Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 2
A viagem - Agatha




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Agatha acordou com um sobressalto. Tivera outra vez o pesadelo que a atormentava desde que se entendia por gente. Estava correndo na mata, de madrugada e chovia muito. Olhava para trás sem parar, sabia que estava sendo perseguida, mas não conseguia ver quem era. Virava a cabeça de um lado para o outro procurando por alguma coisa. Alguém. De repente a mata chegava ao fim e tudo que ela encontrava no final era uma mulher muito bonita, de cabelo loiro e ondulado com incríveis olhos verdes. Um relâmpago cortou o céu e em seguida veio o som ensurdecedor de um trovão.

Sentou-se em sua cama em seu quarto. Olhou de um lado para o outro tentando fazer com que seus olhos se acostumassem com a escuridão. Viu as horas no despertador na mesinha de cabeceira. Eram 06:57. Chutou o cobertor para o lado e se levantou.

Foi até o banheiro. Era incrível que mesmo tendo passado a vida inteira naquela casa, de algum modo ela não se sentia bem. Sentia-se como uma intrusa. Ligou a torneira da pia e jogou água no rosto para acordar. Esfregou os olhos, tirando os cabelos compridos e lisos do rosto e ergueu-o para o espelho.

Definitivamente ela tinha as feições muito sérias para uma menina de treze anos. Vivia com as sobrancelhas meio franzidas como se sempre estivesse pensando em algum plano que não conseguia finalizar. Os olhos verdes escuros estavam com as pupilas extremamente comprimidas por ter acabado de acordar. Sua pele era branca como mármore e seu rosto era levemente pintado por sardas que ela odiava.

Fechou a torneira e se afastou do espelho. Despiu-se e entrou no box para tomar seu banho matinal, ainda pensando no sonho. Não sei por que eu ainda fico pensando nisso. Toda noite é a mesma coisa. Ligou a torneira e deixou a água cair em suas costas, encostou a testa na cerâmica gelada da parede. Fechou os olhos. La estava Agatha de novo, correndo pela mata procurando algo que ela nunca tinha visto e nem sabia como era.

Depois que acordou a garota não conseguia se lembrar de quanto tempo tinha ficado ali de olhos fechados. Alguém batia freneticamente na porta do banheiro.

— Agatha! Você está ai?

Ela suspirou.

— Estou, mãe.

— Ande logo com isso e desça. Hoje é o dia da nossa viagem para Santos, esqueceu?

À menção da palavra “Santos”, Agatha abriu os olhos de uma vez. Havia se esquecido completamente da viagem a muito tempo planejada pela sua avó para o dia 18 de Agosto. Ou seja, hoje. Ela nunca tinha visto a prima de segundo grau que morava na cidade, nem mesmo por foto. Só sabia que tinham a mesma idade e que o nome dela era Jade.

Todos os anos, no aniversario de Jade em outubro a avó de Agatha ligava para a sobrinha e tentava forçar a neta a falar com ela, mas a garota sempre corria para o quintal quando via que sua avó tirava o telefone do gancho. E agora, pela primeira vez, iam se ver pessoalmente e Agatha não poderia escapar. Teria que finalmente encarar sua prima.

Agatha não tinha nenhum motivo para não gostar da prima, mas a ideia de ir para outra cidade e ficar hospedada na mansão de pessoas que ela não conhecia, era bem perturbadora. Além de esfregar na cara dela a desigualdade das duas famílias.

Saiu penosamente do banheiro e se vestiu o mais lentamente que pôde, mas quando chegou à hora de pentear os cabelos, Agatha se conteve. A única coisa que a garota gostava em seu corpo era os cabelos sedosos que adquiriam, no sol, a tonalidade de cobre derretido. Ela também não tinha nada contra a bela cor de seus olhos, mas seu cabelo era o principal para ela.

Depois de pentea-lo cuidadosamente, o que não era necessário já que seu cabelo nunca embaraçava, Agatha saiu do quarto e foi se juntar a sua família na cozinha.

Estavam todos sentados tomando o café da manhã. Sua avó corria de um lado para o outro mexendo nas panelas e perguntando se o tio mais velho de Agatha, Eduardo, queria mais alguma coisa.

Eduardo era o mais velho de todos os filhos de Heloisa, a avó. Era muito alto, mesmo para um homem adulto de quarenta anos. Em sua cabeça haviam cabelos pretos e encaracolados. Seu rosto era emoldurado por um cavanhaque cuidadosamente aparado. Meu tio ama essa barba tanto quanto eu amo meu cabelo. Ao pensar isso, teve que reprimir um sorriso ao se lembrar da vez em ela colou chiclete no cavanhaque do tio enquanto ele dormia.

Eduardo levantou os olhos e viu a garota parada à porta.

— Vai ficar ai de pé me olhando? Venha logo se sentar, não quero me atrasar por sua causa.

— Tenha dó, Edu. Agatha acabou de acordar e provavelmente ficou chocada de ter que ver essa sua cara feia logo pela manhã.

Quem falou isso foi Caio, o caçula. Tinha vinte e dois anos, mas agia como um adolescente. Depois de sua avó, Caio era quem ela mais gostava de sua família. Ele também tinha cabelos pretos e encaracolados de Eduardo, mas não tinha mais nada em comum com o irmão mais velho. Caio sempre raspava a barba, Agatha suspeitava que para se parecer mais jovem. Seu tio mais novo tinha os olhos brilhantes e bondosos e um sorriso travesso que irritava a todos.

Ele piscou para Agatha que se afastou da porta e foi se sentar.

— Cadê minha mãe?

