o conteúdo sujo dentro de um pote metálico e saltou da mesa.

Draco saíra da sala com uma pá de lixo cheia de cacos de vidro, usara a varinha somente para a parte líquida, como um castigo. Hermione seguiu-o até a sala, onde observou-o sentar-se no sofá segurar a cabeça — estava com problemas. Ajeitou o robe mais uma vez e ajoelhou-se na frente de Draco, onde lentamente tomou seu rosto entre as mãos delicadas e pequenas.

— Me deixe ajudar, por favor. — Pediu encarando os olhos cinza tempestuosos que pareciam ter entrado numa batalha interna. — Draco...?

— Não consegui salvar uma paciente hoje. — Disse.

— E-eu sinto muito. — Murmurou sem saber se o silêncio era melhor.

Draco ergueu o olhar para vê-la, mas acabou por intensificar o momento e abraçou-a com força contra seu corpo, sentindo-a em cada músculo.

Jamais contaria por orgulho, mas fora o olhar da paciente que lhe abalara tanto, foi um momento íntimo que somente ele entenderia. Estava a beira da morte e mostrou-lhe um sorriso quando não sabia mais o que fazer, confiava no médibruxo ao seu lado e deixou-o sabendo que não havia o que ser feito.

A garota aceitara a morte.

— Me senti impotente... Inútil!

— Tenho certeza que fez tudo ao seu alcance, Draco. — Afastou-se para que pudesse olhá-lo. — E eu te amo por isso, jamais desistiria e se aconteceu não foi sua culpa, tenho orgulho de você!

Draco colou suas testas e fechou os olhos, controlando as lágrimas que começavam a nascer no canto de seus olhos.

— Ainda brigamos pelo mesmo motivo: você me afasta. — Explicou por fim. — Mas agora sabemos lidar com a situação toda.

Draco escorregou a mão pelo sofá até encontrar os dedos de Hermione.

— Nunca vai desistir de mim, não é?

— Nunca, Draco. — Entrelaçou seus dedos aos de Draco e apertou-os de leve. — Não posso, mas preciso que não desista de nós, não vou conseguir sozinha. E por favor, se um dia acordar e tiver certeza de que não pode continuar, me diga.

Draco assentiu e fechou os olhos.

— Não vou desistir!


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer muito à Catnip224 pela recomendação: foi demais!