Almas Presas escrita por Gregorius


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ao abrir os olhos naquela manhã, após uma noite de sono tranqüila e profunda o garoto se levantou normalmente, ainda atordoado, mas normal, e olhando no espelho viu o que sempre vê.

Ele nunca percebeu quando começou a mudar, até porque acredita não ter passado por esse processo, se considera o mesmo rosto, o mesmo caráter, apesar de não se lembrar de quando sua imaginação havia se tornado real.

Mas agora aos 17 anos o garoto se olha no espelho sem nenhuma emoção. Desde criança, nunca foi algo inteiro, nunca se definiu. Não era bonito, nem feio o suficiente para não ser, jamais foi inteligente o bastante para ser um gênio, apenas não fracassava, nunca foi odiado ou amado. Sua vida aconteceu no cinza, no ponto cego.

No entanto tudo isso não importava agora para ele, era grande demais para sentir. A muitos dias vinha fingindo ser intenso e feliz, porque uma farsa é verdadeira mesmo não sendo verdade.

- Seu nome é Gregorius D’Lemond, veio recentemente de Colmar, na França, morar com sua tia americana na Louisiana e irá cursar História na Tulane University. Acredite nisso Greg, acredite nisso e não destrua tudo.



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            Tulane era uma construção imponente que realmente parecia ser algo antigo por fora, assim como toda Nova Orleans, mas a me ver do lado de dentro, tudo era fascinante; jovens apressados e divertidos andavam com suas mochilas, sozinhos ou em grupos, davam vida à aquele lugar cheio de corredores e paredes altas.

            Minha sala, onde futuramente passaria boa parte da minha juventude com pessoas que não conheço, parecia muito tranqüila, com grandes janelas que davam para um bosque nos fundos da universidade, no andar superior, com mesas dde madeira individuais, tudo muito simples.

            Tratei de escolher um lugar ao lado da janela, mais ao meio da fila e como cheguei um pouco cedo, antes de todos, fiquei mergulhado em meus pensamentos, contando quantas copas de arvores via no bosque e ouvindo minha playlist do celular. Só saí desse transe quando um rapaz pálido esbarra em minha mesa, todo desajeitado deixando os livros e cadernos cair em cima de mim.

            -Desculpa cara, foi mal mesmo, eu estava distraído.

            -Não tem problema, acontece comigo tipo toda hora.

            -Então, sou Caliel, como vai?- me cumprimentou estendendo a mão.

            -Oi Caliel, prazer, meu nome é Gregorius- apertei sua mão e sorri.

            -Pelo visto seremos amigos Gregorius- disse enquanto se sentava na mesa a meu lado.

            -Eu acho que sim- falei olhando para a porta que bateu, com o professor entrando e dando um sonoro bom dia e dando inicio ao processo de transição de “estranhos” para “colegas”.

            O dia realmente havia passado rápido, e quando menos esperava, já havia acabado. Juntei minhas coisas e saí, logo depois Caliel se juntou a mim.

            -Então Gregorius, você não é daqui não é mesmo?Eu pelo menos nunca te vi na cidade.

            -É na verdade, eu sou francês, morava com meus pais em Colmar, eles são americanos e eu resolvi vir morar aqui, até porque tenho uma tia que vive na cidade.

            -Ata, eu sempre morei aqui mesmo, conheço tudo nessa cidade...

            -Olá rapazes! –disse uma garota loira de cabelo bagunçado, que parecia pertencer a uma banda de rock, sentada num banco na sombra, do outro lado dos muros de Tulane.

            -Oi Katherina, esse daqui é o Gregorius, meu mais novo “colega”-apontou para mim e riu ao dizer a última palavra.

            -Oi - estiquei a mão para cumprimentar.

            -Tudo bem cara? –me deu um abraço apertado me sufocando com seu cabelo –sou Katherina Moore.

            -Você sabia Kath que ele é francês? Não dá pra acreditar né, o inglês dele é bem normal.

            -Como eu disse, meus pais são americanos e eles falam o inglês em casa, acho que foi por isso.

            -Se você é francês, ta morando aonde?-perguntou Katherina.

            -Moro com minha tia/avó, fica mais na saída da cidade na região dos parques, próximo as reservas, é a única casa que tem por lá...

            -Espera aí, mas a única casa que tem lá é a da Srª Krava.

            -Exatamente, minha tia/avó Aurora.

            Os dois pareciam não acreditar no que tinham ouvido e se olhavam descrentes e assustados.

            -A gente precisa ir Caliel, vamos!

            -Tchau Gregorius, a gente se vê amanhã cara. –disse acenando ao mesmo tempo que era puxado por Kath.

            A casa de tia Aurora era pequena, com um jardim bonito nos fundos, era belo a sua maneira, chegando a beira de uma mata selvagem.

            Minha tia era na verdade irmã de meu avô, e nunca chegou a se casar e nem a ter filhos, mamãe sempre disse que é uma senhora simples que prefere a natureza e a solidão.

            Meu refugio era o quarto superior que tinha uma sacada que se misturava aos galhos da arvores e que a noite lançavam sombras nas paredes. Eu realmente estava gostando de estar ali.

            -Gregorius! –tia Aurora me grita – O jantar filho, já ta pronto, venha!

            -Já estou indo.

            A alimentação da minha tia parecia uma adaptação da comida indígena, tinha muito verde, misturas inimagináveis, mas era tudo muito gostoso e saudável.

            -Então como foi seu primeiro dia na escola? – ela me olha com sua cara de “faculdade é escolinha de A,B,C,D.”

            - Ah sei lá tia, eu acho que foi normal, eu estudei. A universidade é muito legal e grande, eu conheci algumas pessoas.. acho que gosto daqui.

            - Que bom, só não vá se distrair tanto viu, seus pais exigem esse tal certificado, não concordo, mas eu só recebo ordens.

            Ri da sua maneira de falar.

            - Tia, eu posso te perguntar uma coisa?

            - Você já perguntou querido, acabaram suas chances, volte para o fim da fila.

            Ri novamente

            - É que hoje conversando com um pessoal que conheci aqui na cidade, falei que morava com a senhora, e todos meio que ficaram assustados, eu não entendi, por algum acaso a senhora é uma bruxa que come criancinhas?

            Falo isso em tom brincalhão, mas ela me olha assustada

            - Gregorius, me respeita! Que educação foi a que seus pais lhe deram?

            - Desculpa.. era apenas...

            - Eu as alimento antes, por alguns dias e só quando estão gordinhas eu tiro o sangue e uso em um tratamento de pele.

            Meu queixo caiu e foi até o chão e ficou rolando.

            Um momento de silêncio e muitas gargalhadas logo em seguida.

            - Não escute as pessoas dessa cidade, eles acreditam em tudo, aqui é Nova Orleans.

            - Claro.

            Terminamos o jantar e fui para o quarto, mamãe ligou logo depois me enchendo de perguntas sobre o primeiro dia na faculdade. Eu estava me sentindo no jardim de infância, mas era bom se sentir cuidado.


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Notas finais do capítulo

É apenas um teste, caso dê certo prometo atualizar o mais rápido possível..
Thank you.. XOXO
Gregorius



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