Sua avó parou de correr de um lado para o outro para falar com a neta.

— Ah, você já desceu? Sua mãe deve estar se arrumando.

Agatha se virou para Eduardo.

— Pensei que fosse eu quem ia fazer você se atrasar.

O que quer que Eduardo estivesse pensando em responder, logo se esqueceu pois Esther acabara de descer as escadas. A mãe de Agatha era a filha do meio de Heloisa. Com trinta e quatro anos, a mulher tinha cabelos pretos encaracolados na altura dos ombros e ainda nenhuma ruga, era definitivamente uma mulher bonita. Ela se juntou a eles na mesa.

— Mãe, será que a senhora pode parar de correr de um lado para o outro como uma escrava e se sentar para comer com sua família?

Heloisa largou as panelas e se sentou do lado de Eduardo. Todas as vezes que Agatha via sua família assim, reunida, ela não conseguia evitar pensar. Pensar era uma coisa que a garota fazia muito bem.

Cabelos pretos, encaracolados, olhos pretos... Ela aprendera há muito tempo atrás a nunca questionar sua mãe sobre isso.

Quando Agatha tinha oito anos, a menina se deu conta de que não se parecia em nada com os outros membros de sua família. Na verdade ela não tivera esse pensamento sozinha.

Sua mãe havia sido chamada na escola por causa de uma briga em que Agatha se metera. Quando a mãe entrou na sala do diretor e se sentou ao lado de Agatha em frente à ele, o homem deu um rápido olhar para ela e disse sem dar muita importância para a mulher:

— Agatha, eu lhe disse para sua mãe vir aqui.

A menina olhou para ele sem entender.

— Mas ela é minha mãe, senhor.

Naquele momento o diretor ficou mais reto olhou para a mulher, dessa vez com interesse. Estendeu-lhe a mão e ambos conversaram durante quase uma hora sobre a confusão que Agatha havia se metido. Depois de tudo resolvido, Esther agradeceu e se levantou prometendo que nada daquilo voltaria a acontecer.

Quando saíram da escola e andavam até o carro de sua mãe, Agatha não pôde evitar perguntar.

— Mãe, por que o diretor achou que a senhora não era minha mãe?

— Porque ele provavelmente deve ter achado que você ia tentar engana-lo e levar outra pessoa em meu lugar.

Aquela parecia ser a ideia que sua mãe tinha de uma resposta definitiva, mas mais uma vez Agatha não conseguiu segurar a língua.

— Eu não me pareço com você...

A mãe da garota parou e se agachou até ficarem com os olhos da mesma altura e disse:

— Você não se parece comigo porque é parecida com seu pai. Agora esqueça isso, vamos embora.

Ela se ergueu e puxou Agatha pelo braço, mas a garota puxou o braço com força e o soltou da mão de Esther.

—Eu quero ver o meu pai. Pelo menos uma foto! Eu nunca vi nem uma foto dele.

Esther olhou para os dois lados da rua, e, quando viu que não vinha ninguém, grudou nos cabelos de Agatha, puxando-os com força.

— Nunca mais repita isso. Seu pai era um imprestável. Ele me engravidou aos vinte um anos e nos abandonou. Você deveria ser grata por eu não te ter largado na porta de qualquer idiota que aparecesse. A próxima vez que você tocar nesse assunto, vai ficar uma semana trancada no quarto. Você entendeu? EU PERGUNTEI SE VOCÊ ENTENDEU?

Com lágrimas nos olhos, Agatha conseguiu fazer um leve aceno com a cabeça. Sua mãe soltou seu cabelo e a empurrou na direção do carro onde não trocaram nenhuma palavra até chegarem em casa.

Ao lembrar-se disso, Agatha olhou para sua mãe do outro lado da mesa. Seus olhos se encontraram, e, com medo de que sua mãe pudesse ler seus pensamentos, a garota desviou o olhar. Seus tios e sua mãe conversavam animadamente sobre qual seria o melhor caminho para Santos e quanto tempo ficaria lá.

— Arnaldo quer que fiquemos pelo menos um mês.

— Mas, mamãe, estamos no meio de Agosto. Não poderemos ficar tanto tempo assim. Agatha precisa voltar para a escola.

Sua mãe e seu tio mais velho haviam combinado de tirar as férias de seus respectivos trabalhos na mesma data para poderem fazer essa viagem. Sua mãe trabalhava como secretaria em um escritório no centro de São Paulo e Eduardo era segurança de um shopping. Caio ainda não trabalhava e nem estudava.

Agatha não estava nem um pouco interessada no que eles estavam dizendo. Com a cabeça apoiada na mão esquerda e a colher na direita, comia seu mingau de aveia penosamente imaginando qual seria a aparência de seu pai.

Com certeza ele era bem branco já que sua família materna tinha um tom mais voltado para o pardo do que para o branco. Ele deveria ter cabelos lisos, obviamente. As sardas e os olhos verdes também deveriam ter vindo dele. Mas, por mais que pensasse, uma parte de seu cérebro lhe dizia que uma mulher levemente parda de cabelos preto e um homem de cabelo castanho geraria um filho de cabelo preto também. O gene mais forte prevalece. E todos os seus dez em biologia genética lhe diziam que havia algo errado também na cor de seus olhos. Entre verde e preto, o preto predomina.

Apesar desses pensamentos ela sabia que era possível sim que uma mulher parda como sua mãe e um homem com a aparência que ela julgava que seu pai tinha, gerarem uma criança de olho claro. Raro, mas possível. Afastou aquele pensamento de sua cabeça como fazia todos os dias e terminou seu mingau.


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