Caitlin acordou aquela manhã sem a mínima vontade de ir trabalhar. A morte de Ronnie ainda estava fresca em sua memória. Havia se passado apenas duas semanas desde que tudo aquilo aconteceu. Duas semanas desde que sua carreira foi para o lixo. Duas semanas desde que perdeu o homem que achou que iria passar o resto da sua vida com. Duas semanas desde que tudo se foi.

 Ela levanta a contra gosto, e começa a se arrumar. Por algum motivo que não entende, Dr. Wells optou por manter ela e Cisco ainda trabalhando para ele. Isso era bom por um lado e horrível pelo outro. Bom, porque com acidente tão recente seria muito difícil encontrar outro laboratório que a contratasse. E horrível porque aquele lugar o fazia lembrar dele. Existia algumas partes de lá que ela simplesmente não conseguia entrar. As lembranças eram dolorosas demais.

 Mas para sermos sinceros, o verdadeiro motivo dela continuar lá, era culpa. Claro que ela sabia que foi um acidente, mas mesmo assim... Ela trabalhou lá, ela ajudou no projeto, se talvez...Eram tantos os talvezes, que ela não podia evitar de se sentir um pouco responsável.

 Ela chegou ao Star Labs, como em modo automático. Cisco a estava ajudando muito a tentar superar tudo isso. Mesmo também sofrendo com o que ocorreu, ele ainda arranjava forças para conforta-la. Com certeza ele era o melhor amigo que ela poderia ter em todo o mundo.

 Seus pais haviam voltado para a sua cidade natal a pouco tempo. Ela havia insistido que estava bem e que a vida deles não poderia parar pelo que estava acontecendo. Ela os convenceu de que estava bem melhor. Mal sabiam eles o quanto ela havia treinado esse discurso na frente do espelho.

 Depois dela desmaiar no dia da explosão. Todos haviam ficado muito preocupados. Era um efeito de transferência, ela sabia disso no momento em que acordou, mas mesmo assim não disse nada. Alguma coisa sobre sequer pensar em sua alma gêmea naquele momento a fez se sentir ainda pior.

Quem sabe ele também se foi naquele dia? Quem sabe foi isso o que aconteceu? A conexão sendo cortada pelas lâminas da morte?

 Mas ela sabia que não. No fundo...No fundo, ela pensou nessa hipótese para tentar afastar os pensamentos dele. Ela havia acabado de perder seu noivo, e pensar no homem que deveria ser a sua metade, apenas a fazia sentir uma pontada de culpa. Contudo ela não podia evitar. Toda vez que ela sentia seu coração palpitar no peito, batendo rápido o suficiente para ela não poder ignorar, ela sabia que era ele...Ela simplesmente sabia.

 A morena então resolveu se focar no trabalho. Quanto mais coisas tivesse para ocupar sua mente, quanto mais trabalho, menos ela teria que pensar nele ou em Ronnie.

 Hoje particularmente seria o que ela chamava de dia bom. Havia muito trabalho a ser feito. Wells havia avisado que um paciente do hospital seria transferido para os cuidados do laboratório, para os seus cuidados, mais especificamente.

 Segundo as informações que recebeu, o homem era uma vítima do que ocorreu. Sendo atingido por um raio causado pela explosão do acelerador. Os hospitais não tinham a capacidade de ajuda-lo, não tinham os recursos, mas com sorte eles teriam.

 Caitlin era brilhante em seu trabalho, uma das melhores, e com certeza era mais que capacitada para o cargo. Ela queria ajuda-lo, ela queria salvá-lo. Mesmo ainda não conhecendo seu paciente. Mesmo que não mude nada. Talvez se ela conseguir salvá-lo, ela pare, pelo menos um pouco, de se sentir tão impotente...Culpada.

 Ela estava focada em terminar de organizar o local onde Barry Allen iria ficar. Barry Allen? Por alguma razão o nome lhe parecia tão familiar. Como se o conhecesse de algum lugar, mas ela não o fazia, tinha certeza disso.

