Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 6
Capítulo 5 - Primeiros Tempos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
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Miguel se espreguiçava, ao ouvir o galo cantando a música do dia: Wild Ones. Nos primeiros acordes reconheceu a voz de sua cantora favorita, Sia e se perguntou o quão fã de pop o galináceo podia ser.

O quarto ainda estava uma algazarra. Os presentes que Miguel havia ganhado ainda estavam no chão, e, simultaneamente, iam chegando cada vez mais. Tudo se limitava a livros e bugigangas mágicas. Até peças de vestuário chegavam pelo Jouvidulus, já que ele podia jurar ter visto uma calcinha e pior, vermelha, no meio das tralhas.

Ele se pôs de pé e foi até o banheiro, retirou a camisa de pijama e alisou o muiraquitã, enquanto se olhava no espelho, com um olhar de curiosidade e medo mesclados. Miguel entrou no chuveiro e tomou um rápido, porém pensativo, banho onde sua família e a relação dela com o amuleto assolava seus pensamentos. Saiu, botou um uniforme, escovou os dentes e olhou em seu relógio de pulso: Oito horas. Quinze minutos para começar a primeira aula e os colegas continuavam dormindo.

─ Ô, Carioca! ─ disse Miguel, chacoalhando o amigo que, com muito, mas muito custo mesmo acordou, com olhar de poucos amigos. Miguel gargalhou e chacoalhou Fernando e Diego, que despertaram assustados.

─ QUE FOI MIGUEL? ─ gritaram os três, simultaneamente. O rapaz gargalhou e mostrou o relógio para os amigos, que se desesperaram e saltaram de sua cama e foram se aprontar.

Eles não viam problema em dividir o banheiro, então, enquanto Carioca tomava banho, Fernando escovava os dentes e Diego, bem, usava o ‘trono’. Miguel aproveitou o tempo em que esperou os amigos para ajeitar seu material da primeira aula: Astrologia. Betina pedia pouca coisa, apenas o livro Astrologia Ou A Arte De Saber Que Você Vai Se Dar Mal, a data e hora do nascimento do bruxo e a presença do aluno.

Astrologia soava interessante, porém, entediante, não tanto como física ou matemática, mas parecido. A noção básica de Miguel para astrologia era a que ele tinha por ler o horoscopo no jornal, que sempre esteve errado, ao começar por dizer que ele, por ser geminiano, falava demais. Pelo contrario. Ele falava de menos. Ele se perguntava o que de mágico existia em ler palavras aleatórias em um papel, que juravam de pés juntos, estarem certas.

Miguel foi-se até a porta e aguardou os amigos, já impaciente. Carioca saiu do banheiro, porém, apenas de cuecas e com olhos cansados.

─ Vamox ─ ele bocejou, pegando seu livro da prateleira ao lado da cama. Miguel tapou o rosto e riu ─ Que foi? ─ perguntou, sem se dar conta da sua nudez. Miguel apontou para o uniforme do amigo sobre a cama. Rodrigo, ao olhar para baixo, percebeu seu equivoco, pegou o uniforme e colocou na frente do corpo ─ Pode fazer as honras?

Miguel assentiu com a cabeça, retirou a varinha do cinto, deu duas giradas e repetiu o feitiço que viu Betina executar: ─ Visum Vestimentum! ─ e então o uniforme se desvencilhou das mãos de Rodrigo, deu duas giradas e ‘engoliu’ o elfo, se acentuando simetricamente em seu corpo, um pouco apertado, mas nada demais. Carioca pegou seus materiais e caminhou com o amigo para fora do dormitório, desceu pelo elevador, que estava meio parado, diria sonolento, saíram da torre dos Javalentes e foram para a dos Golfinos, onde se encontrava a sala de Betina.

Visivelmente, a torre dos Golfinos, tinha um tom mais culto do que a dos Javalentes. Por todo lado, sejam corredores, salas, cozinhas e ate banheiros haviam livros de assuntos variados, parados em prateleiras nas paredes pintadas de azul marinho, ou voando por aí como aves. O chão era uma grande página de livro que se estendia por todo lado. As salas dos professores ficavam no primeiro andar, em ordem alfabética.

