Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 7
Capítulo 6 - A Torre Exuberante


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura u.u



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Miguel abriu os olhos e se cegou momentaneamente com a claridade daquele lugar. Onde estava? Quem gritou por ajuda? Com quantos paus se constrói uma canoa? Ele não sabia.

Por fim, coçou os olhos e abriu novamente, com as pupilas já acostumadas com a luminosidade dali, onde ele tinha uma certeza latente de que era uma enfermaria. Olhou para os lados e só viu camas bem arrumadas, mesas com objetos cirúrgicos e uma cortina a sua direita, que tapava toda visão que vinha de lá. Observou que ainda estava com as mesmas roupas e com o muiraquitã no peito. Viu também sua varinha sobre a mesinha ao lado, sorriu e tentou a pegar, mas sons de passos na sala o fizeram se deitar na cama e fingir que estava dormindo.

Uma senhora magra e alta, com cabelo Chanel, roupas brancas e óculos de meia lua passou pela cama de Miguel, acompanhada por uma criatura de pele verde musgo, baixinha e com o nariz grande, com o mesmo formato do bico de um bule de chá, carregando nas mãos uma bandeja, com algo dentro que o infante não pode perceber.

─ Aqui, Regador ─ a senhorinha disse. A criatura bufou ofendida ─ Desculpe. Aqui, Magnólia ─ e então, a criatura, com demasiado cuidado, envolveu o que tinha na bandeja nas mãos e colocou sobre a cama. Miguel pode perceber, era um filhotinho de gato. Era peludo, mas o curioso é que seu pelo lembrava penugem, como um passarinho. Tinha olhinhos redondos e assustados, em um tom azul, orelhas caídas e uma tonalidade vermelha, ruiva, por se dizer.

Alba entrou na sala, acompanhada de uma moça loura de meia idade, nariz empinado e roupas extravagantes. Foram de encontro à enfermeira e olharam com dó a criaturinha.

─ O que houve com a família dele, Gioconda? ─ Alba questionou, sentando-se na cama e acariciando o gatinho.

─ O professor Rafael o encontrou sozinho nos limites da escola com a mata. Já é o terceiro essa semana ─ respondeu entristecida.

─ Quem em sã consciência machucaria esses animais-fada? Eles são a personificação da inocência! ─ disse a moça loura, indignada. A criatura verde-musgo percebeu Miguel de olhos abertos e puxou o uniforme da enfermeira, apontando para o rapaz.

─ Oh, finalmente acordou! ─ disse Gioconda, caminhando em direção do rapaz, que se sentou na beirada da cama ─ Reg... Magnólia, traga um docinho pro rapazinho aqui! ─ ela pediu, a criaturinha se aproximou de Miguel e lhe deu uma barra de chocolate.

─ O que aconteceu na aula? ─ ele questionou confuso. Alba se levantou e foi-se até o aluno com um olhar preocupado.

─ Você desmaiou e, pelo que ouvi, não foi à primeira vez ─ ela respondeu preocupada ─ O que você tem, Sr. Apogeu? ─ Miguel revirou os olhos e ergueu os ombros, respondendo que não sabia. A moça loura caminhou até Alba e sussurrou algo em seu ouvido ─ Acho melhor não, Isabel. Miguel está debilitado, não acredito que esteja apto para falar com aquelas harpias.

─ Então, o que direi a eles? ─ ela perguntou. Miguel ficou de orelha em pé, tentando entender a conversa.

─ O que eles devem ouvir: Que vão procurar outras vítimas no raio que os parta ─ se intrometeu Gioconda, irritada. Alba riu, enquanto Miguel continuava a ver caravelas.

─ Desculpa, mas vocês sabem que eu ainda estou aqui? ─ ironizou o rapaz, irritado com o fato de que ninguém lhe dava uma explicação.

─ Ah sim, querido, perdão. É que alguns jornalistas estão querendo ter uma palavrinha com você, afinal, não se veem infantes há muitos séculos, arriscaria dizer milênios ─ respondeu Alba, voltando a ficar de pé e ajeitando seus óculos redondos. Miguel não achou muito convidativa a ideia de dar uma entrevista, mas também não queria parecer mal educado. Então, ponderou, enquanto coçava os cabelos.

