Entre Irmãos escrita por Okaasan


Capítulo 4
Meidō


Notas iniciais do capítulo

Voltei, enfim.

Penúltimo capítulo desta shortfic cheia de emoções.

OBS.: A ideia do Sesshoumaru que se enfraquece após se transformar em cão e voltar à forma humanoide, eu a criei inspirada no #Hiei de #YuYuHakusho, que fica totalmente fraco quando usa as Chamas Negras Mortais. ;-)

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675504/chapter/4

*

Madrugada.

Kagome, que se recusava a se ausentar por muito tempo do terreno pedregoso onde seu amado hanyou e seu cunhado desapareceram, estava sentada abraçada às próprias pernas, sozinha, chorando.

Como não havia nada a ser feito, a não ser esperar o desfecho daquela batalha em que os dois inuyoukais estavam envolvidos, Kaede viera buscar Jaken e Rin, que não se conformavam em ter momentaneamente perdido seu protetor e mestre. Kohaku também quis ficar com a jovem colegial, mas se sentia fatigado e acabou indo dormir.

Entretanto, se foi um dia. Dois. Cinco. E nada.

Sango e Miroku propuseram a Kagome um revezamento da vigília, com a colaboração da velha Kaede, Jaken e do taijiya mais novo.

Estavam se completando sete dias do desaparecimento de Inuyasha e Sesshoumaru. A pequena protegida do youkai branco já não queria comer, a despeito dos esforços dos adultos. Rin estava inconsolável. Já havia perdido os pais de forma brusca; agora perdera o seu Sesshoumaru-sama. Era demais para seu coração de criança, tão sofrido.

Minuto após minuto, Kagome perdia suas esperanças. Porém, naquela madrugada quente, sentiu que quatro braços a envolviam devagar; o monge e a exterminadora a abraçavam com amor.

O casal também estava abatido e com olheiras. Inuyasha lhes fazia muita falta; e mesmo Sesshoumaru, com sua arrogância e eterna arenga por não ser o receptor de Tessaiga, lhes despertava angústia pela ausência.

— Kagome-sama — chamou Miroku, terno. — Sango teve uma excelente ideia. Você deve tentar se comunicar com a alma de Inuyasha.

— É mesmo, Kagome-chan — concordou a moça, que segurava o ombro da amiga. — Se a alma de Kikyou, que vive em você, conseguiu encontrar o Inu depois de quase 500 anos, quem sabe a sua não pode descobrir onde ele está? Reze!

— M-mas eu não sei como... — soluçou ela.

— Tente se concentrar, nós estamos aqui pra ajudar você — murmurou a exterminadora.

— Quem sabe não veremos um milagre? — afirmou o monge.

Kagome se levantou, tendo Miroku lhe segurando o ombro e Sango lhe envolvendo a cintura. Enxugou as lágrimas e fechou os olhos. O casal entrelaçou os dedos das mãos livres à sua frente.

— Inuyasha, Sesshoumaru... Byakuya os mandou pra onde, pro Meikai? — disse Sango.

— Se eles estiverem lá, terão que usar a Tessaiga, já que a Tenseiga se partiu durante a luta — comentou Miroku.

— Então, o Inu vai ter que aprender a abrir um Meidō...

O houriki de Kagome, que era uma tênue energia magenta, rodeou os três amigos.

*

Dentro do submundo, os dois irmãos corriam a toda. Sesshoumaru, em sua forma canídea, pôde reaver suas memórias perdidas e enfim se lembrou de que fora atirado com o caçula dentro do Meidō que estava na ilusão de Byakuya.

A Kuroi Tessaiga vibrava na mão do agora youkai Inuyasha.

— Rápido, Sesshoumaru! Me ajude a encontrar a luz.

Correram, flutuaram, voaram, enquanto atravessavam aquele estranho ambiente, onde se podia contemplar as mais fascinantes constelações e até mesmo galáxias inteiras. Não era possível relatar com precisão se foram horas ou dias de percurso. De repente, o grande cão saltou com mais força e vontade. Sua visão privilegiada permitiu-lhe encontrar a luz que designava as portas do submundo antes do irmão.

