Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 23
O fantasma de Alice - Felipe




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O filho de Zeus abaixou respeitosamente a cabeça e fez o Sinal da Cruz junto com todos os demais presentes na missa fúnebre em memória de Vitor.

 Como Felipe havia sido seu melhor amigo, estava sentado junto com Julia e a família do morto no primeiro banco de madeira da pequena igreja próxima à favela. Julia estava de preto como todos os outros, mas o preto favorecia-lhe mais por ser filha de Hades. O príncipe deu uma pequena afrouxada em sua gravata e olhou pela janela à sua esquerda.

  Estava chovendo muito lá fora e a luz havia acabado por isso a missa estava sendo celebrada sob a luz de velas, o que pareceu muito apropriado para aquele momento.

  Olhou para Julia à sua direita. Ela era a única que parecia não estar triste. E não era para menos já que ela era a filha do deus da morte. Julia estava acostumada com aquilo e sabia que mais cedo ou mais tarde todos iriam se reencontrar novamente no reino de seu pai. A garota parecia de certa forma entediada, não entendia pra que tanta cerimônia se no final todos iam para o mesmo lugar. Ela virou para o lado e seus olhos se encontraram. Felipe desviou o olhar.

 - ...e agora, sem mais delongas, daremos adeus à esse jovem que apesar dos caminhos incertos que escolheu trilhar, foi fiel à seus amigos e à sua família até o fim de sua vida. Rezemos para que seus pecados sejam perdoados e Vitor Rezende alcance o Reino dos Céus onde Deus o estará esperando de braços abertos.

  Julia segurou uma risada e Felipe pisou em seu pé.

 - Ai! – sussurrou – O que deu em você?

 - Preste atenção! – sussurrou de volta e apontou para o padre no altar que continuava a pedir a Deus que acolhesse Vitor com bondade no céu.

  O padre puxou o começo da oração da Ave Maria para pedir que a Mãe de Deus intercedesse por Vítor no momento de seu julgamento. Felipe havia sido criado por uma mãe católica então ele sabia todas essas orações. Juntou-se aos demais na oração, mas Julia agarrou seu braço com força.

 - O que foi?

  A filha de Hades apontou para um ponto no altar. O príncipe vislumbrou uma forma branca e levemente incorpórea flutuando em volta da mesa de mármore. Por um momento ele gelou. Felipe já estava acostumado com o fato de Julia poder ver fantasmas, afinal ela era filha de Hades, mas ele não tinha essa habilidade... A não ser quando se tratava de alguém em especial.

 - O que ela quer aqui?

 - Não sei, ela acabou de aparecer.

  O pai de Vitor olhou para eles com um ar de reprovação e fez um gesto para eles fazerem silêncio. Felipe puxou Julia pela mão e os dois saíram pela porta lateral da capela e entraram em um corredor estreito e totalmente escuro pela falta de energia. Julia tomou a frente e conduziu-o pelo corredor que dava no salão de festas da igreja e nos banheiros. Era realmente uma sorte os filhos de Hades poderem enxergar na escuridão completa.

  Os dois atravessaram o corredor devagar, tentando não fazer barulho para não chamar a atenção dos ministros que podiam estar no salão. Odiava admitir isso, mas ele estava com medo. Estava tudo muito macabro e Felipe sabia que um fantasma os esperava no salão.

  A claridade vinda das janelas de vidro possibilitava que os dois semideuses enxergassem. Não havia ninguém exceto eles... E o fantasma da mãe de Felipe.

  Ela estava encostada na parede oposta com os braços cruzados protetoramente em volta do peito. Alice parecia um anjo, seus cabelos levemente encaracolados caiam-lhe pelos ombros e ela olhava timidamente para o filho.

  Felipe correu na direção dela apensar de saber que não podia tocá-la. Parou a poucos passos de distancia e sua mente vagou de volta para um ponto do passado.

 

  Felipe tinha quinze anos e estava voltando para casa depois de um cansativo dia na escola. Sua mãe trabalhava em dois empregos para poder pagar para o filho uma escola particular. A escola onde estudava não era uma das melhores, mas com certeza era melhor do que as escolas públicas que tinham próximas à favela e só serviam como ponto de venda de drogas.

  Ele vinha cantando baixinho a musica que tocava em seu fone de ouvido. Estava satisfeito consigo mesmo, havia conseguido superar sua dificuldade em matemática e tirado 7,5 na prova. Estava ansioso para contar isso para sua mãe. Alice sempre conversava com ele sobre isso, dizia que a matéria que ele mais tinha dificuldade deveria ser a que ele mais prestava atenção. Felipe seguiu seus conselhos e finalmente havia conseguido.

