Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 15
título de nova provocadora


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui esta o cap.
Espero que gostem.



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Meu corpo parecia pesar uma tonelada. Era isso, ou havia um elefante sentado sobre mim.

Atravessei o pátio da escola forçando minhas pernas a se direcionarem até Lexa.

—Bom dia! —Falei com um sorriso aberto assim que me aproximei dela.

—Bom dia. —Ela aparentava estar constrangida, principalmente depois de ontem. Pelo menos eu não havia imaginado... Mas ainda não saberia dizer se isso é bom ou ruim.

—Hoje não temos Educação Física. —Tentei começar com um assunto aleatório.

—Não queria ter feito aquilo. —Lexa foi direta. Novamente mais corajosa que eu.

—Não foi nada demais.

—Não?

—Digo, não foi algo pensado. Ficamos resgatando memórias, estávamos fragilizadas.

—Clarke eu... Não queria que se afastasse de mim.

—Não vou me afastar. Prometo.

—Você ao menos se sente confusa?

Confusão é a palavra perfeita, pensei.

—Você foi a primeira pessoa que me enxergou. —Ela prosseguiu angustiada. —Estou com medo de perder sua amizade.

—Lexa ouça... —Segurei sua mão transmitindo todo o carinho que sentia por ela. —Depois do Monty e Jasper, nunca alguém entrou naquela casa da arvore. Eu deixei que entrasse porque confio em você, porque te considero minha amiga.

Ela encarava nossas mãos entrelaçadas e por um momento, eu tive certeza que seus sentimentos ultrapassavam o da amizade.

—Quando disse que podia considerar-se convidada para qualquer evento que eu e os meninos fôssemos, eu falava a verdade. —Dessa vez ela sorriu em resposta. —Toda esta semana ao seu lado, tem sido muito importante pra mim. Não tinha uma conversa intima já fazia muito tempo.

—Essa semana foi muito importante para mim também.

Duelei em curtos segundos com minha mente. Precisava dizer alguma coisa, qualquer coisa que tirasse essa sensação egoísta pesando em minha alma.

—Estou pronta pra te conhecer. Espero que esteja pronta para isso também.

—É o que amigos fazem, certo? —Os olhos verdes dela ficavam destacados com a sombra preta.

—Certo. —Prendi o ar, antes de me aproximar beijando sua bochecha.

Nunca havia parado para pensar em minha sexualidade. Nunca tinha sequer parado para pensar em relacionamentos e isso estava mantendo minha mente afastada dos problemas.

Pelo menos mantinha até aquele exato momento.

Um vento suave balançou meu cabelo, fazendo os pelos do meu braço se eriçar. Algo no estacionamento chamou minha atenção. Vidrei na moto preta que acabara de passar pelos portões. O homem que dirigia, tirou o capacete revelando sua identidade. Ele usava as roupas de costume e sua mórbida transparência estava destacada.

—Clarke?

A voz dela fez aquele distraimento hipnótico se quebrar. Tentei manter o equilíbrio.

—O quê? —Falei governando minha cabeça.

—Você ainda faz dupla com ele? —Lexa tinha notavelmente percebido meu interesse repentino no motoqueiro.

O que eu poderia dizer? Eu fiquei perplexa, assumo.

Bellamy havia desaparecido desde o dia que fui para Portland. Ele tinha respeitado meu pedido para que se afastasse. RES-PEI-TA-DO. Desde quanto ele respeitava alguma coisa?

Depois de duas semanas sem dar as caras, o Blake finalmente se deu conta de que ainda não estava de férias. Depois de duas semanas planejando um modo de fuga dele, eu o via descer da moto e quase como câmera-lenta, caminhar pelo pátio. Como se ele fosse, sei lá, Lúcifer, as pessoas abriam caminho. Mas na minha cabeça era porque Bellamy estava, deveras, o próprio pecado da luxúria.

—Não sei se algum dia, fomos uma dupla. —Respondi me esforçando para não olhar na direção dele.

A expressão dela não estava positiva.

—Vocês estão juntos?

—Não!!! —Exclamei.

—Jasper parecia ter certeza aquele dia no Dhelpic que ele estava afim de você.