Enquanto isso, Inuyasha teve diante dos olhos todas as lembranças do que experimentou com o youkai branco e pareceu vacilar. Se conseguissem escapar daquela ilusão, possivelmente tudo voltaria a ser como antes, inclusive a rixa entre os dois. Temeu que pudesse ser odiado e rejeitado novamente pelo mais velho, porém foi surpreendido por uma brusca freada de Sesshoumaru. Acabou rolando sobre a cabeça do outro e caindo no solo estranho do Meikai.

— Keh! Maldição! Por que você parou desse jeito, idiota? — gritou Inuyasha. O youkai branco o olhou diretamente nos olhos e o caçula teve a impressão de ver a habitual expressão blasé na face do cachorro, que meneou negativamente a cabeça e abocanhou o hanyou pelo quimono. Antes, contudo, que ele gritasse irritado, uma voz gravíssima lhe soou na mente:

Não temos tempo para insignificâncias, hanyou retardado. Concentre-se apenas em usar o Meidō quando for a hora certa.

— O que nós construímos durante todos esses anos não é uma insignificância, maldito! — replicou ohanyou, ofendido. — Não percebe que, quando escaparmos disso, tudo vai ser como antes, com você preferindo Tessaiga, a herança de nosso pai, à minha companhia?

O cachorro revirou os olhos, recomeçando a correr com o caçula seguro firmemente entre seus dentes, sem contudo feri-lo.

Quer que tudo seja como antes, Inuyasha? Pois bem, não vou forçá-lo a nada. Cabe a você decidir se quer a este Sesshoumaru como inimigo ou como seu aniki¹.

— Não é uma decisão apenas minha! — rebateu Inuyasha. — Você também deve decidir se me quer como inimigo ou como seu otōto²!

O indeciso aqui é você, inútil. Eu já tomei minhas deliberações...

O clarão de luz agora estava cada vez mais próximo. O hanyou se concentrou com a Tessaiga negra nas mãos e o mais velho o soltou, depositando-o no solo e voltando à forma humanoide. Parecia adoentado e tremia ligeiramente.

— Você não me parece bem, Sesshoumaru.

— Não me diga... — volveu o outro, irônico. — Gastei muito do meu youki aqui, o que queria? Sem contar que essa atmosfera me deixa um tanto atordoado, está desequilibrando minha energia...

Inuyasha permaneceu olhando fixamente para aquela luz estranha, ainda com o sangue youkai ativo em seu organismo. Depois, voltou-se para o irmão mais uma vez, ansioso:

— O seu Meidō é perfeito, o meu não. Faça isso você.

— Não, de jeito nenhum. A Tessaiga é sua.

— Eu... Droga, eu sei que a Tessaiga é minha... Mas...— suspirou, agitando as orelhas e olhando para os pés. — Cara, eu nunca usei o Meidō na vida real. Posso fracassar, você sabe...

— Não vai fracassar — revidou Sesshoumaru, severo. — Este Sesshoumaru aprendeu a confiar em você.

A mão grande foi até o ombro do hanyou e o apertou com cumplicidade; Inuyasha ergueu a cabeça e viu um fraco sorriso no rosto pálido de seu irmão.

O sorriso da aceitação e da confiança.

Com aquele gesto, teve sua força renovada. E, com a mão de Sesshoumaru agora pousada sobre a sua própria mão, Inuyasha ergueu a espada, enquanto bradavam juntos:

Meidō Zangetsuha!

E o mundo dos mortos recebeu uma inundação de luz e calor.

*

— Byakuya, seu... Incompetente! — sibilou o irado Naraku, ou o que restava dele, flutuando despedaçado dentro de uma barreira, na casa oculta entre as rochas de uma montanha, com um tentáculo dentro da cavidade ocular do seu servo. O outro apressou-se em se defender:

— E eu lá imaginaria que eles iriam se unir para escapar da ilusão, Naraku? Quem me disse que Sesshoumaru iria destruir Inuyasha por causa da espada foi você mesmo!

— Eles se odiavam! Eu apenas ateei fogo à lenha.

— Deve ter ateado fogo à lenha errada, pois agora eles se protegem e se amam... Veja só, agora Inuyasha está carregando Sesshoumaru nas costas. Parecem mais amigos do que nunc-

— Byakuya, cale a boca e saia de perto de mim — sussurrou o hanyou furioso, estreitando os olhos e se afastando do youkai de lábios vermelhos. Rilhou os dentes:

— Eu ainda vou fazer aquele maldito Inuyasha ser odiado por todos os que o amam.