 Caitlin foi tirada de seus pensamentos quando ouviu barulhos vindos do corredor. Eram os enfermeiros fazendo a transferência do paciente. Atrás deles vinham Dr. Wells e Cisco. Eles colocam Barry no leito que Cait já havia providenciado e a Doutora não perdeu tempo, já foi conectando todos os equipamentos que havia preparado, no corpo do seu mais novo paciente. Ela estava tão concentrada no que esta fazendo que nem percebeu direito quando os enfermeiros se foram, seguindo Cisco até a saída, e Wells saiu para conversar com a família do homem deitado a sua frente, que o estava esperando em uma das salas ao lado para conversar sobre o Allen.

 Uma das primeiras coisas que fez, foi chegar os batimentos e as pupilas dele. O primeiro até agora estava normal e as pupilas não reagiam a luz, porém ela teria que permanecer atenta; pois segundo a ficha médica do homem, o mesmo apresentava constantes paradas cardíacas.

 Apenas quando terminou o seu rápido  check up médico, que ela parou para observá-lo. Ele não parecia ser muito mais velho que ela e também era muito bonito, tinha uma vida inteira pela frente, e se dependesse dela ainda teria. Foi aí que ela viu.

 Ela não tinha conhecimento de sua reação, mas podia apostar que parecia que tinha acabado de ver um fantasma. Ela piscou algumas vezes para ter certeza que aquilo não era fruto da sua imaginação, mas não... A marca continuava lá.  Os pequenos pontinhos que representavam as estrelas de sua constelação, ligados por uma fina linha. Os pontinhos que formavam a constelação conhecida como o relógio. Os mesmos portinhos...Que estavam marcados em sua pele.

 Caitlin nunca em sua vida achou uma marca que fosse sequer parecida com as dela. Para cada alma há apenas um símbolo, apenas com uma combinação possível, isso é um fato. Eles são como impressões digitais. Ela conheceu pessoas com diferentes tipos de pássaros, flores, e varias outras coisas, mas nunca...Nunca nada que fosse remotamente parecido com o delicado e discreto sinal que marcava sua pele. O sinal de no máximo dez centímetros, que descia sua costelas em direção ao canto de seu abdômen. Mas ali estava, uma correspondência exata, encontrada no exato mesmo lugar.

 Ela estende a mão e toca a fina linha, seguindo seu contorno com os dedos. Uma sensação estranha percorre sua pele. Como se ele enviasse ondas de energia para ela, ao mero toque. Seu coração batia rápido demais em seu peito e ela simplesmente não conseguia fazê-lo parar.

 Quase como se tivesse levado um choque, ela retira sua mão e se vira para sair dali. Ela não cosegue pensar direito. Só precisa de um pouco de ar e espaço. O ambiente de repente tinha ficado muito abafado e apertado.

 Quando estava saindo, se chocou com seu amigo, que estava voltando.

— Cait você está bem? - Ele perguntou visivelmente preocupado - Está Branca como papel!

— Claro... Eu só... Eu só preciso ir ao banheiro - Ela inventa uma desculpa qualquer, com pressa para sair dali.

— Você tem certeza? - Ela o ouve perguntar atrás dela - Porque o banheiro é por ali - Ele aponta para a outra direção.

— Claro... - Ela mente e muda sua direção para a que ele apontou.

 Por sorte ele não a segue. Ela não quer ter que falar com ninguém nesse momento. A Doutora nem espera chegar ao banheiro, simplesmente entra na primeira sala vazia que encontra, e permite que suas costas batam contra o porta, ficando lá parada...Estática.

 Ela não tem noção do quão pálida está, da sua respiração acelerada, ou das lágrimas escorrendo pelos seus olhos. A única coisa que está em sua mente, o único pensamento que esta nublando tudo o resto, é apenas o seguinte:

 "É ele!"