Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 8
diversão ou pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Volteiii!!!! o/ o/ o/
Como tinha avisado, não foi possível postar esses dias, pq não estive em casa.
Mas agora cá estou, e com um novo cap quentinho, retirado do forno agorinha. XD
Queria agradecer pelos comentários, e pelos favoritos. Recebi muitos elogios que me fizeram ficar extremamente empolgada em continuar escrevendo. Obrigada, vocês são demais.
Sem mais delongas, Oitavo cap. Que é grande a beça (recompensação como prometi).
Aproveitem. Nos vemos lá embaixo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675337/chapter/8

 

 

 

 

Estava de noite, enquanto caminhava voltando para casa. As luzes dos postes permaneciam apagadas, e a rua estava sendo iluminada apenas pela lua. De repente, no fim da estrada, uma figura nas sombras apareceu. Fiquei imóvel. Parecia ser um homem, ele começou a andar em minha direção, pensei em correr mas meus pés foram contra meu desejo e não se moveram. A figura do homem começou a se aproximar, forcei minha visão para enxergar quem era, e então pude vê-lo. Seu sorriso acolhedor logo invadiu meu coração, seu rosto estava igual como da ultima vez que o vi, ele usava a mesma roupa de quando saiu para trabalhar naquela manhã, o mesmo terno e a mesma gravata. Seus olhos azuis foram de encontro aos meus, minha vontade foi de abraça-lo, de beija-lo, e dizer o quanto sentia sua falta, e o quanto o amava, mas meu corpo permanecia imóvel, incluindo minha boca. Antes que ele pudesse dar mais um passo até mim, aquele mesmo vulto surgiu. Ele caiu no chão e começou a sangrar. Atrás dele, o homem da mascara de esquiador segurava uma faca ensanguentada. Forcei meus pés tentando andar, mas acabei lutando com o ar. O mascarado começou a arrastar o corpo para a escuridão, não contive a vontade de chorar, até enfim conseguir gritar:

—Pai!!!!!!

☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼

Despertei de meu pesadelo com o corpo suado. Passei a mão em meu rosto e sequei minhas lágrimas. A porta do meu quarto se abriu violentamente.

—Clarke, você esta bem? —Minha mãe entrou assustada.

—Estou. —Respirei ainda ofegante.

—Você estava gritando.

—Tive um pesadelo.

Ela sentou na cama, e ajudou a secar minhas lágrimas com o polegar. Sua expressão era de preocupação.

—Aqueles mesmos pesadelos? —Perguntou.

—Não. —Menti.

Ela sorriu de modo maternal.

—Normalmente tenho pesadelos com ratos. —Disse brincalhona. Disfarcei, retribuindo com um sorriso também. —Estava fazendo o café da manhã! Você vem comer?

—Só vou tomar um banho.

Depois de alguns segundos me observando. Ela saiu fechando a porta.

Já no banheiro, fiquei me encarando no espelho. Estava acostumada a sonhar com meu pai, o que me incomodava foi meu sono ser invadido pelo mesmo homem de minha alucinação.

Possivelmente ele iria me amedrontar por muito tempo.

◘◘◘◘

▬▬▬▬▬▬▬

Minha mãe já havia saído para trabalhar quando Monty ligou dizendo que tinha encontrado Lexa perto do mercado e que ela havia nos convidado para irmos num parque de diversões que inauguraria naquela noite. Não estava com humor para sair, porém, ele insistiu. Pensei sobre o fato de estar sozinha em casa, e isso me fez concordar.

Eles chegaram em casa um pouco antes de escurecer. Uma hora depois, Jasper atravessou os portões do parque com o carro. Fomos obrigados a estacionar no ponto mais afastado do estacionamento por causa do grande movimento de inauguração.

Saímos do carro e vimos Lexa acenando perto da entrada. Um vento baixo ganhava força, varrendo nossos calcanhares com sacos de pipoca e embalagens de bala, enquanto nós andávamos. 

—Quatro inteiras, por favor. —Lexa disse para a mulher na bilheteria.

Dividimos o valor, mas ela negou. Alegando que tinha convidado, e que faria questão de pagar.

A mulher pegou o dinheiro e passou quatro pulseiras pela janela.

—Bem vindos ao Dhelpic. Divirtam-se! —Falou afobada, enquanto entregou panfletos para nós. 