*

Saindo da escuridão, os irmãos se encontravam agora sobre uma rocha rodeada de lava incandescente e youkais de vários tamanhos que saltavam contra eles. Sesshoumaru estremeceu e caiu.

— Sesshoumaru! O que houve? — gritou o caçula, preocupado, tentando erguê-lo.

— Meu c-corpo ficou esgotado ao usar o Meidō através da Tessaiga por duas v-vezes...

— Mas onde está seu braço esquerdo?!

O youkai branco arregalou os olhos ao notar que estava sem braço e, por conseguinte, sem Bakusaiga. Tentou, mas não conseguiu evitar um sentimento de desgosto.

Então, a espada Bakusaiga também era uma ilusão? Eu realmente não tenho direito a uma herança...?Pensou ele, enquanto dizia com lentidão:

— Parece que voltamos no tempo... Através das eras... Mas estou tão cansado, não vou... conseguir sair daqui. Pode ir, Inuyasha.

— Ficou louco?! Ir pra onde?!

— Destruir o olho que está ali atrás... — arquejou ele, indicando algo com a mão. — E ir... embora, eu... Vou mais tarde... Preciso descans-

Sesshoumaru revirou os olhos e desmaiou. Assustado, Inuyasha correu para verificar seus sinais vitais, já que ele se encontrava extremamente pálido. O coração batia lento, mas constante. O caçula respirou fundo, aliviado.

O hanyou acomodou o corpo grande de Sesshoumaru em suas costas e, com cuidado redobrado, saltou em direção ao pequeno olho que se pôs a fugir dele. Cortava, com a Tessaiga, monstros diversos que tentavam atacá-los — eram numerosos e ele estava cansado, contudo a vontade de levar o mais velho para um local seguro era premente e Inuyasha não se deixaria abater. Então, conseguiu se aproximar mais do olho de Byakuya, que se distraíra por breves segundos ao discutir com seu mestre, e disparou Kongōsōha contra ele, que foi acertado e perfurado pelas lâminas de diamantes.

Em seu esconderijo, o andrógino youkai caía, gritando, com as mãos sobre o olho ferido.

Sentindo cada vez mais dificuldade em se equilibrar com o peso do irmão, o hanyou suspirou de alívio ao ver um largo rasgo do espaço abaixo de seus pés e vislumbrou a tão conhecida grama verde dos arredores do vilarejo.

Sob o olhar estupefato de Kagome e dos outros, os dois inuyoukais precipitaram-se de um círculo que surgira no meio do céu. A essas alturas, todos já estavam reunidos, frenéticos, à espera do desfecho daquele estranho sinal. Caíram, enfim, com grande estrépito no solo. Os amigos saíram em desabalada carreira até eles.

— Inuyasha! Inuyasha!

— Sesshoumaru-sama!

— Para onde vocês foram?

— Por que o Sesshoumaru não acorda?

Sesshoumaru permanecia desmaiado. Inuyasha, vendo a pequena turba de seus amigos que se aglomerava em volta, deu um berro enquanto se ajoelhava ao lado dele:

— Fiquem aí, malditos! Eu vou acordá-lo!

— Como assim?! O que você vai fazer, hanyou imprestável? — gritou Jaken, indignado.

— Deixe ele tentar, Jaken-sama! O importante é ajudar Sesshoumaru-sama a voltar a si! — exclamou Kohaku, segurando a mão de Rin, que queria se soltar a qualquer custo.

— Mas o que foi que aconteceu, Inu, pra você virar youkai? — perguntava Sango.

— E que youki forte — comentou o monge. — Me dá arrepios.

Coube a Inuyasha ignorar a bulha. E, com a força de seu sangue youkai, concentrou energia sinistra em uma das mãos e tocou a meia lua da testa do irmão com os dedos indicador e médio. Instintivamente, ele sabia que aquilo serviria para fazer o youki de Sesshoumaru se reequilibrar, após tanto tempo imerso na ilusão do servo de Naraku e por ter, também, usado a Tessaiga, que não era adequada para ele. Contudo, a única reação do mais velho foi um gemido.