  Acenou para o guarda na entrada da favela e subiu a ladeira. Cumprimentou os conhecidos pelo caminho com um aceno de cabeça e um sorriso. A favela onde ele morava era bem tranquila. Não era como as favelas que sempre estão em guerra que apareciam no jornal. Havia um grupo de gangsters que defendiam a favela em tese, mas nunca havia sido preciso entrarem em ação. Eles ficavam só nas entradas vendo quem saia e quem entrava no local.

  Parou em frente à sua casa e destrancou a porta. Entrou e fechou-a atrás de si.

 - Mãe! A senhora não vai acreditar, consegui tirar 7,5 na prova de matemática!

  Olhou em volta. A sala estava vazia. Nenhum som veio em resposta.

 - Mãe?

  Ela já deveria estar em casa. Ela chegava por voltas das 19:30. O filho de Zeus olhou no relógio, eram 21:46. Ele sempre demorava para chegar em casa por causa da distancia de sua escola e do transito característico da cidade de São Paulo.

  Foi para o banheiro. Talvez ela estivesse tomando banho. Não estava, o banheiro estava vazio.

 - Mãe? – Chamou mais alto e para o quarto, também vazio.

  Talvez sua mãe estivesse na casa da vizinha. Foi até a cozinha ver o que tinha para a janta. Quando abriu a porta, Felipe congelou.

 - MÃE!

  Alice estava caída no chão da cozinha. Seu avental estava sujo de sangue e seus olhos abertos não tinham vida. O príncipe se ajoelhou ao seu lado e colocou sua cabeça em seu colo.

— Alguém me ajuda! Socorro! – gritava a plenos pulmões e as lagrimas caiam pelo seu rosto jovem. – ALGUÉM AJUDA!

— Não precisa gritar filho. Ela já se foi.

  Felipe se virou para a porta que havia acabado de atravessar. Um homem de terno cinzento estava parado no batente. Seus cabelos e olhos eram castanhos.

 - Quem é você?

 - Eu sou seu pai.

 Aquela havia sido a primeira vez em que viu Zeus e ele havia lhe contado tudo. Zeus o orientou a ser forte e não se submeter a nada. Por mais que Felipe houvesse implorado e perguntado, seu pai não falou quem foi o assassino de Alice, ele disse que não sabia.

  O príncipe havia se juntado ao grupo de gangster naquele mesmo mês. Queria descobrir quem havia feito aquilo e fazê-lo pagar por isso. Com menos de um ano ele já estava tão influente no meio dos bandidos que eles haviam o eleito como líder e assim nasceram os Calibres.

 

  Piscou para afastar as lembranças e as lágrimas. Agora sua mãe estava parada na sua frente, o que significava que algo sério havia acontecido.

  Julia se aproximou por trás, sem fazer barulho. Ela era a interprete daqueles encontros. Felipe podia ver a mãe, mas não conseguia ouvi-la nem se comunicar com ela.

 - Ela disse que algo muito ruim irá acontecer em breve.

  Felipe se lembrou das estranhas aparições de Hades e Zeus pouco tempo atrás e dos pégasus voando pela cidade.

 - Tem a ver com a bastarda de Cronos?

  Julia fez que sim com a cabeça.

 - Ela diz que foi um erro você não ter aceitado a proposta de Hades e que coisas horríveis irão resultar de sua atitude orgulhosa.

  O filho de Zeus sentiu a raiva subiu por suas veias.

 - Eu nunca iria aceitar a herdeira de Cronos na minha gang. Não me interessa o Hades possa fazer para me punir por isso, eu não ligo. Jamais a aceitaria aqui!

  Julia demorou um pouco para falar.

 - Sua mãe diz que não tem nada a ver com Hades.

  Felipe olhou para Julia. Ela estava com os olhos negros brilhando na direção do fantasma de Alice, nem sequer piscava.

 - Como assim?

 - Parece que a garota irá se aliar com inimigos poderosos... Ela diz que seu reinado como líder esta perto do fim.

 - Impossível! Meu pai jamais permitira que...

  Julia ergueu a mão e Felipe se calou.

 - Sua mãe diz: não confie em Zeus.

  O filho de Zeus voltou os olhos para o fantasma de sua mãe. Queria saber o que aquilo tudo significava. Porém, quando voltou os olhos para Alice, ela já havia desaparecido.

  Felipe recoou alguns passos. Estava com um mau pressentimento. Como assim ele não podia confiar em seu próprio pai, o Rei?

  Lembrou-se do que Hades havia dito sobre ele ter mandado servos para matarem uma de suas filhas e de que ele também havia mandado assassinos atrás das gêmeas de Cronos.

  Um calafrio subiu por sua espinha e o filho de Zeus olhou pela janela no momento em que um trovão ensurdecedor o fez estremecer.


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