─ Bom, ta-talvez eu possa falar um... ─ ele começou, mas fora interrompido no meio da fala com a chegada de uma espevitada moça de poucos anos de idade, com cabelos ondulados, presos em chuquinhas um tanto infantis, com olhos mel e roupas da moda. Ela chegou empurrando a todos os presentes, derrubando Regador no chão e estendendo a mão para Miguel.

─ Talita Trindade, do Feiticeira Cega, é um imensurável prazer ─ ela disse, chacoalhando o braço de Miguel. Isso sim era dar a mão para alguém que queria um braço.

─ Migu... ─ e novamente sua fala foi cortada com a porta se abrindo sem nenhuma delicadeza. Dessa vez entrou um rapaz de cabelo boi-lambeu, com roupas coloridas, pele bronzeada e baixa estatura. Logo de cara encontrou seus olhos aos de Talita e fez uma expressão de ódio, adentrando no quarto em um desfile lento, sem desviar o olhar da moça.

─ Que dizer que a Ajudante da Lulu já chegou aqui? ─ ele disse enojado. Miguel ouvira em algum momento que Lulu era uma bruxa que trabalhava com público infantil, como uma Xuxa da vida. Talita torceu o nariz.

─ Alba, devia melhorar o controle de pestes daqui. Os Abutres estão invadindo a escola ─ provocou a moça. O rapaz se aproximou de Miguel, deu um empurrão em Talita com o quadril e estendeu a mão para o garoto.

─ Guilherme ─ começou. Miguel apertou sua mão ─ Gui Guilhotina, do Bruxa Surda ─ completou, Talita tossiu, dizendo “mentira” simultaneamente. Gui lhe olhou com seu pior olhar de desprezo. Ele se defenderia, mas a chegada de uma terceira pessoa, uma moça de olhos puxados, cabelos longos com franja cobrindo toda a testa e um vestido florido, onde os desenhos (Como borboletas) se mexiam e voavam para aqui e para lá, tomou a atenção de todos. Ela escancarou a boca, assim como os outros dois recém-chegados.

─ Suas ‘jaguatilhicas’ ─ ela xingou, com dificuldade nas palavras ─ Kimy devia ter imaginado que vocês estava aqui, roubando cliente de Kimy! ─ ela disse irritada, fazendo uma reverencia a Miguel, curvando seu corpo ─ Kimina Kaoti, mas pode chamar Kimy, do Maga Muda!

Miguel se esforçou para não gritar para que Alba lhe tirasse daquela eminente batalha de jornalistas. As cruzadas de olhares de ódio entre os três se intensificaram, com o amedrontador som do silencio de trilha sonora. Ele era como carne sendo disputada por cães ferozes. Era assustador.

─ Ora, ora, ora ─ outra voz surgiu no recinto. Miguel desviou o olhar, percebendo uma quarta pessoa, com aparência mais madura e de nariz em pé, com roupas elegantes sobre um corpo alto de supermodelo. A moça tinha olhos lilases e uma pele clara como leite, que chegava a reluzir com o toque da luz do sol. Seus cabelos eram da mesma cor dos olhos, lisos e longos, soltos no estilo Mortícia Addams. Dentre tudo na moça, o que mais chamou a atenção de Miguel foram as orelhas: Grandes e afiadas, bem maiores que a do amigo Meio-elfo ─ Não briguem assim, ou o rapaz aqui vai pensar que vocês são inimigos ─ ela disse irônica. Entrando na sala e sentando-se na cama do gatinho ferido, o qual ela acariciou delicadamente.

─ Inimigos? ─ disseram os três bruxos simultaneamente. Depois, riram falsamente de uma forma histérica e trocaram beijinhos entre si no estilo francês. Miguel coçou a cabeça confuso e observou que Alba e Isabel haviam saído de fininho, provavelmente a algum tempo.

 ─ Somos BFFS ─ disse Gui.

─ Melhores amigos ─ complementou Talita.

─ A gente só bliga de vez em quando ─ finalizou Kimy. A elfa sorriu de maneira estranha, se pôs de pé e foi-se até Miguel, lhe estendendo a mão.

 ─ Verônica Liz ─ ela se apresentou. Miguel apertou sua mão e forçou um sorriso. A verdade é que ele queria sair dali o mais rápido possível. Os três outros fuzilaram a elfa com os olhos ─ Do Espelho Meu, o maior e melhor site e jornal da América Latina ─ ela completou convicta. Talita bufou e fez careta.

