Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 3
Um estranho encontro - Jade




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Jade acordou com o pai lhe dando um beijo molhado na bochecha. Abriu os olhos sorrindo e o abraçou.

— Bom dia, minha princesa. Esqueceu-se que dia é hoje?

Seu pai a fitava com os belos olhos castanhos cheios de expectativa para que ela se lembrasse. Como ela poderia esquecer? Agatha. Virou-se na cama, tapando o rosto com o travesseiro.

— Ah, pai. Eu ainda tinha esperanças que a historia dessa viagem fosse só uma brincadeira de primeiro de Abril...

— Estamos em Agosto.

— Whatever!

Arnaldo, o pai de Jade, riu ao ver o desanimo da filha perante com a ideia de conhecer a prima. Arnaldo pegou-a pela cintura e a colocou de pé.

— Anda Jade. Vá se arrumar.

— Calma pai. Vai ver eles se esqueceram e não vem mais.

— Você não deveria falar assim, mocinha. Vá se arrumar, agora. Você já demora tempo suficiente quando quer.

Arnaldo fez cócegas na garota que depois de se dobrar de rir, conseguiu correr para o banheiro. Despiu-se e entrou no box. Enquanto se ensaboava, Jade pensava sobre seu sonho. Toda a noite ela sonhava com a mesma coisa, a mesma mata, a mesma sensação de urgência e perigo. O mesmo desespero em procurar algo sem parar... Até ser interrompida pela mulher loira e um trovão sacudir a terra. Deixa disso Jade, sua mãe lhe disse que sonhos são só sonhos, mesmo que se repitam todas as noites.

Jade já havia contado aos seus pais sobre o sonho misterioso. Eles só trocaram um rápido olhar e sua mãe, Sara, disse que sonhos não significam nada.

Depois de terminar, a garota desligou a torneira e foi se vestir.

Quando já estava totalmente arrumada, olhou-se no espelho. Seus cabelos lisos e compridos ainda estavam desarrumados devido à noite de sono. Jade escovou-os com cuidado. Seu rosto era branco e sardento, com lindos olhos verdes escuros. Mandou um beijo para si mesma no espelho.

— Você é linda, sabia? É sim! Muito linda.

Riu e desceu as escadas correndo.

Saltou os degraus de dois em dois. No último salto, Jade caiu praticamente no colo de João, o mordomo.

João trabalhava como mordomo na casa da familia Albuquerque desde antes de Jade nascer e a garota tinha certeza de que ele ficaria lá até o dia de sua morte. Com certeza ele já havia passado e muito da idade de se aposentar.

Os cabelos de João eram totalmente brancos, mas seus olhos eram bondosos como os olhos de uma criança. Seu rosto era sereno. Jade não se lembrava se alguma vez já o havia visto de mau humor.

— Bom dia, princesa. Aonde vai com tanta pressa?

— Vou tomar café, estou morrendo de fome. João, o senhor ficou sabendo que uns favelados de São Paulo vão vir para cá hoje?

João riu.

— Sim, seu pai me informou sobre essa visita a muito tempo...embora ele não tenha usado a palavra "favelados" para definir seus primos.

— Ah, o meu pai é um homem bom. Bom até demais se quer saber a minha opinião. Algum dia ele vai acabar se dando mal por confiar tanto assim nas pessoas. Não se esqueça de esconder as coisas de mais valor no seu quarto antes dos faveladinhos chegarem, João.

Voltou a correr na direção da cozinha.

Ao chegar à cozinha, a empregada já havia preparado seu café. A garota foi beijar a mãe e depois se sentou entre ela e o pai. A mãe de Jade tinha os cabelos lisos como o dela, mas era loira, tinha trinta e seis anos, Arnaldo tinha quarenta e dois.

— Mãe, já falou com eles? Eles vem mesmo? Por favor, diga que a Agatha não vem.

— Sim, Jade. Já falei com eles, já estão a caminho com a Agatha. Você deveria pelo menos tentar ser simpática com sua prima.

— Prima de segundo grau, Não vamos nos esquecer deste detalhe.

Jade também não tinha motivos para não gostar da prima, mas a ideia de ter uns faveladinhos na sua casa fazendo bagunça e barulho, era no mínimo perturbadora. Aposto que ela deve ser a maior barraqueira que já existiu. Lembrou-se das vezes que seu pai desligava o telefone se acabando de rir e contando o que a avó de Agatha havia dito sobre as travessuras da menina.

Começou a comer o delicioso bolo que a cozinheira Margot havia preparado. Enquanto comia imaginava como Agatha seria. Logo acabou desistindo, não sabia nada sobre a prima.

Olhou para o pai e sorriu pensando em como o amava, em como seus olhos castanhos eram bondosos... Castanhos... Olhou para a mãe, olhos mel, cabelo loiro. Pare com isso, idiota. Você já ouviu falar de crossing-over, sabe muito bem que você é uma mistura dos dois. Uma mistura bem estranha...