—Temos que ir nesse aqui! —Jasper disse apontando para o panfleto que estava escrito:

MONTANHA-RUSSA

A TERCEIRA MAIOR DO PAÍS

REFORMADO E RENOVADO

CAIA EM DESGRAÇA COM UM MERGULHO VERTICAL DE 30 METROS

—Caraca, vai ser legal! —Monty falou empolgado.

—Vamos nesse por ultimo. —Prometi, esperando que eles esquecessem daquilo depois de termos andado em quase todos os brinquedos.

Não sentia medo de altura havia anos, talvez por ter evitado alturas, e não estava pronta para descobrir se o tempo curara esse medo.

Lexa sorriu para mim, como se soubesse minha proposta mentirosa. Sorri também.

Depois de andarmos nos carrinhos de bate-bate, no tapete mágico, e de passarmos por várias barracas, decidimos ir à área de jogos. Mas assim que chegamos logo me arrependi. Não muito longe, vidrado num Pinball, estava Bellamy Blake.

Parecendo sentir minha presença, ele tirou os olhos do jogo e me encarou, soltando um sorriso de canto. Ao lado dele, estava aquela garota, com a mesma jaqueta vermelha, concentrada na máquina.

Se eu estivesse com sorte, Jasper e Monty não teriam visto ele. Então, conduzi os três através da multidão, tentando ficar fora de vista.

—Em qual vamos? —Lexa perguntou.

—No Air Hockey. —Falei imediatamente.

O Air Hockey ficava para o outro lado. Quanto mais longe de Bellamy, melhor. Disse para mim mesma que era coincidência ele estar ali, mas meu instinto discordava.

—Vejam só! —Exclamou Monty. —Pebolim! —Ele já ziguezagueava até o jogo despreocupado. —Jasper e eu, contra vocês duas.

—Os perdedores pagam uma pizza. —Jasper falou, se posicionando ao lado de Monty.

—Muito justo. —A castanha disse.

Pebolim seria ótimo se a mesa não estivesse tão perto do lugar onde Bellamy estava. Disse para mim mesma que deveria ignora-lo. Se ficasse de costas, mal perceberia que ele estava lá. Talvez os meninos também não notassem.

—Ei Clarke, aquele não é o aluno novo? —Jasper notou.

Que droga!

—hum? —Perguntei com ar inocente.

Ele apontou.

—Ali! É ele sim. —Apontou. —Aquela do lado dele não é a garota da biblioteca?

—Lexa e eu somos do time branco! —Disfarcei, tentando mudar de assunto.

—Será que eles são amigos? —Continuou curioso. —Eles parecem muito próximos.

Encarei-a por um tempo, constrangida. Lexa parecia incomodada.

—O aluno novo é parceiro da Clarke na aula de biologia. —Monty explicou para ela.

—Ele está olhando para cá! —Jasper disse ainda concentrado neles.

Fechei os olhos e me imaginei batendo a cabeça contra a parede. Jasper percebeu que eu estava ficando nervosa, e piscou maldosamente, depois encarou a castanha, sorrindo. Ela ao contrário não correspondeu.

—Eu sempre esqueço o nome dele... —Ele cutucou Monty Provavelmente tinha descoberto um jeito de irritar nós duas. E estava funcionando.

—Acho que é Bellamy. —Monty respondeu.

—Esse Bellamy implica com a Clarke, sabia Lexa? Acho que ele tá afim dela. Na aula passada, foi hilário o modo como ele a deixou um pimentão. —Riu parecendo lembrar-se da cena.

—Vamos jogar? —Quase berrei tentando fazê-lo parar.

—Bellamy ainda esta olhando para cá! Acho que devíamos chamar eles dois.

Jasper levantou a mão e começou a acenar.

—Para! —Gritei. Ele acatou e parou.

—Por que você não vai lá chamar eles, Clarke? —Monty falou pacientemente. —Poderíamos jogar nós seis, revezando.

Olhei para Lexa, ela permanecia com uma expressão séria. Sequer tinha olhado para Bellamy. Na verdade, ela parecia estar fazendo um esforço para não virar na direção dele.

—Não vou fazer isso! —Disse nervosa.

—Mas você conhece a garota também. Ela não parece chata! —Jasper queria me deixar desconfortável. Só podia!

—Já falei que não a conheço! Será que da pra jogarmos?

—Então, vamos nós chamarmos eles Monty...

Os dois se moveram. E eu me coloquei na frente deles. Não podia deixar, de jeito nenhum, eles falarem com Bellamy. Principalmente Jasper.