─ Metida ─ sussurrou Gui ─ Enfim, estou pronto para sua entrevista, Sr. Miguel ─ ele disse, retirando a varinha da manga do terno, dando duas giradas e fazendo surgir no ar um bloquinho e uma caneta. Ele os agarrou, se sentou ao lado de Miguel e cruzou as pernas.

─ Opa, opa! ─ bradou Talita irritada ─ E o que te faz acreditar que sua entrevista vai ser antes da minha?

─ Ora, todos sabem que o Bruxa Surda tem prioridades sobre os demais jornais, afinal, vocês todos são um grande plágio. Basta ver a semelhança nos nomes ─ ele respondeu convicto. Talita e Kimy torceram o nariz. No fim, ele estava certo, não haviam argumentos contra sua resposta. Veronica revirou os olhos, retirou da bolsa seu aparelho MP3, colocou os fones nos ouvidos e se aquietou. Ela era esperta, já previa o que ia acontecer.

─ Você é muito do folgado, sua jalalaca de jaleco! Kimy vai antes ─ gritou a bruxa oriental, indo até a cama de Miguel e jogando Gui no chão. Ele se levantou, limpou a calça e ajeitou o cabelo, depois, agarrou a varinha e deu duas viradinhas, quando Miguel percebeu, a jarra de agua trazida por Gioconda flutuou pela sala e derramou todo o liquido sobre Kimy.

Talita gargalhou histericamente. Kimy ficou vermelha de ódio, retirou a varinha do bolso, apontou para os baldes de lixo pelo quarto, disse algumas palavras em uma língua esquisita e, segundos depois, eles voaram pela sala e despejaram tudo que tinham dentro sobre Gui e Talita, que até tentaram se proteger com os braços, mas ficaram cobertos com sujeira. Miguel meneou os olhos pela sala, observando as expressões dos jornalistas, que revelavam uma demorada disputa pela frente. Nas pontas dos pés, o rapaz desceu da cama e foi se esgueirando para fora, enquanto eles gritavam ofensas uns contra os outros.

Enfim, passou pela porta e seguiu pelo corredor. Quando já estava a alguns metros distante da sala, olhou para trás e viu que os três jornalistas haviam percebido sua fuga. Eles estavam imundos, molhados e com olhares de ódio um para outro e com olhos de gavião sobre Miguel. No fim do corredor, o elevador surgiu e tocou seu típico sininho. O rapaz começou a andar calmamente para trás, em passos lentos, enquanto seus perseguidores vinham no mesmo ritmo. Ele gritou desesperadamente enquanto retomou o ritmo rápido, para dentro do elevador, os três foram atrás, também a gritar e prontos para atacar.

Miguel entrou no elevador e praticamente socou o primeiro botão que viu, enquanto Talita, Gui e Kimy corriam em sua direção, como lobos atrás de um cordeiro. A porta se fechou quando eles estavam a poucos centímetros de entrar. Miguel bufou aliviado, limpando o suor de sua testa.

O elevador se abriu segundos depois. O indicador informou que ele estava no primeiro andar. Ele suspirou e se olhou, percebendo que não lhe faltava nada. Caminhou pelo corredor e saiu da torre principal, encontrando alguns alunos conversando no pátio xadrez. A única pessoa que conhecia dali era Doralice, os outros eram alunos do segundo e terceiro ano. Então, pensou em seguir em frente.

─ Ei, Miguer! ─ gritou Doralice afobada, deixando a rodinha de amigos e caminhando até o rapaz. Ele a olhou, com um pouco de pressa, queria estar longe desses jornalistas o mais rápido possível ─ A Ardrina mando entrega isso para ocê! ─ e entregou um pergaminho enrolado e preso com uma cordinha. Ele abriu e se pôs a ler, descontente.

Pela fuga da primeira aula de história do ano, o Sr. Miguel Fonseca Apogeu foi castigado com uma hora de aulas suplementares na noite dessa sexta (03/03) às 19 horas, logo após o jantar, na classe da Ilma. Srta. Aldrina Moreira Pigmeu.

Atrasos resultam em aumento do castigo.

─ Nossa, fiquei desmaiado tanto tempo assim? ─ ele questionou assustado. Doralice deu de ombros, sem saber o que responder ─ Enfim, eu estive na enfermaria. Ela não pode me castigar por isso.