—Jasper gosta de mentir.

—O aluno novo não é confiável. —Afirmou séria.

—Como assim?

—Sei que vocês têm ficado próximos. Mas se eu fosse você não confiaria nele.

—O que quer dizer?

—Ouvi boatos, Clarke. Algumas pessoas na escola dizem que ele foi transferido por conta de algo que aconteceu na sua antiga cidade. Algo que ele não quer que ninguém descubra.

Não sabia se o que ela estava falando era fruto de ciúmes. Mas eu sabia que aqueles boatos dos alunos, tinha um fundo de verdade.

—Não existe nada entre mim e ele. —Falei convicta, numa tentativa de me convencer que agora em diante não existiria mesmo.

O olhar dela recaiu sobre ele com certa raiva. Podia perceber que o moreno caminhava em nossa direção.

—Tenho que ir!

Sem saber o porquê, continuei segurando sua mão. O calor de sua pele me surpreendia, e causava-me hostilidade. Olhei para frente e encontrei o olhar do Blake fixo em mim, ou mais precisamente, em nossas mãos entrelaçadas. Mesmo ainda um pouco distante, eu nunca vira seus olhos tão frios antes.

—Eu realmente tenho que ir. —Lexa soltou nossas mãos e se afastou seguindo para as escadas.

Fiquei distraída, reparando nossa distancia enquanto metade do meu cérebro começava a trazer todos os anseios.

—Precisamos conversar, princesa. —Estranhamente eu senti saudade de sua voz. Quer dizer... Saudade não! Estava mais para costume desfeito.

Virei-me abruptamente dando de cara com as órbitas escuras que pareciam ter sido sugadas por um buraco negro.

—Precisamos conversar? —Tentei soar incrédula.

O sinal do inicio das aulas tocou.

—Não vou te atrapalhar. Temos a aula de biologia para isso.

Sem que eu pudesse soltar toda a frustação que sentia em gritos. Ele passou por mim, me deixando para trás aparentemente vermelha de ódio.

♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Estava atrasada para a última aula, quando fui puxada até os armários do corredor.

Bellamy sabia ser imprevisível e eu não podia discordar.

—Estava com saudades? —Seu sorriso provocador tinha voltado com tudo.

Observei os poucos alunos que corriam atrasados para as salas.

—Saudades de você me irritando?... Com certeza não.

—Eu disse que precisamos conversar.

—E é você quem decide isso? —Falei tentando soltar a mão dele de minha cintura.

—Eu te dei seu tempo.

—Você não me deu tempo algum!!! —Elevei o tom da voz e olhei ao redor com medo de algum supervisor ter nos percebido. —Tenho que ir pra aula. —Completei com mais discrição.

—Nós temos que ir. Ou esqueceu que ainda somos parceiros de classe.

—Estou ocupada pra ficar te ouvindo.

—Você pediu isso, Clarke. Não devia ter feito aquilo. Não devia ter ido para Portland.

Tocar na cicatriz dele fez algo se completar dentro de mim. Mas eu ainda não tinha digerido aquela visão.

—Alguém pediu que eu fosse. —Falei com o intuito de deixa-lo curioso.

—Quem?

—Alguém que você jamais irá conhecer. —Talvez porque não tinha sido alguém e sim minha doida mente.

—Quero que converse com Raven.

—Por quê?

—Porque ela é melhor que eu pra isso. Não sou capaz de te contar. —Bellamy suspirou. —Não consigo ficar perto de você por muito tempo sem querer te beijar.

Ah droga! Era óbvio que ele fazia isto para me irritar.

—Pois eu prefiro não saber. —Respondi depois de um certo tempo segurando a respiração.

—Você é orgulhosa demais.

—Não sou não. —Rebati estressada.

—Essas duas semanas sem seu nervosismo foi complicado para mim.

Ele tinha assumido que sentiu minha falta. Ah droga, de novo.

—Bellamy... —Minha voz estava fraquejada.

—Achei que íamos recomeçar.

—Achei que você fosse normal!

—E quem é?

Tudo se esvaiu de minha cabeça enquanto exalei o ar que me restara.