Após passarem por Animalia e Arte, chegaram a sala de Astrologia. A porta estava aberta, e de fora podiam ver alguns alunos se agrupando nas almofadas jogadas no chão. Entraram e levaram um grande susto ao perceberem que a sala era muito maior por dentro do que por fora. Dúzias e mais dúzias de alunos se encontravam distribuídos naquela sala redonda, ao redor daquilo que era como um palco para uma apresentação de acrobacia aérea: Um grande tecido lilás brilhante no centro, que se estendia do chão ao teto, que estava a, no mínimo, trinta metros de altura em relação aos alunos, um aro dependurado em outro tecido, uma cama elástica gigante no chão e gangorras espalhadas por toda sala.

Miguel e Rodrigo escancararam as bocas, absurdamente maravilhados com tudo. Depois, viram Oscar, tristonho, sentado sozinho em uma fileira.

─ Vamox sentar com ele? ─ perguntou Carioca.

─ Se você quiser... ─ respondeu. Rodrigo sorriu e caminhou na direção do solitário colega, sentou-se ao lado direito, enquanto Miguel foi-se atrás e se sentou ao lado esquerdo. Oscar deu um leve e aliviado sorriso.

─ Oi gente ─ ele cumprimentou. Miguel sorriu para o rapaz e respondeu. A mente de Rodrigo estava do outro lado a da sala, assim como seus olhos, observando atentamente Discórdia, sentada ao lado da irmã.

─ Oi... ─ respondeu em um tom apaixonado. Miguel e Oscar riram da situação ─ Que foi, povo? ─ ele perguntou, acordando de seu transe e abrindo seu livro de Astrologia.

─ Nada, ué ─ respondeu Miguel em modo irônico. ─ Então, Oscar, de onde você é? ─ perguntou, tentando fugir do assunto. Oscar ficou com receio de falar, sua timidez era demasiada, mas no fim respondeu, com certa gagueira:

─ Bras-brasília ─ respondeu tímido. Miguel sorriu, mas decidiu não fazer mais perguntas para não acanhar o colega. No fim nem podia mesmo, pois o som de uma arpa tocando anunciou a todos que a aula começava, atraindo a atenção dos três.

De repente um breu assolou a sala. Estava de dia, mas era como a noite. Alguns alunos sibilavam um som em tom fantasmagórico. Miguel percebeu que Oscar não estava muito bem com toda aquela escuridão, ele rangia os dentes e chacoalhava as pernas, parecia realmente ter muito medo do escuro. Ele percebeu suas mãos inquietas passeando desesperadamente pelo chão, estava tremulo. Querendo passar segurança para o colega, agarrou sua mão e apertou firme, ele começou a se aquietar.

Um raio lilás cortou toda aquela escuridão e acertou o teto negro, que começou a se encher de pontos brilhantes e iluminar a sala: Eram estrelas, constelações inteiras foram surgindo e colorindo o escuro em tons vivos, que lembravam muito o universo, aliás, era o universo, uma representação perfeita. Os alunos ficaram maravilhados e Oscar pareceu mais confiante, desvencilhando sua mão a de Miguel, sorridente com tudo aquilo. Betina surgiu no alto, enrolada no tecido lilás, usando um vestido branco longo que a fazia parecer um anjo, emanando um brilho angelical por onde passava. Ela sorriu de orelha a orelha e se apoiou no tecido para chacoalhar em frente, voando por toda a sala enquanto a arpa tocava uma melodia que Miguel conhecia, mas não lembrava bem o nome.

Só quero te lembrar... De quando a gente andava nas estrelas... ─ e todos ficaram encantados com a melodiosa voz da professora. Miguel se arrependeu de ter dito que a aula seria chata, ela havia começado da melhor forma possível. Betina saltou do tecido. Todos se aquietaram com medo do que havia acontecido. Seu brilho havia desaparecido na escuridão por longos segundos, quando finalmente o impulso da cama elástica a atirou para cima em um rodopio, atirando seu brilho por toda a sala. Então, ela parou no céu, olhou para os alunos e sorriu novamente ─ Bem vindos, minhas estrelas ─ ela disse, todos ficaram de pé e vibraram maravilhados. Aplaudiram, assoviaram e gritaram pela professora, que se curvou agradecida.

─ Ela é maravilhosa! ─ comentou Miguel, com os olhos brilhando. Oscar concordou um pouco menos tímido que antes. Rodrigo ficou sem palavras.

