Entre Irmãos escrita por Okaasan


Capítulo 5
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal.

Enfim, chegamos ao final de "Entre Irmãos"! Peço desculpas pela imensa demora.

Perdoem eventuais erros! Estou postando às pressas e, como não possuo beta reader, pode haver uma ou outra falhinha aí. rs

Boa leitura!



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Em um alto abacateiro no quintal ficava o local de descanso favorito de Inuyasha. Ele escolhia um dos galhos mais grossos para se acomodar, quase que diariamente; naquela tardezinha, porém, ele não estava sozinho.

Ao seu lado, havia um rapazinho hanyou muito parecido consigo, diferindo apenas nas orelhas – o mais novo as tinha em formato humano. Os cabelos eram prateados, os olhos âmbares, as sobrancelhas fartas, os ombros largos e fortes... Tudo fazia com que o jovem parecesse ser uma versão bem humorada e jovial de Inuyasha. Porém, naquele instante, ambos estavam tensos, balançando as pernas; o hanyou mais velho estava aborrecido.

— Rinne, seu moleque retardado... Não acredito no que está me dizendo!

— Mas, papai, eu não vou mentir... Gosto da Ageha, mas tenho vergonha de contar isso pra ela...

— Você é um homem ou não é?! Não admito que meu filho seja um covarde!

— Não sou covarde, papai, sou tímido... Igualzinho a você! — replicou ele, com um meio sorriso desafiador iluminando o rosto corado.

Rinne tinha vinte e nove anos e aparência de dezesseis. Um pouco mais magro que seu pai, o híbrido inuyoukai era afável e gentil com suas palavras e gestos. Generoso e carismático como a mãe, Kagome, Rinne não se incomodava com os adjetivos grosseiros que Inuyasha dirigia contra si. O garoto percebera há pouco seus sentimentos pela filha mais nova de Kohaku, Ageha, que também era uma exterminadora.

— Pouco me importa! ‘Eu sou tímido’... — fez Inuyasha, arremedando seu filho. — Keh! Palhaçada! Daqui a pouco você me chega aqui chorando porque perdeu a garota para outro. Seu maldito!

— Papai, deixe de exageros. Será que foi tão fácil assim para você se declarar para mamãe?

— Não interessa! — e o mais velho saltou agilmente do galho, sendo acompanhado pelo rapaz. — Agora, você vai me ouvir... Ou você vai até Ageha hoje mesmo se declarar, ou eu vou te deixar de castigo lavando o enxoval da Akane.

— Mas eu já lavei esse enxoval na semana passada, papai!

— Pois vai lavar de novo! E, se reclamar, vai continuar lavando até o dia do parto.

— Papai, assim as roupinhas de Akane-chan vão desmanchar. Roupas de bebê são delicadas e...

— Seu moleque preguiçoso! — gritou Inuyasha; Rinne, porém, parecia não se intimidar. Conhecia bem o turrão que era seu pai hanyou. — Você devia ter vergonha! Sua irmã está prestes a nascer e você se recusa a...

— Osuwari! — soou uma voz feminina irritada de dentro da casinha de madeira.

hanyou foi atirado ao solo com violência, enquanto uma Kagome barriguda e cansada vinha se aproximando com um samburá vazio em mãos. Surpreendida com uma gravidez temporã aos quarenta e seis anos de idade, a sacerdotisa estava em pleno estado de graça, já que não imaginava conseguir gerar mais filhos depois da difícil e penosa gestação de Rinne. O rapaz correu a abraçá-la, tirando o samburá da mãe.

— Mãe, não precisa mandar o papai ‘sentar’ só por isso – reclamou o hanyou jovem, com doçura, fazendo Kagome sorrir.

— Ele estava te aborrecendo, Rinne. Como se ele achasse assim tão fácil falar de sentimentos...

— Keh! A culpa é sua, Kagome! – protestou Inuyasha, se erguendo com raiva do chão, olhando para sua esposa e filho juntinhos. – Fica mimando esse marmanjo aí...

— Deixa de ser ciumento, pai. Mamãe... Você está meio vermelha, seu cheiro mudou – afirmou Rinne, preocupado, olhando para a face da mãe, que mostrava já algumas linhas de expressão sob os olhos e fios brancos de cabelo. Ambos se deram as mãos. – Está tudo bem?

