Desde o princípio escrita por Ckyll


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Hey amores
Eu ia postar o capítulo no exato momento em que o site caiu, então aproveitei para melhora-lo... espero que tenha dado certo.

Boa leitura!



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Poseidon não queria encontrar Apolo na cama de nenhuma das musas, por isso decidiu voltar ao seu palácio.

Sua ida ao Olimpo fora uma decisão impulsiva, como quase tudo o que ele fazia, mas por uma boa causa. O pergaminho em sua mão manteve-se intacto enquanto a água o cercava, e o deus não tardou a entrega-lo a uma de suas servas, ordenando o preparo imediato daquele chá.

Parecia tolice que ele, o deus dos mares, tivesse ido até a cidade dos deuses em busca daquilo para a filha de uma serva. Porém, que tipo de rei ele seria se ignorasse o sofrimento a seu redor? Não era Zeus, isso podia garantir. A serva definhava em preocupação com sua filha, e ele compreendia tal sentimento, embora fosse algo em que evitasse pensar. 

Sua ideia inicial era pedir que Apolo desse uma olhada na garota, mas o deus do sol tinha-se enfiado em algum lugar, - talvez estivesse ocupado demais babando por alguma mulher com uma bela voz, quem sabe correndo atrás de Calíope? -, então foi ao depósito, e lá encontrou Atena.

Seguindo pelos corredores do palácio, deixou que sua mente vagasse ao breve encontro com a filha de Métis, e não pode negar, gostara da garota, ao menos um pouco.

— Todas vestidas? — indagou enquanto entrava no quarto onde a menina estava, cobriu os olhos por alguns instantes, então ouviu uma risada infantil. 

— Poseidon!— a animação dela o fez sorrir, o deus caminhou até a cama, parando na beirada e avaliando o estado da garota. Ela ainda estava salpicada de vermelho, uma aglomeração de pintinhas em seu rosto, e ao que imaginava, ainda febril.

— Não deve chama-lo assim, Marcie. — a repreensão da mãe provocou um beicinho de mágoa na menina, e o deus dos mares riu com a cena. 

— Não há problemas, Marcie e eu somos amigos, certo? — buscou amenizar a situação, o beicinho se desfez, dando lugar a um sorriso sapeca num pintado. — Ela pode me chamar de Poseidon, ou do que desejar.

— Tio Poseidon? — a menina arriscou, e o arquear de sobrancelha dele revelava sua diversão com aquele tratamento. 

— Pode ser, baixinha. 

A porta do quarto foi aberta, uma náiade, a mesma que estivera nos braços dele na noite anterior, entrou no quarto trazendo uma bandeja. O chá tinha uma cor esverdeada e um cheiro forte, Poseidon franziu o cenho e teve que se esforçar para não torcer o nariz para aquilo, o gosto devia ser terrível.

― Eu não vou tomar isso! ― Marcie protestou, como se ouvisse os pensamentos dele, antes que a mãe viesse a repreendê-la mais uma vez, o deus pegou a xícara e sentou ao lado da menina.

― Tem que tomar. Sabe o quão trabalhoso foi apenas conseguir a receita disso?

Ela balançou a cabeça negativamente, e Poseidon suspirou, ignorando o cheiro forte do chá e voltou a falar.

― Fui ao Olimpo em busca disso aqui, procurei Apolo por todas as partes, mas ele não estava. ― pelo canto do olho, viu a náiade corar ao lembrar do deus-sol os interrompendo na noite anterior, Poseidon ainda tinha que bater no sobrinho por aquilo. ― Depois fui ao depósito e lá encontrei Atena...

― Quem é Atena? ― a curiosidade na voz dela era o que ele precisava, estendeu cuidadosamente a xícara de chá para ela.

― Você toma, e eu conto.

A princípio imaginou que a menina fosse continuar sua recusa a tomar o chá, mas a curiosidade dela era maior, e Marcie pegou a xícara, sorvendo um pouco do líquido verde.

― Pois bem, Atena é a nova filha de Zeus e Métis, a primeira esposa dele. Ela nasceu recentemente, dizem que é deusa da sabedoria. Ela me ajudou a encontrar o pergaminho com a receita do chá, e por isso não tomar seria uma desfeita a ela também.

