Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 2
a primeira impressão falhou


Notas iniciais do capítulo

Segundo cap.
Não fiz muito.
Espero que gostem.



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Depois de ter sido completamente ignorada, voltei minha atenção para o quadro-negro. Barbie e Ken ainda me encaravam, com aqueles sorrisos estranhamente animados.

—A reprodução humana pode ser um tema pegajoso... —Marcus disse.

—Eca! —Disseram os alunos em coro.

—Exige tratamento maduro. E como todas as ciências, a melhor abordagem para o aprendizado é a investigação. Até o final da aula, pratiquem essa técnica, desvendando tudo o que conseguirem sobre o seu novo parceiro. Amanhã, tragam suas descobertas por escrito, e podem acreditar: vou checar a autenticidade das informações. Estamos falando de biologia, não de aula de redação, por isso nem pensem em inventar as respostas. Quero ver a interação e trabalho de equipe de verdade. —Ele prosseguia sem importar-se com nossas reações.

Havia um “ou então” implícito ao final da frase.

Fiquei sentada, completamente imóvel. O passo seguinte deveria ser do colega, –eu já tinha sorrido e de nada tinha adiantado. Funguei discretamente tentando decifrar o cheiro dele. Era uma mistura de cigarro com algo mais forte, como charutos. Desagradável!

Olhei para o relógio na parede e bati meu lápis no ritmo do ponteiro. Meus olhos estavam fixos à frente, mas escutei o suave deslizar da caneta do moreno. Dei uma olhada à esquerda e vi que ele estava escrevendo, e eu quis sabe o quê. Menos de dez minutos ao meu lado não lhe dava o direito de presumir nada a meu respeito. O texto já continha diversas linhas, e continuava a crescer.

—O que está fazendo? —Perguntei.

—E ela fala! —Disse ele enquanto continuava a rabiscar, em um movimento suave e descuidado.

Curvei-me aproximando-me dele o máximo que minha ousadia permitia, tentando ler o que mais escrevera, mas ele escondeu o conteúdo.

—O que você escreveu? —Exigi saber.

E o cara continuava escrevendo. Fiquei comtemplando sua mão, dividida entre a descrença e a raiva. Então abri o caderno em uma folha nova.

—Qual é seu nome? —Perguntei irritada, com a caneta a postos.

Vi seu sorriso sinistro, parecendo me desafiar.

—Seu nome? —Repeti, torcendo para que a vacilação em minha voz não passasse de fruto da minha imaginação.

—Me chame de Bellamy. Falo sério. Me chame.

Ele piscou ao falar e fiquei bem certa de que estava debochando de mim.

—O que faz em seu tempo livre, Bellamy? —Frisei seu nome.

—Não tenho tempo livre.

—Você sabe que esse trabalho vale nota, não sabe? Será que da pra colaborar, por favor.

—Que tipo de colaboração? —Ele recostou-se na cadeira, cruzando os braços atrás da cabeça. O tom sarcástico em sua voz, comprovou minha especulação.

—Tempo livre... —Repetiu pensativo. —Desenho em meu caderno que fica guardado em meu quarto, gosto de coisas em sua maioria nerd e meu sonho é ir para Stanford.

Encarei-o por um momento, abalada, -Bellamy tinha acertado na mosca. Não podia ser coincidência, não posso ser tão previsível assim. Enquanto ele parecia se divertir com minha confusão, eu senti um arrepio na nuca e a temperatura pareceu cair. Em outra situação comum, teria ido direto à mesa do professor e pedido para mudar de lugar. Mas seu olhar arrogante fazia com que eu recusasse a deixar que ele pensasse estar me intimidando.

—Você dorme nua? —Perguntou outra vez.

—Você só pode estar zoando! —Meu queixo quase caiu e comecei a ficar irritada.

—Já fez terapia?

—Não. —Menti.

A verdade era que eu estava sob aconselhamento psicológico. Não tinha sido por vontade própria, então preferia não comentar.

—Já fez alguma coisa ilegal?

—Não. —Passar do limite de velocidade não contava. Pelo menos para ele. —Por que você não faz uma pergunta normal?

—Não vou perguntar o que posso deduzir.

