Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 7
talvez eu não seja normal


Notas iniciais do capítulo

Vocês pediram, e como sou mto amor, resolvi fazer e postar um novo cap.
Espero que gostem!
Nos vemos lá embaixo.



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Voltando em direção oposta da minha casa, ainda chorava. Não podia parar o carro, estava muito assustada para isso, então consegui desgrudar uma de minhas mãos do volante e ligar o celular.

—Alô! —­Jasper atendeu, com uma voz sonolenta.

—Jasper! —Gritei.

—Clarke, tinha acabado de pegar num sono.

—Jasper eu... eu atropelei, atropelei ele. —Mal conseguia falar.

—Atropelou quem? —Sua voz ficou ativa.

—Apareceu do nada. Eu não consegui ver na hora, mas...

—Não diga que você atropelou um animal? —Ele me interrompeu. —Um veado? Tipo um Bambi?

Não respondi. Deixei o aparelho no banco do lado, e sequei as lágrimas que insistiam em escorrer no meu rosto. Peguei o celular novamente.

—Podia ser uma vaca. —Ele falava do outro lado da linha sem ter percebido que não estava lhe ouvindo. —Não sei por que disse um veado... Como teria um veado na rua??...  Se bem que sua casa fica numa fazenda, perto do mato. Eu ainda não consigo entender porque você e sua mãe gostam de viver longe da civilização.

—Jasper ele veio de repente, quase me matou.

—Não diga que tem pedaços de vaca no meu carro, no meu novinho carro. —Ele suspirou. —Ainda bem que tenho seguro.

—Jasper eu tô com medo, você não está me entendendo.

—Onde você está?

—Estou voltando.

—Vem pra cá, as chaves da porta estão junto com a do carro.

Desliguei.

 Queria sair das ruas. Da escuridão. Demorou poucos minutos até estacionar em frente a casa dele. A porta do motorista não abria, sai pela outra, e me virei assustada procurando algum movimento na rua. Todas as casas vizinhas estavam com as luzes apagadas. Já o carro permanecia numa situação lastimável, que eu sequer sabia como tinha chegado a este ponto. Além do vidro quebrado, a porta estava amassada, e o capô destruído.

Sem demora usei a chave para abrir a porta silenciosamente, e entrar na casa azul. Subi até o quarto dele. Jasper estava sentado na cama de pernas cruzadas, com o caderno apoiado nos joelhos e fones no ouvido.

—Você está pálida. —Exclamou num volume mais alto que a música. —Estava chorando? —Perguntou se aproximando, e jogando o fone na cama.

—Eu... —Suspirei tentando me expressar.

Ele não esperou minha resposta e me abraçou.

—Está toda suada também. —Falou se afastando depois de alguns segundos.

—Posso dormir aqui?

—Claro. —Ele sorriu. —E então, devo me preocupar com meu carro?

—Bem, você não vai gostar do que vai ver.

Ele saiu andando rápido, e desceu a escada. Fui atrás, mas andando lentamente. A única coisa que conseguia pensar era que precisava ligar para minha mãe, talvez chamar a policia. Passei a mão em meu pescoço, ainda estava dolorido e possivelmente vermelho. Chegando até a porta respirei fundo, Jasper devia estar pirando lá fora com o estado do seu carro.

Quando sai, me surpreendi com a cena que vi. Jasper estava dando voltas pelo carro, inspecionando cada centímetro. Depois de um tempo, ele me olhou e sorriu.

O carro, diferente de como eu havia deixado minutos atrás, estava totalmente normal, como sempre fora. Não tinha amassado algum, e o vidro não possuía uma mínima rachadura.

—Você atropelou um esquilo, por acaso? —Ele riu com a própria fala. —Não tem nada aqui.

—Mas... —Minha cabeça começou a doer.

—Eu não estou bravo, isso é ótimo, pensei que tivesse destruído o carro.

Dei a volta até a traseira do carro. Tinha quase completado 360 graus, procurando algum resquício de realidade, quando Jasper segurou minha mão e me puxou.

—Venha! Você está precisando dormir.

Como aquilo era possível? Eu tinha atropelado aquele homem! Tinha certeza disso... Pelo menos achava que tinha. Mas não fazia sentido. Eu o vi caindo, eu o vi levantando, eu o vi quebrando o vidro, eu vi seus olhos frios. Como o carro estava normal, como?

