Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 5
Especial I - Concordando e Discordando


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Após o término das fabricações de varinhas e o desaparecimento do muiraquitã, Miguel, Maria Flor, Rodrigo e os demais alunos foram dispensados por Amara e se reuniram no pátio xadrez, se dividindo nos previsíveis grupos sociais aka panelinhas: Populares, os Arabelos, esportistas, os Javalentes, inteligentes, os Golfinos e aqueles que não se encaixavam com o perfil perfeito dos grupos, grande parte dos Tarantavelicos e alunos de outras casas, como o trio de amigos, Oscar, Doralice e alguns outros discentes do primeiro ano que não estavam na turma de Amara.

─ Gente, essa é a Concordia! ─ disse uma garota ruiva com o uniforme customizado e estilo... Bom, confuso: Roupas curtas, óculos estilo Indie, botas e chapéu vintage. Estava acompanhada de uma garota de cabelos pretos curtos, corpo magricela e olhos negros penetrantes. Ambas Arabelas ─ E eu, claro, sou Natasha Bittencourt, mas pode me chamar de Naty ─ completou egocêntrica.

Miguel olhou para os lados, achando que ela falava com outra pessoa, vendo que não, sorriu forçadamente e estendeu a mão para Concordia.

─ Miguel ─ disse ele. Concordia, pronta para apertar a mão do rapaz, foi interceptada por Natasha, afobada, que agarrou a mão do jovem como um cão agarrando um osso.

─ Bom, nem sei por que me apresentei, com certeza vocês já me conheciam... Sou famosa! ─ exclamou Natasha, convencida. Maria Flor e Rodrigo se entreolharam, sem saber o que dizer, então, chacoalharam a cabeça em sinal de não. Naty deu de ombros com um olhar de desprezo, retirou o celular do bolso e sentou-se no banco ao lado de Miguel, empurrando todos que ali estavam para o lado ─ Vamos tirar uma selfie ─ e então fez uma pose e puxou Miguel para perto, apertando o botão e acionando a câmera ─ Meu blog vai bombar ─ disse ela, se levantando e caminhando em frente, sem nem ao menos se despedir.

─ O que exatamente aconteceu aqui? ─ perguntou Maria Flor, assustada, Concordia deu uma doce gargalhada e olhou para Rodrigo, que deu uma leve piscadela para a moça. ─ Ta, e quanto ao muiraquitã? ─ perguntou, tentando cortar o silêncio.

─ Muiraquitã? ─ perguntou Concordia, curiosa.

─ Sim, você sabe o que é? ─ perguntou Rodrigo, sorridente. Concordia apontou para Miguel.

─ Não é aquilo no peito dele? ─ perguntou, reparando que o amuleto se encontrava no mesmo lugar de antes. Miguel se surpreendeu e olhou para Maria, estupefata e de boca aberta. Rodrigo nem se interessava mais, só queria olhar para Concordia, impressionado.

Enquanto isso, após deixar Concordia com os colegas, Natasha passeava pelo pátio, tirando selfies, distraída, quando acertou seu braço na nuca de alguém enquanto erguia o celular para outra foto.

─ Opa... Desculpa aí... ─ e então, virou o corpo da pessoa para ver quem era ─ Concordia? ─ disse ela, assustada, Concordia sorriu, mas não disse nada, e depois, saiu pelo pátio a fora, deixando Naty assustada ─ Mas... Eu... ─ balbuciou incrédula, depois, caminhou de volta para o lugar onde os alunos se reuniam, mas todos já haviam dispersado sabe-se lá para onde. Deu de ombros, sorriu e voltou a tirar fotos.

Dentro da escola, Maria e Miguel caminhavam pelo corredor, na direção da biblioteca, dispostos a pesquisar mais sobre o muiraquitã, quando viram Aldrina vindo na direção contraria, arrastando um garoto pela orelha. Quando se cruzaram, a professora parou e coçou os cabelos, retirando o óculos do bolso e pondo entre os olhos.

─ O que estão querendo aprontar? ─ perguntou, fechando o olho direito e encarando os alunos.

─ A gente só vai para a biblioteca, professora ─ respondeu Maria. Aldrina ergueu as sobrancelhas, com dificuldade em acreditar, mas no fim, voltou a arrastar o aluno pelo corredor, Maria e Miguel suspiraram aliviados e voltaram a caminhar, ouvindo os gritos do aluno enquanto ele era arrastado.

“Não escondam nada dela. Ela é o diaboooo!”