─ Agora, abram seus livros na página sete, onde se encontra o nosso primeiro assunto: As origens das constelações ─ ordenou Betina. Alguns alunos murmuraram um “ah”, acreditando que a aula havia voltado para a mesmice de sempre.

Miguel abriu o livro e achou curiosa a primeira constelação que iriam estudar: Escorpião (Scorpius).

Betina saltou e caiu novamente sobre a cama elástica, que lhe deu um impulso e a mandou para o alto, ela agarrou em um dos aros, sentou-se lá e se deu um impulso, voando para frente e para trás. Foi pegando impulso até que ficou bem perto do teto, retirou a varinha do vestido, deu duas giradas e fez a lira parar no ar.

─ Que extraordinária ─ questionou Maria Flor, que chegara de supetão segundos atrás. Rodrigo se assustou e escorregou em uma almofada, caindo de cara no chão.

─ Extou bem ─ proclamou, se pondo de pé.

Miguel pode perceber certo olhar nada sútil de Oscar sobre Maria Flor. Ele sorriu, vendo os olhos do colega brilhando.

Betina pegou a varinha e a arrastou pelo teto, enquanto balançava no recém-desencantado arco, que balançou por toda a sala. Quando parou, no centro da sala, ela girou novamente a varinha e observou uma linha cintilante surgindo de algumas estrelas e se conectando, até se tornar a constelação de escorpião. Quando completa, ela começou a se mover, como se estivesse se desprendendo do teto e, realmente estava. Todos se assustaram quando a constelação tomou a forma de um escorpião de verdade e se atirou no chão, no centro da sala.

─ Segundo a mitologia grega, na antiguidade existia um caçador ─ contou, atirando contra o chão uma luz azul, que tomou a forma de um homem. O escorpião ficou irritado e tentou acertar sua cauda nele, mas ela passava direto pela criatura de luz ─ Orionte. Ele gozava de ser o único caçador capaz de derrotar qualquer animal da face da terra ─ e o homem gesticulou como se estivesse falando ─ Gaia, a mãe terra, não se alegrou com a prepotência desse homem e, como punição, enviou o Escorpião gigante a encontro com ele. Orionte não pode vencer o animal, foi picado e acabou morrendo ─ o homem de luz caiu no chão e começou a se desfazer e o escorpião começou a sumir, enquanto as estrelas surgiam novamente no teto. Betina saltou da lira, caiu sobre a cama elástica e ficou pulando sem dar impulso, diminuindo a altura. Depois, se esgueirou pela cama elástica e desceu ao chão ─ Agora, quem de vocês é Escorpiano? ─ ela questionou, alguns alunos levantaram a mão, entre eles Maria Flor e Aline. ─ Eu os evitaria... Brincadeira! Alguém sabe me dizer o elemento, o planeta e o Deus dos escorpianos? ─ a mão de Maria Flor foi ao céu ─ Você, querida! ─ ela apontou para a garota.

─ Agua. Plutão. Hades ─ respondeu convicta.

─ Muito bem, querida ─ a professora parabenizou e se voltou para seus alunos ─ Também sou Escorpiana. Às vezes sou facilmente irritável, às vezes sou um amor de pessoa. Dizem que eu tenho coração de aquário e mente de escorpião ─ ela ri ─ Bom, como nosso primeiro trabalho, quero que vocês façam como eu: Contem a historia, aspectos, características próprias e tudo de interessante que encontrarem sobre seus signos ─ os alunos bufaram, enquanto as luzes da sala se acendiam ─ Até amanhã, queridos ─ ela se despediu e começou a caminhar na direção de uma portinha aos fundos.

Maria Flor ficou irritada. Caminhava para a saída com pés pesados assolando o chão, além de bufar e murmurar que esperava mais dessa aula. Miguel e Rodrigo a acompanharam, sem dizer nenhuma palavra, enquanto Oscar se despedira e tomara seu rumo. Eles caminharam pelo corredor da torre dos Golfinos, quando encontraram a professora Isis, uma senhora baixinha e gordinha, que usava um enorme xale quadriculado com as cores dos Arabelos, ela parecia um pouco perdida e, ao ver o trio, abriu um aliviado sorriso.