 Passei a mão em meu pescoço novamente. Antes de deitar, olhei no espelho. Não estava vermelho, mas podia sentir.

Jasper logo dormiu, no colchão jogado no chão ao lado da cama. Fiquei acordada olhando para o teto, não conseguia esquecer o pânico e terror que tinha vivido. Não conseguia parar de pensar nos olhos cinzentos. Naquele olhar pude enxergar um desejo de matar, algo assustadoramente mortal.

De repente ouvi meu nome, como um sussurro em meu ouvido. Olhei para o lado assustada, Jasper ainda dormia tranquilamente. Não havia nada, além de nós dois.

Talvez eu realmente tivesse atropelado um animal, talvez eu realmente estivesse ficando louca.

☼ ☼ ☼ ☼ ☼

Passei a noite toda olhando um ponto fixo, meus olhos insistiam em fechar, mas minha mente borbulhava em pensamentos. Estava alerta, porém cansada. Através da cortina podia perceber que o sol estava surgindo, o quarto enfim começou a ganhar claridade natural. Minha cabeça ainda latejava de dor, não conseguia mais deixar meus olhos abertos, sem perceber fui entrando em minha escuridão.

Tinha medo de minha mente estar pregando peças comigo novamente.

Meu psicólogo ficaria interessado em ouvir minha experiência desta noite. Depois de muito esforço pra provar para ele e minha mãe que conseguia lidar com os surtos, se soubessem do ocorrido, teria que voltar a tomar os remédios e isso estava fora de cogitação. Então decidi que seria meu segredo.

—Acorda assassina de esquilos!

Abri os olhos no susto, Jasper estava de pé me encarando.

—Já estou acordada, pode acreditar. —Murmurei.

—Então levanta!!! Daqui a pouco Monty vai começar a ligar.

Sai da cama e ele jogou uma toalha para mim. Caminhei até a porta do quarto, meu corpo estava cansado, parei no batente da porta, fiquei examinando o chão. E então perguntei:

—Você me acha maluca?

—Claro que sim. —Ele riu pelo nariz, mas mudou sua expressão assim que percebeu que eu não tinha gostado da resposta. —Todos nós somos malucos, Clarke. —Completou.

—Ontem à noite... —Respirei fundo, ainda tentando assimilar tudo o que houvera.

—Erros acontecem, o bom é que não aconteceu nada demais. Não é?

Talvez ele não me tratasse normal se eu contasse. Ninguém me trataria... minha mãe é um ótimo exemplo sobre isso.

—É! —Disfarcei.

 Encerrei o assunto indo para o banheiro. Enquanto tomava um banho gelado, olhei para meu pulso, a marca estava lá visivelmente feia. Sempre odiei minha vulnerabilidade. Bellamy tinha razão quando expos esse meu defeito, aliás, o que mais odiava era ele ter razão sobre muitas coisas em mim, sem ao menos me conhecer.

••

Os meninos se esbaldaram com o café da manhã no Veneno. Enquanto eles devoravam as panquecas recheadas, eu apenas olhava avulsa para a rua, procurando em cada pessoa que passava andando na calçada, uma semelhança com o sujeito da noite anterior. Mesmo tentando, ele não saia da minha cabeça, ainda estava muito abalada para esquecer.

Não consegui comer, apenas por sentir o cheiro meu estômago estava revirando. Tive que levantar e espera-los dentro do carro. Sentada no banco, passei a mão no vidro do motorista. Horas atrás eu podia jurar que iria morrer, parecia tão real quando vi estilhaça-lo...

Os dois logo chegaram, disseram que tínhamos que fazer a critica, e que era melhor usarmos o computador da biblioteca para postarmos no jornal. No caminho, Jasper ficou contando meu desespero ontem à noite por ter achado que atropelei um animal. Monty ria das imitações que ele fazia de mim. Forcei um sorriso para não entregar meu desconforto.  

Quando entramos na biblioteca central, a primeira pessoa que reparei foi na garota que estava sentada numa mesa segurando um livro. Logo reconheci, era a mesma garota daquele dia no salão de sinuca. Ela não parecia estar realmente lendo o livro.

Sem pensar, caminhei até a mesa ao lado dela, e sentei, Jasper e Monty me seguiram, mas não sentaram.