─ Uai. Disseram isso memo, mas parece que a Ardrina vai te castigar mesmo assim ─ respondeu Doralice, convicta. Ela, com as bochechas coradas, começou a alisar suas tranças e olhar envergonhada para Miguel ─ Mais confesso que vou gosta de ter ocê nas aulas ─ ela disse sorridente, vermelha como tomate. Miguel coçou a cabeça sem saber o que dizer. Ele estava arrasando corações na Castelobruxo, de fato.

─ Bom, é. E, porque você esta de detenção? ─ questionou envergonhado.

─ Uai, é que eu tava tomando banho na piscina no jardim ─ ela respondeu, fazendo biquinho.

─ Mas ... ─ disse Miguel, confuso. Ele olhou novamente para a caipira e arregalou os olhos quando pensou direito no assunto ─ Vo-você tomou banho na fonte? ─ ele perguntou assustado. Doralice assentiu com a cabeça. Miguel engoliu seco, sem saber o que dizer, fez a primeira coisa que veio a sua cabeça: ─ Gabrielaa!  ─ cantarolou estupefato. Doralice gargalhou.

“Sai pra lá sua mocreia asiática” “Sua cliatula azeda. Sai você, Kimy é a primeira a deixar elevador” “Não me empurrem não, suas araras depenadas”. Miguel conhecia muito bem essas vozes que ressoavam pela torre principal. Ele suou frio, Doralice rapidamente percebeu que havia algo errado.

─ Ta tudo bem Miguer?

─ Queria que estivesse ─ ele respondeu, coçando a cabeça ─ Imagine que tem três malucos atrás de você. O que você faria?

─ Eu me escondia, uai ─ ela respondeu convicta . Miguel se estapeou, sentindo-se estupido por não ter pensando em algo tão óbvio. Estava próximo a ir para a torre dos Javalentes, quando Doralice lhe puxou pelo ombro ─ Na torre dos Javalentes não seu bobo. Eles vão procurar lá primeiro.

─ E que lugar você me sugere? ─ questionou, dando graças ao bom deus por Doralice. Ela parecia ingênua, mas não era boba. Ela sorriu e ergueu as sobrancelhas.

─ Na torre dos Arabelo. Você participa de lá e tarvez eles não vão até lá ─ ela disse. Miguel torceu o nariz, confuso se essa era a melhor opção ─ Não é a mió das ideia, mas é a única que cê tem!

─ Mas eu nã... ─ ele tentou falar, mas Doralice tapou sua boca, agarrou seu braço e o arrastou para a direção da torre dos arabelos.

Era... Exuberante! De fato. Miguel só conseguiu encontrar uma palavra bonita que descrevesse essa torre. Exagerada, exacerbada, brega e perua não eram palavras boas para demonstrar o que ele pensava da decoração. Basicamente, colorida, como a parada LGBT, com tons vermelhos roubando a cena. Quadros de antigos ‘filhos’ formados pelos Arabelos estavam por todos os lados, eram todos beldades. Aquilo parecia mais uma agencia de modelos do que uma casa da Castelobruxo. E quanto aos espelhos? Vários! Além de um perfumado aroma que mudava a cada sala em que passavam. Era... bem, exuberante.

Diferente dos Javalentes, o sistema de elevador dessa torre era muito mais mágico ─ e perigoso. Não era apenas entrar em uma cabine e apertar um botão. Aqui os Arabelos precisavam dar um jeito de fazer o elevador subir. Seja com mágica ou ciência, se você quisesse ir para outro andar precisava fazer essa coisa voar ou desistir e subir pelas escadas.

Doralice parou a frente do elevador e viu que indicava que ele estava no décimo andar. Ela sorriu.

─ Ótimo, não vamos precisar esperar que alguém puxe-o para cima ─ ela disse confiante. Miguel lhe lançou um olhar de confusão.

─ Do que esta falando? ─ questionou.

Bom, existe entre os Arabelos a tradição de sempre estar nas nuvens. A habilidade natural no esporte, com o voo livre se repete aqui ─ Miguel escancarou a boca com o modo e a cordialidade que Doralice falava, nem parecia à mesma. Para ele era assustador ─ No voo livre precisamos nos por no ar e vencer uma corrida com beleza e criatividade no voar, aqui precisamos ter criatividade para chamar e levantar o elevador e... ─ ela deu uma pausa demorada e forçou seus olhos, como se eles doessem ─ Do que nois tava falando memo? ─ e só então Doralice voltou ao normal.