Kagome sorriu misteriosamente, encarando seus dois amores enquanto passava a mão pela testa suada:

— Akane está chegando.

Inuyasha piscou, olhando para seu filho, que também parecia não ter entendido.

— Como assim, amor?

— Não entendi, mamãe.

A sacerdotisa deu uma leve risadinha, tentando disfarçar o desconforto de uma contração. Pai e filho correram a ampará-la, nervosos.

— Amor, isso é... – afirmou Inuyasha, olhos enormes.

— A chegada da sua filha, amor.

— Kagome... – balbuciou ele, lívido, e a mulher ficou surpresa ao ver a mesmíssima expressão de pavor de vinte e nove anos atrás.

— Kami-sama, mamãe! – exclamou o garoto, apavorado. – E agora? Devo chamar tia Sango?

— Primeiro vamos manter a calma, filho.

— COMO MANTER A CALMA NUMA HORA DESSAS?! — bradou Inuyasha. Rinne franziu o cenho e olhou bravo para o mais velho.

— Papai, não grite. Você precisa dar uma força pra mamãe.

— É o jeito dele de se expressar, meu anjo. Não se incomode, eu estou bem — aparteou Kagome, conciliadora. — Sobre Sango-chan... Ela viajou com sua prima Kagura, Rinne. Chame Rin-chan...

E, tão ágil quanto um inuyoukai híbrido pode ser, Rinne saltou em direção ao vilarejo. A sacerdotisa segurou a mão do marido, que estava trêmulo.

— Kagome...

— Inuyasha, fique calmo. Eu estou bem ...

— M-mas você vai gritar e sangrar e...

— Por uma ótima razão, meu querido. Olha... — a barriga estava pontuda à esquerda. — Ela está pronta para vir alegrar ainda mais nossa vida. Vamos, fale com ela...

hanyou se ajoelhou diante do ventre avolumado de Kagome e, delicadamente, encostou a cabeça ali, ouvindo o pulsar vigoroso do coração da criança, que a sacerdotisa descobrira ser menina por causa de seu poder espiritual.

— Akane – murmurou Inuyasha, olhos fechados, tentando conter o tremor nas mãos. – Me desculpe... Sou um idiota que não suporta ver sua mãe sofrer. Não vou estar ao seu lado q-quando você nascer, mas... — soluçou.

— Calma, amor... Você não precisa se sentir culpado por não conseguir ficar comigo no parto.

— Eu não consigo... Não depois de ter visto você quase morta no parto do Rinne... — objetou ele, num fio de voz, irritado consigo mesmo por causa de suas lágrimas. A mulher, fazendo um grande esforço, se ajoelhou diante dele.

— Inuyasha, vamos fazer o seguinte? — disse ela, com ternura, com o rosto do marido entre suas mãos. — Quando Sesshoumaru chegar, vá dar uma volta com ele.

— V-você acha que ele vem?

— Tenho certeza... — e Kagome beijou a testa do hanyou. — Ele vai te ajudar a lidar com seu nervosismo, assim como você o ajudou quando Rin-chan teve toda aquela complicação no parto de Kagura. Agora, me ajude a levantar... Quero ir para dentro.

Lentamente, Inuyasha se ergueu e pegou Kagome nos braços.

— Não, Inu, eu quero ir andando. Eu preciso andar. Vai facilitar a descida de Akane...

— Eu sei, amor, mas... Deixe-me levar vocês.

 

***

 

Sesshoumaru empurrava perigosamente uma menininha hanyou, sentada em um balanço pendurado em uma cerejeira de seu quintal. Ela aparentava ter uns sete anos de idade; tinha cabelos negros, olhos âmbares e uma meia-lua na testa, além de garras afiadas nas mãozinhas. Ria, a pequena, como se não houvesse amanhã, principalmente quando o youkai a impulsionava de forma a alcançar a copa da árvore com os pezinhos.

De dentro da casa, uma voz de mulher exclamou para ele:

— Sesshoumaru, Kagura já lhe disse que não gosta que brinque desse jeito com Keiko.

— Não há perigo algum, minha Rin. Keiko jamais se machucará enquanto estiver brincando comigo. Por que mulheres têm esses medos bobos, como se seus rebentos fossem de cristal? — foi a resposta zombeteira. A tréplica de uma zangada Rin se fez ouvir:

— Não seja imprudente, homem... E vá chamar Ryuho para almoçar! Ele está brincando na água há mais de uma hora com os meninos de Miroku-sama! Se ele ficar doente de novo, você vai se ver com Kagura, entendeu?