Maria e Miguel chegavam à biblioteca, que, naquele horário, estava vazia, com apenas alguns Golfinos dependurados enquanto liam, literalmente. Acontece que, para ter mais espaço para os livros, havia na sala um feitiço antigravidade, que permitiam prateleiras e mais prateleiras voarem pelo salão, enfileiradas. Alguns alunos mais experientes usavam do feitiço para se por no ar e flutuar pela biblioteca, usando livros como pranchas, que facilitavam o voo.

Maria caminhou com Miguel, a procura de algo pela biblioteca. Enfim, se deu por satisfeita ao ver uma parede vazia, correu, agarrou a varinha e, com ela, escreveu no ar as palavras “Amuletos Indígenas”, em pouco tempo, uma das prateleiras flutuantes começou a perder altura e assim foi, até aterrissar na frente da garota, sob a parede vazia.

─ Bom, pelo que disse meu pai, esse muiraquitã é meio que uma joia de família, que se perdeu por muitos anos. Ele encontrou e me deu de presente ─ comentou Miguel, agarrando um livro aleatório da prateleira e tentando o retirar de lá, mas ele não parecia muito a fim de ir com o rapaz, já que se agarrou nos demais livros e ficou fazendo uma força contrária muito maior que a do bruxo. Maria revirou os olhos, empurrou o colega para o lado e passou a mão pela prateleira, acariciando os livros.

─ Os livros têm sentimentos, Miguel. ─ comentou a garota, acariciando o livro que Miguel tentava arrancar da prateleira ─ Principalmente os de história, eles são muito temperamentais... ─ sussurrou Maria Flor, fazendo com que o livro ronronasse como um gatinho, enquanto acariciava sua lombada empoeirada. Feliz, ele saltou da prateleira para os braços da bruxinha, que limpou a poeira de sua capa e se pôs a ler a capa ─ “O guia dos amuletos, para bruxos que tem um, mas não sabem seu significado (Símbolos estranhos, presentes nos clipes de cantoras alternativas não incluídos)” Perfeito! ─ exclamou, caminhando para a mesa a sua esquerda, arrastando um banquinho e se sentando. Miguel foi atrás, mas, prestes a sentar, sentiu alguém cutucar seu ombro, virou e observou a já conhecida garota de cabelos negros e corpo magricela.

─ Você não tinha saído com o Rodrigo? ─ perguntou. A garota se mostrou confusa, coçou os cabelos dentro da touca e encarou Miguel.

─ Não sei do que você esta falando ─ comentou, confusa. Depois, retirou a touca e liberou seus cabelos compridos do coque que os prendia. Dessa vez foi Miguel que se confundiu, forçou os olhos e encarou a garota.

─ Você não tem, ou tinha cabelos curtos? ─ perguntou confuso. Maria estava tão concentrada em sua leitura que nem percebeu a presença da garota.

─ Não... ─ respondeu de imediato. Seguidamente olhou para os lados, como se procurasse algo ─ Você viu por aí um garoto com um lenço lilás com desenho de estrela? Um garoto me roubou na cara dura e correu pela escola! ─ perguntou ela, irritada. Miguel, perdido, não soube o que dizer, apenas chacoalhou a cabeça para os lados em sinal de não ─ Se você vir me avise, hoje alguém fica banguela! ─ exclamou, caminhando biblioteca a fora seguidamente. Os olhos de Miguel a acompanharam durante todo trajeto, até que foi acordado pelo suspiro decepcionado de Maria Flor.

─ Nada... ─ e quando olhou de volta para a mesa, todos os livros se encontravam ali, revirados, enquanto a prateleira estava vazia.  Próximo a comentar algo, foi interceptando por Maria, que retirou do bolso um par de tampões de ouvido e ergueu, mostrando para o amigo ─ Tampões do Vigia. Faz a pessoa que usa se concentrar no máximo e esquecer-se do mundo a seu redor, além de agilizar o trabalho ─ disse ela, se pondo de pé e caminhando para fora da biblioteca. Miguel foi atrás, sem palavras para dizer, ainda estava bastante surpreso com o que vira.

Concordia e Carioca caminhavam pelo jardim, atrás das torres da escola. O primeiro contava histórias mirabolantes sobre sua enorme família, enquanto a garota ouvia em silêncio e, de quando em quando, soltava uma gargalhada amistosa. Chegaram enfim ao Lago das Vitórias, tendo esse nome devido as vitórias-régias que ali crescem e se tornam abrigos de animais e de Sereias Polegares, criaturas humanoides que, como sugere o nome, são sereias do tamanho de polegares. Sentaram-se no banco de frente para o lago e observaram as sereiazinhas e as fadinhas voarem naquela calorosa manhã, enquanto não começavam as aulas.

