Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 8
Capítulo 7 - Morte na Castelobruxo


Notas iniciais do capítulo

Está sem banner porque perdi o PSD ;-;



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─ Você tem certeza disso? ─ questionou Maria Flor, entrando com Miguel no salão da torre principal. O céu estava fechando, cobrindo o sol da tarde com nuvens carregadas. Era hora do lanche. Poucos alunos estavam ali.

─ Sim, só se me deram uma droga pesada na enfermaria ─ Miguel respondeu, sentando-se na primeira mesa que encontrou. Maria se sentou na cadeira a sua frente e, quando perceberam, um feixe de luz os envolveu e eles começaram a levantar junto das cadeiras e da mesa redonda. Miguel, assustado, se agarrou ao encosto em todo percurso para cima ─ Odeio altura ─ ele bradou quando finalmente pararam no ar.

─ Tá, então porque eu nunca ouvi falar desses tais Apogeus? ─ ela perguntou confusa. Para Miguel, Maria Flor não saber de algo era realmente estranho.

─ Talvez os bruxos tentem esconder a história deles ou algo assim... ─ ele respondeu, percebendo um pedaço de papel surgir na mesa. Ele o pegou e leu em voz alta ─ Quando quiser comer, basta apenas dizer o que ─ e então sua mente se poluiu com uma piada maliciosa e ele gargalhou.

─ Que foi?

─ Você não ia gostar de saber... ─ ele respondeu. Ela deu de ombros e soltou seus cabelos do coque que os prendia. Suas madeixas flutuaram magicamente com o feitiço de levitação.

─ Hum... ─ ela rosnou ─ Tapioca, pasta de amêndoas e suco de laranja ─ ela solicitou. Instantaneamente, uma fadinha do tamanho de uma mão surgiu e trouxe consigo um prato de tapiocas, outras duas vieram, trazendo a pasta, e uma veio sozinha, carregando o suco. Elas deixaram sobre a mesa. Maria Flor sorriu ─ Obrigada! ─ ela agradeceu, as fadinhas mandaram beijos e foram embora.

Miguel observou que, pela primeira vez, a amiga comera com bastante vontade e não apenas mordiscou as coisas pelo prato. Ele já estava se preocupando com isso.

─ Bom... Eu não sei o que pedir. Mas, enfim, você tem certeza que nunca ouviu esses nomes? ─ ele questionou. Maria engoliu um pedaço de tapioca untada com a pasta de amêndoas, pensativas.

─ É, não. Mas se eles forem realmente os fundadores das casas deve haver outros livros... Afinal de contas, porque você não trouxe o livro em que você descobriu sobre eles? ─ ela perguntou, bebendo o suco.

─ Porque ele é de um menino com qual dividirei um beliche na torre dos Arabelos ─ ele respondeu, convicto. Maria torceu o nariz e olhou para o copo de suco.

─ Azedo ─ ela disse, depois, o jogou na mesa satisfeita ─ Estranho, porque ele estaria estudando uma matéria que não entra no histórico? ─ Miguel deu de ombros ─ Enfim, depois das aulas a gente vai a biblioteca e pesquisa sobre isso ─ ela disse. Seguidamente, saltou da cadeira. Miguel arregalou os olhos, assustado, e rapidamente olhou para baixo, percebendo que a amiga caía serenamente, carregada por um brilho rosado, que a conduziu até o chão ─ Você vem? Temos aula de feitiços agora!

Miguel ficou receoso quanto a se atirar de lá de cima. Não era um grande fã de altura. Mas não teve muita escolha, já que a cadeira se virou e ele despencou para o chão, envolvido nos brilhos rosa, por cerca de dez metros de altura. Quando chegou ao chão, suspirou aliviado.

─ Detesto altura ─ ele comentou. Maria Flor riu e caminhou para fora da torre principal. Felizmente, a chuva estava muito branda, não causando grandes danos.

Eles passaram pelo pátio xadrez e foram para a torre dos Javalentes. A sala de Amara era a primeira da torre, diferentemente dos Golfinos, não havia ordem alfabética entre as matérias. Miguel estava ansioso para essa aula. Feitiços soava interessante e, por este motivo, foi o primeiro a passar pela porta e se encantar com a decoração dali: um chão de pedra, que se estendia pela sala, que também era maior por dentro, paredes adornadas com tecidos dos mais diversos povos e culturas, eram estampas africanas, indígenas, chinesas, egípcias e etc.

