Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 21
O caminho de sangue - Agatha




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— Muito bem.

  Apolo sorria ao ver o quanto Agatha havia progredido com o treinamento no escuro.

 - Vejo que você realmente fez o que eu mandei.

  Agatha abaixou a venda.

 - Claro que fiz. Cansei de ser seu saco de pancada.

  O deus riu.

 - Você está certa, mas agora vai começar o treinamento de verdade. Só porque consegue se defender não quer dizer que você é capaz de lutar totalmente às cegas. - Apolo tirou outra tira de pano preto do bolso e vendou a si próprio – Coloque de novo essas vendas.

  Agatha suspirou e levantou a venda, voltando a ficar totalmente cega. Já estava acostumada com aquilo. Ela esperou, atenta, o ataque de seu pai. O que a surpreendeu foi que o ataque não veio. Alguém tinha que tomar a iniciativa.

  Meio sem saber se estava fazendo a coisa certa, a garota rodou a perna direita para frente. Seu chute foi interceptado por um poderoso braço que alavancou sua perna para cima fazendo-a cair de costas no chão.

  Com um forte impulso nas pernas, Agatha se pôs de pé em um só salto e cruzou os braços na frente do rosto, evitando um soco. Seus reflexos lhe disseram que um segundo soco estava vindo e Agatha deu um passo para trás e afastou o segundo ataque com seu braço direito. Sentiu uma dor aguda subir até seu ombro.

  Ignorando a dor ela atacou com o braço esquerdo que foi afastado para o lado sem nenhum esforço. Agatha não esperou pelo contra-ataque e bateu fortemente com o pé direito na barriga dura e musculosa de seu pai. Ouviu Apolo recuar dois passos. Como aquilo era possível?

  Estava quase tirando a venda para ver o que tinha acontecido. Uma menina do seu tamanho não seria capaz de fazer um deus recuar dois passos daquele jeito. Estava quase tirando quando foi atingida na lateral do corpo por um chute.

  Mal tocou o chão, a garota se levantou o mais rápido que pôde e lançou-se na direção de Apolo, abraçando sua cintura com os dois braços. Seu pai firmou os pés no chão e agarrou Agatha também pela cintura. A herdeira de Cronos sentiu o chão sumir debaixo de seus pés e seu corpo ser praticamente arremessado para cima. Sentiu-se dar uma volta de 360 graus no ar e depois bater pesadamente no chão de madeira do galpão de treinamento. O ar fugiu de seus pulmões.

  Não se deu ao luxo de recuperar o fôlego. Rolou para o lado evitando uma poderosa pesada de seu pai. Tentou levantar-se, mas descobriu que não conseguia. Ainda não tinha voltado a respirar. Ergueu a mão pedindo uma trégua e arrancou a venda. Apolo se agachou na sua frente, ainda vendado.

 - Você está bem?

 - Ah claro. Você só me jogou pra cima pela cintura e me deixou bater com toda a força nesse chão duro. Estou ótima.

 - Seus inimigos vão fazer coisa muito pior com você...

  Ele pareceu querer falar mais alguma coisa, mas se calou. Agatha sabia que seu pai estava pensando o mesmo que ela. Ele estava pensando na morte cruel de Jade. A herdeira de Cronos já havia pensado naquilo durante tempo demais.

 - O chute que eu te dei... Por que você recoou?

 - É o que acontece quando se chuta alguém com força.

 - Eu sei, mas eu não teria força suficiente para te fazer recuar. Teria?

  Ele demorou a responder.

 - Pelo visto você tem. Você não faz ideia do que pode fazer, Agatha. Não se preocupe eu irei te ensinar tudo o que posso, mas algumas coisas estarão além de meu alcance e você terá que aprender sozinha. Agora levante-se, temos que avançar nesse seu treinamento.

 

  Passaram-se os dias e Agatha foi ficando cada vez melhor em sua luta. Agora havia se tornado frequente Apolo recuar alguns passos e uma vez ela teve quase certeza de que o deus quase havia caído no chão com um chute bem aplicado que a garota lhe deu. Depois desse episódio, curiosamente Apolo havia decidido que não precisavam mais das vendas.

  O próximo passo no treinamento de Agatha foi o de andar sem fazer barulho.

 - Isso é fácil. Eu era acostumada a sair escondida de casa à noite – Ao lembrar daquilo, pegou-se pensando em como estariam as coisas em sua casa. Será que sentiam sua falta?

 - Acho que me esqueci de mencionar um pequeno detalhe.

 - Lá vem você de novo...

  Apolo virou as costas para ela e saiu do galpão. Agatha olhou em volta, como se só então reparasse no lugar. Percebeu que realmente aquela era a primeira vez em que ela tinha a chance de reparar nas coisas à sua volta já que era a primeira vez que não estava vendada.

  O chão de madeira debaixo de seus pés descalços era liso e frio. Bem cuidado, sem nenhuma rachadura. As paredes eram brancas e o teto também era de madeira. Dos dois lados opostos do galpão haviam arquibancadas de concreto que insinuavam que ali deveria haver apresentações de luta.

  A porta abriu-se e Apolo entrou de novo. Trazia uma caixa de papelão nas mãos. O pai de Agatha agachou-se e tirou um chicote de dentro da caixa. A garota não gostou nada daquilo. Em seguida ele virou a caixa e espalhou seu conteúdo no chão à frente de Agatha.

