Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém
Laura observava de cima do muro enquanto Capão carregava a herdeira de Cronos de volta para sede. Assim que a porta se fechou atrás deles, a filha de Zeus saltou de cima do muro e subiu a ladeira, se enfiando no meio da favela.
Pela primeira vez pensava em tudo que tinha acontecido até então. Ela havia perseguido aquela garota e a teria matado se Zeus não tivesse invadido seus pensamentos e marcado aquele fatídico encontro. Ela havia entregado de bandeja a vida daquela criança nas mãos do deus que mandou matarem de forma mais cruel a irmã gêmea da bastarda. Ela havia jurado matá-la. Então por que se sentia assim?
Agora não tinha tanta certeza se realmente teria conseguido matar Agatha naquele dia. Talvez ela se sentisse paralisada pela seriedade e frieza daqueles olhos verdes e ficasse sem reação. Talvez ela enfiasse sorrateiramente uma faca por entre as costelas da garota e ficasse olhando enquanto a luz deixava aqueles olhos que tanto a haviam intrigado. Era impossível tentar adivinhar o que teria acontecido e o que teria resultado de suas ações.
Subiu uma escada incrivelmente inclinada e estreita que passava no meio de duas fileiras de barracos. Homens e mulheres desciam com armas de variados tipos nas mãos e a cumprimentavam com um aceno de cabeça. A princesa retribuía. Aqueles meros gangsters não faziam ideia de quem ela era... a não ser Capão. E mesmo assim ele parecia mais interessado na bastarda do que na própria filha do Rei. Como aquilo era possível?
Talvez a sedução de Apolo estivesse impregnada até os ossos na garota ou fosse somente a sua aparência estonteante. Ela era uma perfeita mistura de Atena com Apolo... Apesar de haver alguma coisa que não se encaixava.
Agatha parecia dominar os outros à sua volta. Laura pensou na cena em que foi expulsa da casa de Agatha por seu tio mais velho e a garota se impôs sobre a princesa dizendo que iriam conversar. Afastou aquele pensamento da cabeça afinal Zeus havia puxado essa característica de Cronos.
Assim que chegou ao fim da escada, Laura dobrou uma esquina e continuou a vagar, em prestar atenção em onde seus pés a levavam. Quando deu por si estava encarando o muro de uma rua sem saída. Virou-se para ir embora.
- Onde pensa que vai?
Laura rodopiou e se virou na direção de onde vinha aquela voz muito conhecida e detestada.
- O que você quer Hera? – cuspiu no chão para enfatizar seu desprezo.
- Respostas. O que uma filha de Zeus está fazendo em um ambiente como esse, eu me pergunto.
- Posso muito bem dizer aonde achar essas respostas sua...
Hera saiu das sombras com seu vestido de penas de pavão rodopiando suavemente a cada passo. Ela ergueu a mão e Laura se calou. Um par de mãos invisíveis apertava sua garganta.
- Cale-se. Não precisa se dar ao trabalho de me responder. Eu já sei que a sparta está aqui.
Laura não entendeu. Ao ver o olhar de indagação da princesa, Hera abaixou a mão e a garota pôde voltar a respirar.
- Não me olhe com essa cara de quem não sabe do que estou falando. Eu tenho meus métodos de conseguir informações.
Laura sabia muito bem quais eram esses “métodos”.
- Cuidado para meu pai não descobrir que está transando com Hermes.
- E quem irá contar a ele? Você? Acho que não, já que está oficialmente foragida e taxada como traidora do reino.
- Traidora? – Laura estava indignada – Tudo que eu fiz foi para o bem do Olimpo!
Hera riu.
— Diga-me como salvar a herdeira de Cronos foi bom para o Olimpo.
Laura não tinha uma resposta para aquilo, mas a palavra “sparta” veio à sua mente e ela trocou de assunto.
- Por que a chamou de sparta?
Os olhos verde claros de Hera brilharam de malícia.
- Vejo que meu marido não a manteve tão bem informada quanto você julgava. – Olhou para o lado e pareceu falar sozinha – O que mais ele poderá estar escondendo? – Subitamente voltou ao normal e cravou seus olhos em Laura – Já ouviu falar dos spartas?
- Claro que sim.
Não havia basicamente ninguém sem ao menos uma vez na vida ter ouvido falar da história dos trezentos de spartas que sozinhos dizimaram a maioria do exercito de Xerxes. Apesar de terem morrido todos naquela ocasião, eles permaneceram na mente das pessoas como heróis... Mesmo não passando de um bando de bastardos.
- Então você deve certamente se lembrar de que eles eram treinados exclusivamente para matarem e morrerem nas guerras pelos atenienses. Mas com certeza você não sabe o que estava por trás dessa política de dominação.
- Sei sim. Atenas treinava seus cidadãos para serem inteligentes e pensantes. Eles eram treinados para serem lideres natos, filósofos e diplomatas. Os spartas eram treinados para serem guerreiros e acabaram virando o exercito mais temido de toda a Grécia pelo fato de apenas um sparta poder lutar contra dez inimigos ao mesmo tempo.