—Não. —Exclamei. Algumas pessoas que circulavam ali nos olharam. E isso deixou-me mais desconfortável. —Eu vou! —Soltei exasperada.

Ambos se entreolharam e sorriram. Esfreguei a palma das mãos no jeans, e depois de um suspiro profundo, comecei a diminuir a distância entre o Blake e mim. Não tinha ideia do que iria dizer quando chegasse lá. Na melhor das hipóteses apenas um cumprimento rápido. E então poderia voltar e fingir que eles dois recusaram a proposta de jogar Pebolim.

Bellamy usava o figurino habitual: camisa preta, jeans pretos e um cordão de prata que contrastava com sua figura, pelo menos para mim, sombria. As mangas estavam dobradas nos antebraços, e eu via os músculos trabalharem conforme ele socava os botões. Ele é esguio e musculoso, e eu não ficaria surpresa se, debaixo das roupas, ele escondesse diversas cicatrizes. Lembranças de brigas de rua e de outras atitudes imprudentes. Não que eu quisesse olhar debaixo das roupas dele. Obvio.

Quando cheguei ao Pinball ocupado pelos dois, dei um tapinha na lateral para chamar a atenção.

—Oi. —Disse olhando para a garota.

Enquanto ela me encarou, um sorriso preguiçoso abriu no rosto dele.

—Você sempre está com aqueles dois nerds? —A garota falou olhando para Jasper e Monty, que estavam dando risadas a alguns metros dali.

Segui seu olhar, e voltei encarando Bellamy. Ele continuava prestando atenção no jogo.

—Eles são meus melhores amigos.

—Quem é aquela? —A morena moveu a cabeça curiosa tentando enxergar Lexa.

—Uma amiga da escola. —Suspirei tentando prosseguir com o plano de sair logo dali. Tinha que dizer algo, qualquer coisa. —Escuta... Meus amigos pediram para eu dizer que você é muito bonita. —Improvisei.

Ela me olhou séria, e Bellamy soltou uma risada.

Por que tinha falado isso? Sério por quê? Fiquei envergonhada logo em sequencia com as palavras.

—Quer saber, esquece. Foi idiota isso. —Cocei minha nuca. —Não que você não seja bonita. Porque você é. Muito. —Me enrolei na expectativa de sair daquela situação.

—Por acaso está me cantando? —Ela disse semicerrando os olhos.

—Não! Nunca! Quer dizer... Foi eles que falaram. Mas foi só um comentário. É... —Gaguejei. —Eu vou voltar pra lá e deixar vocês ai. —Me virei sentindo que tinha ficado vermelha de novo. Sai dali apressada. Por que tinha ficado enrolada daquele jeito? Como sou estupida!

Antes de terminar meu auto julgamento, senti uma mão agarrar meu braço.

—Você sempre fica nervosa quando esta perto de mim, princesa? —Bellamy tinha ido atrás de mim. Estávamos no meio do caminho, entre o Pebolim e o Pinball. —Poderia dizer isso ao professor? Ele adoraria saber sobre sua atração. Isso é importante para a reprodução humana... lembra?

—Você é muito convencido! —Puxei sua mão tentando tirar de meu braço. Ele impediu, e em outro movimento, entrelaçou nossos dedos.

—Vem comigo no Arcanjo.

—O quê?

—A montanha-russa.

—Se você não percebeu, eu estou com meus amigos. Por que não vai com sua namorada?

—Quem? Raven? —Ele olhou para a garota da jaqueta vermelha, que agora tinha pegado o lugar dele no jogo, apertando os botões com leveza. Assim que voltou a me encarar, começou a rir debochadamente. —Ciúmes? —Perguntou com aquele seu famoso sorriso petulante.

—Ah, claro! Estou morrendo de ciúmes. —Revirei os olhos.

—Ela não é minha namorada, Clarke. Do mesmo jeito que você tem melhores amigos, eu também tenho uma.

—Isso não interessa! Vai com ela, estou ocupada.

—Quero ir com você.

—E deixar ela sozinha?

—Raven não se importa de ficar sozinha. ­—Ele soltou minha mão. Tinha me esquecido, que estávamos de mãos dadas.  —Deixe seus amigos. Encontre-me na fila da montanha-russa.

—Isso é algo que não vai acontecer! —Falei frustada.

—Ainda tem medo de altura?

—Eu não tenho medo de altura. —Parei um segundo. —Como você sabe?