Inuyasha perdeu a paciência e lhe socou o rosto duas vezes, gritando:

— Volte, Sesshoumaru! Seu maldito! Volte! VOLTE!

No terceiro movimento para mais um golpe, o youkai abriu subitamente os olhos, mais uma vez vermelhos, e se lançou contra o caçula, esmurrando-o de volta. Ambos rosnavam, exibindo seus caninos grandes, e rolavam no chão lutando, enquanto as pessoas ao redor deles ficaram estupefatas.

Inuyasha e Sesshoumaru se transformaram num bolo ambulante de cabelos, dentes e garras.

— Vamos! Bata no meu rosto de novo, hanyou desgraçado!

— Keh! Bato quantas vezes eu quiser, seu miserável!

— Eu te odeio! Ainda vou acabar com você! — gritou o mais velho, conseguindo enfim subjugar o irmão debaixo de si.

Pela primeira vez, ouvir o “eu te odeio” de Sesshoumaru magoou o hanyou, que tanto ansiava pelo vínculo com o outro.

— Então é essa a sua decisão, desgraçado? Decidiu ser meu inimigo?

Inuyasha levou um forte murro no rosto.

— De novo essa conversa? Não lhe é óbvio?

— O que é óbvio?

Sesshoumaru girou o corpo do caçula contra o chão, torcendo-lhe o braço para trás e fazendo-o gritar.

— Seu retardado! Não há resposta para uma pergunta idiota dessas!

— Como não?! Então não voltamos a ser inimigos?

— NÃO! — gritou ele. — Somos e seremos sempre IRMÃOS, seu maldito!

Silêncio absoluto se fez durante alguns segundos.

— O quê?! Ele agora reconhece o Inu como irmão? — fez Miroku, sussurrando confuso.

— Também não entendi — cochichou Kaede, enquanto os outros se entreolhavam.

— Sesshoumaru não odeia mais o Inu? — murmurou Kagome, com o coração descompassado.

Então, Sesshoumaru se deu conta de que não estava sozinho com o caçula.

— O QUE VOCÊS ESTÃO OLHANDO?!

Rin deu um pequeno passo à frente e, parecendo meio magoada, perguntou:

— Já podemos chegar mais perto, ou o senhor pretende continuar batendo em Inuyasha-sama?

O youkai, se acalmando imediatamente, se ergueu e foi caminhando devagar até a pequena. Jaken, chorando e fazendo mil reverências, se desmanchava em palavras de lealdade eterna ao seu mestre que, no momento, erguia a menina de nove anos no colo com seu único braço. Rin o abraçou, saudosa e feliz, enquanto Kohaku o reverenciava com orgulho.

A alguns metros dali, Inuyasha caía no chão ao ser derrubado por Kagome, que o molhava com lágrimas incontidas de emoção. Por sua vez, ele, arrebatado, apertou-a entre seus braços, exclamando seu nome e chorando como uma criança, ocasionalmente beijando os lábios e todo o rosto da jovem, enquanto suspirava, agradecendo a todos os deuses por estar de volta para seu lar, sua amada. Miroku e Sango os rodearam, também emocionados, bem como Shippou e a sacerdotisa Kaede. Todavia, em meio à alegria do reencontro, o hanyou buscou o irmão e o que viu foi um par de olhos âmbares cheios de ressentimento e desprezo. Sem dizer palavra, Sesshoumaru lhe deu as costas e se foi pelos ares, o rosto cheio de arranhões já cicatrizando, levando seus companheiros, enquanto Kohaku guiava Ah-Un.

Aquela atitude foi como uma mancha negra a perturbar a paz e a felicidade do caçula.

Sentiu que definitivamente perdia o irmão.

 

*

 

A noite chegou. Alguns dos aldeões, que eram mais próximos a Inuyasha, prepararam-lhe uma pequena festa com comida — o que, evidentemente, deixou o hanyou muito satisfeito. As pessoas notaram que agora ele parecia um pouco mais aberto e sociável, apesar da timidez de sempre. Depois de muito comer e conversar algumas trivialidades com alguns adultos, bater em Shippou por causa de frutas e ganhar um “Osuwari” de Kagome, Inuyasha era puxado para um canto do vilarejo pelo monge.