─ Então, Concordia, para time você torce? ─ perguntou Rodrigo, sem outros assuntos para tratar.

─ Eu? Bom, sinceramente, sou Vascaína roxa! ─ respondeu a garota convicta. Carioca foi perdendo o sorriso instantaneamente, enquanto lágrimas exageradas tomavam seus olhos. Suas mãos tremulas, não ficavam quietas com tamanha revelação. Decepcionado, Rodrigo se jogou no chão e ficou “A ver Caravelas”. Era coisa de elfo, a grande competitividade entre esporte. A reação de Carioca era básica, comparada com outros da espécie. Concordia encarou aquilo tudo com estranheza.

─ I wish I was dead ─ disse o elfo, em um estado deplorável, atirado sobre as flores do jardim. Depois, se pôs de pé, pronto para fazer o que fazia de melhor: dramatizar ─ Escute, Boneca ─ disse ele, forçando a voz para se assemelhar as de galãs de televisão ─ Nunca daríamos certo, baby, mas foi bom enquanto ─ e tossiu, jogando o cabelo para o lado (Ou pelo menos pensando que jogava, já que suas madeixas eram curtas) ─ Come on baby, forget me. ─ e saiu correndo pelo jardim, chorando demasiadamente, Concordia ficou ali, coçando o cabelo sem entender nada.

Após tanto correr, Rodrigo havia chegado ao pátio, onde alguns alunos do terceiro ano já começavam suas aulas de Educação não física, com o Professor Érico. Carioca, de cara amarrada para o professor, atravessou todo o quadriculado do chão e, quando se afastou significativamente do inimigo, voltou a correr, choroso, chegando a estatua de Dom Pedro II, onde se escorou e pode respirar, enquanto chorava. Estava tão concentrado em sua respiração cansada, que não percebeu uma aproximação feminina vindo por trás, esta que, chacoalhou seu cabelos negros e cutucou o ombro do rapaz.

─ Ei, você por acaso viu um... ─ e então, Rodrigo se virou e a garota esboçou irritação no olhar, agarrando o rapaz pela gola da camisa e arrastando até ficar proporcional sua altura.  ─ Você! ─ o elfo parou de chorar e se perguntou o óbvio.

─ Como chegou aqui tão rápido ─ perguntou, a garota ficou sem entender, usando a gola de Rodrigo para enforcar o elfo. ─ De-desculpa, mas é questão de honra élfica... Você é Vascaína e eu...

─ É o que? ─ cortou a garota, atirando Rodrigo para trás ─ Primeiro você rouba meu lenço favorito, agora me ofende assim? Pois saiba que eu sou Mengão até a m o r t e! ─ exclamou, apertando o braço de Rodrigo com um tremendo ódio.

─ Isso vai ser bom... ─ insinuou a estátua de Dom Pedro II, de olho nos jovens.

─ ... mas eu não roubei nada ─ disse Rodrigo, assustado. A garota agarrou o rapaz pela orelha e a torceu, com um olhar furioso.

─ Não tente negar! Eu vi você! ─ exclamou ela irritada. Maria Flor e Miguel que passavam ali por perto ouviram os gritos de Carioca e correram para perto, tentando entender o que acontecia.

Enquanto isso, em sua sala, Aldrina Moreira ajeitou o óculos no rosto, enquanto observava o aluno que arrastou pela orelha a pouco. Repentinamente, fica surpresa e se levanta da cadeira, caminhando pela sala até a saída.

─ Se tentar fugir lhe dou outro puxão, só que agora em partes mais baixas, e saio te arrastando novamente! ─ advertiu, antes de deixar a classe. Assim que chegou ao corredor, deu de cara com a garota de cabelos negros curtos e cabelos penetrantes que tanto causa problemas, ergueu as sobrancelhas, confusa e a puxou pelo lenço roxo amarrado no pulso, caminhando pelo pátio ─ Você vem comigo.

De volta a estátua de Dom Pedro, Maria e Miguel tentavam ajudar o amigo, que estava sendo alvo de um mata leão de... Não sou capaz de opinar. Quando outra garota, de cabelos negros curtos e corpo magro, chegou sozinha a estátua e arregalou os olhos, vendo o que acontecia com Carioca.

─ Solta ele, Discórdia! ─ ela gritou, chamando a atenção de todos que desviaram os olhares para a garota.

