Depois do que descobriu, Caitlin demorou um tempo para se recompor. Quando ela voltou para a sala em que Barry estava, ninguém poderia dizer que provavelmente ela quase teve um ataque de pânico a pouco tempo atrás.

 A doutora conheceu Joe e Iris West, a família de Barry, e se esforçou para ser o mais neutra possível. Decidiu pensar no homem em coma apenas como um paciente, e não como sua alma gêmea recém descoberta. Fez tudo o possível para esquecer o que viu, fingir que aquilo nunca aconteceu.

 Para os outros isso foi algo bem convincente, mas pra ela?... Você não pode mentir pra si mesmo, pois uma vez que você sabe a verdade, você sabe a verdade.

 Toda vez que ela olhava pra ele, seus olhos involuntariamente caiam para a direção da marca...Da prova definitiva que ele era quem supostamente estava destinado a ela. Então ela resolveu não olhar, ou fazer o tudo o que estivesse a seu alcance pra isso, limitando o contato a apenas o essencial.

 Cisco era o tipo de cara que conversava com ele, mesmo sabendo que ele não ouviria. Que sempre trazia algum objeto decorativo, com a desculpa de que tudo ali era muito impessoal. Que falava com a família dele e provavelmente o stalkeava no facebook também. Já ela era o tipo de pessoa que fazia o seu trabalho e pronto. Tentando jamais criar qualquer tipo de laço afetivo com qualquer um deles.

 Ela não contou a ninguém. Sequer mencionou em voz alta. E ninguém desconfiou também. Afinal, com exceção de seus pais, não havia mais ninguém que soubesse como sua marca se parecia.

 Apesar disso, sua conexão única com ele acabou por facilitar muito o seu trabalho, apesar de o deixar bastante desconfortável. Ela sempre sabia quando ele estava tendo uma parada cardíaca, pois a palpitação em seu coração sempre a alertava. Ela sempre sabia quando algo estava errado. Para sua sorte, com o passar dos meses, ele foi ficando cada vez mais estável.

 Naquela manha especificamente, havia algo estranho quando Cait chegou ao trabalho. Havia alguém que ainda não conhecia sentada ao lado do leito de Barry. Se tratava de uma loira com o cabelo preso em um rabo, que estava conversando com o corpo adormecido do homem.

  A moça estava tão entretida que nem notou a presença da doutora. Caitlin optou por fazer o máximo de silêncio, pelo menos pelo tempo que conseguiu.

— Namorada? - Ela pergunta chamando a atenção da loira pra si, e se arrependendo instantaneamente disso.

 "Por que fui perguntar? Não tenho nenhum interesse sobre a vida pessoal dele, certo?"   Ela se repreendeu mentalmente

— Oh...Não...Não. A gente só teve uma dança. Ele é legal e fofo...E bonito, mas não...Somos só amigos...Apesar de que combinamos bastante. Estamos meio que interessados por outras pessoas e... Eu estou falando demais. - A loira tagarela.

— E oi, eu sou Felicity Smoak! - Ela se apresenta e estende a mão para apertar a de Cait

— Dra Caitlin Snow - A bioengenheira se apresenta - Então...De onde vocês se conhecem? - Ela pergunta se condenando por não conseguir conter sua curiosidade.

— Nós nos conhecemos em Starling. Ele me ajudou com algo ilegal - Ela começa, mas assim que percebe o que acabou de falar, se apressa a corrigir. - Não que a gente tenha feito algo ilegal... porque não fizemos. Ele me agudou a achar alguém que fez...Sabe? Para prender... Eu não sou uma policial ou algo assim. Mas a pessoa presa tinha feito algo para a empresa que trabalho...Contra ela... Como eu disse, Barry é um cara legal e ele não faz coisas...Não legais.

  Cait da um pequeno sorriso com a trapalhada que Felicity faz com as palavras. Ela não costumava sorrir muito depois do que aconteceu, mas é quase impossível não simpatizar com a mulher em sua frente.

— Felicity? Vejo que conheceu a Caitlin - Cisco diz á loira quando entra na sala.

— É...Nós estávamos aqui conversando. - Ela responde recebendo um olhar interrogativo de Cisco.