─ Ah, graças a Nossa Senhora das Bruxas! ─ ela comentou. Sua voz fina e esganiçada dava um leve toque de humor, que só aumentava quando olhavam para seu estilo único e extravagante. Ela parecia olhar direto pelos alunos, como se não os percebesse, mas sentisse sua presença ─ Amorecos, por um acaso vocês não viram por aí um par de óculos perrenhos? ─ ela perguntou, aflita. Maria lhe olhou de cima a baixo e percebeu seus óculos dentro do bolso de sua calça.

─ Como esses? ─ a garota agarrou os óculos e segurou na palma de sua mão. Um fato curioso aconteceu: Antes eles eram redondos e sem graça, mas ao tocarem em Maria Flor tomaram a forma de uma estrela colorida e radiante. Miguel ficou curioso, involuntariamente, tocou no óculos, mas nada aconteceu. A professora Isis pegou-os de volta e colocou em seu rosto.

─ Eu e minha cegueira ─ ironizou ─ Meu óculos muda de forma de acordo com a intensidade do sentimento de quem usa e eu diria que você está irritadíssima, garotinha ─ Maria Flor revirou os olhos e deu as costas para a mulher, indo em direção ao dormitório ─ Coitadinha, esta muito bravinha. Foi alguma coisinha que disse? ─ questionou. Às vezes não conseguia segurar a mania de tratar tudo e todos no diminutivo.

─ Ela é temperamental ─ disse Miguel ─ as melhores pessoas são, aliás.

A professora Isis deu uma gargalhada fofa e beliscou as bochechas de Miguel. Carioca segurou o riso.

─ Bom, fofurinhos, tenho aula com vocês no terceiro tempo. Então, vejo vocês depois! Agradeçam a fofinha por mim, docinhos. Beijinhos ─ e deu as costas, caminhando torre a fora. Miguel ficou confuso com algo.

─ Ela usa um xale dos Arabelos, o que estava fazendo na torre dos Golfinos? ─ questionou. Rodrigo ergueu os ombros, mostrando que não fazia a mínima ideia, depois, agarrou um papel que estava no meio do livro, fez uma expressão de irritação e revirou os olhos ─ Que foi?

─ Aula do Érico.

Miguel olhou para o horário e coçou os olhos.

─ Olhe pelo lado bom: É Educação Não-Física e não Física ─ ele disse, querendo alegrar o amigo, que continuou irritado, mas contentado ─ Vamox logo ─ ele ironizou, imitando o sotaque do amigo.

Miguel saiu da torre dos Golfinos junto de Rodrigo, que tentou o convencer de todos os modos a matar essa primeira aula, mas o rapaz estava convicto a participar da Ed. Não-Física por dois motivos: Apesar de não fazer seu tipo, Érico ainda era um colírio e adorava aulas de Educação Física, pois era como um descanso para as demais e, julgando pelo corpo malhado do professor, com certeza eram matérias semelhantes.

No caminho, em meio as insistências de Rodrigo, passaram na torre dos Javalentes e deixaram o material de Astrologia, pegaram uma caixa de vocação, o único material exigido por Érico, era um baú revestido de veludo negro com uma tranca que só se abre com o consentimento do professor. Depois, tomaram seu caminho pelo jardim, passaram pelo Lago das Vitórias e chegaram ao Aberto Esportivo: Uma área plana, com um gramado perfeitamente cortado, rodeado por arvores grandes, cujas copas se tornam arquibancada durante competições oficiais. Era uma espécie de arena para esportes.

Alguns alunos já estavam ali. Muitos não participaram da aula de Astrologia, como Frederico, Doralice e Natasha, mas outros sim, como Concordia e Discórdia. A única explicação que Miguel tinha para isso era que os horários eram diferentes para cada aluno. Ele teve a sorte de estar com o amigo nos primeiros horários, mas aparentemente, apenas Rodrigo tinha aula com Isis, ele teria que aturar Aldrina em uma chata aula de história.

Os rapazes se juntaram com os demais alunos e deixaram a caixa de vocação no chão. Olharam ao redor, cumprimentam os conhecidos e aguardaram papeando, até que Miguel sentiu um cutucar em seu ombro. Ele se virou, olhando em frente, mas só percebeu quem o chamava ao olhar para baixo: Era uma garota Golfina, também do primeiro ano. De tranças nagôs que estavam enroladas em um coque, preso a um turbante com estampas Africanas. Era baixinha, com um olhar curioso.