—Já que você não tem mais medo, te desafio a andar comigo. Sem gritar. Se conseguir isso, amanhã eu peço ao professor para me colocar em outra dupla.

—Marcus não deixa. Já tentei.

—Isso, porque foi você. Sou muito mais persuasivo.

—Esquece! Eu não vou cair na sua.

—Irei te esperar lá. —Inclinou-se, dizendo perto do meu ouvido. —Mas sem gritar, princesa.

Dito isso, foi embora.

Voltei atordoada para a mesa de Pebolim. Jasper e Monty estavam jogando distraídos.

—Cadê a Lexa? —Perguntei.

—Ela disse que ia buscar suco. —Jasper falou fazendo um gol em Monty. Ele levantou os braços comemorando e iniciou uma dancinha esquisita.

—Se bem que ela saiu já faz um tempinho. —O pequeno disse, parecendo notar a ausência.

—Onde ela disse que iria?

—Acho que nas barracas de sucos. Suponho.

—Vamos ver se ela está lá. —Propus no mesmo segundo.

Andamos até as barracas, e procuramos nas grandes filas de pessoas, mas não a achamos.

—Talvez ela tenha ido ao banheiro. —O magrelo alto falou sem se importar, andando em direção de uma barraca de tiros, em frente. Monty correu atrás, e eles já foram pegando umas pistolas falsas e mirando nos prêmios. Os dois conseguiam ser pior que crianças, nesses tipos de lugar.

Fiquei parada ali, por alguns minutos. Estava começando a me preocupar com ela. Será que Lexa tinha ficado chateada com o fato de eu deixa-la justo quando o convite e pagamento tinha sido todo seu. Aliás, eu não conseguia entender o motivo de considerar tanto o que ela pensava a meu respeito. Foram dois momentos não muito longos que tivemos juntas, nada comparado ao tempo que tinha com os meninos. E mesmo assim, a possibilidade de ela não desejar mais participar das saídas com nosso grupo, deixava-me incomodada.

Bufei enquanto continuei olhando em volta. Foi quando encontrei sua figura entre as pessoas. De longe não dava para ter certeza, mas as roupas eram as mesmas, então constatei ser ela. Lexa segurava um copo, e usava o gorro da sua blusa de frio. Sua atitude expressava uma nítida tentativa de não ser notada, entretanto, não tive tempo de especular o motivo. De repente uma moça segurou a mão dela, fazendo-a parar. As duas ficaram se encarando por um tempo e iniciaram uma conversa, até Lexa tirar o gorro e puxa-la para a casa de terror do parque. Aparentemente as duas eram intimas demais.

A frase: “a possibilidade de ela não desejar mais participar das saídas com nosso grupo, deixava-me incomodada”, não foram suficientes. Incomodada foi apelido para o modo que me senti após aquela cena.

Os meninos continuavam entretidos com o jogo de tiros. E eu fiquei longos minutos olhando de longe o ‘Castelo do medo’. Não deveria me importar. E pela primeira vez concordei com Bellamy, afinal, todos têm amigos... No entanto, Lexa ter uma amiga era estranho, pois tinha me dito que era nova na cidade. Ela é nova e mesmo assim fez amizade com vocês, minha consciência alertou. E de fato não podia me importar. Mesmo assim, se eu continuasse ali, logo elas sairiam. Se Lexa viesse apresentar a amiga eu teria que forçar simpatia.

Com toda certeza, não!, pensei.

—Vou comprar alguma coisa! —Gritei para eles. Tirando a súbita ideia de uma menina ao lado de sua mãe comendo algodão doce. —Eu já volto. Ficam aqui até a Lexa aparecer.

—Traz pra mim também. —Jasper falou sem dar muita importância.

Deixei-os atirando, e percorri o parque procurando um carrinho de doces. Quando finalmente encontrei, percebi um tumulto de pessoas, que paravam para olhar o Arcanjo.

Sem pensar, fui seguindo o fluxo, mantendo os olhos nos trilhos do brinquedo, que desenhavam círculos no céu. Não demorou muito para sentir um arrepio na nuca com o calor das palavras dele:

—Sabia que não iria resistir. —Bellamy disse, parando ao meu lado.

—Só vim olhar. —Rebati.

—Vamos fingir que você veio pela aposta.

—Sua aposta é fácil demais pra mim.

—Ainda tenho minhas duvidas. —Ele disse desafiadoramente.

