Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém
Agatha fez exatamente o que Aramis mandou e passou o resto do dia e o dia seguinte vendada. No começo ela ficou seriamente tentada a arrancar aquela venda estúpida e arcar com as consequências depois.
Durante as primeiras horas com as vendas, Agatha se batia em todas as paredes e móveis possíveis. Chegou a cair tantas vezes que nem se deu ao trabalho de contar.
Eduardo passou o jantar inteiro alfinetando Agatha.
— Eu não disse que essa menina era louca? Agora ela simplesmente pirou.
Agatha se esforçava para levar a comida à boca sem deixar cair nada, mas mesmo assim acabou se sujando inteira. Ela nem se deu ao trabalho de respondê-lo.
— Pra que isso de não enxergar? Eu sempre achei estranho ela sumir o dia todo e só aparecer a noite, mancando.
Ele falava como se Agatha não estivesse presente.
— Eu avisei, mãe. Eu disse à senhora para não contar aquele monte de mentira para ela. Essa menina já era louca, agora ela precisa ser internada.
— Cala a boca!
Agatha não tirou a venda dos olhos, mas pode perceber que todos haviam parado de comer.
— Cala a boca seu velho idiota. O que a minha avó me contou não é nenhuma mentira. Caso não se lembre do homem de preto que fez você tremer igual uma criança lá em Santos eu posso chamá-lo aqui, agora mesmo. Quer que eu faça isso para refrescar sua memória?
Ela não podia chamar o misterioso homem, mas seu tio não precisava saber disso. Agatha esperou pela explosão de raiva costumeira do seu tio.
— COMO VOCÊ SE ATREVE A ME AMEAÇAR?
Agatha ouviu quando seu tio se levantou bruscamente da cadeira e veio em sua direção. Ela se levantou, sem tirar as vendas. A garota usou seus ouvidos.
Depois da cena que se passou ela teria dado tudo para ter visto a cara que Eduardo devia ter feito quando ela desviou o soco dele com um simples passo para o lado. Ele chegou a tentar soca-la de novo, mas Agatha deu um passo para trás.
— Já acabou ou vamos ficar nessa a noite toda?
Eduardo não respondeu. Depois do silencio que se seguiu, Agatha ouviu a porta da cozinha bater com força.
Tateando em busca da mesa, ela voltou a se sentar e a comer como se nada tivesse acontecido.
— Esse macarrão está ótimo, vovó.
Agatha tomou banho vendada e levou pelo menos três tombos. Ela não precisava tirar as vendas para saber que seu joelho bom já estava roxo por causa das pancadas com o azulejo.
Se vestiu às cegas e depois somente andou a esmo pela casa para se acostumar. Percebeu que a cada volta batia menos nos móveis e nas paredes. Seu cérebro estava se acostumando rápido a falta de visão. Rápido demais...Isso deveria ser impossível em algumas horas.
Ela chegou a pensar isso algumas vezes e então se lembrava de quem era. De certa forma sua ficha ainda não tinha caído. Não havia entrado na cabeça dela que realmente era a filha de Atena e de algum outro deus. Ela ainda não havia entendido que era a herdeira de Cronos.
Agatha sentiu uma tontura.
— Meu Deus... Eu sou...
De repente ela não conseguiu mais respirar e arrancou a venda. Estava na sala. Agatha se jogou no sofá e apoiou a cabeça nas mãos.
— Meu Deus, eu sou descendente de Cronos!
— Não apenas uma descendente. Você é a herdeira dele como você bem sabe.
Ela se pôs de pé com pulo e girou para ver de quem era a voz. Ali, parado na janela aberta, esta o homem de preto.
Primeiro Agatha ficou sem palavras, sentiu um nó na garganta e uma vontade imensa de correr para seu quarto e ficar debaixo da cama chorando.
Depois ela se recompôs e reuniu toda a coragem para dizer:
— O que você aqui?
O homem pulou para dentro da casa e fechou a janela.
— Vocês não deviam deixar a janela aberta à essa hora em um lugar como esses. Alguém indesejável poderia entrar.
— Você é alguém indesejável. O que você quer?
— Ué, eu é quem pergunto. O que você quer?
Agatha ficou sem entender nada. Como ele viu a sua cara de interrogação, o homem de preto continuou:
— Ouvi você dizer ao seu tio que iria me chamar.
— Você estava me espionando?
— Não. Eu sou um deus, garota. Quando alguém ao menos pensa em mim é como se estivesse me chamando em voz alta.
A garota ficou boquiaberta.
— Você é um... deus?
O homem riu e Agatha sentiu todos os seus ossos tremerem.
— Claro que sou. Apesar de não ser um olimpiano eu ainda sou um deus.
Agatha usou seu maior dom: a inteligência e juntou as peças em sua cabeça. A sensação de medo, a cor preta, a pele pálida como a de um cadáver. Sua estava fraca quando ela manifestou seu palpite em voz alta.
— Hades...
O homem fez uma meia reverencia.
— Sou eu.
Seus joelhos começaram a tremer descontroladamente e Agatha precisou sentar-se no sofá.
— Ora, não precisa ter medo de mim.
Hades se agachou e pegou a venda que ela havia deixado cair. Ele se dirigiu até o sofá, se sentou e estendeu a venda para Agatha.
— Você não estava treinando?
Agatha olhou para a mão estendida dele e depois para seus olhos que mais pareciam dois buracos sem fim. Ela teve a impressão de que, se os olhasse por muito tempo, sua alma seria sugada diretamente para o Tártaro.
Hades a encarou com a mesma intensidade. Eles ficaram durante alguns instantes daquele jeito: sentados no sofá, com os olhos verdes encarando os pretos profundamente.
— Estava. – ela pegou a venda.
Quando seu dedo roçou na mão de Hades, ela sentiu como se tivesse tocado em um cubo de gelo.
O deus puxou sua mão para longe dela.
— Tome cuidado para não tocar em mim. É doloroso.
— Mas não me machucou...
— Porque não é em você que dói.
Ela de repente entendeu. Ela olhou para a mão dele e viu que a região onde seu dedo roçou havia ficado avermelhada. Como se tivesse queimado.
— Eu te machuquei?
— Ah...Não foi culpa sua. O corpo dos humanos mortais é quente e...bem, como deu para notar o meu é gelado como um cubo de gelo. Então quando algum humano me toca eu sinto minha pele queimar. – ele passou o dedo levemente sobre a queimadura – E por você ser mais quente que as outras pessoas, você me queima mais.
— Eu sou mais quente que as outras pessoas? Sério?
— Sim, por causa do seu pai você tende a ter uma temperatura maior do que a das pessoas normais. Pouca coisa, mas a tendência é sua temperatura aumentar com seu poder.
— Eu não tenho nenhum poder.
— Ainda. – Hades se levantou. – Volte a treinar essa sua... cegueira. Voltaremos a nos encontrar em breve.
Ele se virou para a janela e a abriu.
— Espera! Quem é meu pai?
— Isso não cabe a mim lhe falar. Pergunte a Aramis.
— Ah qual é. Eu não aguento mais esse mistério!
Hades sorriu olhando para algum ponto atrás dela. Ele apontou.
— Ih, olha lá.
Agatha virou para ver o que era. Não havia nada atrás dela a não ser a velha estante com a TV que estava desligada.
— Ué, não tem nad... – ela se virou para Hades, mas ele já havia ido embora.
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