Almas Presas escrita por Gregorius


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Eu sinceramente gostei disso, eu viajei bastante.
Espero que curtam...
Vamos ouvir When We Were Young da Adele?
Eu amo



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Era  uma clareira com montanhas e árvores ao fundo, um sol que brilhava fortemente. Eu estava deitado no capim, cheio de flores brancas a meu redor e tinha um calor morno, estava com os olhos fechados, mas uma mudança no clima me fez abri-los.

            O vento estava uivando e ela sobre o meu rosto, me olhando com os cabelos ruivos voando selvagem para aonde o vento soprava, que era todas direções e lugar nenhum.

            Sorrio, não sei o porquê, mas ela retribui. Nós tínhamos uma ligação, estávamos a vontade e a garota me olhava nos olhos, com seus grande olhos negros como o céu sem estrelas, e então me beijou e deixou as trevas tomarem conta de mim, eu não quis fugir, apenas aceitei escurecer enquanto ela me olhava brilhante.

            Abri os olhos e não estava mais deitado no capim, agora me via e minha cama, olhando para a luz do sol que entrava pelas frestas dos galhos na sacada, tudo não havia passado de um sonho.

            Já era 9:00 horas da manhã, vi no visor do celular, Caliel tinha me ligado 5 vezes, resolvi retornar.

            - Poxa cara! Achei que você não tinha sobrevivido, to te ligando desde cedo, onde você estava?

            - Dormindo... eu acho, mas o que foi, me  ligou tanto assim, aconteceu algo? Só temos aula a tarde não é?

            - Sim, só que resolvemos começar o trabalho sobre o Egito antigo hoje mesmo e estamos aqui na biblioteca da Faculdade... é cara vem logo, depois a gente vai comer alguma coisa juntos- falou uma voz feminina, Katherina, - anda já começamos separar alguns volumes, vem logo.

            Tomei banho rápido, coloquei uma roupa confortável, peguei minha bike e pedalei até Tulane de cabelo ainda molhado.

            A biblioteca era como toda boa biblioteca deveria ser, grande e antiquada, nunca tinha vindo ali antes e fiquei impressionado.

            Katherina e Caliel estavam atrás de pequenos montes de livros em um lugar distante da bibliotecária, dividindo um fone de ouvido e fazendo anotações.

            - Olha quem chegou, a Bela Adormecida! – disse Caliel, fazendo uma versão silenciosa de seu tradicional humor perpétuo.

            - Oi Greg – Katherina me abriu seu sorriso, que era de deixar qualquer modelo, morrendo de inveja.

            -Desculpa, pessoal, eu acho que minha tia me drogou, com seu chá de grama do jardim- disse dando de ombros. – então o que eu tenho que fazer?

            - Como você chegou só agora, já fizemos sua parte, fica tranqüilo. – Katherina falou seria sem tirar os olhos de um livro grosso – não brincadeira, é claro que eu nunca faria aí, pega esses livros e começa logo – me apontou uma pilha de livros num dos lados da mesa.

            - Pelo menos já estão separados não né? – tentei parecer grato. Fracassei.

Depois de duas horas vendo e revendo aqueles livros, estava com tédio, não tinha nada a acrescentar  então finalizei a minha parte.

            - Então, eu terminei aqui – empilhei os livros e fui devolver - onde estavam estes aqui?

            - Humn sabichão, olha ele Caliel, chegou atrasado e já acabou, será que temos um pequeno gênio entre nós?

            - Guarde suas conclusões para daqui um semestre.

Rimos

            - Eu vou guardar esses daqui e depois volto para a gente ir comer?

            - Okay, não precisa presa, acho que levo um tempo aqui ainda – Katherina parecia melhor entendida com o assunto, mas Caliel estava mais perdido que em LOST.

            Demorei um pouco até achar a prateleira onde estavam os volumes antes, mas quando fui os colocar em seus espaços, algo me chamou atenção. Era um livro grosso com capa de couro preto e tinha também um olho costurado na frente, sem nenhum titulo.