─ Hum, olá ─ disse Miguel. Ela sorriu ─ Sou o...

─ Miguel! ─ ela cortou eufórica ─ Eu sou a Karine, do blog Doce Encanto, que comecei há pouco tempo, mas enfim, posso te fazer três perguntas para postar lá?

─ É claro... ─ respondeu simpático. Karine estava próxima a fazer a primeira pergunta, quando um rapaz a interceptou, tapando sua boca.

─ Ka, já disse para deixar ele em paz! ─ reprendeu ele. Não parecia do primeiro ano, aparentava ser veterano. Ele tinha olhos mel, barba longa e um cabelo Blackpower volumoso, além de um sorriso branco que nunca sumia. Ele estendeu a mão para Miguel, que apertou com gosto ─ Kauã, mas prefiro Tijuca. Desculpa minha irmãzinha, ela não bebeu o Semancol de hoje! ─ ironizou. Karine deu-lhe um pisão no pé, o fazendo pular para trás. Miguel gargalhou, fazendo Tijuca sorrir ─ Gostou, né Bonitinho?

─ Não resisti e, a propósito, Miguel ─ respondeu. Tijuca deu uma leve piscadela para o rapaz, enroscou seu braço no da irmã e sorriu.

─ Te vejo por aí, Bonitinho. Vou levar essa fujona para a aula de Astrologia! ─ e então saiu, levando consigo Karine, de cara amarrada.

É só então a ficha caiu para Miguel: Ele havia acabado de receber um elogio.

─ Ele me chamou de Bonitinho ─ sibilou o rapaz, em um tom de felicidade abafada. Rodrigo se debulhava em sono sobre o ombro de uma garota ali do lado. Só não roncava, mas babava. ─ Ei, ô! ─ chamou Miguel, agarrando um graveto no chão e enfiando no ouvido do amigo, que despertou assustado.

─ QUE QUE FOI MIGUEL? ─ ele vociferou, irritado. O amigo riu e apontou para o céu,  onde um homem cortava o céu sentado em uma vassoura. Era Érico, que se inclinou para baixo e começou a despencar rapidamente, como um cometa.

Estavam todos com muito medo da loucura do professor. A vassoura foi ficando mais próxima do chão e nada dele parar, continuava descendo assiduamente. Todos se prepararam para o pior: ver o professor se espatifar. Até Rodrigo. Que não gostava muito dos Papoula, ficou preocupado. E, a poucos centímetros do gramado, a vassoura simplesmente parou no ar. Érico desceu, estalou o pescoço e limpou o suor da testa com a camisa, deixando sua barriga a mostra propositalmente. As alunas nada sutis, vulgo, Natasha e afins, gritaram cantadas e elogios ao professor, que sorriu convencido.

Rodrigo revirou os olhos e sibilou que queria estar morto, Miguel estava próximo e pedir isso também. Era deplorável um professor que se insinua as alunas. Érico foi caminhando pelos discentes, parou perto de Carioca e gargalhou.

─ Te peguei, não foi Orelhudo? Lá de cima vi essa sua cara de boi lavado com medo. ─ sussurrou. Rodrigo se irritou, mas não fez nada além de fechar a cara. Érico voltou a caminhar e parou em frente a turma ─ Bom, galero ─ sim, ele usou essa deplorável gíria Hetero ─ Vocês sabem que eu pedi para que trouxessem para mim isso ─ ele apontou para uma caixa ─ A Caixa dos Desesperados, também conhecida como Caixa da Vocação. Ela vai dizer para qual esporte você é apto. Temos quatro esportes oficiais aqui da Castelobruxo, cada um inventado por uma casa: Caça as Pragas, representada por uma arapuca de bambu, Voo Livre, representado por balões, Escalada, representada por uma corda e, finalmente, Parachuva, representada por uma nuvem. Abram as caixas e veja a qual desses esportes vocês pertencem.