Aquela sala era uma verdadeira divergência cultural, com objetos de diferentes nações espalhados por todo lado.  Miguel observou estatuas gregas, hieróglifos egípcios, tapetes persas, lanças africanas e cocares indígenas por todo o lado, além de um quadro negro preso a raízes na parede.

Havia muitas cadeiras com carteiras embutidas enfileiradas ao redor da mesa de Amara. Alguns conhecidos estavam ali, como Karine, Discórdia, Fernando e Daiana. Miguel e Maria entraram e se ajeitaram na fileira da frente, que estava bem vazia, aliás.

─ Bom dia meus dengos! ─ exclamou Amara, entrando na sala acompanhada de uma bela jovem de cabelo blackpower, olhos verdes e corpo magro. Como sempre, a professora trajava uma túnica extravagante, porém, elegante de estampas tribais. Ela se sentou na mesa, enquanto a mocinha se sentou ao lado de Maria Flor. Ela não era uma aluna, já que era visivelmente mais velha ─ Bom, essa é minha sobrinha Dandara. Ela está fazendo estágio comigo esse ano… Acabou de chegar da Uagadou, onde foi professora ─ a mocinha acenou para os alunos e sorriu.

─ Prazer em conhecer vocês ─ e então tirou sua bolsa do ombro e colocou sobre a mesa.

Amara sorriu, retirou do bolso sua varinha, apontou para o quadro negro e começou a escrever no ar. Suas palavras iam surgindo na lousa como se ela estivesse escrevendo em giz. Todos os alunos pegaram caderno e caneta e começaram a anotar:

IMITARI-EQUALIS

O Feitiço da imitação

─ Recentemente, nossa escola foi invadida por uma criatura ardilosa: O fanfarrão ─ começou Amara, tendo a total atenção dos alunos ─ O fanfarrão tem a habilidade de imitar pessoas e, como a curiosa professora que eu sou, achei que seria interessante trazer algo semelhante para vocês estudarem em sala. Vejam − ela disse, tirando do pescoço um colar foleado a ouro, apontando a varinha para ele e a remexendo pelos lados ─ Imitari-equalis! ─  e, da ponta de sua varinha saiu uma luz dourada, que caiu no chão, se modificou e tomou a forma do colar da professora. Ela se abaixou, pegou a cópia e mostrou para os alunos ─ Esplendido, não? ─ todos da sala aplaudiram assiduamente o feitiço de Amara, ansiosos para tentar ─ Para cortar a alegria dos gananciosos de plantão, o feitiço não é eterno. Ele tem uma duração de tempo variável de acordo com o objeto e o poder do bruxo. Bom, tenho um desafio a vocês: Quero que escolham um objeto e façam uma cópia. Aquele que fizer uma que dure mais que a dos outros ganha um prêmio!

Todos da sala ficaram eufóricos e nem esperaram o consentimento de Amara para começar o feitiço. Maria Flor se lembrou da flor dada por Jabuticaba e resolveu a usar como cobaia, enquanto isso, os objetos entre os demais alunos variavam, alguns usavam canetas, outros usavam acessórios, como relógios e colares e Miguel decidiu usar o que de mais interessante tinha: Seu muiraquitã.

─ Imitari-equalis! ─ exclamou Maria Flor, apontando para a flor. Da ponta de sua varinha respingou uma luz branca, que caiu sobre a mesa e tomou a forma de sua dália. Estava perfeitamente igual a original. A bruxinha sorriu, agarrou as flores e colocou uma em cada orelha ─ Não é difícil… ─ comentou. Miguel sorriu para a amiga, retirou o muiraquitã do pescoço e colocou sobre a mesa.

─ Imitaris-equalis! ─ exclamou Miguel, chacoalhando a varinha, esta que, começou a tremer e liberar um grande brilho verde-claro, que se tornou uma enorme bolha de plasma. Todos da classe ficaram estupefatos, pararam e observaram aquilo com medo. Amara, inclusive, já havia tirado a varinha do cinto e estava pronta para usar, quando enfim a bolha estourou, lançando um vento brilhoso por toda a sala e deixando apenas a cópia do Muiraquitã no chão. ─ Ta tudo bem… Eu acho… ─  ele comentou, pegando a imitação do chão e comparando com o original. Eram realmente identificas. Ele colocou o colar no pescoço e sorriu orgulhoso.