O youkai branco apenas sorriu, parando de balançar a pequena Keiko, que protestou:

— Sesshoumaru-ojii-sama, eu quero brincar mais...

— Devo ir buscar seu irmão, minha Keiko. Agora você vai me esperar aqui...

— Não, eu vou junto!

Não foi necessário, contudo. O hanyou Ryuho vinha correndo, apenas de calças, ensopado e com uma expressão afobada no rosto infantil. Como sua irmã, ele possuía a meia-lua na fronte e cabelos negros e luzidios. Mal chegou perto dos dois, gritou:

— Keiko, vai para lá!

— Por quê? — questionou a garota, brava.

— Porque eu quero falar a sós com Sesshoumaru-ojii-sama. E é uma conversa de homem para homem!

O youkai branco arregalou os olhos, fitando a fisionomia do pequeno. Virou-se para Keiko:

— Querida, faz um favor para o seu Sesshoumaru-ojii-sama?

— Faço!

— Passe na horta e leve dois maços de aspargos para a vovó Rin. Depois que todos almoçarmos, eu volto a brincar com você.

A pequena titubeou, olhando para ele e para seu irmão.

— Brinca mesmo, vovô?

— É claro. Anda, vai.

Então, Keiko se foi, correndo. Sesshoumaru, enfim, se virou para seu outro neto.

— Sou todo ouvidos, Ryuho.

— Olha, vovô — sussurrou ele, baixando as calças. — Tem um osso no meu pipiu.

O youkai branco agitou as orelhas, agastado e preocupado. Como explicar aquilo para o miúdo?

— Errr... Bem, Ryuho, o que você acha que pode ser?

— Ué... Miroku-ojii-sama estava lá na lagoa, tecendo tapetes, e eu estava brincando com Asato e Matsumoto. Então deu um vento bem ventado, e senti frio... Aí, quando olhei para baixo, no meu pipiu tinha um osso... Fui perguntar para Miroku-ojii-sama, mas ele riu, deu um tapinha nas minhas costas e disse: “Parabéns, Ryuho-chan, você puxou ao seu avô humano aqui”! E até agora eu não entendi. O que Miroku-ojii-sama quis dizer?

Sesshoumaru revirou os olhos, aborrecido. “Vou ter que ter outra conversa séria com aquele monge tarado idiota”.

— Vovô — chamou o pequeno. — Quando mamãe chega?

— Deve chegar amanhã à tarde, Ryuho. Provavelmente, ela deverá passar pela colheita de arroz do velho Rishiki para vir com seu pai.

Súbito, avô e neto perceberam um cheiro diferente no ar.

— É o Rinne, vovô. Parece que está conversando com Rin-obaa-sama.

— Ora – fez ele, revirando os olhos. – O que aquele hanyou estúpido veio fazer em minha propriedade?

Ryuho fez cara séria.

— Vovô... Rinne não é estúpido, ele é super legal. E eu também sou um hanyou.

— Mas você é MEU neto. Aquele idiota do Rinne é filho do idiota do Inuyasha.

— Mas qual é a diferença?

— Não é óbvio? Eu sou o daiyoukai Sesshoumaru, portanto você é um hanyou inteligente e perspicaz por ser meu neto, o que não é o caso de Rinne. Vamos para dentro.

Ao se aproximarem da casa, porém, o jovem Rinne saía pela porta, encarando Sesshoumaru com expressão angustiada. O youkai branco soube, de imediato, que seu irmão caçula estava precisando de sua presença. Sem pestanejar, entrou em casa, buscando a esposa:

— Está indo ver a miko, minha Rin?

— Sim, Sesshoumaru. O bebê está nascendo. Por quê?

— Apresse-se, então. Vou levá-la.

Rin sorriu.

— Que bom, querido. Inuyasha vai precisar muito de você.

— Quem disse que me importo com aquele hanyou imprestável? Estou indo apenas para levar você até Kagome.

— Oh, sim — replicou ela ironicamente, rindo e arqueando uma sobrancelha. — Acredito em você, Sesshoumaru-sama. Você realmente não gosta de seu irmão.