            O peguei e levei a mesa mais próxima e o abri. Não era uma linguagem que conhecia, mas as ilustrações me deixou fascinado e fiquei folheando, no geral, no que pude entender, o livro se tratava de rituais místicos, cenas fortes e perturbadoras.

            Mas meu coração deu um salto, quando vi a ilustração do meu sonho, a imagem mostrava a figura negra da morte, uma mistura de fumaça e sombra, sobre a água e uma moça a beira, como se estivesse vendo seu reflexo, mas não era seu rosto, era um demônio, do outro lado do lago tinha a moça, no plano de fundo, ela estava de frente a um rapaz e sua mão tocava seu rosto, na imagem seguinte a mesma moça estava com a cabeça jogada para trás e a mistura de sombra e fumaça que acredito simbolizar o demônio, saía de seu corpo em direção ao rapaz e logo seguinte, na ultima figura o rapaz estava com os olhos pretos e um sorriso assassino, enquanto a moça parecia iluminada.

            Não pensei duas vezes, fiz algo ilegal, arranquei a página grossa do livro que continha as ilustrações, dobrei e guardei no bolso, devolvi o livro como se nada tivesse acontecido, e voltei para a mesa de Caliel e Kath. Esperei que terminassem e fomos comer.

            - Sabe Kath, eu nem te falei né? – Caliel resmungava com a boca cheia de sanduíche, com molhos nos dedos, comendo como se estivesse armazenando para uma possível Terceira Grande Guerra – ontem eu e Greg, fomos a um bar e a gente ficou muito chapado, você tinha que ver...

            - Como assim, eu não to acreditando! Vocês nem me chamaram...poxa! sai agora da minha vida!

Katherina estava se revelando uma atriz fenomenal com todo seu falso drama.

            - Calma, calma Kath, é que você não vai no Illusion’s, então nem falei...

            - Caliel! Você é louco, foi naquele bar e ainda levou o Greg, você sabe que não é bom ir naquele lugar, o que você quer?!

            - Então, viu Kath, você não iria...

            - É claro que eu não iria, jamais queria que as trevas caíssem sobre mim... Caliel você não pode fazer isso!

            - Nossa Katherina, trevas? É sério isso?... você não pode acreditar em tudo assim – falei leve.

Kath me encarou como se eu estivesse fedendo, ou carregando um gambá morto em minha mochila, o que acaba significando a mesma coisa. Eu deveria aprender com esses olhares.

            - Você acha que tudo isso não passa de crenças bobas, não é mesmo? Mas eu te digo que não são, e tu deveria me ouvir se quiser permanecer junto com a gente, porque caso você se envolva com aquele lugar, estará sujo e sua alma não poderá ser limpa.

Ela estava me assustando, e até diria que está se parecendo com Emma de Beautiful Creatures, escurecendo.

            - Você fala com muita certeza, o que sabe?

            Katherina estava pensativa e essa era uma cena interessante. Um garoto curvado sobre a mesa com um olhar desafiador (eu), uma garota de cabelo preto bagunçado perdida em pensamentos (Kath) e um rapaz que devorava sem nenhum pudor seu sanduíche, como se sua vida toda, esperou por aquele momento (Caliel).

            - A gente vai na casa da minha bisavó! – Kath quebrou minha análise da cena – ela vai contar tudo o que sabe sobre o Bar. Vamos! – disse já pegando seu refrigerante e limpando a mão na calça jeans.

            - Você vai adorar a dona Clotilde, ela é muito simpática, só não deixe que ela apalpe o seu traseiro, ela vai querer fazer isso. 

Ri

            -Que tipo de bisavó é essa Kath, devo ter medo?

            - Só não beba e não coma nada que ela lhe oferecer.

Gargalhamos pelas ruas

Não demorou muito para chegarmos  a casa da bisavó de Katherina, dona Clotilde. Era uma casa branca, com uma varandinha na frente e flores rosas e azuis em canteiros suspensos, numa rua larga com várias árvores floridas.