—Clarke, os computadores ficam lá pra trás. —Monty disse.

—Eu sei. Só estou cansada, quero sentar um pouco.

—Por que você não senta lá?

Percebi que a garota olhava de canto para nós.

—Porque quero sentar aqui. —Olhei para ela, que disfarçou virando uma página do livro. —Podem ir, eu já vou.

Os dois se olharam, e então seguiram andando lado a lado para o fundo do local.

Não sabia por que queria sentar aqui, talvez porque tinha começado a desconfiar de todos.

—Seus amigos perceberam que você está mentindo. —Olhei para o lado e ela me encarava.

—Desculpe? —Fingi surpresa.

—Você não sabe disfarçar.

—Não sei do que esta falando, eu realmente estou cansada.

—Noite intensa?

Virei minha cadeira para observa-la. Como ela sabia?

—Você deve saber... —Estinguei.

—Não faço ideia, mas, da pra perceber pelas suas olheiras. Você está igual uma morta viva. Rolou festinha?

Suspirei. Ela obviamente era igual Bellamy no quesito ofender e provocar.

—Você deve estar me confundindo, por acaso acha que nos conhecemos, ou que temos intimidade?

—Eu sei quem você é, loira. Te vi aquele dia no Bo. Você também me viu, não finja que esqueceu. Não foi por isso que sentou ai.

—Ah é... Lembro sim, você deve ser a namorada do Blake!

Ela riu forçadamente.

—Espero que esteja pensando em sair amanhã.

—Por quê? —Perguntei sem entender.

—Por nada. —Levantou, e fechou o livro. Andou até o balcão onde ficava uma senhora simpática, entregou para ela, voltou sorrindo até minha mesa. E se inclinou me encarando. —Estudar deve ser um saco né? Você não vai lá fazer o dever com seus amiguinhos?

—Vai me dizer que você também nunca estudou, como ele? —Arqueei a sobrancelha.

—Eu deveria? —Seu tom de surpresa pareceu sincero.

Não resisti e soltei uma risada.

—Você e ele combinam muito. —Afirmei.

—É o que dizem.

—Desculpa, mas você não parece que gosta de vir numa biblioteca para ler.

—E eu não gosto. —A morena sorriu brincalhona, e então se virou. —Tenho certeza que vai achar um lugar legal pra sair amanhã, loira! —Gritou, já passando pela porta. A senhora do balcão fez uma expressão nervosa, mas ela já tinha saído.

Não havia entendido o porquê ela insistiu em dizer isso, mas estranhamente eu gostei do seu jeito.

Segui para onde os computadores ficavam, Jasper e Monty pareciam estar discutindo sobre algum paragrafo da critica. Eles me olharam.

—Quem era aquela gata? —Jasper perguntou.

—Não conheço. Só a vi uma vez.

—Vocês pareciam se conhecer. —Monty argumentou.

—Não sei nem o nome dela.

—Se encontrar ela de novo, apresenta pra ele. —O magrelo provocou.

—Ela não faz meu tipo. —O pequeno se irritou.

—Ela não faz meu tipo. —Jasper imitou com voz fina. —Meu caro amigo, na nossa situação, qualquer garota faz nosso tipo.

—E eu? —Brinquei.

—Você não é garota, Clarke.

—É! Você deixou de ser garota pra nós há muito tempo. —Monty completou.

—Vou fingir que isso é um elogio.

—E então... Agora está descansada, dona motorista? —Acho que o medalhista de prata na modalidade ‘provocar-me’ é Jasper. Acho não, tenho certeza!

—A exaustão passou um pouco. —Falei.

—Então senta aí e arruma essa resenha, porque o Monty tá cagando pelos dedos.

—Você que está! —Os dois começaram a dar soquinhos um no outro, fingindo uma luta. A única coisa que pude fazer foi sentar e como várias vezes, fingir que não os conhecia.

 


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews?
Pessoal agora é sério, não tem como eu postar nos próximos dias. Não briguem comigo, ok?
Prometo que vou compensar com um novo cap grandão.
Enquanto não volto, quero que novos leitores apareçam pra dizer um simples Oi pelo menos, combinado?
Quando voltar, quero me surpreender com a quantidade de comentários, hein!
Eu sei... Eu sei, que só fico pedindo isso, mas, como posso conversar com vocês e saber o que estão achando, não é?!
Beijos



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