Quando Jade perguntou à sua mãe o motivo de ter olhos verdes, Sara lhe contou a historia de seu tio que havia morrido de leucemia. Ela lhe disse que ele tinha olhos verdes escuros como os dela. Sabia que era possível pegar características genéticas de familiares que não eram o pai e mãe.

Logo se esqueceu desse pensamento e voltou a fazer planos mentais de como se livrar dos convidados quando chegassem até que seu pai a chamou de volta a realidade.

— Jade, que tal ir comigo até o mercado? Vou comprar sorvete e outros doces para você e Agatha.

Afastou o prato na hora e ficou de pé com um pulo.

— Claro que sim! Vamos logo, papai. A gente pode comprar chumbinho e por neles também! – disse enquanto saia correndo da cozinha.

Enquanto estava sentada com seu pai no banco da frente da Range Rover preta, Jade se sentiu mais infeliz do que sempre se sentira em toda a sua vida. Enquanto o grande SUV de seu pai atravessava os portões da propriedade e descia o morro onde ficava a mansão em que moravam, Jade não conseguiu se conter.

— Ela tem a mesma idade que eu, papai?

Arnaldo, que estava ocupado prestando atenção nas curvas, demorou um tempo para perceber do que a filha estava falando.

— Han? Ah sim, provavelmente. Você nasceu em Outubro e, se eu não me engano, ouvi Heloisa dizer que Agatha é de Novembro.

Jade também nunca tinha visto a irmã mais velha do pai, Heloisa. Na verdade ela não gostava de pensar seu pai tinha uma irmã que já era avó. Isso o fazia parecer velho demais...

— Qual a diferença entre primos de primeiro e segundo grau?

— Bom, aqui vai um exemplo: se eu, ao invés de ser irmão de Heloisa, fosse seu filho, então eu seria tio da Agatha. Você, por ser minha filha seria prima de primeiro grau dela.

— Mas o senhor é tio dela.

— Sim, de segundo grau. Na verdade eu sou tio da mãe e dos tios dela.

— Nossa isso faz o senhor parecer tão velho!

Arnaldo riu. A Range Rover agora já estava na avenida em frente à praia, indo em direção ao centro.

— Nem tanto. Veja bem: eu tenho quarenta e dois. Heloisa tem sessenta. Ela teve seu primeiro filho muito jovem, aos vinte anos. Eduardo só é dois anos mais novo que eu. Não se esqueça que eu e Heloisa somos filhos do mesmo pai, mas não da mesma mãe.

Jade sempre se esquecia disso. Quando Heloisa tinha dezessete anos, sua mãe morreu e algum tempo depois seu pai casou-se com uma moça bem mais nova.

O carro parou em frente ao supermercado e pai e filha desceram.

Arnaldo conduzia o carrinho pelas prateleiras com a filha em seus calcanhares, falando sem parar sobre as vantagens de envenenar a prima quando ela chegasse.

— Sério pai. Podemos colocar o chumbinho no suco dela, aposto que ninguém vai perceber! Se perceberem a gente coloca a culpa nas empregadas.

— Jade!

A garota abaixou a cabeça e sussurrou algo sobre ter sido uma brincadeira, mas quando ergueu o olhar e viu a sessão de churrasco que exibia vários modelos de facas grandes e bem amoladas, correu naquela direção.

Pegou uma especialmente grande. Aposto que essa serviria. Ah não, essa parece ser bem melhor! Largou a faca que segurava e pegou uma ainda maior com a lâmina feita de serras.

— Isso não é brinquedo para criança.

Jade se virou na direção da voz, odiava que a chamassem de criança. O dono da voz era um homem alto e extremamente branco, como se nunca tivesse pegado sol na vida. Seus olhos eram tão negros que pareciam ser dois buracos. Seu cabelo, tão negro quanto os olhos, caia-lhe na testa lhe dando um ar rebelde que combinava muito bem com sua jaqueta de couro e seus jeans rasgados.

— Desculpe senhor – Sua coragem havia desaparecido ao ver o homem, se sentiu de repente muito triste. Lagrimas subiram-lhe aos olhos – Eu não quis...

O homem sorriu.

— Ora vamos, não chore. Nem parece ser quem é.

Jade piscou.

— Desculpe-me senhor, não sei do que esta falando.

— Claro que não. Se você soubesse quem é, jamais pediria desculpas.

Dizendo isso, o homem fez uma mensura e se curvou. Depois virou as costas e sumiu como se nunca tivesse estado ali.

Assim que o homem se foi, as luzes do local pareceram mais fortes e a tristeza que tomara conta de Jade se foi.

— Jade! Largue essa faca. Vamos embora.

Dessa vez era seu pai quem falava. A menina colocou a faca de volta no local e correu atrás do pai. Querendo, mais que nunca, se enfiar na sua cama e chorar.


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