Meia hora de tentativas ─  em sua maioria, frustradas ─  todos os alunos conseguiram completar o feitiço. Todos clonaram coisas pequenas, na esperança de que assim o feitiço durasse mais. Dandara ficara de olhos atentos sobre a sala, trocando poucas palavras de quando em quando.

Amara finalmente se pôs de pé, pegou sua varinha e a girou apontando para o alto. Um som agudo ressoou por toda a sala. Todos ficaram em silêncio.

─ Bom, por hoje é só. Vejo vocês amanhã ─ ela disse. Todos os alunos foram se ajeitando e saindo da sala.

Miguel juntou seus dois livros, se levantou da cadeira e puf! Bateu em Dandara, que veio em contrapartida pelo outro lado.

─ Desculpa, não te vi ─ ela comentou, agarrando os objetos que deixou cair no chão. Miguel se abaixou e ajudou a moça, pegou um dos livros que ela tirou da bolsa durante a aula e derrubara na batida, e o entregou para Dandara, não aguentando a curiosidade e lendo seu título: Contos de Bruxos –Obrigada, quase sempre sou um desastre –disse ela, guardando o livro e seguindo para fora.

− Que aula você tem agora, Maria? – perguntou Miguel a amiga que o aguardava do lado de fora. Ela abriu o livro e leu seu horário, enquanto juntos caminharam para fora da torre javalente.

− Defesa – respondeu. Miguel também olhou em seu horário e sorriu ao ver que compartilhavam a mesma aula.

− Eu também – e então, seguiram pelo pátio xadrez na direção da torre mais afastada, a dos tarantavelicos, onde lecionava o professor Petrônio.

A torre tarantavelica ficava a cerca de cinquenta metros da torre principal e ficava alinhada a torre golfina horizontalmente, cujo compartilhavam um túnel de plantas que se conectava a ambas. Muitos alunos matavam aula ali durante o dia e a noite fugiam da escola para namorarem escondidos.

Para evitar encontros indesejados com alunos encrenqueiros, os amigos decidiram seguir pelo pátio xadrez e evitar o túnel. Não haviam muitos alunos ali, apenas quatro-anistas trocando baboseiras enquanto a Aldrina não chegava para estragar sua alegria.

Durante o trajeto Ma. Flor e Miguel trocaram poucas palavras sobre as aulas. Estavam mais interessados no muiraquitã e seus mistérios.

− Pode ser que seja só coincidência – ela disse. Miguel alisou os cabelos e olhou em frente. Maria desviou o olhar para o pescoço do rapaz, percebendo apenas um relevo – Xi... Parece que seu feitiço não durou muito... – comentou. O rapaz de imediato puxou a corrente em seu pescoço e esboçou tristeza ao ver que seu feitiço havia acabado.

− Uai, achei que ia durar pelo menos uma hora... – ele disse entristecido. Maria deu-lhe amigáveis tapinhas no ombro, sorridente. Ela odiava ver as pessoas de que gosta tristes.

Ela estava pronta para falar algo, quando do céu surgiu uma criatura negra e veloz, que agarrou uma das flores de sua orelha e voou na direção sul. Foi questão de segundos para a garota se dar conta da situação e correr atrás da ave desesperadamente, Miguel, sem escolha, partiu atrás da amiga e percorreu todo pátio, chegando a lagoa e indo a oeste, onde havia uma grande ruína e um jardim mal cuidado, com árvores esqueléticas e estátuas de marfim quebradas com trepadeiras as consumindo. O corvo parou em um dos muros cobertos de relva, crocitou e arranhou as garras na pedra bruta e atirou a flor no chão. Maria pegou sua dália e se aquietou, assustada, Miguel surgiu e parou do seu lado.

Eles encaravam a ave com demasiado medo. Ela tinha olhos ferventes e vermelhos, que pareciam dançar com a luz do sol da tarde. Aquele lugar era macabro, de fato.

− Eaí juventude – exclamou Rafael, chegando ao jardim e acordando a dupla de seus devaneios. Ele estava com roupas surradas e sujas, com o que parecida ser cocô de ave.