— Você está triste por causa de Sesshoumaru, não está?

— Keh! Que idiotice, maldito — replicou ele. — Nem me lembro daquele idiota.

— Inuyasha, você não sabe mentir.

As orelhas caninas do hanyou pareceram murchar.

— Ele era meu amigo naquela... ilusão — murmurou Inuyasha. — E agora...

— Era seu amigo? Espere. E o que significou aquela briga de vocês sobre serem inimigos ou irmãos?

Inuyasha cruzou os braços atrás da cabeça.

— Quando a gente descobriu que estava dentro da ilusão de Byakuya, eu perguntei a ele se tudo seria como antes, ele tentando me matar por causa da Tessaiga...

— E aquela foi a resposta? “Somos e seremos sempre irmãos”?

— Foi...

Miroku suspirou.

— Não creio que ele diria uma coisa dessas por dizer.

— Eu também não — disse Sango, que aparecera ali ao lado deles.

— E eu também não — exclamou o pequeno kitsune, vindo atrás da exterminadora.

— E eu também não — ecoou Kagome, que estava também à procura dos dois rapazes.

— Keh! Andam escutando a conversa alheia, seus malditos? — ralhou o hanyou.

— Não seja chato, Inuyasha. Todo mundo estava morrendo de saudade de você! E até aquele metido do Sesshoumaru estava fazendo falta, também — disparou Shippou.

— Keh! — fez ele. — Quem sentiria falta daquele idiota, a não ser Rin e Jaken?

— Você — respondeu Sango, de chofre. — Você está incomodado desde que ele foi embora, Inuyasha. Quer enganar a quem?

O hanyou virou-se com raiva para a moça, que estranhou sua postura.

— Não se meta comigo, Sango! Por que não vai namorar esse monge maldito e me deixar em paz?

— Hã?! Que história é essa?! — exclamou Sango, enquanto Miroku o olhava perplexo.

— “Que história é essa?” — repetiu ele, fazendo uma careta e falseteando a voz ao arremedar a moça. — Foi isso mesmo que vocês ouviram. Esse mulherengo idiota te ama tanto que eu o vi morrer com 31 anos de idade, tentando defender você de uma salamandra youkai venenosa. Eu, veja bem, EU perdi várias noites de sono e sossego me revezando com Kagome pra cuidar dos pestinhas dos seus filhos, porque você estava sofrendo demais pra conseguir criá-los sozinha. E ainda tive que ouvir você dizendo a mesma merda de “por que eu não disse mais vezes que amava houshi-sama?” durante mais de cinquenta anos! Foram mais de CINQUENTA ANOS! Agora você vem pra cá me perturbar e...

O hanyou se calou ao ver que a exterminadora, com o rosto cheio de lágrimas, puxara o monge de encontro a si e beijava seus lábios de forma apaixonada. O queixo dele, o de Shippou e o de Kagome caíram.

— Sango, o que foi isso? — indagou o rapaz, impressionado, ao apartarem o beijo.

— Houshi-sama... Acho que era isso que eu precisava ouvir pra ter coragem...

— Coragem pra aceitar o meu amor? — replicou ele, abraçando-a. — Adoro sua intrepidez, querida Sango. Quer se casar comigo?

— SIM! Quando?! — respondeu a exterminadora, saltitante.

— Quando você quiser... Onde encontraremos um sacerdote?

— Kagome? — chamou o hanyou, vendo que a moça parecia hipnotizada pelo casal de amigos. — Precisamos conversar também.

— Ei, eu vou ficar sozinho? — resmungou o pequeno youkai.

O monge enfiou a mão em um bolso da túnica e de lá puxou uma barra de chocolate que Kagome lhe dera mais cedo.

— Shippou, eu te dou esse doce se você prometer ir fazer companhia a Kaede-sama.

— Oba! — gritou Shippou, avançando no doce e voando para longe de onde eles estavam.

Kagome sorriu para seus amigos.

— Vou indo, gente. Boa sorte e obrigada por tudo.

— Até mais, Kagome-chan — respondeu a exterminadora, muito alegre.

— Até mais, Kagome-sama — afirmou o monge. — E juízo, cachorrão.