            - Bisa, tenho visitas, bênção – disse Kath entrando e abraçando a senhora com expressão risonha e surpresa.

Ela nos olhou sorridente

            - Oi dona Clotilde, sou o Caliel, lembra de mim ainda? – Caliel se aproximou e abraçou a senhorinha.

            - É claro que me lembro, garoto abusado, está me chamando de velha – brincou com ele esticando as bochechas dele como nos filmes.

            - E esse é o Gregorius, ele é nosso mais novo amigo, na verdade ele é novo na cidade ainda.

            - Venha cá rapazinho, eu não vou te beliscar não! – eu não tinha tanta certeza.

            - Tudo bem com a senhora? Sou Gregorius D’Lemond, sobrinho de Aurora Krava.

Me abraçou e deu um tapinha nas costas.

            - Sua tia é uma senhora bem afastada não é mesmo? Tem sido boa com você querido?

            - Sim, sim tia Aurora é bem protetora.

            - Tenho certeza de que é sim... mas Katherina se ajeite, quer comer alguma coisa, é só ir na cozinha, Lucila estava guardando o almoço ainda agora...

            - Não, obrigada, a gente só veio na verdade, porque Greg não acredita quando digo que devemos manter distância daquele bar, então queria que a senhora contasse a ele.

            - Katherina, você sabe que não é bom invocarmos o passado, não gosto de falar sobre isso...

            - Eu sei sim, mas é que tanto ele, quanto Caliel estiveram lá ontem...

            - Vocês estiveram lá? E comeram ou beberam algo?

Por que todos faziam a mesma pergunta, o que tinha com a comida e a bebida de lá?

            - Sim, bebemos um drink, mas pode ficar tranqüila, porque minha tia já me obrigou tomar um chá suspeito ontem mesmo.

Dona Clotilde abaixa a cabeça e pega um porta retrato que estava ao lado de sua poltrona, ele mostrava uma mulher jovem vestida  de noiva e um homem a seu lado, estavam de mãos dadas.

            - Este aqui é meu marido, Fredericko, ele já se foi a muito tempo... nessa fotografia  ainda éramos  felizes.

            - O que aconteceu senhora, o que isso tem a ver com o bar?

            - Você já vai entender rapaz. Fredericko após nascimento de nosso terceiro filho, Clodovicke,  perdeu o emprego e acabou se aproximando de pessoas não tão boas e começou a freqüentar bares e foi quando que conheceu uma família nova ainda na cidade que havia aberto um bar, aonde hoje é o Illusion’s, eram os Meliorn, eles moravam no andar superior.

            “Essa família era estranha, não freqüentavam nenhum lugar e só eram vistos com expressões fechadas, as pessoas logo começaram a comentarem que eram de uma religião proibida e que caçavam, uma prática  excêntrica para a época, numa cidade. Mas para meu marido eles eram as melhores pessoas do mundo.”

            “Fredericko estava cada vez mais diferente, a convivência com aquela família o havia mudado, ficava o tempo todo fora de casa, quando voltava era ríspido com os filhos e comigo, sempre parecia estar cansado e tia um olhar assustador... não era mais o homem que tinha me casado. Até então achei que poderia ser algo temporário, mas foi então que encontrei em sua gaveta coisas estranhas, fiquei assustada, sem reação e quando ele saiu aquela mesma noite, o segui. Já sabia aonde ele estava indo, para a casa dos Meliorn. Fiquei escondida nos portões do fundo observando o que acontecia...”

            Dona Clotilde fechou os olhos, como se quisesse apagar as memórias de sua cabeça.

            - E o que a senhora viu – eu estava excitado com tanto suspense.

Ela olhava para o nada agora.

            - Os Meliorn estavam vestidos como se fossem a alguma festa, reunidos no quintal e meu marido estava com eles.

            “Estavam todos de mãos dadas fazendo um círculo, menos Fredericko, ele estava do lado de fora com um balde na mão. Dentro desse círculo humano possuía outro feito de pedras e no centro uma moça ajoelhada, eu a conhecia, a garota era Elisabeth Petrova...