― Como ela é? ― aparentemente o chá não era tão ruim, pois a menina parecia beber com mais confiança, e sem qualquer resistência.

― Ela é...

Precisou de alguns momentos para uma resposta adequada. Como Atena era? Ele sequer a conhecia, não de fato. O fato de ela ser filha de Zeus já a fazia alguém de quem ele queria distância, mas o que acontecera naquela tarde, nos breves momentos no depósito o fizeram pensar que ela era alguém muito além da sombra odiosa de seu irmão.

Mas, como Atena era?

― Ela parece com você. ― indicou os cabelos claros da menina, mas que não se assemelhavam tanto aos da deusa. Os fios de Marcie eram claríssimos, os de Atena tinham uma tonalidade semelhante a ouro, caindo em cachos perfeitamente arrumados em suas costas, e balançando quando ela se remexia em sua busca pelo pergaminho. ― Loira, bonita, esperta. E tem olhos cinzentos, muito parecidos com uma tempestade.

Só então notou no quanto dela tinha prestado atenção, Poseidon poderia falar muitas coisas naquele momento: Sobre os cabelos dela, a pele clara e sem qualquer falha aparente; Os olhos que lembravam uma tempestade no mar aberto, um sorriso que encantava, mas sempre durava poucos segundos. Poderia recitar cada coisa que aprendera naquela conversa, aquela breve troca de palavras, no depósito de pergaminhos.

― Acho que você gostou dela. ― a menina comentou, tirando o deus de seus devaneios, a xícara de chá encontrava-se vazia diante dela.

― Acho que você precisa descansar. O sarampo te deixou ó, maluquinha.

A náiade pegou a xícara e saiu apressadamente, não sem antes lançar um olhar de dúvida e mágoa ao deus, e só então Poseidon percebeu que havia ignorado a pobre, mesmo que sem intenção. Talvez ignorar não fosse o termo correto, sequer tinha prestado atenção a presença dela, diferente dos dias anteriores onde não conseguia tirar os olhos de sua beleza, sua mente estava mergulhada em pensamentos sobre outra mulher.

E pensar naquela mulher era uma  péssima ideia.

Nos dias seguintes voltou a visitar Marcie, a melhora provocada pelo chá era evidente, e em questão de dias ela estava saltitando pelos corredores do palácio enquanto acompanhava o rei. Poseidon gostava da companhia dela, era parecida com o pai, que fora seguidor dele e acabou por morrer num ataque de monstros marinhos. Quisera vinga-lo, mas decidiu por acolher em seus domínios a esposa e filha dele, que desde então viviam em seu palácio sob sua proteção.

Evitou o Olimpo, como sempre fizera, não tinha motivos para voltar lá. Mas isso não evitou que sua mente se voltasse constantemente para ela, a deusa de olhos cinza. Ele ouvia histórias sobre Atena. Sobre sua inteligência, como estava aconselhando Zeus a melhorar o Olimpo, como era sua relação com os outros deuses, como ela renomeara o depósito para “Biblioteca” e criara um encadernado onde costurava os pergaminhos e chamara de “Livro”. Isso o fez pensar se era aquilo que ela trazia nas mãos, percebeu tardiamente que esse era o projeto pessoal que ela tanto protegia, embora naquele momento a ele não interessasse, mas tinha uma secreta curiosidade.

Poseidon gostava de histórias, e embora a maioria fosse guardada na memória, aos poucos as palavras tornavam-se eternas nos pergaminhos. Ele gostava daquilo, e gostava de saber que alguém estava melhorando o lar dos deuses, aparentemente, Atena não era tão odiosa quanto o irmão do deus.

Ao fim de duas semanas veio o convite, Afrodite estava organizando um baile em comemoração ao nascimento de Atena, e o deus dos mares podia imaginar o quanto ela iria atormenta-lo se não aparecesse. Por isso ao chegar da noite voltou a cidade dos deuses, o baile aconteceria no pátio principal, onde todas as festas do Olimpo ocorriam, gostava daquilo: As vozes elevadas, a música, o coro das musas, as danças.