- Exatamente. Mas isso não é tudo. Sabe... Não aconteceu...como vocês diriam mesmo?...do nada. Os spartas eram semideuses, digamos, inferiores por serem bastardos dos deuses. Era ai que residia sua força. Eram filhos de vários deuses misturados e não somente de um só como no caso de Atenas. Isso com certeza seria uma ameaça iminente se os spartas decidissem dominar a Grécia. Eram fortes demais para serem derrotados por meio da espada então foram derrotados pelo meio da inteligência. Os comandantes de Atenas disseram que era a vontade dos deuses que os spartas fossem escravizados e assim todo o território grego aprisionou os bastardos e os tratavam como escravos. Eles só eram efetivamente soltos durantes as guerras.
Laura se encostou na parede. Pelo visto aquela narrativa seria longa.
- Porém um líder surgiu entre eles.
- Leônidas.
- Sim. Eles se revoltaram e tentaram ter sua independência. Lutaram e venceram vários exércitos até perecerem nas mãos do exercito persa de Xerxes em Termópilas.
- Mas eram só trezentos. E o resto?
- O resto fugiu ao ver a imensidão do exercito inimigo. Somente os mais corajosos ficaram e morreram naquela batalha. Muitos foram para Roma na tentativa de escaparem do destino de escravos e foram jogados no Coliseu para lutarem entre si ou entre criaturas místicas. Outros voltaram para seus donos e passaram o resto da vida como escravos. Obviamente eles se multiplicaram e geraram mais spartas, mas como o exercito que era conhecido como invencível havia caído, eles abandonaram seus próprios nomes e continuaram como meros bastardos para evitar a vergonha que lhes caia aos ombros.
- Toda essa ladainha foi só para me falar que Agatha, por ser bastarda, é uma sparta?
Hera pareceu pensar um pouco.
- Exatamente. – ela pareceu frustrada. – Como descobriu?
Laura suspirou, olhou a cor do cabelo de Hera e relevou a situação.
- Você foi de grande utilidade. Eu não teria juntado todas essas peças sozinhas, mas aqui estamos. Aqui esta você e já sabe onde Agatha está. Vá até lá e acabe com ela se for capaz de passar por mim.
O rosto da deusa ficou duro como pedra. Laura temeu que ela fosse transforma-la em algum inseto.
- Não seja tão insolente! Eu não a matei porque não posso.
- E por que não pode?
- Não posso toca-la. – Hera estava sussurrando – Atena previa isso, tenho certeza. Ela deve ter usado alguma artimanha de Hécate e lançado uma magia sobre as garotas. Eu não pude toca-las.
- Então você já havia tentado? – Hera não respondeu e Laura se desencostou da parede – Você iria matá-las ainda bebês, quando ainda estavam no Olimpo! Como você pôde pensar em uma coisa dessas? Eram apenas recém-nascidas!
- Era o certo a se fazer! Não é preciso ser a deusa da profecia para saber que aquelas garotas representavam perigo eminente. Elas eram filhas de dois irmãos, frutos do incesto. Isso as tornava bastardas, spartas. Eu não podia ficar parada e esperar para que o pior acontecesse!
- O fato de serem spartas não queria dizer nada...ou queria?
- Você é burra ou só se faz? Pense um pouco! Quem, depois da Grande Guerra contra os titãs, continuou adorando Cronos?
— Os spartas. – a fixa de Laura caiu – É, faz sentido. Meu pai foi realmente um burro por não ter percebido isso antes.
Hera começou a andar de um lado para o outro.
- Sim, eu mesma disse isso a ele. Mas já era tarde demais e Atena havia levado as garotas para o mundo mortal onde eu fui incapaz de acha-las. A ardilosa sabia que eu iria descobrir tudo, mas como?
- Não faço ideia, mas voltando ao assunto principal: você não pode toca-la, mas sabe onde ela está. Diga para o meu pai e ele mesmo virá matar Agatha.
A deusa pareceu inquieta.
- Não posso fazer isso.
- E por que não?
Ela não respondeu. Novamente Laura percebeu o que estava acontecendo.
- Mas é claro. Você não quer que ele continue como deus maior! Você quer o trono!
Sentiu a raiva subir por suas veias e se atirou contra Hera. Antes que a deusa pudesse reagir, Laura acertou-lhe um soco de direita e aproveitou o atordoamento de Hera para tentar aplicar-lhe um chute. Porém a deusa se recuperou rápido e se afastou numa velocidade impressionante. Fez um gesto com a mão e Laura foi arremessada contra a parede com toda a força.
- Escute-me.
- Não! Como você ousa? EU VOU MATAR VOCÊ!
- Deve parecer uma ofensa para você por ser filha de Zeus, mas use a cabeça. Você vai me ajudar.
- Nunca!
- Ah não? – ela apareceu do nada a poucos centímetros do rosto da filha de Zeus. – Seu próprio pai mandou assassinos para te matarem. Se ele tem coragem de mandar matar a própria filha, imagine o que ele fará com a humanidade inteira se ficar mais forte. Mate a herdeira de Cronos para mim e eu prometo que será muito bem recompensada.
Laura ficou em silencio encarando aqueles olhos verdes claros penetrantes. Hera não sabia que quem matasse Agatha ficava com todos os seus poderes...
A filha de Zeus sorriu.
- Eu aceito.
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