− Rafael? O que você ta fazendo aqui? – questionou Miguel, olhando para o professor com medo. Uma ruga de confusão surgiu na testa do Pavanelli, que coçou seus cabelos e olhou para a dupla.

− Estava cuidando das aves do Ninho – e então ele apontou para uma construção redonda no alto de uma das ruínas – Mas e vocês? O jardim dos suicidas não é um bom lugar para se estar! O clima daqui é muito pesado para gente jovem... Andar por aqui é o mesmo que desejar perder a felicidade... – ele perguntou preocupado. De fato. Desde que chegara nesse jardim a felicidade de Miguel sumiu... Como se nunca tivesse existido...

− A gente veio atrás de um corvo... – Maria Flor respondeu incrédula. Rafa esboçou mais confusão ainda.

− Corvo? – questionou assustado – Mas não existem corvos no Brasil! – e então ele coçou o queixo – Bem, o professor Petrônio tem um, mas ele o conseguiu em uma viagem até Hogwarts... Ganhou de presente de um dos professores...

Maria desviou o olhar para o muro onde o corvo estava e percebeu que ele havia sumido feito mágica, sem deixar um sinal sequer de sua passagem. Seu coração acelerou e seu corpo se arrepiou, enquanto um calafrio de mau pressentimento percorreu por si. Uma lágrima caiu de seus olhos e um estrondoso som os alardeou, era um grito vindo da escola.

− Mas... – Rafael sibilou, pronto para correr para torre, mas antes parou diante da dupla, assustado – Vocês vem comigo! – ele ordenou e os alunos não relutaram.

Juntos do professor, deixaram o jardim dos suicidas e voltaram para a área da escola, onde centenas de alunos e funcionários se aglomeravam, em frente a torre dos tarantavelicos. Rafa já foi logo abrindo caminho pela multidão, acompanhado de Miguel e Maria. Estavam todos ao redor da sala de Defesa. Amara acalmava Amélia, que puxava os próprios cabelos e se debulhava em lágrimas, assustada. O Pavanelli os deixou no meio da multidão e se juntou aos outros professores na sala de Petrônio. Maria apertou a mão de Miguel assustada.

Todos ao redor sussurravam com medo. Os alunos tremiam, esperando por noticias, enquanto a dupla continuava sem entender o que se passava. Então, do meio da multidão, Carioca surgiu, com as orelhas baixas e com um olhar de tristeza.

− Rodrigo? – Miguel chamou, não aguentando mais tamanho mistério. O amigo olhou e foi a seu encontro cabisbaixo – O que está acontecendo aqui?

Rodrigo relutou em dizer.

− O professor Petrônio... – ele começou – alguém matou ele... – ele disse. Ma. Flor, que já estava demasiado sentida, se debulhou em lágrimas. Ela sentia um medo terrível. Parecia que ela era a próxima a morrer. Miguel se fez forte, mas também sentiu um aperto no coração. Se não fosse aquele corvo eles teriam encontrado o corpo antes de Amélia, se não o...

− Assassino – sussurrou Miguel, com a mente clareada. Rodrigo e Maria lhe olharam curiosos – Alguém sabia que a gente tinha aula de Defesa e quis nos manter longe... Por isso o corvo! – indagou, os três trocaram olhares, enquanto da sala saíam dois homens com os rostos cobertos por um tecido negro, carregando consigo uma maca coberta. Tinha alguém lá.

Miguel olhou vorazmente para a maca, que, com o balançar dos homens, fez com que um braço saísse por uma fresta do tecido que o cobria. Ele estava pálido como um papel. Todos gritaram assustados e o rapaz fixou seu olhar na palma albina do cadáver, onde uma curiosa marca surgia em vermelho. Não era qualquer marca. Lembrava muito um sapinho de jade: o muiraquitã.

Miguel escancarou a boca, assustado, mas ele ainda estava com seu amuleto e, para ter certeza disso, puxou sua corrente do pescoço e colocou o muiraquitã sobre a mão, comparando a marca com o objeto. Eram idênticas. Se ele não estivesse com o seu colar, diria que o muiraquitã tinha feito aquela marca, afinal, ele já tinha feito uma igual em seu peito e... e... E, quando o  rapaz olhou novamente para a palma de sua mão, o objeto verde estava se desfazendo no ar, do mesmo modo que o colar da Amara e muitas outras cópias durante a aula se desfizeram.

Os três se entreolharam, estupefatos.


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