            - Pera, mas esse é o nome da minha tia avó, que morreu com a peste quando era jovem, meu pai me falou isso uma vez que vi a foto no álbum de minha vó.

            - É verdade Caliel, ela era uma linda garota, tinha os cabelos loiros longos, a mais linda das irmãs Petrova, parecia uma princesa.

            - Mas o que aconteceu para ela estar aí? Quero dizer, lá na casa dos Meliorn – falava Caliel agora empolgado.

            - Então como eu dizia Elisabeth Petrova estava chorando, amarrada no centro do círculo,  marcada com um liquido vermelho que deduzia ser sangue. Nesse momento Fredericko começou a andar ao redor dela desenhando marcações no chão e sobre o corpo da moça com o liquido do balde, logo depois disso deu também as mãos aos Meliorn e sussurraram, sussurraram até que um vento forte começa a soprar em todas as direções, como se estivesse prestes a se formar um furação, quando parou do nada e o fogo surgiu dentro da roda que aquelas pessoas faziam de mãos dadas, e as chamas cresceram e avançaram para a garota.

            “Os sussurros evoluíram para gritos e gemidos cada vez mais rápidos, até que terminou, as chamas praticamente se apagaram e a garota Petrova estava parada imóvel no lugar de antes, foi quando começa a surgir da sua boca e seus olhos e também narinas, uma fumaça negra, se contorcendo e ela vai vagando pelo círculo, passando ao redor de cada Meliorn e de meu marido, e ela para e possui o corpo da garota mais nova da família, retorcendo o seu corpo e o jogando para frente e para trás, girando sua cabeça. A garotinha Meliorn abre os olhos, olha para o céu, com olhos negros, sem brilho e cai no chão.”

            “Eu não podia ficar mais ali, não tinha ideia do que havia ocorrido, tentei sair correndo, mas quando consegui chegar a rua encontrei os Petrova que vinham armados de todas as maneiras possíveis, em busca de Elisabeth.”

Dona Clotilde não queria mais falar, já estava cansada e torturada por tudo aquilo e simplesmente encerrou a história.

            - Depois disso, invadiram o quintal, atirando e queimando tudo. Ver a jovem Petrova desfalecida ali, covardemente fez eles exporem para toda a cidade a vingança que faria com os Meliorn, mataram todos e queimaram em frente ao bar.

            - Agora vocês entendem, acreditam no que eu digo, não se pode ir naquele lugar, na verdade nunca conseguiram proibir o funcionamento, porque os turistas gostam disso, a historia “curiosa”, mas nós sabemos o que aconteceu lá.

            - Mas Kath, Dona Clotilde mesmo disse que não sobrou ninguém, agora aquilo lá é só um bar.

Dona Clotilde interveio

            - Não se pode entrar na lama e não se sujar, aquele lugar está cheio de desgraça, com energias ruins, não podem ficar indo lá.

            - A senhora disse que tinha encontrado coisas na gaveta do Sr. Fredericko, o que eram essas tais coisas?

            - Era um livro antigo, umas facas, ossos, pedras, animais mortos...

            - Esse livro era preto, de couro com um olho na capa?

A senhora estava de olhos arregalados e eu tinha certeza que era esse o livro.

            - Como você sabe desse livro? Ele desapareceu logo depois desse dia! Acreditei que tinha sido queimado junto com Fredericko e os Meliorn.

            - Eu o vi hoje na biblioteca de Tulane.

            - O que foi Greg? –perguntou Kath – o que você viu na biblioteca?

            - O livro de Fredericko, eu o vi, até arranquei isso.

Procurei a página da ilustração que havia guardado no bolso e mostrei.

            - Meu Deus!- dona Clotilde se afastou, com uma expressão de horror – você deveria se livrar disso menino, isso vai acabar com sua vida, não se envolve com as artes do Satanás!

            - Eu tenho sonhado com isso todos os dias.


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Notas finais do capítulo

Obrigado queridos
XOXO
comentários são livres *-*



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