Miguel não soube o que dizer. As palavras fugiram de sua língua. Então, olhou ao redor, fingindo que nada tinha acontecido e, ao olhar sua imagem em um dos centenas de espelhos da torre, viu que novamente duas bolinhas vermelhas surgiram sob sua camisa: era o muiraquitã, óbvio, mas desta vez, não querendo desmaiar novamente, o deixou de lado e voltou a encontrar sua atenção em Doralice, que já estava com a varinha empunhe, apontando para o poço do elevador, assim que a porta se abriu.

Bão, minha mãe me ensinou um feitiço para levantar com o elevador, zóia!  ─ ela disse, fechando os olhos e balançando sua varinha de jatobá ─ Sarteunaveis ─ enfeitiçou, Doralice. Uma bolha vermelha saltou da ponta de sua varinha, caindo no poço do elevador e começando a ter espasmos, aumentando e diminuindo seguidamente. Miguel achou o feitiço curioso. As palavras não eram o Latim ou o Espanhol de costume. A caipira deu uma risadinha, guardou a varinha e olhou para o colega ─ Nóis tem três segundos, antes da bolha estourar, para entrar no elevador.

Miguel arregalou os olhos, pronto para dizer que preferia ir pelas escadas, quando então Doralice socou o botão do elevador, que despencou em uma velocidade surpreendente do décimo andar, chegando no térreo e caindo sobre a bolha. A Arabela entrou de imediato, sem fazer hora, mas Miguel continuou digerindo o medo, quando ela, cansada de esperar, lhe agarrou pelo braço e puxou para dentro. Quase simultaneamente, o elevador se fechou.

Doralice sorriu ingênua, com Miguel ainda agarrado a seu braço. Eles se entreolharam. O infante corou e se desvencilhou da garota.

─ Des... e então, antes que ele pudesse se desculpar, a bolha estourou num estrondo e atirou o elevador em grande velocidade para cima. Miguel gritou assustado, Doralice gritou eufórica.

O elevador chegou ao ultimo andar e foi puxado para baixo novamente. Ele voltou ao térreo e novamente ganhou impulso, só que mais fraco, chegando apenas ao terceiro andar, onde a garota socou outro botão que o impediu de ser puxado novamente. Miguel estava estirado no chão, com ânsia de vômito. Doralice estava serelepe, eufórica com a aventura.

─ Ai meu... ─ Miguel sibilou, enjoado, mas acabou não terminando a frase. As portas do elevador se abriram em uma ala de dormitórios. ─ Que feitiço foi esse que você usou? ─ ele perguntou com dificuldade nas palavras.

─ Num é feitiço não, bobo. É Encanto ─ ela respondeu com uma risadinha. Miguel se pôs de pé com dificuldade e se escorou na parede do elevador, pálido de medo.

─ E qual a diferença? ─ perguntou. Ele queria distrair sua mente. Só pensava em vomitar. Eca!

Doralice coçou a cabeça, confusa.

─ Uai, só sei que faz uma bolha iguar chiclete. Ela impurra para cima e gruda na bunda do elevador, puxando pra trás! ─ respondeu. Depois, deu de ombros e empurrou Miguel para fora ─ Bão, ieu não posso passar daqui se não a Ísis me mata. É só procurar um quarto com vaga ─ ela aponta para quatro bolinhas vermelhas sobre a porta de um dos quartos ─ Cada um da para quatro... ─ suas bochechas se tingiram em escarlate com tamanha malicia que pensara ─ Pessoa!! ─ ela disse querendo corrigir seu erro ─ Quando tiver menos que quatro, tem vaga! Bão, inté ─ ela apertou o botão e a porta de fechou, acompanhando o grito eufórico da garota, torre acima.

Miguel coçou a cabeça e se fez aliviado pelo enjoo ter passado. Depois, seguindo as indicações de Doralice, foi caminhando pelo dormitório, olhando cada porta a procura e só foi achar no final do corretor, um quarto com três discentes. Se aproximou, bateu três vezes e ouviu o som de passos, acompanhados de duas distintas risadas.

A porta se abriu. Um rapaz de cabelos loiros cacheados, falha entre os dentes, sardas nas bochechas, casaco quadrilhado sobre o uniforme e um incontestável cheiro de arruda segurava a maçaneta. As risadas pararam. Um outro rapaz esticou-se para ver quem batia, dessa vez era alguém conhecido, Tijuca.

─ Mal nos conhecemos e já se apaixonou? ─ ele perguntou irônico. Miguel corou. Realmente, Tijuca era um tipo interessante ─ O que faz aqui, Miguel?