— Keh! Seu filho da mãe, vá se lascar! Tomara que leve uma surra!

— Ei, ei, Inu, vamos! — chamou Kagome, impaciente. O hanyou saiu pisando duro, sendo acompanhado por Kagome e ouvindo as risadas do casal. Segundos depois, ouviram o barulho do tapa que Miroku recebia por apalpar Sango, que se distraíra.

 

*

 

— Sesshoumaru-sama, eu sinto que o senhor está triste.

— Não estou, Rin. Na verdade estou muito feliz por voltar para você. Sentiu saudades do seu Sesshoumaru-sama? — disse o youkai com brandura.

— Muita! — respondeu ela, se aconchegando mais ao peito dele. — O senhor é a pessoa mais importante da minha vida.

O comentário pueril tocou no coração de Sesshoumaru, que olhou para o rosto descorado de Rin. Eles voavam pelos céus, em direção ao castelo feudal que pertencia ao daiyoukai.

— Menina estúpida, cale a boca! — protestou Jaken. — Não vê que perturba o mestre com essas idiotices, sua...

— Jaken — sussurrou o youkai branco, da forma mais homicida possível. — Esta a quem você chamou de estúpida é Rin-sama, para você. Se eu o ouvir desrespeitando mais uma vez a minha futura esposa, vou matar você e arrancar-lhe esta pele verde para tecer sandálias para ela!

— Hein?! — fizeram todos; até o dragão olhou para seu dono, curioso.

E-esposa?! — indagou o verdinho, estupefato.

— Sim! Esposa! Rin, minha pequena... — disse ele. — Ainda é cedo para tal pedido, mas este Sesshoumaru deseja saber se você aceita ser desposada por ele quando fizer dezesseis anos. Até lá, continuarei sendo seu guardião e lhe darei uma vida digna e honrada.

— É sério? Puxa, que legal! Aceito! — riu ela, alegre, abraçando-o. — O senhor será meu príncipe encantado como nos contos de fadas?

— Já sou um príncipe, só que sem quaisquer encantamentos, já que feitiços não me atingem. A propósito... — afirmou ele, o semblante se fechando ao se lembrar de algo. — Agora você vai com Kohaku, minha Rin. Kohaku, Jaken, quero que a mantenham segura.

E, sem mais delongas, Sesshoumaru colocou Rin sentada sobre o lombo de Ah-Un e se pôs a voar velozmente para a direção do vilarejo de Inuyasha.

— Sesshoumaru-sama, onde o senhor vai?! — esganiçou-se Jaken.

— Vou resolver um assunto de família!

 

*

 

Inuyasha e Kagome andavam pela área mais aberta da floresta que levava o nome do hanyou. Suas mãos estavam juntas; a jovem estava corada, cheia de expectativas, ao passo que ele estava da cor do próprio quimono.

— Kagome, você me ama...?

— É claro, Inu — sussurrou ela, os olhos cintilantes de carinho. — Eu o amo muito.

— E você... Você sabe que eu também a amo, não é? Senti tanto a sua falta... Você é minha vida, Kagome, não consigo ter sequer um pensamento coerente se não tiver você ao meu lado...

Os olhos de ambos se encontravam, enquanto Inuyasha tomou a mãozinha da jovem entre as suas, ansioso e apaixonado por estar declarando seu amor pela verdadeira primeira vez. Logo, estavam trocando um beijo cálido e envolvente. Abraçavam-se cheios de doçura, enquanto ele lhe enxugava as lágrimas. Contudo, Kagome percebeu que seu querido estava amargurado.

— Meu bem, você está triste, não está? Conte para mim...

O hanyou suspirou, enquanto se afastava da aprendiz de sacerdotisa e segurava suas mãos com firmeza.

— Sabe, Sesshoumaru e eu nos tornamos amigos durante a ilusão daquele desgraçado Byakuya. A gente ria, cantava, comia, dividia despesas... Ele me salvou diversas vezes, meu anjo.

Kagome não deixou de sorrir ao ouvi-lo chamá-la daquela forma meiga.

— Que foi? — inquiriu ele, intrigado.

— Você me deixa feliz quando demonstra carinho por mim, é isso...