Com a ordem dada, todos os alunos abriram a caixa. Miguel passou a mão sobre o veludo, agarrou em uma parte metálica e empurrou a tampa para trás. Um enorme brilho o cegou momentaneamente, ele fechou os olhos e quando abriu percebeu, literalmente, uma nuvem dentro da caixa. Surpreso, o rapaz se abaixou e tocou nela, que desapareceu, deixando a mostra as demais coisas que vieram junto: Uma sunga boxer colorida nas cores das casas, óculos, uma toalha e um par de pés de patos (?) confuso, Miguel olhou para os lados, observando que Rodrigo recebera uma arapuca, Natasha, os balões, e Frederico, a corda.

─ Bom, ainda não vamos precisar dessas coisas, pois nossas primeiras aulas serão sobre voo, afinal, bruxos precisam saber voar. Todos os anos recebemos doações de ex alunos, damos elas a vocês por algum tempo, enquanto não compram a suas próprias ─ comentou Érico, retirando do bolso sua varinha, dando dois giros em direção ao céu. Todos olharam, percebendo centenas de objetos cortando o céu e vindo em sua direção. Eram, em sua maioria, vassouras, mas outras e curiosas coisas também estavam no meio, como bicicletas, pranchas, skates e até sapatos com asas. Os alunos se olharam eufóricos e, depois, foram de encontro com as coisas voadoras, que pousaram poucos metros a diante.

Rapidamente os alunos foram se apoderando dos melhores exemplares dos objetos. Todos queriam uma vassoura, muitos queriam um skate, poucos queriam uma prancha, mas ninguém queria uma bicicleta ou tênis, aparentemente eram difíceis de domar. Qualquer bruxo sabia disso, menos Miguel, que ficou absurdamente contente ao encontrar uma bicicleta velha sem dono. Ele tentou montar na magrela, mas caia. Parecia que ela não queria ser montada. Érico se aproximou, coçando a testa, com um olhar confuso.

─ Você quer mesmo essa velharia? Sabe, ela deve estar a uns quinze anos aqui. Ela foi deixada aqui quando eu ainda era aluno, o dono dela fugiu da escola e foi embora, desde então, ano e mais ano, ninguém durou com ela mais que um bimestre ─ ele questionou. Miguel sorriu e alisou a bicicleta.

─ Quero sim. Algo nela me chamou atenção... ─ respondeu convicto. Erico deu de ombros.

─ Já que é assim, pode ficar com ela. Ninguém quer essa velharia mesmo... ─ ele disse, voltando para seus alunos.

Miguel observou todos a seu redor dominando seus objetos voadores, alguns, inclusive, voavam. Rodrigo, após muito disputar, tomou a vassoura do mesmo bruxo da Guiana com quem disputara a mala dias atrás e já se arriscava a voar. Convicto, Miguel passou a mão pela bicicleta e a levantou.

─ Vai mesmo deixar ele dizer que você é uma velharia? ─ ele segurou firme no guidão e saltou sobre a bicicleta ─ Eu sei que você é mais que isso ─ ele se sentou no banco e pôs seus pés nos pedais. Sem perceber, suas mãos brilharam em dourado ─ Vamos mostrar para ee! ─ exclamou. Então, a luz dourada se espalhou por toda bicicleta. Ele sorriu, observando que ela tinha entendido ser recado e começou a pedalar.

Em questão de segundos, Miguel já estava a cinco metros do chão. Aquilo era extraordinário! Cada vez mais alto e mais alto. Todos os colegas gritaram demonstrando sua euforia, inclusive Érico, que, dentre todos, foi o que mais se surpreendeu. A magrela deixava um rastro luminoso por onde passava, enquanto sobrevoava todo o aberto com Miguel, que se arriscou a abrir os braços e gritar sua felicidade.

Já estava voando a alguns minutos. Poucos colegas se arriscaram a lhe fazer companhia no ar. Natasha bem que tentou, mas era desengonçada demais para usar o tênis com asas. Frederico comandava sua vassoura bem próxima a Miguel e, de quando em quando trocavam algumas palavras. Rodrigo ainda estava tentando amansar sua vassoura.

─ Ei man, que isso no seu peito? ─ questionou Frederico, observando dois brilhos vermelhos no peito de Miguel.

─ É meu... ─ Miguel parou a bicicleta e puxou a cordinha para fora do uniforme ─ Muiraquitã... ─ e então agarrou o amuleto verde.

“Ajude-nos!” foi a ultima coisa que ele ouviu antes de fechar os olhos e despencar de cima da bicicleta.


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