Ele se lembra do meu nome aaaaaaaaaaaaaaa ─ era o que ressoava na cabeça de Miguel. Se bem que, segundos depois, ele teorizou que Tijuca teve um motivo para não mais o chamar de bonitinho. Talvez vergonha por conta da presença dos amigos ou talvez ele só tivesse elogiado de brincadeira. Enfim, perdido em teorias, Miguel se esqueceu de responder a pergunta do rapaz.

─ Oba, mas uma pessoa bonita me deixa no vácuo ─ ironizou Tijuca, seu colega de quarto deu uma risadinha e puxou Miguel para dentro do dormitório.

Não era muito diferente do dormitório dos Arabelos, apenas a decoração era mais exuberante ─ se é que vocês me entendem. Miguel esperava algo mais ‘pah’ “Bem vindos ao Hetero World”, como fotos de mulheres de biquínis na parede, cuecas pelo chão e cheiro alarmante de testosterona. Acaba que tudo estava bem limpo e organizado. Apenas a parede próxima a um dos beliches estava mais deteriorada, com fotos de bandas de rock e guitarras.

─ Eu estou procurando um dormitório aqui e esse estava com vaga e─ parecia que Miguel estava pondo tudo para fora, falando absurdamente rápido. Efeito da vergonha que sentia. Tijuca riu.

─ Bom, aqui somos três: Eu, o Leonel ─ e o garoto com falha nos dentes acenou ─ e o Domenico, que deve estar fazendo as coisas esquisitas dele em outro canto. Quer mesmo entrar? Nós quase nunca dormimos, se é que me intende ─ e, no final das contas, Miguel não entendia, mas queria gritar que sim, como se estivesse sendo pedido em casamento, mas, no fim...

─ Sim ─ ele respondeu contendo a euforia. Tijuca e Leonel se entreolharam e gargalharam. Miguel, sem entender, fingiu um riso histérico, como dos três jornalistas na enfermaria. ─ Porque estamos rindo mesmo?

─ Era brincadeira ─ disse Leonel, enroscando seu braço no pescoço de Miguel. Seu uniforme era sem mangas e seu sovaco era peludo. Irc, a ânsia de Miguel voltou em um segundo. Pelo menos não cheirava mal ─ Minha mana estuda cocê, é memo? ─ ele questionou.

Doralice ─ Miguel concluiu.

─ Sim, a Doralice? ─ ele perguntou para ter certeza.

─ I, ela mema ─ e, finalmente, graças ao bom deus, ele se desvencilhou de Miguel e saltou na cama de baixo, no beliche com a parede cheia de fotos. Ele rosnou um ‘ah’ prazeroso e se espreguiçou. Tijuca estava de olho no seu relógio de pulso ─ Vai dividir a cama co Domeni, ele vai pirar!

─ A beliche ─ corrigiu Tijuca, se pondo de pé e levantando Leonel ─ A cama ele vai dividir com outra pessoa ─ e os olhos de Miguel arregalaram, seu rosto ficou vermelho e suas mãos inquietas ─ A esposa dele claro ─ sibilou. Miguel suspirou e forçou um sorriso. Tijuca caminhou para porta com o amigo com a falha entre os dentes ─ Agora vamos. A gente tem aula de Alquimia. Té mais, bonitinho! ─ e saiu indo direto para o elevador.

Miguel começou a analisar o quarto, em especial as coisas de seu companheiro de beliche. As fotos, os CDs, os livros e... E... Ele parou rente a pilha sobre sua cama, curioso com o título que havia lido na lombada de um livro velho “Os Quatro Apogeu”. Sem pensar duas vezes, o agarrou, sentou-se na cama de baixo e abriu na primeira página.

A real história dos quatro irmãos fundadores da escola Castelobruxo:

Leonardo, Augusto, Joana e Úrsula.

Úrsula... ─ Miguel rapidamente associou com o nome que gritaram quando desmaiou.

Curioso com tudo, começou a folear o livro e passar os olhos rapidamente pelas páginas, até que parou em uma pintura em especial: Era um homem bonito, de barba longa e negra, cabelos curtos e olhos lilases, mas o que realmente chamou a atenção de Miguel foi um detalhe pequeno e verde pendurado no peito do homem: Era o muiraquitã. Não qualquer. Era o seu muiraquitã.

 


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