Quem era ele de verdade? Se sabia sobre essas coisas, o que mais poderia saber? Nunca tinha o reparado antes. Agora enquanto lhe observava escrever, percebi que aparentava ser dois ou três anos mais velho.

—O que é isso? —Bellamy apontou para meu pulso. Institivamente, recuei.

—Marca de nascença.

—Parece uma cicatriz. Já tentou suicídio, Clarke?

—O quê?

—Pais casados ou divorciados?

—Moro com minha mãe.

—Onde está seu pai?

—Meu pai morreu ano passado. —Eu não queria ter dito, mas acabou saindo sem eu ao menos perceber.

—Morreu como?

—Isso... É particular. —Encolhi-me.

Houve um minuto de silêncio, e a aspereza em seu olhar mudou um pouco.

—Deve ter sido difícil. —Por fim ele disse, se levantando da cadeira e pegando sua mochila. Parecia sincero.

O sinal tocou e o moreno caminhou até a porta. Como se já soubesse que a aula acabaria.

—Espera! —Falei enfiando meu caderno e livro apressadamente na mochila. Esqueci até de fechá-la.

—Não se esqueçam de que o trabalho é para amanhã! —O professor gritou enquanto os alunos saíam agitados.

Sai correndo até o corredor.

—Ei, espera! Com licença! Bellamy, não consegui saber nada sobre você. Como vou fazer meu trabalho? —Gritava afoita.

Ele parou. Deu meia-volta e seguiu aproximando-se de mim. Pegou meu braço, puxando minha mão. Roubou minha caneta e começou a escrever nas costas da minha mão, antes que eu sequer pensasse em puxá-la. Quando ele terminou, olhei para os números escritos em tinta vermelha e cerrei o punho. Queria dizer que não havia a menor chance de o telefone dele tocar naquela noite. Queria lhe dizer que era culpa dele por ser tão arrogante. Mas apenas fiquei ali parada, enquanto ele se distanciava.

—Não vou ligar! —Gritei. —Nunca!

O moreno continuou andando pelo corredor despreocupado, -tinha um jeito de andar irritantemente confiante-. Fiquei tentando digerir o que havia acabado de acontecer.

—Esse aluno novo parece não gostar de estudar. —Jasper estava ao meu lado, também observando ele ir embora. —Acho que o cara repetiu de ano várias vezes.

—Ele me dá calafrios. —Constatei pensativa.

—Quem te dá calafrios? ­—Viramos, e nos deparamos com o pequeno asiático de cabelo liso e comprido.

—O cara que a Clarke esta fazendo o trabalho. —Jasper falou antes.

—Vocês não vão fazer juntos, como sempre? —Monty perguntou.

—O professor decidiu que me irritar é muito mais divertido. Acredita que ele me deixou na ultima carteira? E a única coisa que consegui descobrir do meu parceiro é que ele usa remédios para piolho. —O magrelo respondeu afetado.

Monty e eu rimos com a expressão desgostosa do outro.

—Trocaria de parceiro com você. —Lembrei-me do modo como Bellamy agia; como se estivesse me caçoando. —Esse aluno novo é extremamente irritante. Preferia estar com um piolhento, a ter que ficar sentada ao lado de alguém que só saiba falar e falar.

—Na aula de sociologia a professora pediu pra eu ajudar uma aluna nova. Ela é muito legal. —O pequeno Green, anunciou.

—Não precisa se gabar. —Jasper falou, dando um soco no ombro dele. O amigo fez uma careta segurando o próprio ombro.

—Querem saber? Vou tentar mudar de dupla. —Expressei em voz alta meus pensamentos.

—Duvido que consiga. —Jasper desafiou.

—Independente disso, eu vou tentar. Talvez eu consiga fazer com que você volte ao mesmo lugar.

—Se fizer isto, prometo beijar e até fazer massagem em teu pé.

—Encontro vocês no Veneno depois. —Ri minimamente, com a proposta dele.

Os dois fizeram um gesto de concordância com a cabeça e saíram, enquanto eu voltava pra sala esperançosa.

No fim das contas, a única pessoa a receber um duro golpe havia sido eu. Marcus recusou meu pedido de que reconsiderasse as mudanças de lugar. Aparentemente, eu estava presa nesta droga de trabalho com Bellamy.

Por enquanto!

 


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor.
Abraços.



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