—Só quero parar de acordar todo dia com medo, tentando sobreviver...  Eu escolhi viver com certezas e você não é uma delas.

—Viver? O que seria viver pra você? —Ele segurou minha cintura trazendo meu corpo para mais perto do seu.

—Tenho amigos que me ensinam isso.

—Aqueles dois?

—Para de falar deles como se não fossem nada. Jasper e Monty são a parte mais importante da minha vida. —Parei um segundo encarando o chão e subitamente Lexa veio em meu pensamento. —Eu conheci alguém que também me ajuda. Ao contrario de você.

—Quem seria ele? —Seu interesse despertou uma ideia em mim.

—Ela! Na verdade é Ela.

—Aquela garota que estava lá embaixo?

—Lexa foi uma amiga que fiz nesse fim de ano. —Engoli em seco.

—Vocês pareciam bem íntimas.

—Talvez porque nos beijamos! —Revelei aquilo tão nervosa, mas me arrependi assim que as palavras saíram.

—Vocês se beijaram? —Bellamy mudou sua expressão abusada. Aquela informação tinha atingido ele.

—Não foi a primeira vez. —Menti convencida.

Ele me soltou e enfiou a mão no bolso da calça, tirando um maço de cigarros.

—Ela deve ser interessante presumo. Não consegui ver seu rosto, deve ser bonita também.

—Mais do que você imagina. —Falei enquanto observava ele tirar um isqueiro do outro bolso.

—Então foi pra isso que você pediu tempo pra pensar?

—Não preciso da sua autorização.

Meu coração acelerou. Podia senti-lo batendo contra meu peito e podia ouvir o sangue pulsando em meus ouvidos. Era engraçado como os papeis haviam se invertido em questão de minutos. Pela primeira vez eu estava vencendo no jogo da provocação. Não consegui resistir e soltei um leve sorriso.

“Há Há! É desse jeito que se faz.” Minha mente comemorava.

Ele acendeu o cigarro com a maior facilidade e assim que tragou, soltou uma fumaça em cima de mim.

Acabei tossindo assim que inalei.

—Senhor Blake!!! —A voz repreendedora, me fez olhar assustada.

Marcus estava parado atrás, aparentemente decepcionado em encontrar nós dois matando aula no corredor.

—Não é permitido fumar na escola. —Ele estendeu a mão e Bellamy entregou o cigarro, ainda sem tirar os olhos irritados de mim. —Vou pedir que vá até a sala do diretor!

Nunca havia o visto agir daquela forma afetada e eu não consegui ficar sem me sentir mal por ter dito aquilo. Tinha usado os sentimentos de Lexa para provoca-lo e para mascarar os meus.

Ao invés de seguir para a diretoria, o moreno desobedeceu à ordem e desceu a escada. Olhei para Marcus que não possuía reação e automaticamente abandonei meu respeito pelo professor e corri seguindo ele.

—Bellamy!!! —Gritei enquanto pulava os degraus.

Ele não olhou para trás. Continuou seguindo rápido para baixo.

—Bellamy!!! —Gritei novamente ofegante.

Passamos pelo pátio em direção do estacionamento. Apertei os passos, até conseguir alcança-lo.

—Será que da pra parar de agir como uma criança birrenta. —Segurei seu braço impedindo-o de subir na moto.

—Criança? —Ele me olhou nervoso.

—Isso é ridículo. —Bravejei.

—Não mais ridículo do que eu sou, não é?

—Não acho isso.

Ficamos nos encarando de forma compenetrada, intensamente, sem piscarmos. Estava resfolegante, e eu sabia que não era por causa da minha curta corrida.

“Pode parar com isso, imediatamente!” A voz da consciência alertava.

De repente um baixo pigarreio me despertou do desejo, colocando-me em realidade. Viramos em sincronia, envergonhados. Prontos para questionarmos quem estava nos interrompendo de novo.

Deparei-me com uma garota morena, de olhos esverdeados. Extremamente linda. Ela usava uma calça, blusa e jaqueta preta, combinando perfeitamente com o estilo dele.

—Olá, irmãozinho! Sentiu minha falta? —Exclamou sorridente.

 


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam?
Por favor mandem reviews.
Beijos



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