 

***

 

Cinco horas se passaram. A criança ainda não havia nascido.

Inuyasha e Sesshoumaru estavam sentados ao lado do Poço Come-Ossos. Apesar da distância, era possível a ambos ouvirem os gritos de Kagome, o que fazia com que o hanyou entrasse em franca agonia. O mais velho, por sua vez, apesar da face de indiferença, se encontrava ansioso e procurava, à sua maneira, confortar o irmão que, se vendo a sós com Sesshoumaru, chorava abertamente.

— S-Sesshoumaru, e se elas morrerem...?

— Elas estão bem. Kagome é uma humana forte.

— Mas eu estou com tanto medo!

O youkai encarou o irmão, que mordia o lábio inferior, lutando contra o desespero.

— Confesso que também tive medo quando Kagura veio ao mundo. Quase perdi minha Rin.

— Eu me lembro... Ela desmaiou durante o parto e você...

— Não precisa me lembrar do que aconteceu – azedou o mais velho. Odiava lembrar que, em dado momento do trabalho de parto de sua única filha, Rin perdera os sentidos. E ele, a cabeça.

Inuyasha tivera que empreender um esforço hercúleo para impedir que seu irmão, abalado e insano, arrombasse a porta do quarto ao ouvir as palavras “Rin desmaiou”. No processo, fora espancado e mordido, mas não desistiu de conter e amparar Sesshoumaru como podia, impedindo que ele se machucasse demais e, também, protegendo a vida de Rin e das demais mulheres que lá estavam.

Assim que Kagome e Miroku usaram seu houriki combinado para salvar a esposa de Sesshoumaru, que havia perdido muito sangue, o parto ocorreu sem mais problemas. Logo, a menina hanyou de cabelos prateados, meia-lua na testa e orelhas humanas vinha ao mundo, bela e saudável.

E o daiyoukai Sesshoumaru chorou todas as lágrimas que jamais chorara em seus atuais 397 anos de idade, tanto pela emoção ímpar de ser pai, quanto pela angústia de ver o sacrifício de seu otōto, que jazia nocauteado no lado de fora de sua casa.

Kagome gritou mais uma vez, longamente. Os irmãos agitaram as orelhas.

— Mas que grito comprido... — lamentou-se o hanyou, com as mãos entre os cabelos.

— Acho que ela está nascendo — comentou o youkai branco, atento. — Se Kagome gritar dessa maneira de novo, é porque...

Outro grito prolongado chegou ao ouvido dos dois. De um salto, Sesshoumaru se pôs de pé, dando um tapa na cabeça de Inuyasha.

— Vem, idiota, levante-se. O parto está chegando ao fim. CORRA!

— Estou indo, maldito... Tudo o que mais quero é estar com elas. M-mas...

hanyou arqueou a sobrancelha ao perceber que Sesshoumaru estava correndo ao lado dele, ao invés de voar, como era de seu costume.

— Pare de olhar para mim, seu burro!

— Como não olhar?! Você não é de correr... Por que não voa?

— Porque não quero, lesado! Estou aqui para IR COM VOCÊ!

— ...

O último e mais soberbo grito feminino que ecoou no ar desestimulou Inuyasha a perguntar qualquer outra coisa. Correu como um louco, tendo seu irmão ao lado, vencendo rapidamente a distância entre o poço e sua moradia, que estava bem movimentada. Os netos de Miroku e de Sesshoumaru brincavam com mais algumas crianças do vilarejo; Inuyasha desacelerou o passo, expectante, atento a novos sons. Um choro de bebê era facilmente ouvido por todos. Seu filho Rinne, que estava olhando pela janela, sentiu seu cheiro e olhou para trás, radiante.

— Papai, o que está fazendo aí parado?! Vem logo! — exclamou o rapaz. — Akane é linda, cabeludinha e tem orelhinhas de cachorro como você...

— M-mas... Sua mãe está tão... Quieta, Rinne... — murmurou Inuyasha. Antes que o rapaz dissesse qualquer coisa, Sesshoumaru apareceu atrás do irmão, dizendo imperiosamente:

— Entre.

— Mas e se Kagome estiver mal? Não ouço sua voz! E se ela...

Cascudo.

— Merda! Sesshoumaru, seu maldito...

— Ou você entra logo nessa casa ou este Sesshoumaru irá matá-lo — rosnou o outro, irritado, em voz baixa e perigosa. — Vim para estar com você, não para ver ceninhas de covardia.