 - Pra que isso?

 - Pise.

  Agatha obedeceu e deu um passo para frente. Em seguida deu um grito e pulou para trás.

 - O que caralhos é isso?

— Cascalho misturado com vidro. Você vai andar em cima dele sem fazer barulho.

— Você tá doido, né? – Virou a sola do pé para cima e viu que estava sangrando. Arrancou um pequeno pedaço de vidro do pé. – Agora eu entendo. O cascalho vai fazer barulho se eu pisar em cima dele e o vidro irá me cortar. São dois treinos em um. Você quer treinar a minha resistência também.

 - Agora você entendeu. Mas falta um detalhe.

— E qual seria ele?

  Apolo estalou o chicote à sua frente.

 - Meus ouvidos são muito bons. A cada ruído que você fizer, por menor que seja, esse belo chicote irá lamber a sola do seu pé.

 - Realmente você tá doido.

  Sabia que não adiantaria em nada reclamar. Concentrou-se, suspirou e deu um passo a frente. Mal havia tocado o pé no chão sentiu o corte fino do vidro e o chicote estalou em seu pé. Agatha mordeu o lábio para evitar gritar.

  Prendeu a respiração e moveu o outro pé para frente. Novamente o estalo do chicote a fez fechar os olhos. Queria parar um pouco para descansar, mas sabia que se ficasse parada os cacos de vidro iriam perfurar ainda mais sua pele. Deu outro passo e dessa vez gritou quando sentiu a dor da chicotada.

  Olhou para baixo e viu que as pedrinhas e o vidro estavam vermelhos por baixo de seus pés. Tentou dar outro passo, precisava chegar logo ao outro lado. Novamente gritou de dor e dessa vê lagrimas subiram aos seus olhos. Enxugou-as com raiva e fixou o olhar no caminho que faltava percorrer. Não devia ser mais que três metros.

  Respirou fundo. Ela não ia pedir para parar. Ela era a filha de Atena e Apolo, a Herdeira de Cronos e não seria um pequeno obstáculo daqueles que iria impedi-la. Tomada pela raiva, Agatha deu outro passo a frente e dessa vez não parou ao sentir as chicotadas.

  O chicote estalava a cada passo que a garota dava. Ela não se aguentava mais em pé, mas não parou. Sentiu o gosto do sangue em sua boca e percebeu que estava mordendo o lábio forte demais. Continuou seu caminho e no ultimo passo jogou-se no chão com os pés para cima. Ela havia conseguido.

  Estava ofegante devido à dor, mas não estava chorando apesar de ter certeza que os cacos de vidro haviam penetrado fundo em sua pele. Ergueu a cabeça e olhou para o caminho de tortura que havia passado, havia uma trilha vermelho sangue no local onde seus pés haviam tocado.

  Apolo apareceu ao seu lado.

 - Estou impressionado. Você não desistiu.

 - Vontade não me faltou.

 - Querer e fazer são coisas bem diferentes. – ele tomou seus pés nas mãos. – Sabia que também sou o deus da medicina?

 - Não me diga. – claro que ela sabia.

  Seu pai pôs-se a mexer na sola de seus pés. Agatha não entendeu, era pra ela estar se contorcendo de dor enquanto Apolo arrancava cacos e cascalhos de seus pés feridos, mas ela não sentiu nada além de uma sensação boa.

  Não se passou nem um minuto e seu pai se levantou.

 - É o máximo que farei para aliviar seu sofrimento. Leve a dor como seu aprendizado. Na próxima aula eu irei chicotear com mais força até você conseguir andar sem fazer barulho.

 - É impossível.

  O deus se virou sem hesitar e andou em cima do caminho de pedras. Agatha não ouviu nenhum som.

 - Não, não é.

  Dizendo isso ele sorriu e deu um mortal para trás. Menos de um segundo depois Agatha estava sentada e sangrando sozinha no galpão.

 

  Estava pensando em como fazer para conseguir ficar de pé e voltar para a casa de Capão quando a porta se abriu novamente e o próprio entrou no galpão.

  Agatha tentou se levantar. Não queria parecer fraca na frente do líder do Circulo Moral. Infelizmente, quando encostou a sola do pé no chão, deu um grito e caiu de bunda no piso de madeira.

  O líder correu para ela.

 - O que aconteceu?

  Agatha virou o rosto para o lado. Não queria pareceu uma criança fraca. Capão seguiu seu olhar e viu o caminho de vidro cheio de sangue.

 - Então era para isso que ele queria todo aquele vidro. Desculpe-me, se eu soubesse eu jamais teria...

 - Teria sim porque ele é um deus e você é só um mortal.

  Arrependeu-se assim que falou isso. Olhou para Capão para ver se ele havia ficado ofendido com o comentário, mas o rapaz apenas coçou a cabeça.

 - Vem, eu te levo para casa.

  Sem esperar resposta, ele a ergueu a do chão como se fosse um bebê e a carregou para fora do galpão, em direção a casa. Agatha olhou para baixo e viu que seus pés pingavam sangue na camisa de Capão que parecia não se importar. Ela apoiou a cabeça em seu peito e deixou que ele a levasse para a sede da gang.


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