― Poseidon! ― uma voz conhecida fez com que se virasse, Afrodite se atirou nos braços do deus dos mares, a roupa dela era absurdamente justa e curta. ― Você veio! Fiquei pensando se teria que te pescar.

― Belo traje, Dite. ― comentou, afastando-se para olhar com mais atenção. A deusa do amor sentiu as faces afogueadas diante daqueles olhos verde-mar cheios de malícia e promessas, era sempre essa sua reação, a amizade que cultivavam era a única coisa que a impedia de arrasta-lo para seu palácio.

― Ora seu atrevido, nem pense em começar com essa provocação. Não me atice. ― esticou-se para deixar um beijo no rosto dele, como a rainha dos flertes que era, e quando alguém gritou seu nome, Afrodite suspirou. ― Não saia daqui, eu quero uma dança.

― Sair? Só se fosse com você.

E com essa última provocação dele a deusa se afastou, indo em direção a Apolo que, animadíssimo, testava novos tipos de música com os instrumentos que criara. Poseidon observou por alguns momentos, sabendo que ela demoraria a voltar, e seu olhar perambulou pelo pátio até encontrar ela.

Atena.

Não percebera que estava procurando pela deusa até encontra-la. Estava do outro lado do pátio, junto a Ártemis e Ares que pareciam ter uma discussão acalorada, Atena observava os dois com paciência, e quem sabe um pouco de tédio? Poseidon seguiu em direção a ela, sendo parado por outros deuses que o cumprimentavam, desviando-se de deusas com sorrisos propositalmente charmosos, e de sátiros bêbados que corriam atrás de ninfas. Enfrentou um mar de pessoas, e quando viu, estava diante dela, que ria de alguma bobagem que Ares dissera, então os olhos cinzentos o encararam.

― Poseidon? ― havia dúvida em sua voz, talvez se perguntasse de onde ele surgira, ou por que estava ali a encarando como um bobo.

― Atena. ― o nome dela escapou de seus lábios, assim como a pergunta seguinte. ― Quer dançar?

Fingiu não notar o olhar de surpresa dos outros dois que a acompanhavam, como se pensassem o que ele estava fazendo? Nem ele mesmo sabia. O nervosismo que se apossou dele também não era algo que entendia, o que era aquilo? Por que sentia a necessidade e o medo que nunca antes provara em relação a uma mulher?

A resposta era ela, sabia disso. Só precisava descobrir por que.

― Eu adoraria. ― ela respondeu, e o deus estendeu a mão, tomando a dela e levando em direção a pista de dança. ― Obrigada por isso.

― Por quê? ― arqueou a sobrancelha, tinha se esquecido da suavidade na voz dela, do tom risonho que ela lhe dirigia enquanto paravam um diante do outro.

― Por me tirar dali, eles me tornaram mediadora na discussão, mas não me deixavam sequer falar. ― Atena quase parecia ofendida, e Poseidon riu baixinho enquanto a puxava com cuidado contra seu corpo,, numa distância educada.

― Você me ajuda, eu te ajudo. ― Começou a se mover suavemente, a música que tocava era mais lenta, aparentemente Apolo experimentava seu novo conjunto de cordas, tinha de elogiar o deus-sol por isso depois. ― Não se pode mediar nada entre aqueles dois, era uma batalha perdida.

― Eu não costumo desistir. ― e ali estava aquela voz orgulhosa, ao contrário do que se esperava, Poseidon sorriu, e a deusa voltou o olhar para seus olhos. Era cinza no verde mais uma vez.

― Nem eu, Atena. ― ele murmurou, encarando de volta aquela tempestade, sabendo que sua vida seria revirada por ela. ― Nem eu.


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Notas finais do capítulo

Se dona Maeve não encontrar a referência a ela, vou ficar embrabecida. (mais do que já estou, viu mocinha?!)

Saudades de DOP, tinha esquecido como amo essa fic.

Enfim, espero que tenha gostado do cap!
Nos vemos nos comentários?

Beijos, Ckyll.