Nesse ínterim, Rin saía de dentro da casa, suada, exausta. Ela se tornara uma jovem avó madura, ponderada e muito querida pelo povo; adorava auxiliar parturientes.

— Vem, Inuyasha — chamou ela, sorrindo. — Kagome teve um parto rápido e tranquilo. E minha sobrinha mama como um youkai! Que garotinha gulosa...

hanyou caminhou para dentro da casa, como um autômato; Sesshoumaru, devagar, se dirigiu até a esposa, que agora ocupava o lugar de Rinne, na janela, pelo lado de fora. Ambos trocaram um beijo discreto assim que notaram que as crianças não estavam olhando em sua direção.

Dentro da casa, Kagome amamentava Akane enquanto uma das noras de Miroku procurava ajudá-la a se deitar com mais conforto. Inuyasha estava de joelhos ao seu lado, colocando a ponta do dedo dentro da mãozinha da criança, que o agarrou com força. A outra mão do hanyou estava à frente da boca, buscando abafar o som de seus soluços. A sacerdotisa, satisfeita, começou a dizer a Inuyasha o quanto o amava, quando Rin puxou de leve a manga do quimono de Sesshoumaru.

— Diga, amada Rin.

— Vem, vamos deixá-los à vontade. Kagome-chan precisa de repouso.

— Sim, claro – respondeu o youkai, permitindo que a esposa o conduzisse pela mão para a pequena e farta horta da sacerdotisa, distante da casa. Lá chegando, Rin se pôs a colher molhos de acelga e coentro, enquanto comentava com naturalidade:

— Um bom caldo de legumes vai fazer bem para ela. Espere só um pouco, querido, vou pegar um lenço limpo para você...

— Lenço? Por que eu precisaria de um lenço, mulher?

Rin sorriu para ele, divertida; os olhos de Sesshoumaru estavam cheios d'água e ele tentava ocultar sua emoção pelo nascimento da nova sobrinha. Sem muito sucesso.

— Tem um cisco nos seus olhos, Sesshoumaru. O mesmo cisco de quando Ryuho e Keiko nasceram.

— Ora... – resmungou ele, assim que a primeira lágrima lhe marcou o rosto ainda jovem. – Cisco... Eu...

Rin o abraçou devagar. Mais lágrimas traíram a suposta indiferença do daiyoukai, que abraçou a mulher de volta com força.

— Está feliz por mais uma sobrinha, querido?

— Odeio ter que reconhecer que sim, Rin. Eu... – suspirou pesadamente. – É humilhante para mim chegar a este estado de perturbação por causa da filha daquele hanyou inútil.

Rin já havia se acostumado com aquele palavrório preconceituoso de seu marido, de maneira que apenas permaneceu quieta, à espera de que ele dissesse algo mais.

— É absurda a forma como Inuyasha me preocupa e me afeta. Desde que saímos da ilusão de Byakuya, parece que aquele híbrido retardado passou a fazer parte de mim. Se ele se deprime, eu sinto dor na alma; se ele ri de alegria, me sinto impelido a fazer o mesmo.

— E isso é ruim, meu querido? – indagou a mulher, docemente.

O youkai olhou para a casinha de madeira e viu seu irmão de pé, segurando a filha recém-nascida com adoração na face vermelha. Voltou a olhar para sua Rin, acariciando a orelha dela.

— Eu, Sesshoumaru, seria louco se dissesse que é ruim. Aprendi com ele que é do amor que extraímos a força verdadeira. Hoje — pegou o rosto de Rin entre as mãos grandes — sou um daiyoukai infinitamente melhor e mais forte. Tenho a esposa humana mais perfeita do mundo, tenho a filha hanyou mais destemida e corajosa do mundo e os netos hanyous mais lindos do mundo. Amo vocês mais do que a mim mesmo...

Pausa. O daiyoukai respirou fundo antes de prosseguir:

— Em contrapartida, tenho o sobrinho mais tapado do mundo (tomara que essa hanyou que nasceu hoje não seja igual a ele), a cunhada mais maluca do mundo e o irmão mais estúpido da galáxia. Nossa filha tem como sogro um monge tarado que pode colocar nossos netos perdidos e, como sogra, uma exterminadora violenta que pode ser assustadora quando está com raiva. E...