O olhar afetuoso da moça encheu o coração do hanyou de prazer, porém em breve o contentamento foi ofuscado.

— E, de repente, depois que escapamos ele... Mudou. Parece que tudo voltou à estaca zero.

— Mas eu o ouvi dizendo que vocês não eram inimigos!

— Os olhos dele me disseram outra coisa — rebateu Inuyasha, soturno.

— Amor... Fique calmo. Tudo foi muito recente, ele deve estar atordoado.

— Não sei... — suspirou ele. — Como eu já te contei, morri. Não sei por quanto tempo. E nem sei o que Sesshoumaru andou fazendo até que despertamos os dois no Meikai e conseguimos sair de lá.

— Entendo.

Pararam perto de uma árvore.

— Eu queria ter um irmão, Kagome. Um irmão que me amasse de verdade, que desabafasse seus medos comigo e que ouvisse também os meus. Um irmão que fosse meu companheiro pra rir e pra chorar, sabe?

— Você tem a nós, se aquele cabeçudo não quiser isso, meu bem.

— Sei que tenho a vocês — sorriu ele, triste. — Mas...

— Eu entendo... — murmurou a moça, tocando-lhe o rosto machucado. — Você aprendeu a gostar de ser irmão de Sesshoumaru, e gostaria que ele sentisse o mesmo. Dê tempo ao tempo, meu amor. Ele deve estar desorientado com tudo iss- EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI! — berrou ela, ao ter o hanyou arrancado de si violentamente. — Mas que droga! SESSHOUMARU! Me devolva Inuyasha !

— Merda! O que deu em você, seu maluco? — gritava o hanyou, seguro pelo braço do youkai branco, que, parecendo irritado, apenas gritou de volta:

— Cale a boca, mulher estúpida! Tenho contas a acertar com este bastardo!

Ambos voavam a toda velocidade pelo céu escuro da noite; Inuyasha continuava esbravejando e se debatendo.

— Maldito! Pra onde está me levando?

— Não dá pra calar essa boca não?!

— Nunca! Enquanto você não me disser o que...

— Eu ODEIO te ouvir resmungar, idiota! Feche a matraca, eu preciso me concentrar!

— Concentrar...?! — indagou o mais novo, intrigado. — Para quê?!

Sesshoumaru apenas olhou de soslaio para ele.

— A princesa do Oeste, minha haha-ue, revelou-me que o feiticeiro que amaldiçoou nosso chichi-ue Inu no Taishō a não poder ter descendentes e nos condenou está vivo!

— Então isso não era parte da ilusão?!

— Não, Inuyasha! Somos realmente dois inuyoukais inférteis. Mas agora isso vai mudar... Vamos encontrar o maldito feiticeiro e...

— Você disse “vamos”?

— É claro que eu disse “vamos”, retardado! Você é surdo?

Inuyasha piscava sem entender.

— Eu pensei que você não quisesse... Sabe... Não me quisesse mais como seu otōto.

— E eu não queria, depois de ver que continuo sem o braço que você me arrancou — rosnou o mais velho. — E sem Bakusaiga. Sem espada, sem herança do meu pai, sem merda nenhuma.

O hanyou baixou a cabeça, magoado. Ambos agora avistaram uma ilhota. Mas foi surpreendido por seu irmão, depois de uns instantes em silêncio.

— Enfim... Mesmo sem braço, sem Bakusaiga e sem herança, este Sesshoumaru tem a você, que me ensinou o que é ser feliz, seu maldito. Isso basta.

Um cheiro de lágrimas no ar.

— Chorando, fracote? — ironizou Sesshoumaru, disfarçando a própria emoção.

— Eu... Eu ainda vou te dar uma surra por isso, seu desgraçado! — gritou o hanyou, com os olhos marejados.

— Também te amo, idiota — sorriu o youkai, também com os olhos úmidos, já quase chegando a terra. Antes, porém, que seus pés tocassem a terra firme, deu um cascudo na cabeça de Inuyasha, enquanto dizia arrogantemente:

— E quem bate em você sou eu.

 

*

 

¹ — Aniki: irmão mais velho.

² — Otōto: irmão mais novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... O próximo post será o epílogo de "Entre Irmãos".

Obrigada a quem tem acompanhado!

~Okaasan



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Irmãos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.