Nem sei ao certo que momento adormeci, só sei que acordei de madrugada, deitado de bruços  no chão, com a janela aberta e a cortina voando para dentro.

            Quando levantei para deitar na cama de novo, minha cabeça doía e meu braço ardia, acendi a luminária e vi que estava manchado de preto, como se fosse uma tatuagem recém feita e dizia; “Fique Longe”.

            Por um momento meu coração acelerou e o sangue me fugiu do corpo, mas consegui tomar uma decisão sensata e adulta, corri fechei a janela e me enfiei debaixo do cobertor, não sei se dormi ou desmaiei.

            Na manhã seguinte já não me lembrava ao certo se aquilo fora sonho ou realidade, mas após ver meus braços limpos, apostei na primeira opção.

            - E aí Gregorius, beleza cara?

            Caliel me cumprimentou sempre risonho e leve como se fumasse.

            - Eu estou muito bem, cadê a Katherina, hoje ela não veio com você?

            - Gregorius, nós não somos namorado, se é o que quer saber, mas se você ta pensando que tem chance com ela, você esta se iludindo amigo – após dizer isso saiu andando e rindo alto – ela vai pisar no coraçãozinho.

            Eu não quis dizer nada, mas essa informação era válida, não estava afim de ter o coração pisado por aí, ou talvez eu nem saiba o que isso queira dizer.

            Após a ultima aula, nós saímos, Caliel ia me levar pra conhecer alguns lugares legais da cidade e por último foi um bar que estava cheio.

            Na entrada tinha um letreiro que lia-se “Illusion’s Bar” – nome interessante para um lugar onde se vende bebidas alcoólicas.

            - Greg, você vai gostar desse lugar, é um dos mais antigos bares da cidade, tem muitas histórias sobre ele.

            - Como assim muitas histórias?

            - Dizem que ele pertence  a um clã de feiticeiros.

            Eu observo o rosto dele, sem crer se ele estava brincando e começo a rir.

            - Cara você é muito engraçado, e olha que ainda nem bebeu...kkk

            - Eu não disse que acreditava nessa história – falou e se sentou na beira do balcão.

            - Então, o que os senhores vão querer – disse um barman com muitas tatuagens nos braços e o cabelo amarrado num coque meio descuidado.

            Caliel tomou a frente e pediu em meu nome.

            - Vamos querer dois Magia Negra – o barman não pareceu espantado como achei que ficaria com o pedido.

            - Acredite Greg, é uma bebida muito boa, você vai gostar.

            O drink realmente existia, era de fato negra, gelada e saía fumaça.

            - Assim que bebi o primeiro gole, senti a reação forte, como se tivesse congelado todo meu corpo dentro, meus batimentos ficaram desacelerados e senti como se tivesse a alguns centímetros do chão, flutuando de tão leve que estava. Abri os olhos e Caliel tava me observando rindo.

            - Não disse que você ia gostar?

            - É a coisa mais louca que já tomei.

            - É porque é magia – disse uma voz feminina atrás de mim, que arrepiou os pelos da minha nuca.

            Virei para ver, mas não tinha ninguém ali. Essa bebida é boa mesmo – pensei olhando para o copo já pela metade.

            - Então Caliel, você vem aqui sempre?

            - Não, na verdade eu venho escondido, porque a minha família diz que esse bar é governado pelos filhos do demônio e que se eu vir aqui vou me tornar um deles também, mas sinceramente eu não ligo – disse dando de ombros.

            - E a Katherina?

            - Ah cara a família dela também faz parte do grupo conservador e ela acaba obedecendo eles, ela não é rebelde como eu.

            Eu ia falar alguma coisa,mas antes que conseguisse, as luzes do palco, diga-se de passagem, eu não tinha notado ele até agora, se acenderam e observei uma silhueta feminina de costas.

            - Greg você vai adorar isso!

            Quando ouvi as primeiras notas da melodia, me senti tão embriagado que fez o Magia Negra parecer suco de uva. Não tinha noção de tempo, só conseguia ouvir aquela voz, que parecia rasgar tudo dentro de mim.

            Se já tivesse levado um tiro, diria que foi essa a sensação que tive, quando a cantora se virou de frente para mim.

            Ela era a coisa mais linda que já havia visto, uma ruiva de cabelos longos e lisos, que me lembrava as chamas de uma fogueira, ou a lava de um vulcão escorrendo, o contraste de sua pele branca, parecia o encontro do céu e o inferno, o gelo e o fogo, com os olhos de uma ave feroz. Naquele momento tive certeza que jamais seria o mesmo.

            Estava encarando tanto a garota que nem percebi o momento que a canção acabou, só me dei conta quando as luzes se apagaram e ela saiu do palco.

            Não podia perde-la, saí correndo pelo bar cheio de turistas a procura dela.

            - Gregorius! Aonde você vai? – Caliel saiu correndo atrás de mim

            - Eu preciso encontrar aquela garota, não posso perder ela, você viu como ela me olhava? – disse procurando uma saída para os fundos.

            - Você tá louco cara! Sabia que não devia ter te dado aquele drink, não pensei que você fosse ficar assim...

            - Legal Caliel, eu não estou bêbado, mas acho que aquela garota mexeu comigo. Se você não for me ajudar a achar ela, vou andar por aí procurando a noite toda.

            - Mas você nem a conhece, não sei como era na França, aonde você morava, mas aqui isso de perseguir alguém desconhecido acaba em prisão, quando não em coisa pior...

            Achei a porta dos fundos e saí sem me importar.