A maioria das pessoas estava desistindo enquanto ouviam os gritos. A montanha-russa fez um barulho, e calmamente foi parando. Um homem, que controlava a entrada, começou pedir que todos esperassem para começar a entrar. Muitas coisas passaram em minha mente, porém, a probabilidade de ainda estarmos perto do ‘Castelo do terror’, fez com que eu enrijece a postura.

—Quer saber... Que se dane! —Disse nervosa, pegando pelo pulso do Blake e puxando ele até a pequena fila do brinquedo. —Amanhã você vai direto para mesa do Marcus fazer o pedido.

—Como você quiser. —Debochou.

Olhei novamente para os trilhos da montanha-russa e respirei fundo.

—Esta assustada?

—Só ansiosa para não sentar mais ao seu lado.

A fila começou andar.

—Parece que é nossa vez. —Falou perto de meu ouvido.

Passamos pela plataforma de embarque, os únicos carros disponíveis eram o primeiro e o ultimo. Bellamy dirigiu-se para o primeiro, suspirei e lhe segui. Tinha que ser o primeiro? Justo o primeiro?

Depois de sentarmos, o homem que controlava a alavanca de funcionamento, veio até nós e travou a barra que nos protegia.

A estrutura do Arcanjo não inspirava confiança, era feita de madeira, e eu podia ver pequenos buracos no trilho. Reformada, dizia no panfleto? Sei!

—Pode ligar! —Um velho gritou para o outro na plataforma.

O vagão que estávamos fez um barulho indo um pouco para trás, e então se moveu para frente. De uma forma não muito suave, nos afastamos da plataforma, subindo progressivamente. Tive que me controlar para não vomitar.

—Você está pálida, princesa. Quer que eu avise o homem? Ainda tem tempo de desistir.

—Eu estou bem. —Afirmei.

Podia estar pálida, mas não iria desistir de me livrar dele. Não mesmo.

No alto das colinas, os carros pararam um momento. Era possível ver quase a cidade toda dali. Fiquei admirada com a beleza das casas iluminadas, sem querer dei uma olhada em Bellamy, ele me encarava com um sorriso bobo.

—Você é linda! —Disse num tom rouco. Olhei em seus olhos, atônita. Mas antes que pudesse encontrar uma resposta, nosso vagão já inclinado, desceu vacilante, praticamente voando. Agarrei a barra de metal e senti meu corpo pender para frente.

Meu cabelo tremulava atrás de mim. Viramos bruscamente para a esquerda. Sentia por dentro meus órgãos subirem e descerem com os movimentos da viagem. Olhei para baixo tentando me concentrar em algo que não estivesse se mexendo.

Foi então que percebi que meu cinto estava desatado.

 Tentei gritar para Bellamy, mas minha voz foi engolida pela corrente de ar. Soltei uma das mãos da barra de metal para tentar prender o cinto. O carrinho disparou para a direita. Bati o ombro em Bellamy, com tamanha força que eu tive certeza de que iria ficar roxo depois. O carro voltou a subir, e então mergulhamos. As luzes que brilhavam nas laterais me cegaram. Não consegui distinguir a direção dos trilhos no final do mergulho, meu estomago ficou gelado.

Era tarde demais. Senti uma onda de pânico e então aconteceu. Meu corpo bateu contra a porta do vagão, que se abriu, e fui jogada para fora enquanto o carro avançava pela montanha-russa sem mim. Tentei segurar em algo, mas não consegui. Enquanto despencava as pessoas acima nos vagões gritavam sem me notar. O chão se aproximava. Abri a boca para soltar um berro e tudo ficou escuro.

Minha lembrança seguinte é do carro freando ruidosamente na plataforma de desembarque. Estava agarrada ao braço do Blake, com meu rosto enterrado em seu ombro.

—Isso é o que chamo de gritar. —Disse sorrindo para mim.

Soltei ele. Atordoada, observei a área do braço dele onde minhas unhas tinham deixado semicírculos tatuados em sua pele. Então meus olhos se dirigiram ao cinto de segurança. Estava preso normalmente em volta de minha cintura.

—Meu cinto... —Comecei a dizer. —Pensei...

—Pensou o quê? —Bellamy me perguntou parecendo interessado de verdade.

—Pensei... Que eu tivesse voado para fora do carro. Pensei literalmente que... Eu ia morrer.

—Acho que o objetivo do brinquedo é esse.

Meus braços tremiam. Meus joelhos cederam ligeiramente ao peso do corpo.