 A Doutora Snow, ultimamente, não era muito de socializar com pessoas. Então ela conversar com Felicity, pelo menos um pouco, era novidade para ele. Bom...Era um progresso, não era?

— Foi um prazer te conhecer doutora Snow, mas agora eu tenho que ir - Felicity se despede - Eu conheço a saída - Ela completa para o engenheiro.

 Assim que ela sai, o homem pergunta a Cait.

 - Então? Você acha que é ela?

— Ela quem?

— Felicity! Você acha que é ela o par dele?

 Por uns segundos Caitlin ficou sem reação. Cisco estava se saindo um belo intrometido.

— Você não tem nada melhor pra fazer do que ficar se intrometendo na vida de um cara em coma? - Ela pergunta o repreendendo.

— Ah...Qual é? Eu acho que é ela. Pelo que sei dele, eles formariam um ótimo casal. Vai me dizer que não pensou nisso?

 Não, ela não pensou.

— Primeiramente, eu não o conheço. Segundo, pelo que ela disse, ele já gosta de outra pessoa. E terceiro, as vezes a vida pode ser uma caixinha de surpresas...

 Cisco pareceu só ter registrado uma única informação de tudo o que ela disse

— Ele gosta de outra pessoa? Quem? - Pergunta curioso

— Eu não posso acreditar nisso! Você não tem nada melhor que fazer, não? Vai trabalhar e pare de se meter na vida pessoal dos outros. - Ela disse agora brava.

 Cisco foi sem discutir. Ás vezes...Ou melhor, quase sempre, Cait podia agir como uma irmã mais velha responsável, que ama acabar com a diversão dos outros

Apesar de tudo, o verdadeiro motivo dela ter ficado nervosa com aquela pergunta, é que ela também estava curiosa para saber. Ele havia seguido em frente, não esperado por ela. Ela deveria estar feliz por ele, não devia?

 Ela sabia que as coisas eram mais complicadas que isso. Sabia que a questão não era o que deveria, mas o que queria. Ela queria estar feliz. Ela queria que aquele fosse só um cara normal. Ela queria muitas coisas, mas no momento ela não estava pronta para aceitar a verdade...Não ainda.

— Você esta mexendo com a minha cabeça, sabia? - Ela começou a falar com o homem em coma. - Como é que eu devo processar toda essa informação? As vezes acho que vou acabar ficando louca...Se é que já não estou.

 Ela se aproxima dele e senta na cadeira localizada do lado de sua cama.

— Eu pude sentir você por toda a minha vida. Eu sei que você já sofreu muito...Mas eu também sei que se você esta aqui hoje, é porque você é forte, então... Apenas não desista, okay? Há muitas pessoas aqui que se importam com você. Iris, Joe, Felicity... Eu nem sei mais o que estou dizendo...Eu só...Eu só quero que você acorde...

 Ela levantou a mão para tocar a dele, porém desistiu a centímetros de distância, escolhendo secar a lágrima rebelde que escorreu por seu rosto, e sair dali antes que alguém veja aquela cena.

...

Nove meses...Haviam se passado nove meses desde daquele fatídico dia. Nove meses desde que Barry Allen entrou em coma. Nove meses em que ela guardava seu grande segredo só pra si.

 Depois da primeira vez que ela falou com Barry, mesmo sabendo que ele não a ouviria, ela começou a falar com ele mais e mais. Normalmente eram só algumas frases bobas, ditas algumas vezes ao dia, mas algo em falar com ele, era estranhamente reconfortante.

 Naquele dia em especial Cisco havia colocado "Poker Face" para tocar na rádio. Segundo ele, Barry gostava daquela música e talvez isso o ajudasse a reagir. Aquela não era particularmente uma das músicas favoritas da doutora, mas ela tinha que admitir, era viciante.

 Ela se sentia estranha. Sabe quando você se encontra ansioso, pois sabe que algo muito importante vai acontecer? É, exatamente assim. A única coisa, é que não havia nada de importante para acontecer. Pelo menos ela achava isso até o homem que até agora estava em coma, acordar em um pulo.

— Ele acordou! - Cisco foi o primeiro a demonstrar alguma reação, apontando o óbvio.

— É...Ele fez - Ela disse por automático, indo checar como ele estava, e deixando todo a confusão dentro de si para depois.