─ Concordia? ─ perguntou Discórdia, assustada ─ Achei que você só ia chegar amanhã! ─ exclamou ela, liberando Rodrigo do mata leão e correndo para abraçar Concordia, que fez o mesmo, comovida ─ Três meses, mana... Sua horrorosa! Morri de saudades!

─ Ah, não me chama de horrorosa porque somos idênticas! ─ exclamou Concordia, soltando a irmã e percebendo os olhares surpresos de todos a seu redor ─ Acho que me esqueci de comentar que tenho uma irmã gêmea... É que, sabe, Natasha quase não me deixou falar e eu moro com minha mãe e ela com meu pai... ─ e então, encarou Discórdia ─ Mas por que você estava enforcando o Rodrigo?

─ Porque ele roubou meu lenço! ─ respondeu a garota, bufando irritada.

─ Mas ele esteve o tempo todo comigo e com o Miguel... ─ disse Maria Flor, Miguel confirmou, ainda digeria essa história.

─ Mas eu o vi com meu lenço! ─ insistiu ela, convicta.

─ Senhoritas Roma... ─ exclamou Aldrina, chegando pelo pátio xadrez. Todos olharam assustados ─ Podem me explicar... ─ e então puxou o lencinho roxo, arrastando uma garota identifica a Concordia e a Discórdia ─ isso? ─ completou. Todos se entreolharam, sem ação. A garota trazida por Aldrina gargalhou.

─ Espera... Espera! ─ exclamou Discórdia, afobada ─ Somos Concordia e Discórdia... Não temos a “Imparcialidade” ─ comentou, desviando o olhar para o pulso da garota ─ Meu lenço! ─ exclamou. Aldrina se afastou, ajeitou se óculos e encarou a garota, esboçando preocupação, seguidamente.

─ Fan... ─ ela engoliu seco ─ Farrão... ─ completou, retirando do bolso a varinha velha e apontando para o “Fanfarrão” ─ Se afastem, essa criatura é traiçoeira! ─ e todos os alunos se afastaram, Dom Pedro, tentando parecer heroico, a todo custo tentou retirar a espada da cintura, mas como era de se esperar, ele não conseguia. Enquanto isso, a misteriosa garota continuava a gargalhar, suas risadas ressoaram por toda Castelobruxo, fazendo com que alguns professores corressem para o pátio, indo de encontro com Aldrina, entre eles, Betina, Amara, Rafael e Érico, além de seus alunos que vieram atrás.

─ Drina, é o que estou pensando? ─ perguntou Amara, agarrando a varinha calmamente. Aldrina chacoalhou a cabeça em sinal de sim, assustada. Ela, mais que qualquer outro professor ali, parecia ter medo da criatura. Rafael e Betina ergueram suas varinhas e se entreolharam, deram as mãos e giraram suas varinhas em um movimento que juntou seus braços.

─ Aqua Incendium! ─ exclamaram ambos, simultaneamente. Dois raios saíram de suas varinhas, um de fogo, da de Betina, e um de água, da de Rafael. As labaredas de fogo se fundiram com a água em uma espiral giratória, que foi direto na direção do Fanfarrão, que em um único salto, desviou do golpe e voltou a gargalhar. A misteriosa criatura mostrou a língua e arrancou o lenço de Discórdia do braço e, em um giro, desapareceu sem deixar rastros.

─ Ta bom ─ disse Miguel, se afastando da estátua de Dom Pedro, perplexo ─ Do começo: O que aconteceu aqui? ─ perguntou assustado.

─ Tinha um Fanfarrão na escola... Um fanfarrão! ─ gritou Aldrina, inconformada e assustada. Amara correu, abraçou a amiga e começou a conduzir a professora pelo pátio.

─ Um fanfarrão pode tomar a forma de alguém, caso tenha um objeto pessoal da pessoa que quer copiar... ─ comentou Maria Flor, observando os professores e alunos dispersando para a escola, depois, encarou Rodrigo com medo ─ E, se a Discórdia disse que você roubou o lenço dela, que estava com ele, significa que ele tem um objeto seu! ─ ponderou, amedrontada. Carioca deu de ombros, estava mais interessado na segunda irmã. O elfo caminhou, agarrou o lenço de Discórdia e, com cordialidade e educação, amarrou no pulso da moça, olhando no fundo de seus olhos. Concordia pareceu enciumada, ao fundo, mas não disse nada ─ E a gente não sabe o que ele planeja fazer usando sua imagem... ─ completou.


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