—Tenho a impressão de que vamos continuar como parceiros. —Falou. Suspeitei ter ouvido uma ponta de vitória em sua voz, mas eu estava ruim demais para discutir.

Ele estendeu a mão e me ajudou a sair do vagão. Queria dizer que estava certa sobre o cinto soltar e eu quase ter morrido. Mas sabia que ele caçoaria de mim.

—Vou leva-la de volta para seus amigos. —Ele me conduziu, percebendo que eu mal conseguia andar.

•••

Atravessamos o parque até chegar perto da barraca de tiro. Nenhuns dos três estavam lá.

—Parece que foram embora. —Bellamy disse. Seus olhos demostravam um brilho de divertimento. —Acho que você precisa de uma carona.

—Jasper e Monty não iriam embora sem mim. —Falei subindo nas pontas dos pés para olhar por cima das pessoas. —Provavelmente estão jogando tênis de mesa.

Esgueirei-me pela multidão enquanto Bellamy me seguia. Não havia sinal deles dois nem de Lexa na área de tênis de mesa.

—Talvez eles estejam jogando Pinball com a Raven. —Sugeriu. —Ah não... Ela não jogaria com eles dois. Com certeza não. —Prosseguiu meio que rindo.

Revirei os olhos, de novo, e procurei meu celular na minha bolsa. Peguei o aparelho. A tela estava escura, e não ligava. Não compreendi como a bateria podia ter acabado, pois tinha carregado antes de sair.

—Como assim meu celular parou de pegar?

—Minha oferta ainda está de pé. —Ele disse.

Ignorei sua fala, e coloquei meu cérebro para funcionar.

—O carro do Jasper! Provavelmente eles devem estar me esperando no estacionamento. —Bati a palma da mão contra a testa.

Trinta minutos depois, eu havia esquadrinhado toda área. Não tinha tantos carros como quando cheguei, e o carro do Jasper também não estava mais lá. Não conseguia acreditar que eles tinham ido embora sem mim. Tentei manter minhas emoções em controle.

—Acabaram as opções? —Bellamy perguntou.

Mordi os lábios examinando as alternativas. Infelizmente não tinha certeza de aceitar a oferta dele. Em qualquer dia comum, ele era a pessoa mais irritante. Naquela noite ele exalava perigo, ameaça e mistério, tudo combinado.

Por fim suspirei.

—Você vai me levar direto para casa. —Pareceu mais uma pergunta do que uma ordem.

—Se é o que você quer.

Andamos entre os carros, ele na frente. Estava me segurando para não perguntar se ele tinha percebido algo de estranho na montanha-russa. E se eu estivesse alucinando de novo? O que estava acontecendo com minha mente?

—Pode subir. —Bellamy apontou para o assento de uma motocicleta preta e reluzente.

—Uau. Bela moto. —Afirmei sem pensar.

Ele me ofereceu um capacete negro com um visor escurecido. Peguei e enfiei sobre meu cabelo bagunçado. Passei a perna sobre a moto e percebi como me sentia insegura com nada além de um assento estreito sob mim.

—É difícil de dirigir? —O que eu queria dizer na verdade era “É seguro?”.

Ele sentou em minha frente.

—Você está tensa. Relaxe.

Ligou a moto. Nunca fiquei tão apreensiva como agora. Quando ele começou a se afastar da vaga, a explosão de movimento me assustou. Eu o envolvi com os braços em uma espécie de abraço de urso pelas costas. Bellamy acelerou para pegar a estrada. Minhas coxas o apertaram. Esperava ser a única a perceber.

Foi mais rápido do que na ida para chegar. O Blake foi com a moto até atrás da casa, desligou o motor e saltou.

Entreguei o capacete. Ia agradecer, mas ele começou a dar a volta na casa em direção à entrada. Não entendi por que ele tinha estacionado nos fundos. Ele andou até a frente e ficou olhando para a fachada da casa. Subi os três degraus da varanda, e o encarei dividida entre confusão e preocupação, quando de repente ele retirou do bolso um molho de chaves muito familiar.

—Devolva minhas chaves. —Falei desconcertada.

—Você as deixou cair quando estava procurando o celular.

—Não quero saber onde caíram. Devolva. —Fiquei irritada e com um pouco de medo por ele estar segurando elas.

Bellamy ergueu os braços em um sinal de inocência, e subiu o primeiro degrau entregando as chaves para mim. Peguei rapidamente, e encachei na fechadura. Tentei girar a chave, ela não virou.