Sesshoumaru sacudiu a cabeça, incomodado, cenho franzido.

— E o que, amor? — perguntou sua Rin.

— Odeio admitir, mas amo todos eles!

A humana deu uma sonora gargalhada.

 

***

 

Na semana seguinte após Akane completar três anos, Inuyasha terminava de estender as roupas no varal quando sentiu o cheiro do irmão se aproximando no ar. Gritou para Kagome, que estava dentro de casa, que iria dar uma volta, e se foi em direção à Goshinboku.

Sesshoumaru o esperava sentado sobre um dos galhos. Ágil como sempre, o hanyou o alcançou. Ficaram calados por algum tempo, até que o youkai branco quebrou o silêncio:

— Sinto falta de ouvir você tocando o Folk Takamine.

Surpreso, o hanyou deu um meio sorriso.

— Não tenho o Folk Takamine, mas ainda sei cantar Love of My Life.

— Ah, essa é muito melosa!

hanyou encarou Sesshoumaru, intrigado.

— Pensei que gostasse de Queen, Sesshoumaru.

— Gosto, retardado, porém não estou com espírito para ouvir que o amor da minha vida me deixou. Minha Rin está vivíssima, bem como minha filha e meus netos.

— É, você está certo, seu maldito. Kagome também... Está viva, saudável, com Rinne e Akane...

Silêncio.

— E nós também estamos vivos — sussurrou o youkai. Inuyasha permaneceu olhando para os olhos âmbares de Sesshoumaru, enquanto sorria largamente, divertido. Falseteou a voz e começou a cantar:

— “Whether you're a brother or whether you're a mother, you're stayin' alive, stayin' alive” (Se você é irmão ou se você é mãe, você continua vivo, continua vivo).

Foi a vez de Sesshoumaru sorrir.

— Pensei que iria levar mais tempo para você entender o que eu queria ouvir! — e, também falseteando sua voz, acompanhou o irmão, enquanto estalava os dedos para estabelecer o ritmo da música. — “Feel the city breakin' and everybody shakin' and you're stayin' alive, stayin' alive” (Sinta a cidade mexendo e todo mundo dançando e você continua vivo, continua vivo).

— Ah, ah, ah, ah, stayin’ alive, stayin’ alive...

Sesshoumaru desceu para o solo, sendo seguido pelo irmão, que não parou de cantar, até que esqueceu parte da letra, fazendo um na-na-na ininterrupto. Parou ao ver que estava seguindo o youkai branco por uma estrada que não conhecia.

— Para onde vamos, Sesshou-kun? AAAAI! — e Inuyasha levou um puxão de orelhas. — Merda! O que deu em você?!

— Escuta, híbrido imbecil... Não é porque é o seu aniversário que vou permitir que me chame por esse apelido gay.

— Keh! Eu te chamo do que eu quiser. E continuo querendo saber para onde estamos indo!

— Vamos comer peixes assados à beira do rio Meguro.

— Sério?! Eu ADORO peixe assado, seu maldito! — exclamou o hanyou, feliz da vida.

— Grande novidade — comentou o youkai, sarcástico. — Anda, continua cantando. Não posso demorar muito, prometi a Rin que estaria de volta a casa antes do sol se pôr, hanyou idiota.

Sesshoumaru recomeçou a cantar Stayin’ Alive e a imitar os passos de John Travolta no filme Saturday Night Fever, ao passo que o caçula ria como se não houvesse amanhã, acompanhando-o na brincadeira.

E, assim, os dois irmãos se foram estrada afora, cantando e se divertindo ao seu próprio modo.

Como nos velhos tempos, onde eles tinham apenas um ao outro para amar e proteger.

 

* Fim *

 

***


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Notas finais do capítulo

Os nomes Rinne, Akane, Ryuho e Keiko são de personagens de outros animes. E sobre a filha exterminadora do Sesshoumaru... Eu gosto da Kagura! #MeJulguem. kkkkkkkkk o/

John Travolta dançando Stayin' Alive: https://www.youtube.com/watch?v=Fa9n7GirhsI

É a minha primeira fic finalizada. Que emoção!

Agradeço, imensamente, a cada leitor que comentou e favoritou, e também a quem leu anonimamente... Foi um prazer estar com vocês! ♥

Abraços da mamãe

~Okaasan



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