—Você prendeu a chave, Clarke? —Falou indo até a porta. —Não sabe abrir a própria porta de casa?

Ele girou a chave com facilidade, dando um sonoro clique. Com a mão na maçaneta, ergueu as sobrancelhas como se dissesse ‘Pronto, fácil’.

Engoli em seco.

—Vou entrar! Obrigada por me dar carona.

—Está sozinha?

—Estou.

—A noite inteira?

Imediatamente me arrependi de ter lhe dado essa informação.

—Minha mãe vai chegar em breve.

—Parece amedrontada. —Falou oferecendo de volta a chave para mim.

Peguei a chave e passei de fininho por ele, entrando. Minha intenção era trancar a porta entre nós, mas ele impediu a passagem.

—Você não vai me convidar para entrar?

Pisquei. Convida-lo? Bellamy Blake? Minha pedra no sapato? Com certeza não.

—Está tarde. —Ele continuou. —Você deve estar com fome.

—Não. Sim, quer dizer sim, mas...

Ele não esperou. De repente ele estava lá dentro. Dei três passos para trás, ele empurrou a porta com o pé. Fiquei assustada, o que ele estava fazendo?

—Você gosta de comida mexicana? —Perguntou.

—Eu... —Não conseguia falar, meu corpo estava imóvel.

—Tacos?

—Tacos? —Repeti.

—Tomate, alface, queijo. —Ele parecia achar graça naquilo.

—Eu sei o que é Tacos.

Antes que eu pudesse continuar, o Blake passou por mim, e seguiu adentro, direto para a cozinha. Desapareceu de minha vista estando lá. Rapidamente corri para o banheiro perto da sala, me encarei no espelho, e lavei meu rosto. O que eu iria fazer? Pensei em ligar para minha mãe, mas o meu celular ainda estava desligado. O outro telefone residencial ficava no andar de cima, e eu não iria até lá enquanto ele permanecia aqui sozinho.

Andei lentamente até a cozinha. Bellamy estava secando as mãos. Depois, aparentemente se sentindo à vontade, examinou a geladeira pegando ingredientes. Sem duvidas ele era o ser mais imprevisível e abusado do mundo.

Ele revirou as gavetas. Encontrei-me à beira do pânico em vê-lo segurando uma faca.

—Estou enjoada por causa do passeio no Arcanjo. —Arrumei uma desculpa pra manda-lo embora.

Ele parou de picar os tomates e me olhou.

—Já estou quase acabando. É rápido.

A faca que ele segurava era grande e afiada. Pensei que não adiantaria se eu ligasse para a policia, já que morreria facilmente em segundos assim que ele decidisse.

Como se pudesse ler meus pensamentos, Bellamy levantou a faca e a examinou. Meu estomago apertou.

—Abaixe a faca. —Pedi, tentando falar calma.

Ele sorriu.

—Não vou machuca-la, princesa.

—Puxa que alivio. —Ironizei.

Andei até a banqueta, e sentei. Prendi meu cabelo em um coque frouxo, e fiquei atentamente analisando seus movimentos.

Não demorou muito até terminar. Lembrei sobre ele comentar de trabalhar num restaurante mexicano. Era notável, pois Bellamy preparava com a maior facilidade.

—Experimenta? —Ele empurrou o prato até o balcão que eu estava debruçada. —Tenho certeza que esse vai ser o melhor Taco que você vai comer na vida.

—Você nasceu assim? —Disse puxando o prato até mim, e pegando um garfo.

—Sim. Eu sempre fui perfeito assim. —Ele sorriu torto.

—Quis dizer, convencido. —Coloquei um primeiro pedaço na boca.

—O que achou?

Realmente era bom. Muito bom. Corria o risco de ser o melhor mesmo. Mas não iria assumir.

—Mais ou menos. —Falei, terminando de mastigar.

Bellamy deu outro sorriso de canto e pegou um prato para ele, sentando ao meu lado.

••

Depois do jantar. Ele levou os pratos para a pia, e começou a lava-los. Era a primeira vez que eu passava minutos com ele, sem estar soltando fumaça pela cabeça. O que era irônico, porque se eu não tivesse feito birra por causa da provável amiga da Lexa, não estaríamos aqui.

Levantei e peguei um guardanapo, ajudando a secar os pratos lavados. Quando terminei, notei que ele estava próximo de mim. Involuntariamente olhei em seus olhos negros que tanto me intimidava, fiquei hipnotizada. Meu coração começou a bater mais rápido. Bellamy chegou mais perto, nossos rostos estavam poucos centímetros longes.

—Por que gosta de implicar comigo? —Falei tão baixo, quase como um sussurro.

—Por que é divertido. —Ele se aproximou mais ainda. –E também porque quando esta nervosa, você fica muito sexy.

Novamente senti meu rosto corar. Odiava enrubescer na presença dele.

—Não gostei de você desde o dia que te vi. —Disse quase sem voz.

—Pois eu gostei de você desde o dia que te vi.

Era como se os olhos dele estivessem me hipnotizando. Não conseguia controlar meus movimentos. Senti o calor de seus lábios em minha orelha. Meu coração disparou como um motor. Suas mãos pararam em minha cintura. Sem esforço, ele me levantou pelo quadril e me sentou no balcão.

—Você precisa ir. —Suspirei sem ação. –Com toda certeza precisa ir.

—Para cá? —Ele beijou meu pescoço. —Ou para cá? —Levantou a cabeça suavemente.

Não tive tempo para pensar, já que sem pressa ele terminou com o espaço vazio que separava nossos lábios. No inicio estava surpreendida demais para fazer algo, mas sem perceber, estávamos nos beijando em um ritmo lento. Minha boca movia em perfeita harmonia com a dele. Naquele momento esqueci-me de qualquer coisa que me atormentava, e qualquer sentimento reprimido de ódio. Seu cheiro me lembrava hortelã e terra úmida, e eu gostava, muito.

De repente, ele se afastou. Fiquei ainda entorpecida, com os olhos fechados.  Minha boca permanecia aberta, esperando ele voltar. Mas isso não aconteceu.

—Sabia que não conseguiria resistir por muito tempo a mim. —As palavras saíram como um soco simbólico. Ele tinha acabado de brincar comigo???? —Acho que tem um carro chegando. —Constatou naturalmente.

Voltei à realidade, e abri os olhos. Desci do balcão, e mexi em meu cabelo assustada.  Respirei profundamente, na tentativa de reordenar meus sentidos.

—Minha mãe!!! —Exclamei.

—Acho que ela vai gostar dos Tacos. —Ele sorriu.

Arregalei os olhos.

—Não. Não!!! Você tem que ir.

Olhei para a banqueta onde a jaqueta dele estava pendurada, peguei e joguei em cima dele.

—Pela porta da cozinha! —Apontei. Ele não se moveu. Revirei os olhos com sua implicância e apoiei as mãos nas costas dele, lhe empurrando até a porta do fundo. —Ela não pode te ver aqui.

Bellamy parou do lado de fora sem entender. Não dei tempo de ele falar, apenas fechei a porta, e tranquei. Ouvi, os passos de minha mãe na varanda, e o som das chaves. Desesperadamente corri para cima em silencio. Entrei em meu quarto e encostei-me à porta ainda ofegante.

Joguei-me na cama olhando para o teto. Tentando tirar aquele desejo que percorria em meus pensamentos, mas ficava difícil com o cheiro dele ainda preso em mim. Passei a mão em minha boca, meus lábios formigavam. Por que eu não correspondi as minhas ordens. O que tinha acontecido comigo? Eu posso dizer que estava surpreendida com as reações que tive. Uma parte de mim tinha sido inconsequente e nem sequer quis parar o que houve. E a outra parte do meu ser condenava-me por querer tão desesperadamente. Isso me assustava, porque não sabia se estava me contradizendo.

Bellamy Blake era o real motivo por eu estar ficando louca. Coloquei a mão em meu peito, sentindo as batidas de meu coração. Definitivamente não estava lucida. Minha mente continuava a pregar peças obrigando meu corpo fazer o que eu não queria. Pelo menos eu tinha certeza que não queria. Tinha? Afastei qualquer duvida que aparecera e me enrolei na coberta.

 O que diabos havia ocorrido naquela noite, certamente eu garantiria que nunca mais iria se repetir.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pessoal, eu não sei se notaram mas a visual da fic mudou.
Tudo isso graças ao meu amado amigo Gabriel ,que gentilmente fez uma capa nova pra mim. Obviamente fiquei tão feliz, que decidi acrescentar aesthetics em todo os cap. Se quiserem podem dar uma olhadinha nos cap anteriores, tem fotinhas em todos agora.
Bom... era isso que eu tinha pra avisar.
Comentem. Eu estou ansiosa por sua reviews



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perturba-me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.